Além das Cartas escrita por Fofura


Capítulo 1
O Desfecho




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Três meses. Já faziam três meses que sua flor de lis estava naquela situação. Michael soube assim que houve o acidente, pois como eram melhores amigos, a mãe dela, Elinor, lhe comunicou. Os médicos já haviam dito que o estado de Elizabeth era vegetativo e que eles podiam ou não desligar os aparelhos. Lizzie sofreu um acidente de ônibus e ficou com ferimentos graves, além de ter sofrido uma pancada na cabeça.

As esperanças se esgotavam a cada dia que se passava, a dor consumia, mas jogavam longe a vontade de admitir que já era tarde. Desde que soube do estado de sua amiga, sempre que saía do consultório ele ia para o hospital ficar com ela. Por muitas vezes até dormiu lá. 

Mike era psicólogo, passava a maior parte do tempo aconselhando e ouvindo as histórias de seus pacientes, mas nunca parou pra pensar em como estava seu próprio interior. No momento estava destruído. Passou praticamente a vida inteira amando uma pessoa sem ter sequer consciência disso.

“Você só sabe o valor daquilo que te faz bem, quando você perde”, nunca viu tanta verdade nessa frase como agora, mas custava a acreditar que pudesse perder Lizzie, por isso sempre fazia o que ela lhe pediu. Com seu violão, Mike tocava a melodia e a cada vez que fazia isso, ele sentia que ela poderia abrir os olhos a qualquer momento… porém isso nunca aconteceu.

Elinor achou a carta de Lizzie algumas semanas depois do acidente e lhe entregou, foi então que ele escreveu a dele, tinha esperanças de que ela ainda fosse lê-la.

Às vezes, Mike deixava-se levar pelo momento e chorava em silêncio, velando seu sono profundo.

Era o que ele fazia naquele instante enquanto segurava sua mão macia. As lágrimas apenas caíam livremente por seu rosto e com isso sua barba molhava.

— Sabe que…- fungou antes de continuar. — … eu vi uma moça super parecida com você?!- tirou os óculos para secar as lágrimas e suspirou. — No supermercado hoje cedo, rindo que nem uma doida na fila do caixa.- sorriu e fungou mais uma vez. — Era aquela risada que contagia, sabe? Igualzinha a sua. Eu adorava quando você ria.- Mike deu um meio sorriso e abaixou a cabeça.

Involuntariamente seus olhos procuraram a carta na mesinha ao lado da cama. Ele sempre deixava a carta ali, do ladinho dela, juntamente com uma única flor de lis que ele levava todos os dias, cada dia uma cor diferente que se repetia conforme os dias se passavam já que não eram muitas. A daquele dia era amarela.

Mike suspirou com comoção.

O psicólogo nem notou a presença de Elinor, ela estava encostada no batente da porta observando aquela conversa. Mike sempre contava de seu dia para sua amiga, tudo o que havia acontecido de bom ou de ruim, ele sempre conversava com ela, por mais que Lizzie não pudesse responder ou escutar.

Elinor deixou escapar um sorriso triste e chamou a atenção do jovem.

— Mike?

Estava perdido em pensamentos e quase tomou um susto. Virou-se para ela.

— Ah, olá Elinor. Há quanto tempo está aí?

— Não muito.- aproximou-se da cama e deu um beijo na testa da filha acariciando seu cabelo. — Você precisa descansar, querido. Já tem cinco dias que você não para em casa.

— Não consigo ficar longe, Elinor… Eu queria tanto que ela acordasse.

— Eu também queria...- lamentou a mulher. A alegria de sua filha fazia falta em seu dia a dia. Vê-la assim era horrível. Mas talvez tivesse uma boa notícia naquele dia, porém quando ia tocar no assunto, ele se adiantou.

— Ainda não toquei pra ela hoje…

Michael se levantou e pegou o violão que estava encostado na parede, depois voltou a se sentar ao lado da cama. Seus dedos passavam pelas cordas de forma suave e melodiosa, e transmitiam toda a sua melancolia e profundidade.

Elinor sorriu. Sempre soube do sentimento que Lizzie nutria pelo melhor amigo e lamentava por não terem vivido o que queriam, pois era nítido que Mike sentia o mesmo por ela.

O som era calmo e tocava no fundo da alma. Sempre que Mike tocava e Lizzie dançava, a mesma conseguia viajar pra outro lugar. Os olhos fechados, o corpo leve como uma pluma…

Mike finalizou a melodia e suspirou.

— Os médicos disseram alguma coisa?

— Disseram que estão confusos.

— Confusos?- franziu o cenho ao perguntar.

— Sim, três meses atrás disseram que Lizzie não reagia a nada, que tinha zero consciência, não é?

Ele assentiu e seu peito se encheu de esperança novamente, já que elas tinham quase se esgotado depois do que ouviu dois meses atrás de um dos médicos. Ele disse era certo dizer que quanto maior a duração, maior o dano cerebral, e que as chances do paciente vão diminuindo conforme o tempo. Mas já viram tantos relatos de pessoas que acordaram depois de muitos meses e até anos, e não sabiam mais no que acreditar, nem se era possível manter a fé. Com a pergunta de Elinor, Mike conseguiu antecipar o que ela ia dizer.

— Mas acabaram de me contar que de dois meses pra cá, conforme foram fazendo os exames de rotina, Lizzie estava dando sinais de consciência.

— E por que não disseram nada antes?

— Eu os questionei também e a desculpa foi porque não tinham certeza, que não queriam nos dar falsas esperanças.

— Ah, claro.- reclamou. — Mas o que será que causou essa mudança?

— Eles não sabem.

~~

No dia seguinte lá estavam eles novamente, a mãe e o melhor amigo ao lado dela. Somente os dois a visitavam agora.

Nas primeiras semanas ela recebeu a visita de alguns outros amigos e também de seus alunos. Lizzie era professora de literatura e aspirante a escritora, muito amada por muitos de seus alunos, mesmo os que os não gostavam da matéria, gostavam dela. Mike dizia que Lizzie, com seu jeitinho único, fazia os alunos pegarem gosto pela leitura sem esforço algum.

Elinor estava quietinha observando Mike tocar para sua filha, como muitas vezes já tinha visto, e de repente lhe veio um momento de clareza.

— Ai meu Deus…

— O que foi?- preocupou-se e até parou de tocar.

— Você, Mike! Suas visitas diárias, sua música… só pode ser isso.

— Como assim?- indagou completamente confuso.

— Lizzie está recobrando a consciência, não está? Ela está reagindo a isso, a música.

— O que?- arregalou os olhos. — Isso é possível?

— Bom, parece que sim.- sorriu e olhou para a filha. Mike fez o mesmo.

Parecia coisa de outro mundo para o psicólogo. Jamais pensou que uma música poderia fazer alguém acordar de um coma. Mas Elinor podia estar errada, aquilo podia não ter nada a ver com a música e sim com o fato de sempre estarem conversando com ela, tentando mantê-la consciente… Ou talvez os dois. Sua cabeça estava a mil e esperava realmente que, sendo por esses motivos ou não, Lizzie acordasse, de qualquer jeito.

~~

Mais algumas semanas se passaram e lá estava Mike depositando outra flor de lis, vermelha desta vez, sobre a mesinha. Contou pra ela como foi sua manhã, e como muitas vezes, ele disse que sentia muita falta dela e pediu que ela voltasse, com isso, Mike viu algo que já estava virando comum nos últimos dias: sinais. Sinais de que Lizzie estava escutando. Mas esses sinais só surgiam quando estava sozinho com ela, Elinor nunca lhe disse que viu ou sentiu alguma coisa para com Lizzie naquele estado, o que lhe fazia pensar que podia ser coisa de sua cabeça, seu desejo de que ela acordasse daquele sono profundo e seu temor de que aquilo não ocorreria.

Elinor chegou poucas horas depois e ao perguntar como ele estava, Mike já mencionou:

— Eu não sei se é coisa da minha cabeça, se eu estou enlouquecendo, mas… eu vi que a respiração dela ficou um pouco mais acelerada… eu não sei. Há uns três dias, eu juro que vi ela mexendo um dedo.

— Se os médicos disseram que ela está recobrando a consciência, é possível que não esteja imaginando coisas.

Michael suspirou e assentiu.

— Ela vai voltar pra nós, querido, é só continuarmos com o planejado.- sorriu.  Elinor acreditava muito naquilo e dizia que um dia todos iriam ver que estava certa.

~~

No dia seguinte Mike acordou com torcicolo por ter dormido todo desajeitado na cadeira do hospital, era umas oito da manhã. Elinor chegou cedo e o encontrou acordando.

— Não acredito que dormiu aqui de novo!- bronqueou. — Você não tem jeito, Michael.

— Eu nem me dei conta do horário e adormeci aqui mesmo.

— Ah, claro.- ironizou. Sabia que ele não foi embora pra não deixar Lizzie sozinha. — Você vai pra casa tomar um banho e vai voltar pro consultório. Danna me ligou e disse que chegou lá desesperada ontem à noite e você não estava, nem mesmo atendia o celular.

— Meu Deus.- naquele momento quem se desesperou foi ele.

Danna era amiga dele e de Lizzie há muito tempo e era paciente dele também, tinha muitos problemas e quase sempre marcava uma consulta pra desabafar, antes quem a ouvia era Lizzie, mas com o acidente não deu mais, então Danna o procurou.

— Meu celular ficou sem carga, eu espero que ela esteja bem. Vou atrás dela.

— Vai tranquilo, eu fico com a Lizzie e qualquer novidade eu te ligo, tabom?

— Obrigado.- agradeceu indo até Elinor do outro lado da cama, deu um beijo na bochecha dela e se aproximou de sua flor de lis. — Te amo.- deu um beijo na testa dela e saiu às pressas.

Elinor sentou onde Mike estava sentado antes e passou a conversar com a filha. Doía vê-la naquele estado e doía mais ainda pensar na possibilidade de perdê-la como perdeu o pai dela recentemente. Lizzie ainda estava com dificuldade de lidar com o luto, pois era muito apegada ao pai. Era muito apegada aos dois, na verdade. Quando o acidente de Lizzie ocorreu tinha acabado de completar oito meses da morte de Alfred, e todo mês nesta data, Lizzie e ela iam até o cemitério levar flores para colocar em seu túmulo.

— Está sendo difícil sem você, meu amor…- deixou que lágrimas acumulassem em seus olhos. — Já doeu tanto perder seu pai… eu não aguentaria se perdesse você também.- as lágrimas escorreram e ela fungou. — Não é justo, Liz… você não pode partir assim, nem agora… Volta, filha… por favor…- Elinor não aguentou e caiu no choro.

Pegou no sono depois de descarregar boa parte daquela tristeza e desespero. Umas três horas depois ela despertou e Lizzie estava do mesmo jeito. Elinor suspirou e voltou a segurar sua mão. Poucos minutos depois viu Mike adentrar o quarto novamente. Já tinha resolvido tudo o que estava pendente, conversou com Danna e ela felizmente não havia feito nada sem pensar, a ouviu, a aconselhou e lhe receitou um remédio para ajudá-la. Depois disso, tomou um banho e voltou ao hospital.

— O que houve?- perguntou preocupado. Ela fez cara de confusa. — Seus olhos estão vermelhos.

— Ah, não foi nada.

Mike deixou que um sorriso triste tomasse conta de seus lábios.

— É inevitável não ficar assim.

O psicólogo sentou-se no pé da cama depois de pegar o violão.

— Quem sabe eu faça as duas se sentirem melhor agora…

Elinor sorriu. Mike era um amor.

Ele tocou e após isso o silêncio reinou.

Lá pelo final da tarde, horas depois, Elinor ficou de plantão, pois Mike tinha feito isso todos os dias naquele mês, e nos outros também, raramente ia dormir em casa. Estava cansado e necessitava do conforto do lar, aquele hospital era péssimo pra passar a noite e ela quem ficaria daquela vez.

Mike não protestou e foi pra casa, mas não sem antes tocar mais uma vez para Lizzie, como um "boa noite".

Assim que o homem foi embora, Elinor começou a contar sobre como Mike estava triste com a falta dela e que ele só foi pra casa naquele momento porque estava exausto, pois se dependesse dele, não arredaria o pé dali em nenhum momento, mesmo que ela ficasse anos em coma. Seu coração doeu só de pensar nisso. Se quatro meses já estavam sendo difíceis, imagine anos!

Não demorou muito e Elinor notou sua mão ser apertada de leve. A mulher sentiu seus olhos acumularem algumas lágrimas e abriu a boca surpresa. Estava ela enlouquecendo?

— Lizzie?

Não houve resposta.

Elinor achou que já estava alucinando, mas notou as pálpebras de Lizzie moverem quase imperceptivelmente. Depois viu seu indicador mover pra cima e pra baixo rapidamente, como se ela estivesse dando sinais de acordar.

— Filha?- a chamou com a voz embargada só pra ter certeza, e foi com alegria e emoção que ouviu a voz fraca e quase inaudível dela.

— Mãe…

Elinor levou a mão livre até a boca e sorriu. Rapidamente, sem soltar a mão da filha, apertou o botão que chamava a enfermeira.

— Meu amor, você voltou...!

Toda aquela melancolia, aquele arrependimento de não ter tomado coragem, a dor da perda, o medo de não ser suficiente, a dúvida de ser correspondida ou não… Tudo aquilo consumiu Lizzie de um jeito indescritível. A professora se via pensando nisso minutos antes de não ver mais nada e sentir o impacto daquele acidente. Podia não ter perdido tanto tempo assim, mas a vida fez questão de lhe dar uma segunda chance. Era o momento de ver como tudo havia ficado sem cor sem ela, era a hora de ver as cores voltarem a tingir os dias, o brilho voltar enfeitar os olhos não só de quem a amava como os seus próprios. Era o momento de levar aquilo além das cartas.

A enfermeira chegou depressa ao quarto e correu para checar a paciente. Como ela ainda estava de olhos fechados, a moça chamou por ela pra ter certeza de que ela tinha reagido.

— Elizabeth?

Foi então que os lindos olhos azuis de Lizzie foram vistos lentamente se abrindo. Ela estava de volta, depois de quatro longos e torturosos meses, ela acordou do coma.

— Chame o doutor Connor.- ela pediu para outra enfermeira que saiu às pressas enquanto a mesma media a pressão de Lizzie e via como ela estava reagindo depois de abrir os olhos.

Não demorou para o médico negro e alto chegar ao quarto.

— Olá Elizabeth, meu nome é Connor. Como você está?

— Bem…- ela respondeu com a voz ainda fraca, porém melhor.

— Sente alguma dor?

— Não, nenhuma.

— Que ótimo.- sorriu. — Sabe onde você está?- ele queria testar a mente dela pra saber se não tinha sequela da lesão como perda de memória.

Ela demorou um pouco pra responder, ainda estava tentando recobrar completamente a consciência.

— Num hospital.

— E sabe como veio parar aqui?- Lizzie negou com a cabeça. — Você sofreu um acidente na estrada, se recorda de alguma coisa desse acidente?- ela respondeu que não. — E da sua vida antes dele? Lembra?

— Um pouco…

Elinor já ficou com medo da consequência daquele acidente, de Lizzie não se lembrar do que tinha vivido em seus trinta e um anos. Sua filha virou a cabeça para olhá-la e a pergunta que ela lhe fez doeu em seu coração.

— Cadê o papai?

A mais velha fechou os olhos com força e ao abri-los respondeu:

— Seu pai morreu já tem um ano, meu amor…

A expressão de Lizzie murchou para tristeza e ela fez menção em chorar, mas foi confortada pela mãe.

— Lembra que você escreveu uma carta quando isso aconteceu?

O falecimento de seu pai deixou Lizzie melancólica e reflexiva, a fez pensar em tudo o que seu pai queria ter dito e feito antes de partir, e mesmo que ainda fosse nova, ninguém sabe o dia de amanhã. Lizzie então resolveu abrir seu coração numa carta, colocando-se numa situação em que não estivesse mais viva. Mesmo estando saudável, não queria partir sem dizer tudo o que estava reprimido dentro dela, pois com certeza ela não teria coragem de botar pra fora cara a cara com o destinatário.

Lizzie disse a mãe que lembrava sim da carta e de cada palavra escrita nela.

— E lembra pra quem você escreveu?

— Mike…- ela sussurrou.

— Ah, você lembra do Mike!- ela comemorou contente e aliviada.

— Ele esteve aqui... não esteve?

— Como sabe disso?

— Eu não sei…- ela estava um tanto confusa. Não fazia ideia de como sabia daquilo, apenas sentiu que ele esteve lá, lembrava da música…

Enquanto Connor examinava sua filha, Elinor correu pro telefone para avisar Michael. Demorou um pouco pra conseguir falar com ele, mas quando o mesmo atendeu o celular quase não acreditou ao ouvi-la dizer “Lizzie acordou”.

Estava quase chegando em casa e imediatamente deu a volta com o carro, de volta pro hospital, precisava ver com seus próprios olhos.

O médico informou que milagrosamente estava tudo ok e que ela só teria que fazer fisioterapia e exercitar a memória, pois precisaria de ajuda pra lembrar de algumas coisas, fora isso, estava tudo bem com ela.

Quando ficaram sozinhas no quarto, Lizzie notou uma carta na mesinha ao seu lado juntamente com uma flor de lis vermelha murcha. Pegou ambas e as observou.

Elinor a explicou mesmo sem que ela lhe perguntasse.

— Mike leu sua carta e escreveu uma. Acho que devia ler.- sorriu. Não contou a ela que ele estava a caminho.

Lizzie abriu a carta e repousou a flor em seu colo. A cada linha que seus olhos passavam, os mesmos iam umedecendo, as vezes deixava escapar sorrisos, até chegar no final onde suas lágrimas sem querer molharam o papel. Simplesmente não acreditou no que leu… era recíproco!

Ela soluçou e nesse momento, Mike apareceu na porta ofegante. Com os olhos cheios de lágrimas ela o olhou e recebeu o mesmo olhar de volta.

— Lizzie!

Ela sorriu sem mostrar os dentes e ele correu para abraçá-la.

— Você voltou!

Lizzie retribuiu o abraço com intensidade e fechou os olhos. Elinor sorriu emocionada com o que estava vendo.

Mike desfez o abraço e foi quando percebeu a carta nas mãos dela.

— Você leu…?!

— Você também me ama…- afirmou sem acreditar em tudo o que leu. Nunca havia lido nada tão lindo quanto aquela carta.

— Amo sim…- lágrimas caíram e ele sorriu secando as dela. — Amo muito.

Lizzie sorriu e sentiu os lábios dele nos seus de um jeito terno e suave, logo sentiu os mesmos em sua testa e voltou a abraçá-lo em seguida.

— Obrigada…- ela pronunciou alguns segundos depois.

— Pelo quê?- desfez o abraço ao perguntar e colocou uma mecha de seu cabelo loiro atrás de sua orelha.

— Por tocar a música…

Michael olhou para Elinor completamente chocado e recebeu um sorriso da “sogra”. Voltou o olhar para sua flor de lis...

— Foi a música?

Lizzie assentiu com um sorriso escondido.

— Foi você.

Sorriram e encostaram suas testas uma na outra.

— Ah, olha… trouxe outra pra você.- Mike pegou a outra flor de lis que tinha levado já que a vermelha já estava murcha. Lizzie pegou a flor roxa e sorriu.

— Ainda sou sua flor de lis…

— Sempre foi…- disse ele acariciando seu rosto que agora tinha mais cor, com um leve rubor nas bochechas por conta da timidez. — Ãhn… ela vai ter que fazer fisioterapia, não é?- perguntou olhando para Elinor.

— Vai sim, e exercitar a memória também.

— A memória?- ele franziu o cenho.

— É que…- Mike voltou a olhar pra ela ao ouvir sua doce voz.  —… eu tive dificuldade pra lembrar de algumas coisas.- Lizzie explicou.

— Tipo o que?

— Tipo o meu pai. Não lembrava que ele tinha morrido. Provavelmente não vou lembrar de outras coisas.

— Não tem problema, vamos te ajudar com isso.- sorriu.

Lizzie sorriu e tocou a barba dele.

— Está grande...

— Está muito ruim?- fez careta e ela riu negando. Os olhos de Mike brilharam com aquilo. Que saudade daquela risada, que saudade daquele toque, que saudade dela! — Ah, eu tenho que ligar pra Danna.

— Danna?

— Nossa amiga, não lembra dela?

— Lembro, mas por que vai ligar pra ela?

Mike deu risada.

— Ainda com ciúmes da Danna, Lis?

— Não tenho ciúmes dela.- a loira negou franzindo o cenho.

— Quase vinte anos e você ainda não sabe mentir.

— Michael!- sempre que ia repreendê-lo, ela o chamava pelo nome e não pelo apelido.

O psicólogo recebeu um soco fraco no braço e manteve o sorriso no rosto. Como sentiu falta daquela amizade! Era bom tê-la de volta, acompanhada de amor correspondido. O que mais ele poderia querer? Tinha tudo o que precisava, Lizzie e o amor dela.

Mike avisou Danna, que avisou a escola e todos os alunos de Lizzie souberam que ela tinha acordado do coma. Planejaram visitá-la no dia seguinte.

E mesmo exausto, mesmo que Elinor insistisse, Mike não arredaria o pé dali. Ficaria ao lado de Lizzie naquele momento e todos os seguintes até o resto de suas vidas.

Conversaram bastante e quando já era tarde da noite, Elinor foi pra casa prometendo voltar quando o sol raiasse. Assim que ambos se prepararam pra dormir, Mike suspirou pesadamente.

— O que foi?

— Nada, é que… estou com medo.

— Medo de quê?- perguntou docemente.

— Medo de você fechar os olhos e não abri-los mais, como da última vez.

Lizzie sorriu com o canto da boca e tocou o rosto dele.

— Eu com certeza voltei por sua causa… não vou te deixar agora.

Mike sorriu, tocou o topo da cabeça dela e deu um beijo em sua testa. Lizzie amava quando ele fazia isso quando eram adolescentes e mais ainda agora.

— Você precisa descansar, Mike…

— Prometo que o farei assim que você pegar no sono.- sorriu.

Lizzie se ajeitou na cama, Mike a cobriu direitinho e lhe deu um selinho em seguida.

— Vai estar comigo quando eu acordar?- ela perguntou com os olhinhos esperançosos e felizes.

— Todos os dias.- ele respondeu com o amor exalando por todos os lugares.

Sentou-se ao lado dela e a observou dormir serenamente.

Numa situação daquela, muitas pessoas estariam com o pensamento longe, cheios de metas e planejamentos para o futuro, o que fariam dali pra frente, o que diriam, onde iriam… Mas Mike só conseguia pensar em uma coisa e era isso que ele repetia em sua mente várias e várias vezes, até a ficha cair:

“Minha flor de lis voltou pra mim!”.


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Notas finais do capítulo

Yaaaaay! A Lizzie acordou! Eu não ia ser tão má de matar ela depois daquelas cartas né gente kkkkk
Agora se vai ter continuação daqui pra frente são vocês que sabem, se quiserem eu faço, mas vai demorar um pouquinho. Eu ia fazer uma pro desafio drabble, mas eu terminei a one agora com o desafio já praticamente no meio, então nem deu. Quem sabe ano que vem, se vocês quiserem ^^
Bom, deixem suas opiniões, tabom? Obrigada a quem chegou até aqui ♥
Abraço de urso e até mais! :3



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