O despertador tocou antes mesmo do sol aparecer, mas Anna já estava acordada se revirando na cama esperando dar o horário de levantar. Aquela era uma de suas regras pessoais “Nunca levantar antes do despertador, mesmo que você esteja acordada”. Mas assim que a música irritante começou a tocar ela se levantou, colocou um moletom, pegou uma maçã e saiu.

Não tinha nada mais libertador do que sentir o vento frio no rosto ao pedalava pela orla enquanto o sol nascia. Ela pedalava só, não gostava de grupos. Na verdade, até gostava esporadicamente e em trechos determinados, mas a manhã ela não conseguia dividir momento com mais ninguém. Era o momento dela, sem pensar em nada, sem preocupações, sem trabalho e sem pensar em desempenho, ela pedalava na velocidade que bem entendia, sem pensar em ritmo ou em tempo. Quando o cansaço começava a bater ela simplesmente voltava pra casa.

Foi durante a volta para casa, em um dia ensolarado que aconteceu um impasse e é aqui que a nossa história começa a acontecer.

Faltavam cerca de 300m para chegar ao seu prédio, o fone estava estourando com uma música completamente aleatória que ela achava que estava cantando baixo, mas na verdade estava cantando para todo mundo escutar e ela não cantava bem. Ela estava tão distraída que não percebeu o pedaço de madeira no meio da ciclovia, não antes de sair voando da bike e se acabar no meio da rua.

—- PUTA QUE PARIU!!!!!

Se levantou e viu o estrago, todo o lado esquerdo do seu corpo estava levemente ralado, com exceção do joelho e cotovelo que estavam em carne viva sangrando descontroladamente. Ela ficou tão puta que novamente não percebeu o cara se aproximando.

—- Passa o celular!! Bora, caralho passa logo o celular! – Ele já chegou gritando e recolhendo a bike do chão.

—- Calma, eu não tenho celular...

—- QUE PORRA ... NÃO ME VEM COM ESSE PAPO DE MERDA!! NÃO BRINCA COMIGO, PASSA O CELULAR

Ela tirou o aparelho mp3 que era quase uma relíquia e entregou para o homem como se fosse um celular torcendo para que na situação ele não percebesse a diferença. Deu certo. Ele pegou o aparelho e se virou para ir embora, mas um pouco antes acabou mudando de ideia.

—- Você até que é bonitinha né!?

Anna percebeu o perigo e começou a se afastar, quando ele ameaçou descer da bike e ir na sua direção, ela começou a correr desesperadamente. Sem olhar pra trás, até chegar no seu prédio. Quando chegou viu que não havia sinal do homem em lugar nenhum e percebeu seu estado. Toda ralada, sem bike, sem mp3 (uma relíquia) e puta da vida com tudo e com todos.

“Filho da puta, se eu soubesse pelo menos lutar alguma coisa eu ainda conseguia me defender!! Acho que ta na hora de começar a praticar outro esporte no lugar da bike, pelo menos por enquanto.”...