Jornada escrita por Kyrion


Capítulo 6
Parte 6




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A viagem é um bocado longa. Através das janelas, alguns prédios e pontos públicos suscitam histórias, não do tipo que eu encontraria em um almanaque ou guia da cidade, mas do tipo que talvez tenha figurado em algum jornal, de pouca importância. Um casamento feito às escondidas no prédio do antigo correio. Um amante ciumento que matou um casal e se refugiou por uma semana em um depósito de mercearia. Um mercado assaltado, cujos produtos foram distribuídos em uma escola muito pobre do outro lado do município por um ladrão benfeitor jamais localizado. Um hospital que supostamente faria experimentos científicos suspeitos. Um pintor que se suicidou pulando da janela do 15º andar depois de pintar o mesmo quadro duzentos e setenta e cinco vezes. Um grupo de crianças que invadiu um antigo hotel abandonado para fazer dele seu refúgio.

Outras histórias são mais particulares. “Foi ali que caí de uma janela e quebrei o braço”. “Aquele restaurante já distribuiu comida gratuitamente”. “Tive um amigo daquela escola”. “Já morei um pouco atrás daquele edifício ali, o mais alto e mais estreito”.

Apenas ouço, sem quase nada dizer ou perguntar. Os casos são bem contados, vindos de alguém que sabe usar a voz para chamar a atenção e persuadir. Há certo encanto nessa juventude que escapa por entre os dedos ainda mais rápido do que a maioria.

A comida que trazia desaparece quase toda. Ficam duas fatias de algo que venceu o gosto de nós dois.

***

 Chegamos à estação, e lá descubro que ela é de fato a primeira destinação tão logo pouso os olhos nela, saindo do trem.

“O prédio é reformado toda hora, desde que decidiram que deveria ser preservado pela memória da cidade. Antes, tinham pensado em derrubá-lo duas vezes, pelo que meu avô contou.”

Percebo as marcas de outro tempo nas formas arredondadas e foscas, na solidez pesada, na ausência de transparências e metais, na despreocupação com a economia de espaço, algo que não imaginava antes para aquele lugar. Estendo meu olhar para além do mar de gente circulando, procurando o prédio que engloba transeuntes, veículos, comércio. Minhas feições são analisadas sem que eu me dê conta.

“A senhoria ainda não disse que ela é bonita.”

“Ela é. Ela é bonita.” Apresso-me a dizer, com certa culpa, por estar tão imerso em minha análise que me esqueci de expressar o encantamento esperado. É a risada que me traz de volta, enquanto ainda refletia, em meu embaraço, se aquela era mesmo a palavra que queria usar.

“Ora, logo agora que eu estava contente de ter encontrado alguém que não acha essa estação um espetáculo!” a voz é um pouco irônica, mas o ataque é bem-humorado. “Veja com atenção! As coisas aqui não parecem... erradas?”

Volto minha atenção para uma nova análise dos arcos elevados do teto, das colunas, das paredes abauladas e de cores imaculadas. Começo a notar como as camadas de tinta, de tão acumuladas para continuarem frescas e cobrirem obras e reparos recentes, parecem grossas, um tanto disformes, como se prestes a descolar das paredes. Tenho a sensação de que tentam desesperadamente esconder as imperfeições da estação que, por um motivo ou por outro, vem se tornando feia e deslocada.

“É como uma pessoa angustiada por querer parecer mais jovem e usa maquiagem demais.” Digo, em resposta. Meu guia quase me aplaude.

“Isso! Esse é o espírito. Agora, vou levá-lo à segunda estação mais velha da cidade. Está desativada, porque nunca recebeu a atenção como esta aqui, mas fica a uma distância pequena. Podemos ir a pé.”

Não é como se eu tivesse muito tempo para me decidir. Sigo os ágeis passos com as pernas longas que são as minhas.

“Por que as duas primeiras estações são tão próximas?” pergunto.

“Construtoras concorrentes. Foi uma espécie de corrida.”

Em bem pouco tempo, a paisagem muda radicalmente. O antigo maquiado cede lugar ao antigo consumido, corroído pelo tempo e pelo uso, o velho verdadeiro. Mantido apenas vagamente limpo e quase nunca frequentado, o bairro se revela um cemitério de obras variadas que nunca foram ressuscitadas.

Logo reconheço a estação. Em tudo menor e menos opulenta que a outra, tem ainda seu relógio parado – tão sintomático – e os guichês para compra de passagens bem visíveis. É um templo de ruínas que imediatamente me fascina, um misto melancólico de abandono e testemunho, memória e esquecimento. Há muito mais beleza neste recanto semidestruído, mas inteiramente sincero.

Entendemo-nos em silêncio. Percorremos alguns cantos seguros daquele amplo espaço em observação imersa e imensa daquilo que é e daquilo que foi.

***

As vendas de doces na estação mais antiga são boas perto da hora do almoço, quando há mais transeuntes com fome, ou procurando sobremesas. Nossa pausa para comer é breve e com um monólogo animado, e não há reclamações quanto à modéstia de nossas opções. Peço para dar uma última volta no lugar antes de embarcarmos novamente. Já consigo elevar sozinho o véu que tenta, ao mesmo tempo, apagar a destruição promovida pela passagem dos anos e evidenciar, ou quase aumentar, a longa história que aquele espaço tem para contar, e que ninguém escuta... Nem mesmo os visitantes, os turistas, que por pouco raspam a superfície visível de tudo o que há aqui, tudo o que foi visto e vivido.

Sinto o peso imenso das despedidas e reencontros, a falência dos pequenos comércios e da prosperidade passageira de alguns poucos donos afortunados, dos exílios escolhidos e impostos, dos sonhos de barrigas vazias dos pedintes, dos suicídios nos trilhos, dos estudantes que chegam acreditando que ali aprenderão mais sobre alguma coisa e repartem – coitados! – na certeza de que não aprenderam o que esperavam. Quem quer aprender tudo isso?

Antes que eu sinta o peso de mais alguma coisa, sou resgatado de onde estava plantado e conduzido amavelmente até o próximo trem. Meu alívio é estar livre de ler algo do enredo que conjecturei. Ou, pior, fazer parte dele.

Esta segunda viagem é surrealmente diferente da primeira pela total falta de paisagem: mergulhamos em túneis escuros que se prolongam indefinidamente, com pausas breves de luz tão escassa que não encontraria estes pontos se o veículo não parasse sozinho.

“Daqui, tenho pouco a dizer. É um bairro quase todo domiciliar e que nunca frequentei.” Ouço em sua voz uma quase-meia-verdade.

“Não podemos ver nada daqui de qualquer forma.” Comento, distraído.

“Lá em cima é outro bairro.”

Pelo sorriso sabido que alterou a flexão das palavras, adivinho que há muito mais a descobrir.

“Outro bairro?” repito, estupidamente.

Como um alienado, colo meu rosto ao vidro. Procuro impregnar minhas pupilas com esta escuridão, fazer meu foco tão ágil quanto o deslizar sobre os trilhos. Duas paradas, e não descubro nada. Minha companhia é a total paciência.

Súbito, uma porta.

Meu sobressalto é visível. Apenas me convenço de que não se trata de uma miragem quando consigo discernir outra, ou quando várias janelas seguidas, todas fechadas, me permitem ver ao menos uma.

“Moradores!...”

Continuo embasbacado de ver as raízes habitadas do bairro acima.

“Então os poucos que vemos embarcarem ou saltarem aqui são os residentes?” questiono, já com a impressão de estar errado. Acerto no erro.

“Provavelmente vão todos para o bairro de cima ou vieram de lá. Ninguém é daqui. Pense bem... ninguém daqui teria dinheiro para pagar a passagem...”

A verdade é tão óbvia que me sinto constrangido. Mais uma vez me vejo diante da constatação de que há pessoas que fixam sua existência em locais de passagem, chamando de “lar” o que quase todos chamam de “caminho”.

Basicamente o contrário do que se faz em relação à própria vida.

***

“Você lê muito, não é?”

“Mais do que a maioria das pessoas que conheço, mas ainda assim não seria tanta coisa. Por quê?”

“Porque você fala muito bem.”

“Para alguém pobre?”

“Para todos que encontrei até agora na cidade. E para alguém na sua idade.”

“Agradeço. Aprendi muita coisa também com meu avô.”

“Aquele com quem você mora?”

“Sim. O que tem o meu nome. Por mais estranho que isso pareça.”

“Não é estranho. Dois sábios na mesma casa.”

“Ele leu muito na juventude, o máximo que conseguiu, mesmo sendo pobre também. Ele trabalhou para um homem muito bom, que o ensinou a ler e deixava um pouco de tempo livre a meu avô para que fosse até sua biblioteca. Muitas estórias eu nunca li por conta própria, mas conheci porque ele me contou.”

“Foi ele que te passou essa paixão...”

“A paixão continua intacta nele. Hoje, ele não pode mais ler. Então reconta o que sabe. Você pode não acreditar, mas até hoje ele tem estórias novas para me contar, depois de todos esses anos.”

“Eu acredito. Se ele leu tanto assim, e se tem boa memória...”

“A memória dele é como eu nunca vi. Nem parece real. Vários dos meus amigos não acreditam que ele leu tudo isso, e acham que ele só inventa. Sinceramente... isso nem seria um problema. O que ele conta é tão bom ou melhor do que aquilo que encontro nos livros.”

“Isso aconteceu com vários bons leitores... Em algum momento, se tornam autores até sem querer. Outros, viram personagens. São as consequências de quem passa tanto tempo em contato com livros. Só depende de qual lado da página você consegue ficar. De dentro, ou de fora.”

“Vossa senhoria também deve ler muito. Fala coisas muito bonitas.”

“Sou grato. Pode mesmo me chamar de ‘você’. E sim, leio bastante, também.”

“Não consigo. Só consigo usar ‘você’ para pessoas que não têm tanta importância.”

“Você chama seus amigos assim?”

“Não. É diferente. Com eles, posso mostrar que gosto de outras formas. Tocando, fazendo piadas. É outro jeito de respeitar.”

“Entendo. Tudo bem, como preferir. Aliás, seu doce é muito bom.”

“Agradeço.”

“Não há de quê.”

“Por que gosta tanto de ler?”

“Não sei. Tenho muito pouco tempo para sentir que estou vivendo uma vida só.”

“Meu avô também leu muito por medo de falta de tempo. Ele soube ainda jovem que um dia poderia ser afastado de sua paixão. Por isso, leu tudo o que pode, e decorou seus livros favoritos.”

“Nossa. Quero conhecer seu avô.”

“...Sério?”

“Sim. Se fosse possível.”

“Bom, se quiser mesmo... depois dos passeios, à noite, posso levar vossa senhoria até ele...”

“Eu gostaria muito. Se não for incomodá-lo.”

“Acho que ele ficaria feliz com a visita.”

“Fico satisfeito em saber. Agradeço que abra suas portas assim.”

“...”

“Aonde estamos indo agora? Já caminhamos um bocado.”

“Vê aquela descida mais à frente? Voltaremos ao subsolo, mas para um lugar bastante diferente dos últimos.”

***

Estamos percorrendo o mesmo andar há vários minutos, e já tenho absoluta certeza de que não seria capaz de retornar sem ajuda à entrada que nos levou até aqui.

Ainda na larga descida que conduz à imensa galeria comercial, as pequenas vendinhas, sob a forma de estreitos quiosques inclinados conforme a rampa segue seu percurso, já nos ofertam diversas coisas, principalmente de comer, ou aqueles produtos emergenciais e facilmente esquecidos em meio a uma longa lista de compras: produtos de higiene pessoal, medicamentos usuais, ovos, alguns grãos e farinhas, frios, pães. Coisas que são esquecidas em viagens, que faltam de última hora nas receitas, que são necessárias quando surgem visitas inesperadas. Aquilo que não se quer percorrer muito para encontrar.

“Você pode entrar aqui com produtos para vender?” pergunto.

“Sim. Hoje em dia é proibido, mas ninguém troca as iguarias das lojas por um doce meu em um lugar como esse.” A resposta é simples, sem autocomiseração.

Quando finalmente terminamos de descer, vejo-nos em um caminho amplo, extremamente luminoso, colorido, como uma feira ou um parque de diversões. Os cheiros agradáveis são indefiníveis e muitas pessoas têm algo de comer nas mãos. Aliás, muitas coisas nas mãos e nos braços; bolsas, sacolas, pacotes. Além dos transeuntes, pequenos carrinhos circulam pelas aleias mais largas da galeria, ajudando no transporte de volumes.

“Vamos ver quantas coisas vossa senhoria descobre ou percebe sobre este lugar. Use sua mente esperta.” O convite é provocador.

Começo a observar o lugar enquanto o percorremos lentamente. As lojas variam bastante de tipo e produto, sem a menor ligação aparente com as demais ao redor. Seus tamanhos também mudam. Várias têm produtos semelhantes de vários valores e qualidades, querendo atingir os públicos do mais diversos poderes de compra.

“Na verdade, isto é algo deste setor. Há setores só para ricos e só para pobres, para aqueles que não querem se cruzar com tipos indesejados.” Sou corrigido na apreensão dos detalhes.

Noto os muitos seguranças distribuídos por toda parte, bem como os numerosos sanitários. Algumas lojas estão fechadas, outras em pleno funcionamento. Um pouco mais fundo, há o espaço de uma loja sem qualquer publicidade ou produto visível, como um ponto à venda, mas sem  anúncio. Os vidros são cobertos com persianas de aspecto antigo, indicando que estão ali há pelo menos alguns anos. Enquanto observo melhor, uma figura pálida e magra desliza agilmente pela porta de vidro afora, misturando-se sem chocar em nada a multidão. Meus olhos surpresos despertam um sorriso satisfeito em minha companhia.

Pressinto um perigo insinuante. Terei eu sido trazido a algum tipo de armadilha, e pagarei por minha imprudência e excesso de confiança nas pessoas? Posso lidar com uma ou outra situação... Quais os riscos possíveis em meio a tanta gente?

Alerta, passo a reparar melhor nas pessoas do que no lugar, uma vez que já me considero perdido há algumas curvas e encruzilhadas atrás. Vejo sobretudo compradores distraídos, sozinhos ou em grupos, de todos os perfis físicos e estéticos, que não prestam a menor atenção em mim. Alguns estão entusiasmados, outros, cansados, somente alguns guardas com uma expressão realmente intimidadora. Passo a analisar os vendedores...

Estes, sim, têm uma expressão com frequência bastante abatida e cansada, provavelmente devido às longas jornadas de trabalho. Os clientes parecem indiferentes às olheiras mal dissimuladas com maquiagem, aos ombros caídos, aos movimentos lentos e aos braços pendentes. Às vezes, um olhar estampa desamparo, outro, ansiedade.

“O que há com a maioria dos empregados daqui?” pergunto, sem mais me conter.

“Vossa senhoria não vai querer adivinhar?”

“Não. Prefiro que você diga desta vez.” Começo a ficar realmente angustiado.

“Ah... que pena. Estava divertido fazer o detetive com você.” A decepção é sincera com a interrupção do jogo, mas não há insistência. Minha expressão deve dizer que não estou disposto a brincadeiras. “Certo. Você já pegou uma parte do problema. Os vendedores. Estes, com cara de planta sem regar. Eles não podem sair.”

“Não podem sair?” repito, confuso. “Não podem deixar a galeria?”

“Às vezes, nem a loja. Cumprindo horas e horas de trabalho sem quase nenhum descanso.”

“São prisioneiros? Mas... como? Quem permite isso?”

“Todos permitem. Vossa senhoria acabou de dizer. Eles são prisioneiros. São criminosos.”

Fiquei atônito alguns segundos. “...todos eles?”

“Só os que parecem pré-mortos, já disse.”

“Não é perigoso? Tê-los aqui... com as coisas e as pessoas?”

“São os que cometeram crimes menores. Principalmente roubo. Serão soltos mais cedo por trabalhar; se não cooperarem, voltam para onde estavam os outros, os que são realmente assustadores. Enquanto estão aqui, ralam tanto que não têm nem forças para tentar algo mais arriscado. Os que têm recaídas... sofrem mais um bocado.”

Acompanho cada vez mais chocado a explicação deste ambiente carcerário inesperado. Era em geral tão bonito... ou pelo menos tão inofensivo quanto qualquer outro centro comercial deste tipo. Passo os olhos ao redor outra vez, inspecionando os visitantes, tão indiferentes.

“Todos aqui realmente sabem?”

“Todos os que moram na cidade. Talvez não os turistas, como você. Mas a gente daqui, ah! Eles adoram! Preferem ver os criminosos sendo úteis a ficarem fechados sem servir para nada. Se é para enlouquecer, que seja atuando, não no isolamento; e por menos tempo!”

O entusiasmo não me contagia. “Ora, vamos! Muitos continuam trabalhando aqui depois de cumprir a pena, mas com um emprego de ritmo normal. Só que, normalmente, trocam de loja... Ah! E vários cumprem a pena no mesmo local em que cometeram o crime! Convivem com o erro... e ainda colaboram com a loja que vieram a prejudicar.”

“E sobre alguma motivação para trabalhar assim?”

“Os melhores saem logo!” um gesto da mão para ‘escapulir’ dá mais eloquência à resposta.

“Eles... dormem em espaços como aquele pelo qual passamos?” indago, fazendo referência ao local com as persianas velhas.

“Ha! Tentando juntar mais peças!” o jogo reacende a animação de minha companhia. “Na verdade, lugares parecidos, mas com maior vigilância. Ou nas próprias lojas, quando têm instalações para isso.”

“Então para que serve aquele lugar?” insisto, com uma sensação crescente de que não vou gostar da resposta.

“É para outro tipo de ‘prisioneiro’...”

Bingo, minha intuição não estava errada.

“Que tipo?” retruco, já sem muita paciência.

“O tipo que pode, mas não consegue sair.”

“Como isso chega a acontecer?”

“Você sabe onde está?”

“Não. Mas poderia perguntar.”

“A algum visitante que conhece as saídas, sim. Os funcionários ou são proibidos de falar, ou vão dar a informação errada de propósito. Claro que você ainda pode procurar sozinho... mas não faz ideia do tamanho. Um labirinto do tamanho de uma cidade. Alguns, compulsivos, apenas ficam. Tudo aqui foi feito para fazer as pessoas enlouquecerem. Não há relógios, e muitos aparelhos sofrem interferência, por estarmos no subsolo. Há rumores de que instalaram algo justamente para atrapalhar os mais resistentes. Sempre tem o que você quer – pelo preço que você quer – se você procurar o suficiente. E simplesmente tem de tudo aqui. Tudo o que se precisa para viver. E com lugares como aquele – e são muitos – dá até para morar.”

“As pessoas conseguem dinheiro para tudo isso... trabalhando por aqui mesmo? Para nem precisarem sair?”

“Isso mesmo. Mas a moradia é gratuita para funcionários. Para as galerias, é interessante manter as pessoas aqui dentro. Os outros, pagam pouco.”

“E se elas não cuidarem do patrimônio, são consideradas criminosas.”

“Certo! Sabia que o detetive ainda estava aí!”

Respiro fundo.

“Podemos só... sair daqui?”

“Você tem certeza? Posso fazer o que vossa senhoria mandar (eu conheço saídas suficientes para não sermos pegos aqui), mas realmente acredita que a situação que encontra na superfície é tão diferente, ou que as pessoas são melhores do que estas?”

Encaro tolamente o rosto indiferente, pensando em quantas formas existem para alguém se tornar imune aos duros golpes que a realidade inflige nos iludidos. Nunca se está preparado para tudo. Mesmo que nem sempre uma bênção, a ignorância é, no mínimo, um bom amortecedor. Outros, são bons em escapar dos golpes. Aos que não podem fugir ou se proteger, cabe criar calos fortes o suficiente para reduzir o impacto.

Há ainda alguma chance de lutar de volta. Mas nem sempre vive-se o bastante para ver o fim da luta.

Eu, de minha parte, quero encontrar minha estória.

Ficamos mais um pouco.


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