DATE Jilytober 2019 escrita por Jú M


Capítulo 1
Apenas um Drinque




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Lilian Evans não tinha ideia de como havia parado ali. A culpa era totalmente dela – não que ela fosse admitir em voz alta nem nada –, mas quando considerou as consequências, não estava imaginando aquilo.

James Potter não tinha ideia de como havia parado ali. É claro que diferente da ruiva, ele estava se aproveitando ao máximo – e ele com certeza admitiria em voz alta –, mas quando considerou a proposta dela, não estava imaginando aquilo.

Lilian estava furiosa.

James estava rindo.

Antigamente essa cena seria motivo o suficiente para muitos virarem as costas e fugirem do Furacão-Evans. Cena clássica: James Potter provocando Lilian Evans. James Potter brincando com o fogo, no caso, com Lilian Evans. James Potter sendo atacado por Lilian Evans.

Acho que deu pra entender o contexto geral.

Mas então, como se fosse a coisa mais costumeira do mundo, James Potter deu um passo para frente e abraçou Lilian Evans.

Oi?

Ok, ok, talvez devêssemos voltar um pouco.

Toda essa história começou um dia antes, na faculdade de Hogwarts onde os dois estudavam, na aula de literatura antes mesmo dela começar. James entrou na sala e se jogou na carteira que, sem surpresa nenhuma, era ao lado do seu melhor amigo, Sirius Black, lá no fundão. Nada de novo.

O interessante foi quando a garota ruiva, Lilian, entrou e caminhou direto na direção de Potter, se sentou na frente dele e declarou:

— Eu não gosto de você.

Ninguém se surpreendeu. Choca o total de 0 pessoas.

— Ótimo. Mas eu gosto de você, sabe disso — retrucou James, fazendo Lilian sorrir.

Sorrir. Em vez de brigar, esnobar ou ignorar totalmente a presença dele, ela sorriu. Com dentes e tudo! Como se James fosse alguém que merecesse seu sorriso.

Ele já achava que estava totalmente ferrado, mas foi nesse exato momento que teve a certeza. Se era porque sabia que Lilian planejava alguma coisa, ou porque era apaixonado por aquele sorriso, ele ainda não tinha certeza.

Apenas respirou fundo, sorriu de volta, levantou e berrou mandando quem quer que tivesse abduzido Lilian Evans, que a devolvesse logo. Brincadeira! Ele parou no ato de sorrir e se preparou, mas não adiantou nada. Não estava preparado para o que veio depois:

— Não quero mais brigar, Potter. Não foi pra isso que eu vim aqui.

— Não? — ele arqueou as sobrancelhas, levemente confuso.

Fazia tempo que não brigavam de verdade, eram só as provações de sempre. Por fazerem cursos diferentes, não era toda hora que James podia vê-la, mas aconteceu algum acordo não verbal entre os dois, que pareciam procurar um ao outro nos tempos livres e seria bem frustrante ter que sair emburrado toda vez que a encontrasse, então eles passaram a aturar a presença um do outro.

— Não, é sério. Deu de ficar com briguinhas infantis por aí, não acha?

James sentiu a armadilha de longe, mas não pediu arrego.

— Tudo bem, ruiva. Bandeira de paz?

— Não! — ela riu e o sorriso malicioso que deu em seguida quase fez James sair correndo. — Eu na verdade prefiro um jantar de paz. Amanhã, no Três Vassouras, oito horas da noite.

Um jantar? James podia encarar isso. Um jantar era só um jantar, não era? A única coisa que tinha certeza era a forma exata que seus amigos reagiriam a isso , já que Peter sem sombras de dúvidas apenas encheria o peito, arrumaria a postura como se estivesse pronto para fazer um belo discurso e diria com toda a sua graciosidade: "Cara, ela vai te matar". E talvez fosse verdade, Sirius certamente concordaria, mas seria Remus que acalmaria a situação lembrando que não seria muito inteligente da parte da Lilian fazer isso em público.

Lilian estendeu a mão:

— Fechado?

James não entendeu exatamente o que ela queria com tudo aquilo, pois vindo de Lilian, poderia ser sincero ou só um jeito novo de brincar com ele. Mas mesmo que a dinâmica entre os dois não fosse a mais pacifica, tinha muito disso de não precisarem de um contexto, as suas conversas surgiam com assuntos aleatórios e, quando não acabava com os dois saindo batendo o pé, era bem interessante observar. Discutiam alguma coisa boba depois só para não perder o hábito, mas já tinha passado a época que um via o outro com aversão. Por isso, não era de se admirar que James estava, talvez... Esperançoso, digamos assim, com esse tal jantar.

Mesmo assim, é claro que James devia ter pedido mais informações antes de mais nada, quem sabe descobrir o que ela planejava, mas no fim acabou ficando feliz que não pediu. Em vez disso, penas estendeu o braço e apertou a mão de Lilian Evans.

— Fechado.

Não seria uma surpresa se o mundo acabasse ali mesmo, em colapso com toda essa reviravolta estranha, mas acabou só resultando no dia seguinte, com os dois parados em frente a lanchonete Três Vassouras no centro de Hogsmeade, às 20:50, porque James Potter havia se atrasado cinquenta minutos. Cinquenta!

Quando ele chegou, Lilian estava furiosa.

E James estava rindo.

Não dela... Talvez só um pouquinho! Mas acontece que assim que parou ao lado de Lily, não pode deixar de notar a enorme placa de promoção bem ao lado da porta do lugar que fez James sacar na hora o motivo para estavam ali.

O Três Vassouras estava oferecendo um jantar de graça para casais, desde que pagassem por pelo menos duas bebidas, uma espécie de promoção por causa da semana do Dia dos Namorados. Inclusive dava para ver pela vitrine vários casais de mão dadas, dando risadinhas e olhares apaixonados. Mas na placa estava escrito também até qual horário podia chegar para pegar a promoção : 20:30h. Já era, eles haviam chegado tarde. Ou melhor, James havia.

Lilian observou pelo vidro duas meninas sentadas juntas numa mesa próxima a porta, sem saber se morria de amores por elas quando uma beijou a testa da outra com afeição ou se morria de raiva de James, por saber que por culpa dele, eles não estavam lá dentro como as duas meninas. Não literalmente como elas, porque Lilian não estava preparada para distribuir selinhos no Potter como a menina mais alta fez na morena.

Mas sabe, Lily amava a comida do Três Vassouras e a ideia de um jantar de graça era mesmo bem tentadora. Porque não havia mais nenhum motivo para estar ali, além da comida. Não mesmo. Essa história não tinha a ver com o garoto ao seu lado. Nem de longe.

Ou pelo menos era o que ela repetia para si mesma.

— Você quer ser minha namorada por uma noite, Evans?

Lilian deu um soco no braço de James, de leve. Ele nem se mexeu.

— Eu queria, mas agora já era. A gente perdeu a hora. Conhece a palavra pontualidade?

James ignorou totalmente o que ela disse.

— É assim que você trata seu namorado?

— Você não é meu namorado.

— Mas queria que eu fosse.

— Claro, por comida de graça. Isso se chama prioridade, Potter.

— Como seu namorado...

— De novo: você não é meu namorado.

— ... eu mereço um pouco mais de carinho, sabia?

— Senta aí e espera seu carinho.

— Eu te mostro como faz, é assim ó.

E foi quando aconteceu: ele segurou Lilian pelos ombros, deu um passo à frente e puxou-a pra si, fazendo a garota acabar com o rosto enterrado no seu peito e podendo sentir o cheiro do perfume de chocolate de James. Lilian paralisou na mesma hora e não se mexeu por um bom tempo, pois parecia que estava travada e seu corpo não a obedecia. Por dentro estava chantageando a si mesma exigindo que se afastasse, porque esse era James Potter e ele estava a abraçando! O queixo apoiado no topo da cabeça dela, uma de suas mãos fazendo uma pressão reconfortante nas suas costas e a outra na cintura. Ah, não! Ela não podia estar tendo uma cena clichê com James Potter!

James afastou um pouco a cabeça, espantado quando notou que ela não tinha o empurrado para longe logo de cara, mas sim tinha ficado ali, no abraço e parecia não querer sair. Por que ela não tinha se afastado? Mas o pequeno movimento foi o suficiente para Lilian entrar em ação, se distanciar de repente e dar três longos passos para trás, o rosto em choque.

Os dois ficaram em silêncio por um instante. Lily chegou até a ver a garota morena, do casal que antes tinha visto no restaurante, dar uma boa olhada neles lá de dentro, quase que curiosa. Até James não aguentar mais o olhar intenso que a ruiva lançava para cima dele.

— Me desculpa — murmurou James, sem saber direito pelo que estava se desculpando.

Ali surgiu dois caminhos disponíveis para Lily: Ela poderia iniciar uma conversa madura e sincera sobre os efeitos que James havia causado nela só por tocá-la por alguns segundos, ou sobre a expressão do rosto dele que parecia dizer muito mais do que aquele silêncio, ou... Sabe, fugir do assunto. Óbvio que ela escolheu a última opção.

— Não! Hã... Tá tudo bem. Quero dizer... Na próxima vez, só vê se não atrasa — disse ela, desviando o olhar. Ele entendeu na hora o que Lilian estava fazendo, fingindo que a desculpa não era pro momento que haviam acabado de ter, mas... James acabou se focando em outra coisa: então teria uma próxima vez?

Mas Lily continuou a falar, fingindo desinteresse sobre isso, agora falando mais consigo mesma do que com James:

— Aí, sei lá sabe, não é tão importante assim, mas eu saí de casa, sai da minha cama quentinha, só pra vir aqui, nesse frio...

James franziu as sobrancelhas, colocando as mãos no bolso e olhando em volta, enquanto ela continuava:

— ... hoje eu vou dormir pensando na comida do Três Vassouras...

— Evans.

— ... eu só queria um jantarzinho, nada demais...

— Ruiva...

— ..., mas ele teve que se atrasar! Poxa, eu até pedi uma trégua...

— Lily!

O que finalmente a fez virar foi ele a chamando de Lily. Se virou de repente quando percebeu que gostou de como o apelido soou na voz dele. O pensamento a fez corar.

— O que foi?

— Acho que é uma competição.

— Competição?

— É, olha ali. Pra atrair clientes.

Ela imediatamente olhou para onde ele apontava. Do outro lado da rua, em frente a um bar chamado Cabeça de Javali, havia um homem de cabelos grisalhos e, mesmo estando a metros de distância, seus olhos azuis de alguma maneira diziam a Lilian que ele era mais novo do que parecia, mas era difícil ter certeza com os cabelos brancos e rebeldes que desciam até os ombros do homem.

Ele parecia estar completamente entediado, o rosto inexpressivo enquanto ajeitava uma faixa que provavelmente havia caído e ele tentava arrumar novamente na vitrine do bar. Era a mesma promoção que o Três Vassouras promovia, mas de vez um jantar grátis, eram bebidas alcoólicas gratuitas.

James olhou para Lily, sugestivo, a sobrancelha levemente arqueada enquanto ele alternava olhares entre ela e o bar.

— Que tal? Pra não desperdiçar a viagem?

Lilian o olhou, séria. Ele não podia estar falando sério. Ela não ia sair pra beber com ele, não mesmo, nem em sonhos. Nem que a vaca tussa. Nem que porcos voassem! Abriu a boca pra falar exatamente isso, quando, na verdade, o que ela disse foi:

— Beleza, vamos lá.

Ok, ela não conseguiu resistir e lá foram eles, em direção ao bar.

James particularmente achava que não havia nada mais apavorante e ao mesmo tempo tentador do que Lilian Evans furiosa. Os olhos verdes dela sempre pareciam faiscar, mostrando uma vontade de acabar com ele não importava onde fosse e, caso bobeasse, ela mesma poderia queimá-lo com aqueles cabelos vermelhos como chamas vivas que desciam em ondas pelas costas da garota. James era fascinado por eles e poderia tranquilamente dizer isso em voz alta se tivesse certeza de que não iria receber um tapa em troca.

Mas enquanto paravam em frente ao homem desconhecido, James se deu conta que gostava dessa Lilian, mesmo ainda não sabendo de onde ela havia surgido. Gostava mais dessa ruiva que topava planos com ele, do que aquela que tinha a mania irritante de chama-lo constantemente de "aquele cara desprovido de senso".

Mas ainda assim, mesmo com esse pacto de paz temporário, nenhum dos dois estava muito confiante e não sabiam direito como reagir. Porém já estavam lá mesmo, então que mandassem tudo a merda, não é? Lilian só precisou tomar o mínimo de coragem e respirar fundo, para dar um passo à frente e declarar:

— Oi, eu sou Lilian Evans. Ah, e esse é o meu namorado, James Potter.

James tentou controlar o sorrisinho que queria brotar no seu rosto por ter gostado de como aquilo soava, ao mesmo tempo em que se sentia um idiota.

— Eai — foi a única resposta do homem de cabelos brancos. Parecia que se fosse por ele, ignoraria a presença dos dois sem o menor esforço.

— Hm... Como isso aqui funciona? — disse Lilian, e estendeu a mão dando uma batidinha na faixa que o homem tinha acabado de pendurar. A batidinha fez uma das pontas cair e a faixa entortar de novo. O olhar que o homem deu a ela a fez recuar um pouquinho, na direção de James. — Opa, foi mal!

Mas ele não respondeu, apenas se virou e entrou, fazendo um sinal para que os dois jovens o seguissem para dentro do bar. O Cabeça de Javali não é e nunca foi um bar de respeito, mal iluminado, levemente malcheiroso e sua clientela não é a das melhores, considerando o tanto de gente esquisita que se pode encontrar espalhadas pelas mesas do bar, pelo chão, ou na sarjeta em frente a porta principal. Por isso eles hesitaram por um instante, mas depois, ignorando todo o senso que tinham, o seguiram.

Assim que entraram, foram direto para o balcão, para onde o homem da faixa tinha ido e não tiveram escolha a não ser segui-lo. Desviaram de algumas mesas com um pessoal meio suspeito, mas não comentaram nada. Até porque uma capa preta que cobre tudo, inclusive o rosto, igual a de uma das pessoas que estavam paradas ali perto, poderia muito bem ser a última moda em Paris, não é? Vai saber!

— Meu nome é Aberforth — começou o homem, depois de olhar as identidades deles sem nem ao menos olhar direito para os dois, começando a se mexer de um lado para o outro no lado de dentro do balcão e recolhendo algumas coisas por ali enquanto falava. — Vocês são os únicos idiotas que escolheram vir pra cá de vez ir pro Três Vassouras, sabiam disso?

James respondeu:

— A gente gosta mais daqui.

Ao mesmo tempo em que Lilian dizia:

— Culpa dele, chegou atrasado e passamos do horário.

Eles se encararam, enquanto Aberforth soltava uma risada debochada.

— Precisam pelo menos combinar a história antes, pombinhos. Não dá só pra exigir umas bebidas de graça fingindo ser um casal.

Lilian corou, enquanto James começava a gaguejar:

— M-mas q-quem disse que n-não somos um...

— Tá — interrompeu Aberforth, se encostando no balcão e encarando os dois. — O passe para ganhar as bebidas, é provarem. Provem que são um casal.

A vergonha de ter sido pega no pulo em menos de cinco segundos desapareceu imediatamente e Lilian a substituiu pelo aborrecimento. Odiava ser testada! Ia dizer exatamente isso e pedir para James para irem embora, mas pelo visto Potter tinha outros planos em mente.

— Tudo bem. Acho que conheço Lilian mais do qualquer um. Esse tipo de coisa serve?

Aberforth deu de ombros.

— Vai em frente.

James se virou na direção da ruiva e deu um sorriso nervoso.

— Tente não se irritar, está bem? É só umas coisas que eu reparei em você desde a escola.

Lily queria se irritar sim. Queria virar as costas e ir embora. Queria gritar chamando-o de aquele cara desprovido de senso a plenos pulmões e fugir. Ela era boa em fugir e estava sempre pronta pra usar essa tática, mas dessa vez, não fez nada disso.

— Vou tentar — resmungou ela, mas James, conhecendo bem a garota na sua frente, percebeu o sinal verde e sorriu. Era uma chance, pelo menos.

— Tá bem, vamos lá... Hã, você ama livros de terror e mistério. Vi você com Psicose umas milhões de vezes, chegou até a fazer uma apresentação sobre ele. Sei que você gosta de dizer que terror é muito melhor do que os romances clichês ruins que sempre alguém morre no final, mas sei também que chorou assistindo Como Eu Era Antes de Você e que é um dos melhores filmes que já assistiu. Você fecha levemente os olhos quando está irritada ou com sono, mas eles ficam sempre bem abertos quando você está feliz ou surpresa... Como agora. Quando escuta música no fone de ouvido, você sempre canta o toque da música junto, às vezes totalmente fora do ritmo, mas isso sempre parece te renovar. Eu sei dizer quando você está triste, quando está feliz ou quando precisa de um amigo, nem que seja pra brigar. E é por isso que eu nunca vou embora e estou sempre por perto.

James parecia envergonhado, como se tivesse falado demais, deu um pequeno sorriso e encolheu de leve os ombros, como se dissesse "é só isso que eu tenho".

Mas enquanto isso, Lilian não sabia nem o que sentir, imagina então o que dizer. Queria começar a chorar ali mesmo, mas também queria rir, queria soca-lo no meio do rosto e dizer que ele não tinha o direito de dizer esse tipo de coisa dela, mas também queria beija-lo e saber o que mais ele havia notado nela. Lilian não queria nada, mas queria tudo.

Já Aberforth não parecia impressionado.

— Grande coisa, garoto. Eu também sei falar algumas coisas bonitinhas pra convencer alguém.

Mas James já estava se sentindo corajoso até demais, foi pegando confiança e agora seria meio difícil faze-lo abaixar a bola. Por isso, mesmo corado, não se importou nem um pouquinho com as palavras de Aberforth. Se ele queria algo, queria uma prova, então que fosse. James e Lilian não eram namorados de verdade, mas Potter já estava cansado de negar que queria ser.

Então ele se aproximou dela. Viu a respiração de Lily falhar um pouco e seus olhos verdes se arregalarem, mas ela não recuou, apenas deixou a mão dele segurar seu rosto e puxa-la pra si. Era engraçado mesmo Lilian reclamar dos clichês sempre que podia, quando na verdade os adorava, principalmente quando estava pronta para passar pela maior cena clichê de todos os tempos.

O primeiro beijo.

O primeiro toque leve dos lábios de James no dela, com a ruiva avançando em seguida sem nem perceber o movimento do próprio corpo e intensificando o beijo, abrindo a boca o suficiente para deixar a língua dele deslizar pela sua e beija-lo ali mesmo. Naquele bar, em frente a um desconhecido e fingindo serem namorados para ganhar algumas bebidas de graça. De alguma maneira, toda essa loucura pareceu o certo.

— Certo, já deu — resmungou Aberforth e bateu uma caneca de cerveja no balcão, assustando Lily que deu um pulo pra trás, como se tivesse acabado de despertar de algum sonho. Ela se sentia assim.

Estava acontecendo tudo muito rápido. Não havia sido no dia anterior que Lilian tinha dito a James "eu não gosto de você"? Parecia muito distante naquele momento. Tanto que nenhum dos dois ousou falar alguma coisa, nem sei dizer se tinham estruturas o suficiente para isso. Lily só conseguia pensar que seus lábios pareciam formigar de uma maneira gostosa e James apenas pensava no gosto de morango do gloss de Lilian.

— Aqui está — Sem mais explicações, Aberforth colocou uma sequência de vários copos pequenos de drinques e os encheu rapidamente com uma bebida laranjada. — Aproveitem.

E se afastou.

Lilian encarou os copos, em seguida encarou James. James encarou os copos, em seguida encarou Lilian. Foi um acordo silencioso entre duas pessoas que não confiavam nelas mesmas para abrir a boca, para evitar despejar uma quantidade considerável de sentimentos e melosidade.

Os dois apenas agarraram um copo cada um e viraram, a bebida queimando suas gargantas.

Um tempo e alguns copos depois, Lily só conseguia pensar que ia se arrepender disso, na manhã seguinte. Estava tonta e sua cabeça doía, apostava que se tentasse ficar em pé teria que se apoiar em alguma coisa pra não cair.

Pensou que ia gostar se tivesse que se apoiar em James Potter. Por causa desse pensamento, explodiu em risadinhas. Esquisto, não era garota de dar risadinhas, ainda mais por interesse romântico. Não se sentia assim desde quando beijou Emmeline Vance. Lembrar disso resultou em outro ataque de risadinhas.

— O que você tá fazendo?

Lilian estava sentada na cadeira de uma das mesas do Cabeça de Javali, como tinha parado ali ela não tinha certeza, mas suas pernas estavam pernas jogadas em cima da mesa, com James ao seu lado, que tinha acabado de se virar para ela e feito a pergunta.

— Tô pensando — respondeu ela.

— Em quê?

Invente qualquer coisa, Lily pensou.

— Em você — foi o que saiu.

Ele sorriu, mas parecia estar tão bêbado quanto ela, os olhos meios desfocados enquanto a encarava.

— No beijo?

— É.

— Quer repetir?

Ela o encarou.

— Quero.

Não deu nem um segundo e os dois  já se levantaram, caminhando para o banheiro sem nem mesmo combinar, os dois cambaleantes e perdidos e não se esforçando para disfarçar. Lilian entrou primeiro no banheiro feminino, deu uma olhada nas cabines, todas elas abertas e vazias e foi direto para a última, se enfiando lá dentro. James a seguiu e quase que imediatamente, assim que fecharam a porta, Lilian já estava encostada na parede, envolvendo Potter pelo pescoço, os corpos colados e suas bocas atacando uma a outra.

Eu não devia estar fazendo isso, James pensou.

Segurar as coxas de Lilian e a puxar para cima fazendo-a envolver sua cintura com as pernas, foi o que saiu.

Parando o beijo por um instante, James desceu os lábios pelo pescoço da ruiva, beijando uma área sensível que a arrepiou no mesmo instante.

— James... — sussurrou ela baixinho.

Lily não estava preparada para pensar muito no que estava acontecendo, mas sabia que era uma coisa que ela queria. E muito. Mas isso, seu sussurro, a maneira como sua voz pronunciou o nome dele, de alguma maneira o fez parar. Lentamente foi voltando Lilian ao chão e se afastou, deixando a garota desnorteada com a falta de contato que ela tanto desejava. Olhou-o, confusa. Será que tinha feito algo de errado?

— Por que eu? — murmurou James.

Isso fez Lily gemer de frustração.

— James... — repetiu ela, tentando se aproximar de novo, mas ele mal se moveu.

— É sério. Remus me disse uma vez que achava você bem bonita e te encheu de elogios. Podia ter chamado ele pra vir aqui com você hoje. Ele seria o namorado perfeito, com certeza melhor do que eu.

— James... — disse Lily pela terceira vez, agora realmente frustrada, percebendo que o James bêbado passava do tentador para o melancólico muito rápido. — Remus gosta do Sirius. E eu gosto de você. Pedi para ele falar bem de mim.

James assentiu, como se fosse a resposta que esperava. Mas então levantou a cabeça, assustado, como se tivesse refletido e processado o que ouviu e percebido que definitivamente não era a resposta que esperava.

Lilian estava definitivamente sem paciência. Só queria dar uns beijos, poxa, não discutir o que ela sentia ou não por ele. Mas era tarde demais e ela acabou botando pra fora:

— Eu gosto de você, tá? Eu te achava um pé no saco de insuportável, mas aí eu percebi que penso até de mais em você. Que você me faz sorrir mesmo quando eu quero te socar. Aí eu pensei, caraca, eu quero namorar esse cara.

— Mas a gente nem tinha tido um encontro.

— Eu decidi que a gente poderia sair junto pela primeira vez e ainda te testar como namorado.

James sorriu.

— Como eu tô me saindo?

— Estamos bêbados no banheiro de um bar depois da gente se agarrar.

— Nosso filho vai se chamar Harry.

— Com certeza.

E se beijaram de novo.

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[10h da manhã – no dia seguinte]

Lilian resmungou alguma coisa baixinho, inaudível. Sua cabeça parecia que ia explodir e, para completar, tinha a droga de uma luz forte bem no seu rosto. Murmurou, se mexeu, remexeu, xingou, resmungou de novo e só então, quando teve certeza de que não ia voltar a dormir, se sentou na cama que estava deitada.

Percebeu várias coisas logo de cara: não estava no seu quarto, isso era certeza. Esse era maior, as paredes eram pintadas de branco com alguns pôsteres sobre o time de futebol da faculdade, Gryffindor. Os móveis eram simples, mas bem bonitos, tinha até uma pequena prateleira de livros ao lado da porta. Sobre a escrivaninha ao lado da cama tinha uma foto de um bebê muito fofo e, ao lado dela, outra de um James Potter mais velho com seus amigos e... Espera.

Lilian pulou da cama e teve que se segurar imediatamente na parede quando o quarto girou e voltou a se sentar na beirada da cama, mas agora mais desperta do que nunca. Estava no quarto de James Potter!

Seu coração acelerou consideravelmente e ela precisou de uns segundos respirando fundo para reorganizar os pensamentos. Estavam no bar ontem, certo. Beberam bastante, certo. Ela tinha se declarado pra ele. Ela tinha se declarado para ele! Uma declaração horrível, mas boa nos padrões de uma bêbada.

Lily gemeu e desejou sumir. Estava envergonhada, queria se esconder debaixo da cama. Como ela tinha chegado nesse nível? Pelo menos a roupa que ela usava, ainda do dia anterior, parecia dizer que depois que eles foram embora de táxi para a casa dele, não tinham feito nada de mais além de uns beijos, o que Lilian estava eternamente grata. Não que ela não quisesse, mas queria estar sóbria, de preferência.

Lilian sabia que James morava sozinho, então não tinha medo de uma aparição repentina dos pais dele, mas antes que pudesse decidir se esperaria James aparecer ou se iria embora de fininho, ele decidiu por ela. James abriu a porta do quarto, os cabelos molhados deixavam claro que tinha acabado de sair do banho e seu rosto se abriu com um sorriso quando percebeu que ela estava acordada.

— Bom dia, flor do dia.

— Bom dia — resmungou ela.

— Você está péssima.

— Nossa, muito obrigada, James. Era exatamente isso que eu queria ouvir — respondeu Lily, irônica, mas deu um pequeno sorriso. Fazer o que, era verdade. Não estava muito animada para ver a situação do seu cabelo.

— James, é? Evoluímos do sobrenome para o nome. Gostei.

Ela riu.

— Depois de ontem, isso não é tão difícil.

James a observou, curioso. Achou que demoraria mais para ela citar o incidente que ele tinha decidido chamar de Aquilo-lá-do-Cabeça-de-Javali. Ele disse exatamente isso para ela.

— Aquilo-lá-do-Cabeça-de-Javali? Me recuso a usar esse nome, James.

— Sugere o que então, meritíssima?

— Que tal o-dia-que-eu-me-declarei-pra-você-então-vamos-por-favor-falar-sobre-isso?

James ficou em silêncio por um instante, mas depois disse:

— Olha, eu sinceramente achei o nome muito grande.

— James!

— Tá, tá.

Ele sorriu e se aproximou dela que ainda estava sentada na beirada da sua cama. Se abaixou para poder ver Lily melhor nos olhos e a encarou, mais sério do que uns passos atrás.

— Eu também gosto de você. Achei que tinha deixado claro todo esse tempo, eu sempre te chamava pra sair.

— Como eu ia saber que não era só  mais uma das suas brincadeiras?

— Não era. E mesmo assim, as coisas que eu falei de você para o Aberforth são todas reais e eu não repararia em tudo aquilo à toa. Eu gosto de você, Lily. E se você quiser tentar, tudo bem. Se quiser deixar para lá, tudo bem também. Mas eu gostaria mesmo que a gente falasse da tal bandeira de paz, porque a trégua eu estou super levando a sério. Se envolver uns beijinhos aqui ou ali, sem reclamações.

Lilian não resistiu e riu. A ideia parecia muito tentadora e talvez não fosse uma coisa ruim tentar.

— Eu gosto do nome Harry — disse ela, estupidamente.

Foi o suficiente para James rir, se levantar do chão e se inclinar na direção dela.

— Um passo de cada vez. Mas isso significa que sim? Vamos tentar?

— É, algo por aí.

Eles sorriram juntos, James se abaixando ainda mais para beija-la, mas antes que conseguisse, Lily o empurrou pelo ombro.

— Eca, não. Nem escovei os dentes ainda.

— E daí? Vem cá.

E os dois caíram na cama, rindo. No mesmo instante levaram a mão para a cabeça e gemeram, a ressaca ainda dando seus sinais de vida. Ainda assim, Lily e James acabaram deitados juntinhos, na cama dele, sentindo o calor um do outro.

Depois disso, ainda tiveram que lidar com algumas coisas, como quando contaram que estavam juntos e Sirius berrou de felicidade gritando "Eu sabia!", pegando Remus pela mão e declarando que eles abençoavam a relação apenas se eles fossem os padrinhos no casamento (a sugestão fez James gaguejar e Lilian gritar "Que!"), enquanto Peter dava umas palmadinhas nas costas de James, afirmando que alguns guerreiros conseguem vencer a guerra. Aconteceu também a apresentação aos pais de Lily, que teve alguns probleminhas envolvendo um bolo, uma janela e um cachorro, mas essa é outra história.

A única coisa que sabiam era que valeu a pena.

Certo que Lilian Evans não tinha ideia de como havia parado ali. Sabia de todas as coisas que poderiam ter dado errado, principalmente por causa dela – não que ela fosse admitir em voz alta nem nada –, mas quando considerou as consequências, percebeu que era ali mesmo que queria estar.

James Potter não tinha ideia de como havia parado ali. Se apaixonar por Lilian tinha sido só uma questão de tempo – e ele com certeza admitiria em voz alta –, mas quando considerou a proposta dela, não imaginou que acabaria no melhor lugar que poderia estar.

Lilian estava feliz.

E James estava apaixonado.


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