A Namorada Do Papai escrita por Thay Paixão


Capítulo 16
Bônus: A Conversa da Minha Vida


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novo! Que esse ano seja incrível para todas vocês! Aqui vamos entrar na cabecinha do Edward, eu adorei fazer isso, espero que consigamos entender melhor ele.

Boa leitura ♥



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Edward.

 

Às vezes parece que você tem a droga do plano perfeito. Você trabalha com o que ama, administra seu tempo, sai com mulheres lindas que sabem que você não quer as coisas delas no seu banheiro, passa um tempo de qualidade com a sua família. Simples, confortável, previsível.

Eu gostava da minha vida e não a via mudando de direção de forma alguma, em direção nenhuma. Até Isabella Swan entrar naquela sala e mudar tudo. Foi o mais clichê possível, eu olhei para ela e algo dentro de mim apenas sabia que tinha que fazê-la minha. Eu tinha que ser seu porto seguro, a pessoa para quem ela iria ligar se estivesse em apuros, para quem ela ligaria porque estava feliz por algo, ou chateada. E eu não quis ser esse cara para ninguém, bem, desde Tanya. Eui fui esse cara para ela, seu melhor amigo e confidente, até que Nessie surgiu entre nós e a vida real chegou, e ela entendeu que eu não era o bastante. Uma vida comigo não seria o bastante.

Edward, eu apenas não quero ser Tanya Cullen. Sabe como mulheres lutam para que seu nome seja reconhecido e acabam sempre a sombra de um homem?

—Nunca acabaria a minha sombra, Tanya. Você é muito mais… incrível que eu. É inteligente, linda, e será uma advogada incrível. Não sei como ser minha esposa poderia atrapalhar isso.

—Exatamente! - Ela arregalou os olhos para mim como se eu tivesse declarado o ‘’X’’ da questão . - Eu seria a sua esposa Edward, apenas isso. No momento em que me comprometer com você eu vou deixar que ser Tanya Denali, a aluna prodígio, a futura advogada brilhante, para ser a esposa de Edward Cullen.

—Só você pensa assim. - Eu me recusava a ver as coisas como ela.

—É como as coisas são, e se você não vê dessa forma, é apenas ingênuo demais.

—E quanto a nossa filha? - Porque isso era o que realmente importava para mim agora.

Tanya colocou a mão na barriga ainda plana. 

—Vamos cuidar dela. E seremos os melhores pais do mundo, porque ainda seremos melhores amigos.

—Seu plano é péssimo. 

—Só porque você acha que me ama. - Ela mostrou a língua para mim.

Fiquei quieto, era a escolha dela afinal e eu não iria forçá-la a nada. 

Voltando a presente, eu sabia que a decisão de Tanya de não ficar comigo naquela época me afetou de uma maneira pesada. Eu me apoiava nela, eu sonhava em ter a minha própria família com ela, e quando as coisas não saíram como eu planejei, me afoguei no mundo de ser pai, me envolvi com garotas de forma superficial, e quando Nessie estava maior e não precisava tanto de mim tentei relacionamentos mais sérios, que fracassavam sempre. Eu me sentia um cara amaldiçoado a nunca encontrar a mulher certa para mim. 

E é claro que eu não encontraria, afinal eu estava limitando a minha área de procura, quando ela vivia em Forks, Washington do outro lado do país. 

E tudo pareceu tão certo, tão bom por um tempo! Como tudo saiu de controle?

—Como isso foi acontecer? -Falei em voz alta, o copo de whisky em minha mão sendo apertado com mais força que o necessário.

—Como entrei aqui? A porta estava aberta. Vou te contar, não é porque você vive em um condomínio de luxo que deve ficar tão à vontade com a segurança, pode ter um vizinho psicopata ou sei lá. 

Kaure, minha melhor amiga estava parada na porta do meu estúdio de música, roupas de caminhada, um pouco suada, uma garrafinha do que eu poderia jurar ser água com limão em mãos.

—As vezes, só às vezes, eu me arrependo de te dar livre acesso a minha casa. - Fiz uma careta. Deixei  o copo em cima do piano.

—Eu também te amo Cullen. -Ela revirou os olhos, se aproximou mais de mim. - Você está péssimo!

—Kaure, eu não tô no clima desse tipo de amizade hoje. - Deixei claro.

—Quer o tipo de ‘’amiga-bajuladora’’? Vamos lá, Edward, já faz semanas que não nos vemos!

E ela tinha razão. Abriu os braços para mim, me levantei devagar, dei os passos necessários para envolvê-la.

—Por onde você esteve? - Perguntei.

—Por aqui, por ali… nada demais. - Ela deu ombros. - Por que esse lugar parece… detonado?

Ela fez uma careta olhando em volta, haviam embalagens de comida pronta, e algumas garrafas de bebida. - Você deu uma festa? Por favor diga que deu uma festa, não quero imaginar que você bebeu tudo isso sozinho.

—Eu dei festa.

Ela fez uma careta.

—Você nem tentou mentir direito. Deixa eu adivinhar, Bella descobriu que você é um carente mentiroso?

—Não sou mentiroso.

—Mas é carente, e omitir é mentir. - Ela sentou no chão e começou a se alongar.

—Tudo estava indo… tão bem. - Bufei. - Parecia que finalmente…

—Você tinha encontrado a mulher. - Ela debochou.

—Kaure, é… mais que isso. A minha alma reconheceu a dela. Foi… maior que nós dois. 

—Puft. Meu melhor amigo é tão… gay. - Ela fez uma careta.

—Qual é o problema ser romântico? - Franziu a testa, ela estava se alongando numa posição bem… peculiar.

—Nenhum. O problema Edward, é colocar toda as suas… expectativas na pessoa. É omitir que você já amou alguém e não superou.

—Eu superei.

—Se tivesse superado o foro de Tanya, teria contato a Bella. Ou a Kelly, ou a Tainá, ou a Becca, ou…

—Já entendi. - A parei antes que começasse a listar todas as minhas namoradas desde a adolescência.

—Sabe o que você precisa? - Ela deu um pulo se pondo de pé, as mãos na cintura e um sorriso brilhante.

—Por favor, não diga terap…- fechei os olhos quando ela me cortou.

—Terapia! Todo o mundo deveria fazer, você se sentiria melhor, tenho certeza.

—Não sou doido.

—Claro que não, pessoas ‘’loucas’’ ou‘’doidas’’ são as únicas que reconhecem que precisam de ajuda, sabia? Ou eu posso estar falando besteira também. -Ela deu de ombros. - Então a Bella te deu um chute?

—Não estávamos conseguindo… lidar com Nessie.

—Ah… Renesmee. Conte me tudo, não quero perder tempo tentando adivinhar.

—Vamos para a cozinha, preciso beber algo que não seja alcoólico. - Passei por ela em direção a porta.

—Água com limão? - Me ofereceu sua garrafinha, revirei os olhos seguindo meu caminho. - Não, obrigada.

 

 

—Isso é uma grande merda. - Ela deu ombros quando terminei de relatar tudo o que aconteceu.

—Merda. - Concordo.

—E é tudo culpa sua. - Ela sorriu.

—Como?!

—Edward, você usou sua filha durante muito tempo como desculpa para não levar um relacionamento a diante. Deu a ela o poder de decidir com quem você se relacionava, e agora que você quis tirar isso dela… ela surtou. Compreensível. E eu te falei, lá atrás quando você e a Bella começaram…

—Que eu devia contar a Nessie.

—Exatamente. O que esperava ao aparecer aqui com uma namorada a tiracolo? Que sua filha ciumenta, carente e possessiva, mimada…

—São muitos adjetivos para sua afilhada.

—Controladora, patricinha…

—Kaure - A adverti e ela parou.

—Enfim. Como esperava que ela fosse reagir? Morresse de amores por Bella? Eu super entendo a reação da Nessie. Eu só não entendo a sua. Se comportou como um bundão, Edward.

Tombei a cabeça na bancada, o frio da planície me fazendo bem. Eu odiava o fato da minha melhor amiga ter razão.

—Como eu pude deixar as coisas chegarem a esse ponto? - Era mais uma pergunta retórica, mas Kaure não perdeu a oportunidade de responder.

—Medo, preguiça. Pode escolher uma das opções acima. Mas você realmente gosta da escritora, não é?

—Gostar? Eu amo aquela mulher. Quando mais tempo eu passava com ela, mais entendia o que Tanya me disse naquela época; eu achava amar Tanya, porque eu… projetava nela algo que eu queria.

—E por que acha que não está projetando algo que quer em Bella? 

Touch.

Esse era o ponto… como eu podia confiar que meu sentimento por Bella era diferente do meu por Tanya? 

—Quando eu… estou com Bella, não é sobre mim. É sobre ela. - Falei mais baixo, minha bochecha ainda em contato com a bancada, meu rosto virado para longe de Kaure, não queria olhar para ela enquanto falava. -Não é sobre eu me sentir bem em estar com ela, e sobre ela se sentir. O jeito como ela sorri, mexe no cabelo, se sente realizada após concluir uma tarefa por mais simples que seja. A preocupação com os pais, com os amigos, comigo… é tudo sobre ela. E tudo nela me faz feliz.

Kaure ficou em silêncio depois do que eu disse e levantei a cabeça para checá-la. Ela parecia… falsamente nauseada.

—Ok, acho que eu vou vomitar. Você foi mais doce nesses segundos, do que durante a sua vida toda e isso quer dizer muito.

—Obrigada, eu acho. - Franzi a testa.

—Por que ainda está aqui, Edward? Você ama essa mulher, precisa fazer alguma coisa!

—Eu não quero levar minha confusão para ela. Eu pude ver… como a estava fazendo mal. O que foi?

Ela agora me olhava meio boquiaberta.

—Eu só vi você colocar as necessidades de uma pessoa acima das suas, e não era ninguém com quem você pudesse sonhar em transar.

—Às vezes você é tão nojenta. Por que somos amigos mesmo?

—Por que eu sou como a sua consciência. - Ela piscou para mim. - Então meu querido amigo o que vai fazer para mudar isso? Vai deixar a mulher seguir a vida dela e sei lá arrumar alguém menos complicado do que você ou… vai se tornar esse cara menos complicado?

Respirei fundo.

—A segunda opção vai ser mais trabalhosa, contudo…

—Gratificante! - Ela pulou da cadeira onde estava sentada. - Atividade física Edward! Coloque uma roupa confortável, vamos correr!

Revirei os olhos, mas acatei; Kaure tinha a capacidade de trabalhar a minha mente enquanto me forçava a praticar atividade física.

 

 

Eu tinha ido dormir cedo naquele dia, afinal devia acordar às cinco da manhã para correr com Kaure. A troca de mensagens com Bella não estava tendo o efeito desejado, uma vez que ela deixou claro que nada daquilo mudava a situação entre nós; então estavamos na estaca zero, mas Kaure me mandava ter esperança e me concentrar no que era melhor para nós dois.

‘’Você precisa resolver as suas merdas, Edward. Um relacionamento não é uma muleta para você se apoiar… você precisa ser uma pessoa inteira para Bella e então o encaixe de vocês será perfeito.’’

A filosofia barata dela parecia tão correta.

A minha vontade era contradizer minha amiga, porque vamos lá, meu encaixe com Bella era perfeito.

Acordei com o barulho do meu celular tocando, ainda devia ser o meio da noite. Mesmo com a visão embaçada pude ver a foto de Bella no visor e logo me preocupei com a ligação.

—Oi Bella? Aconteceu alguma coisa?

Eu amo você. Você entende que eu precisei me afastar? Eu não gosto disso, mas você tem sido um babaca e precisa aprender a ser melhor. Um namorado melhor, um homem melhor e um pai melhor. Fazer tudo o que sua filha pede não te classifica como o pai do ano. —A voz dela estava arrastada, quebrando em partes estranhas embora eu pudesse entender o que ela falava. Ela devia ter bebido demais. Tremi só de imaginar Bella, minha inocente Bella em Los Angeles bebada.

—Bella, você bebeu? Que barulho é esse? Onde você está? - Minha preocupação era mesclada pelo divertimento, Isabella Swan a típica garota que bebe demais e liga para o namorado. Ou no momento nem tão namorado assim.

Num show com Alice e Jasper.— Ela disse a contra gosto. - Mas você entende que o melhor é a gente ficar longe?

Ela precisou beber para me dizer algumas verdades, a forma como realmente se sentia. Bella estava sofrendo tanto quanto eu com a distância imposta entre nós, mas ela queria que eu melhorasse, fosse um homem melhor. 

—Linda, nunca é bom ter você longe. - Deixei claro, aquilo era horrível. - Mas conversei com uma amiga e ela disse que você tem razão e eu sou um idiota.

Reprimi a vontade de rir, sim Kaure tinha razão. Provavelmente em tudo.

Que amiga? — Será que imaginei seu tom de acusação?

—Kaure. - Falei, esperando que ela se lembrasse do nome, eu não queria que ela se preocupasse com uma possível… amiga intima.

O James Connor deu em cima de mim.— Ela atirou. Senti algo ferver em mim, mas mantive a calma; ela tinha bebido demais e estava com Alice e Jasper, tudo ficaria bem. 

—Ah é?

Ele só foi legal. Mas se eu quiser ficar com ele eu posso.— Ela disse rápido e eu quis rir. Ela era uma bêbada fofa.

—Sim você pode. - Suspirei, porque era a verdade. - Por que me ligou, Bella?

Por que? Pensei. Só queria ouvir minha voz? Sente tanto a minha falta quanto eu sinto a sua?

Porque… eu precisava ouvir a sua voz.— Ela disse baixinho. otimo, primeira opção.

Isso era a porra de uma situação muito fudida e sem sentido. Eu amo essa mulher e, essa mulher me ama! Pra que colocar empecilhos? Não podemos ficar juntos e ponto final?

Edward? Está aí?— Eu tinha ficado mais tempo do que pretendia em silêncio, com meus pensamentos.

—Estou. - Respondi rápido. Nós não podíamos ficar ‘’juntos e pronto’’ porque Bella merecia mais. E… bom, eu também merecia mais. Merecia um relacionamento feliz e saudável. E eu só teria isso quando lidasse com as minhas merdas. - Bella… acho que isso de amizade não vai funcionar muito bem. E você tem razão, precisamos de um tempo longe um do outro.

Puta que pariu! Que porra eu estava dizendo? Por que estava mesmo concordando com isso? Quando é o próximo voo para a califórnia?

Eu não quero ficar sem falar com você. — Ela soou baixa e magoada. E eu me senti péssimo em feri-la.

—Nem eu, linda. Mas você tem razão, eu preciso consertar as minhas merdas. Fique com Jasper e Alice, ok? E beba água.

Eu imaginava que minha irmã e Jasper poderiam ficar muito envolvidos um com o outro e talvez deixarem Bella a mercê… de James Connor.

Não que eu quisesse que ela fosse vigiada ou algo assim, nem controlar se ela fosse sair ou conhecer alguém… só que ela estava alterada e eu conhecia James Connor. Álcool e ele… não era uma boa combinação.

Você não é meu pai!— Ela reclamou e eu tive que rir, ainda bem que não era.

—Ainda bem que não sou, se não eu seria preso pelas coisas que fizemos.

Tchau, Edward.— Ela desligou na minha cara, o tom cheio de raiva. Ela estava brava comigo naquele momento, isso era nítido. Então por que eu tinha um sorriso estúpido na cara?

Liguei para Kaure sem me importar com a certeza de que ela estava dormindo àquela hora. Ela atendeu no quinto toque.

Que?

—Não perca a hora da nossa corrida matinal amanhã.

Não acredito que me ligou para dizer isso!

—É claro que não. Pode… me passar o contato da tal psicóloga. Vou marcar uma consulta.

Esse é o meu garoto! Agora me deixe dormir! — Ela desligou o telefone e eu voltei a deitar com um sorriso no rosto, ansioso para ser uma melhor versão de mim.

Eu não era perfeito. Estava muito longe disso ao contrário do que meus pais pregavam, e parte dessa grande imperfeição ficou clara para mim logo na primeira sessão com a psicólogo. Eu cheguei querendo resolver meus problemas, despejando tudo em cima dela sem ressalvas. E a mulher com toda calma e paciência do mundo me fazia perguntas como: ‘’Por que você pensa isso?’’ ‘’Como se sentiu?’’ ‘’Como se sente’’? No máximo ela repetiu alguma frase que eu disse. Kaure disse que era assim mesmo, a mulher não estava ali para me dizer como agir, e sim me ajudar a me entender e eu mesmo me ajudar. Eu estava frustrado e não era pouco, contudo feliz pois não parecia nada demais. Até que era legal falar tantas coisas para alguém que não me conhecia e não interrompia. Ou me chamava de idiota como a minha melhor amiga, ou me julgava como uma de minhas irmãs poderiam fazer. Eu nem queria pensar nos meus pais, nunca fomos de… conversas profundos e isto não estava sendo modificado agora.

Compor ainda era algo incrível, eu precisava de uma bebida para desacelerar, peguei uma garrafa de whisky e fui para meu estúdio de música. Fiquei ali por um tempo, até me sentar ao piano tentando recriar uma melodia que rondava a minha mente. A bebida tivera o efeito desejado sobre mim e eu estava mais… tranquilo.

Eu passei boa parte da tarde por ali, já era noite quando peguei meu celular quase sem bateria e me ative a data.

Era aniversário de Renesmee. 

Havia muito o que concertar entre minha filha e eu, e talvez eu tenha ignorado a data de forma de subconsciente. Eu deveria anotar isso para conversar com a psicologa na próxima semana.

Continuei ao piano mais cabisbaixo, pensando em como resgatar e na verdade começar um tipo novo de relacionamento com minha filha. 

Foi quando vi a própria a porta, parecendo deslocada e temerosa. Aquele era o tipo de olhar que eu dava ao meu avô, o velho Anthony Cullen, o homem que impunha respeito e admiração - com doses de medo - por onde passava. Eu nunca iria querer um olhar daqueles em um filho meu. 

Comecei a dedilhar sua melodia, a música que fiz na primeira noite noite dela em casa.

—Pai? - Ela me chamou.

—Feliz aniversário. - Os acordes de sua canção de ninar nos envolvendo.

Algo em seu olhar pareceu mudar, ela estava mais… decidida e confiante. Caminhou decidida até mim e lhe dei espaço na banqueta. Ficamos em silêncio, a música entre nós. Havia muito que eu queria dizer a ela, muito que queria perguntar, mas não sabia como começar.

—Eu não queria afastar Isabella de você. - Sussurrou, a voz meio embargada, como se fizesse esforço para não chorar. Sua colocação parecia sincera agora, o nome de ‘’Isabella’’ parecia sair suave de seus lábios, e eu senti-me ferver, pois o ‘’Bella’’ sempre saiu falso dos seus lábios, eu que não quis ver.

—Não foi o que pareceu. - Rebati. Sim, eu estava magoado com ela. MInha filha, minha amada filha tinha me magoado e decepcionado e era isso o que eu fazia com ela agora, dava-lhe uma frase carregada de mágoa. Outro assunto para tratar com a psicóloga.

—Eu não queria que você sofresse. - Ela disse dura, rápida. A advogada de auto defesa, como a mãe. Ela queria que entendesse seu ponto, ela reconheceria seus erros, deixando claro o que a levou a isso. - Eu só achei que… eu seria uma estranha se ela ficasse.

O motivo.

A razão. 

Como ela se sentia.

Tudo se resumia a isso então? Medo de se sentir uma estranha no ninho? O medo era uma emoção estranha, ele fazia com que agissem de modo… errado.

Me virei para olhar bem a minha menina.

—Você nunca seria uma estranha. -Falei sério, ela precisava entender isso, que a sua posição na minha vida não era algo negociável ou passageiro. Nada poderia afastá-la do meu amor. -É minha filha. Minha filha amada.

Falei sentindo meu peito arder. Sim, era minha filha amada e, eu sempre iria amar e protegê-la.

Seus lábios tremeram e ela chorou. Chorou de verdade, com pequenos soluços, como se um muro que ela tentava erguer com força tivesse se rompido. Uma represa e sem ela, suas águas vinham em fortes ondas.

—Eu vi vocês… e como eram perfeitos juntos. E como eu sou imperfeita. Vocês terão lindos filhos juntos e eu serei a filha mais velha de outro relacionamento, o erro,  o que não deu certo. 

Esse era todo o ponto. Renesmee não estava sendo como a mãe naquele momento, me dando os motivos para sua autodefesa, muito pelo contrário ela estava quebrando suas barreiras e me contando como se sentia de fato.

Imperfeita. 

Como eu me sentia a maior parte da minha infância e adolescência, e fui além pois me sentia a baixo das minhas irmãs, indigno de ser um Cullen. Uma fonte de dor de cabeça e não um orgulho para os meus pais. 

—Filha… eu não sabia que se sentia assim.

—Eu também não. Eu nunca sei como me sinto. Só… que é sufocante. O tempo todo. E eu acabo fazendo besteira!

Ela termina de dizer e seu choro se torna ininterrupto. Eu a abracei, colocando sua cabeça em meu peito tentando trazer algum consolo. Isso meu amor, você está segura. Está nos braços do seu pai… é o lugar mais seguro para se estar. Pode chorar, você tem conforto aqui. A abracei forte, permitindo que colocasse tudo para fora, sentindo algo ser forjado entre nós, algo novo, jamais experimentado por mim, tanto quanto pai como filho. Eu não poderia descrever a sensação de… conforto. 

—Desculpe papai… eu não queria te magoar. Eu sinto muito mesmo. Não me odeie.

—Eu nunca poderia odiar você. É minha filha amada. - Sussurrei sem parar aquelas palavras. Minha filha, filha amada. Você é amada e querida, minha filha, entenda isso. Sinta isto!

—Renesmee, eu poderia ter dez filhos com Bella. E amaria a todos de um modo único e especial. E você sempre será a minha primeira filha, o meu primeiro amor. Nunca se esqueça disso. -Falei a ultima frase mais forte, obrigando minha filha a olhar em meus olhos, para que pudesse enxergar todo o amor que eu sentia por ela.

Ficamos um tempo ali, abraçados, até que estávamos ambos mais calmos.

—Como foi o seu dia? - Sorri limpando alguns vestígios de lágrimas pelo seu rosto.

—Estava regular, sabe estava faltando a pessoa mais especial.

—Desculpe não estar aqui por você hoje. Eu também tenho andado uma bagunça, mas acho que minha cabeça está começando a ir para o lugar certo.

—Tudo bem papai, e Isabella?

—Em Los Angeles. - Senti minha feição endurecer, eu não sabia que tipo de reação Renesmee teria a Bella dali em diante.

—Tem algo… que eu possa fazer? - Ela disse cautelosa.

—Não meu amor, não se preocupe mais com isso, ok? - Eu não a queria pensando no meu relacionamento com Isabella, ou a ausência dele. Não a queria tendo nenhum tipo de sentimento de culpa.

—Mas você gosta dela e eu…

—Eu também errei muito com vocês duas. Vamos apenas… dar tempo ao tempo.

—O...k. - Ela disse lentamente, acho que tentando organizar as coisas em sua mente.

Já estava bom de dramas.

—Ainda é o seu aniversário, quer pedir pizza?

Seus olhos se iluminaram imediatamente.

—Pode ser! Eu vou tomar um banho e por algo mais confortável. Você pede?

—Claro, abelhinha. -Beijei seus cabelos. Ela pulou ficando de pé, e saiu apressada. 

—Parabéns, Edward, as coisas vão com certeza melhorar. -Disse em voz alta.

Levantei do piano me alongando, eu de fato tinha passado mais tempo que o ideal por ali na mesma posição. Andei um pouco pela casa, coloquei meu celular para carregar e usei o telefone da casa para pedir pizza.

Eu estava pela cozinha quando ouvi a campainha, Era bom que a pizza tivesse chegado tão rápido.

Só que era Tanya parecendo envergonhada com um bolo em mãos.

—Ei. - A cumprimeitei meio sem graça. - Acho que não vamos ganhar o prêmio de pais do ano.

—Eu nunca ganhei. - Ela reparou sorrindo duro. 

—Dia difícil? - Perguntei.

—Você não faz ideia. -Ela parecia triste e cansada. Eu quis oferecer uma bebida a ouvir despejar o que estava acontecendo em sua vida, afinal aquele tinha sido um dia de verdades, mas ouvi Renesmee antes de oferecer minha milagrosa ajuda alcoólica.

—Pai você pediu pizza de margarita? - Ela gritou da escada, desceu aos saltos, os cabelos balançando soltos. Ela só notou a mãe quando chegou ao fim do trajeto, a expressão endurecendo de imediato.

—Ei filha… feliz aniversário. -Tanya disse muito baixo e eu soube que se houvesse uma forma ela cavaria um buraco no chão e se esconderia dentro dele.

—É… mãe. Eu tentei falar com você hoje. - Não tinha rispidez no tom de Renesmee o que era algo muito bom. Apenas a constatação, decepção e… uma dose de mágoa. 

Eu tinha certeza desse último.

—Eu perdi meu celular, me desculpa. Minha vida vai virar uma loucura na segunda feira por conta disso, mas eu não quero pensar nisso agora. - Ela sorriu mais relaxada, estendeu o bolo para nossa filha. - Veja, é de brigadeiro o bolo, o seu favorito certo?

É claro que era o favorito dela! E Tanya sabia disso! As vezes ela se fazia de esquecia, só podia ser isto!

—Sim.

Foi a única resposta de Renesmee.

Achei melhor intervir.

—Isso é ótimo, Tanya. Por que vocês não o levam para a cozinha? -Avistei  o entregador entrando no meu gramado, finalmente. - Enquanto eu pago ao entregador? - completei.

—Claro. - Ouvi a resposta desinteressada de Nessie e temi que seu bom humor, a nova camaradagem entre nós, seus muro demolidos, tudo o que conquistamos nos últimos minutos estivessem perdidos por conta do aparecimento de sua mãe.

As duas caminharam juntas para a cozinha, enquanto eu pegava as pizzas.

Quando as encontrei de novo parecia que havia um novo tipo de tensão entre elas.

—Ainda bem que eu sou precavido, pedi pizza para três! 

Coloquei as três pizzas no balcão com a intenção de arrumar a mesa.

—Não precisava se incomodar, tanto Nessie quanto eu não comemos muitos. -Tanya riu abrindo uma das embalagens.

—Ness precisa se alimentar direito. -Justifique.

—Estou morta de fome, pai. - Ela firmou com argumento enquanto abria a galdéria e tirava de lá um garrafa de coca-cola. Nos sentamos a mesa pelo menos, pegando fatias de pizza com a mão, o clima ficando mais ameno quando comecei a contar histórias de nossa adolescência e infância, logo o clima entre mãe e filha parecia mais leve, ambas rindo. Contei como Tanya usava seu charme para conseguir o que queria dos professores.

—Eu precisava muito passar de ano! - Me olhou chocada, contudo rindo.

—E todos se rendiam ao seu charme. -A provoquei. Ela me mostrou a língua numa atitude que me lembrava minha velha amiga, alguém cheia de ambições, só que mais relaxada. Que mataria aula para ter uma tarde de sexo. Eu quis me aproximar dela e perguntar se já não era o suficiente. Se ela já não tinha conquistado tudo o que sempre quis e disse que teria.

Renesmee parecia feliz e relaxada e eu fiquei agradecido e com medo de que nossa noite acabasse. Cantamos parabéns para a nossa filha, que hoje se parecia mais com a criança que conheci  do que em muitos meses. Tiramos fotos, a beijamos e a abraçamos. Comemos bolo e então fomos para a sala, colocamos um filme e logo ela estava dormindo. Olhei para Tanya por cima do cabelo dela.

—O que está acontecendo com você?

—Edward… 

—A verdade, Tanya. Sem edições.

Seu olhar caiu para o rosto da nossa filha, tão sereno em seu sono.

—Eu fiz uma merda muito grande, Edward. E eu só consigo pensar que terei que fazer outra para concertar essa.

—Que tipo de merda?

—Do tipo que me deixa presa a um homem que minha filha odeia.

—Tanya… seja clara. O que a Félix fez?

—Felix nada, eu que fui burra, impulsiva e… confie na pessoa errada.

Ela parecia triste.

—Me conte o que aconteceu.

—Não posso meter você nisso, Edward. - Ela segurou minha mão por cima da barriga de Nessie, tinha um sorriso triste. - As vezes eu queria… poder voltar no tempo. Ter te amado como você merecia. Ter me casado com você, e sido a mãe que Nessie queria.

—Essa não seria você. Você fez o certo antes.

—Fiz? - Sussurrou. Tirei uma mecha de cabelo do seu rosto, meus dedos memorizando suas feições… parecia muito abatida. 

—Fez. Era o seu sonho, não podia desistir dele.

—Devia ter. Não podemos ter tudo, e ser mãe também era um sonho meu, e quando eu tive que escolher abrir mão de algum… eu sempre escolho abrir mão de ser mãe. Sempre dói, mas eu sempre sigo em frente.

Eu não sabia como responder aquilo, pensei em dar o número da psicóloga a ela.

 -Tem algum caso? Um caso jurídico complicado… - tentei.

—Não entre nisso, Edward, é sério. Eu vou resolver, tenho que resolver. Que bom que Nessie o tem. - Ela sorriu para mim, não um sorriso feliz.

—Você também me tem. Nossa amizade pode ter… esfriado. Mas eu ainda sou o seu amigo, o pai da sua filha. Eu quero o seu bem.

Ela estendeu uma mão para o meu rosto.

—Você merece ser feliz, Edward. Merece uma mulher que seja a sua parceria em tudo e te encha de filhos. Uma casa cheia e barulhenta, viagens no fim de semana.. toda aquela loucura que a gente vê nos filmes. 

—Você também merece. Ser feliz eu quero dizer -Uma casa cheia de filhos certamente não era a imagem da felicidade para ela.

—Não tenho tanta certeza disso. - Sussurrou. 

Achei melhor não insistir no assunto, eu não sabia como fazer aquele negócio de ‘’escuta ativa’’ ou sei lá o que, onde você faz a pessoa falar e se ouvir. E eu achava que isso não funcionaria com Tanya, como sempre ela já devia ter tudo planejado e sob controle, e se estava decidida a não me falar ela não falaria. 

—Se precisar… sabe onde me encontrar - ofereci.

—Sempre. 


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Notas finais do capítulo

Então? Como foi entrar na cabecinha do Edward? vemos que ele estava mentindo pra Bella e até para si mesmo a muito tempo :/
Comentem, favoritem, recomendem! façam essa autora feliz >