Ponto de Fusão escrita por Mony Celis


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Inspirado na jornada de Robert the Bruce da Escócia.



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Pela primeira vez na vida, ele sentiu frio.

A névoa estava mais densa do que de costume, dificultando a visão. Os trovões eram como rugidos raivosos e os relâmpagos pareciam caçá-lo, ao lado de seus perseguidores.

Eram guardas do Palácio de Outono, homens que deveriam estar protegendo as muralhas do Reino de Luanda, mas preferiam passar a noite correndo atrás de um ex-prisioneiro.

Ele tropeçou e deu de cara com o chão. Respirar exigia um grande esforço e seu corpo ansiava por uma força que não vinha há anos. Entretanto, quando os guardas o barraram e começaram a gritar insultos, Connor chamou por sua magia.

Mas ela não veio, como sempre. Então, correu enquanto aqueles homens estavam ocupados demais rindo dele.

Agora, Connor lutava para se colocar de pé, o relâmpago lhe revelando que caíra em cima de algo, ou melhor, alguém. Suprimiu um grunhido, era o corpo de um morador de rua. Contornou-o e voltou a correr.

Seus pulmões queimavam, os pés ameaçavam pisar no manto. Mesmo sob a névoa densa, ele conseguia enxergar as casas e considerou bater em algumas e clamar por ajuda, mas já era hora do toque de recolher.

Virou à direita, o Rio Ártemis ficava por ali, o esgoto a céu aberto. À esquerda, a rua das fábricas. Certamente, não era a melhor das opções, já que estaria voltando para onde os guardas o encontraram, mas ele conhecia bem a região.

Entretanto, o cabo de uma espada encontrou seu rosto. A dor o cegou por um terrível segundo e ele tropeçou no próprio pé.

— Vamos, me congele, Alteza! — disse o homem. Se tratava de ninguém mais, ninguém menos que o Comandante Aven.

O QUE VOCÊ QUER?! — urrou o príncipe, ignorando a dor que se espalhava pela sua cabeça. — Você já conseguiu o que queria, já fui expulso do palácio!

Aven puxou Connor pela gola da camisa, era incrivelmente forte para um homem da sua idade. Ele sussurrou, mas sua voz ecoou pela rua deserta como um trovão.

— Eu quero que você e toda sua escória mágica seja exterminada!

Os guardas chegaram ao mesmo tempo que Connor fez o único ato de rebeldia que não minaria suas forças: cuspiu no rosto do comandante. Os homens levaram as mãos ao cabo de suas espadas, mas Aven apenas limpou o rosto na manga do uniforme e lançou o príncipe contra o chão.

— Você acaba de perder a chance que tinha de voltar para casa.

Então, a série de espancamentos começou.

O príncipe perdeu a consciência em vários momentos, apenas para acordar num sobressalto e receber um novo chute, uma nova paulada. Aqueles ferimentos jamais cicatrizariam, não com os braceletes de metal negro minando suas forças, impedindo que sua magia fluísse pelo corpo. Viveria para sempre mancando, com as costas doloridas e o rosto inchado.

Seria o homem mais miserável daquele reino.

O som do furioso trovão paralisou um dos guardas que estava prestes a chutar sua cabeça. Aven murmurou um “Voltar ao posto!” e correram de volta a segurança do Palácio de Outono enquanto gotas de chuva ácida caíam sobre eles.

A água gelada pinicava os ferimentos do príncipe sem reino.

E numa ilha não tão distante dali uma garota acordou sobressaltada com o que viu. As vozes, os soldados, os golpes e o frio que ele sentiu lhe eram tão reais quanto a certeza de que aquele príncipe existia em algum lugar do seu mundo.


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