Primavera escrita por Uchiha Katsu


Capítulo 1
Porque você fez isso?


Notas iniciais do capítulo

Sejam gentis ao lerem.



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Paris, 25 de abril de 1948. Primavera.

D. Antoinette e S. Ambroise

Por onde começar?

Existem tantas coisas!

Vocês sabem dos problemas a muito tempo, não preciso repeti-los. Mas o pior é que os anos foram passando e eles não se acabaram.

Quase 11 anos! Tempo suficiente para que as arestas estivessem aparadas, mas sempre mais eu ia me desiludindo.

Lembro um dia que a senhora me disse que nós erámos muito jovens, que com o passar dos anos não daríamos mais importância a muitas coisinhas. Lembra o que respondi? Que esse era o meu medo. Não mais me importar com nada. Desistir.

Lutei por nosso casamento, mas hoje sei que da maneira errada. Não poderia ter sido tão cordata, tão passiva. Quantas vezes queria gritar e amaciava a voz, queria ir e ficava.

Onze anos! Ainda desconfiando de mim. Que absurdo! Nunca dei motivos que justificassem uma humilhação dessas. Eu me conheço, sei quem sou e me respeito. O Christien não me conheceu, não me acreditou, não me respeitou.

Faz tempão, senti que se não houvesse uma mudança radical na maneira de nos tratarmos, não haveria solução para nós. Pedi, expliquei. Em vão. O que mudou não foi suficiente e demorou muito, muito.

Já o Christien não sente assim. Ele sempre diz que nós não brigamos. As vezes é bom não ter memória.

Bom... eu não brigo. Ou não brigava. Hoje sinto e vejo tudo com uma lente de aumento.

Talvez eu esteja alguns anos atrasada em minha resolução, mas para o Christien ainda há tempo para ser mais feliz do que comigo. Não tenho mais nada para ele e isso só tende a piorar tudo. Ele quer coisas que morreram em mim. Carinho, amor, sexo. E ele sabe disso, o que talvez esteja fazendo com que desconfie que vou sair e procurar isso na rua. Onze anos! Como isso vai melhorar agora?

Quanto a mim, estou arrasada. Nunca quis deixar o fim chegar, acreditar nele. Não por mim, que não espero mais nada da vida, mas pelos meus filhos.

Não precisaríamos causar esse sofrimento se entre nós houvesse amizade, compreensão, bom humor e alegria de viver. Uma vida boa e harmoniosa.

Afinal, foram onze anos! Que mulher eu sou que não consegui? Que fracasso, que decepção. E durante esses anos as crianças também foram afetadas, eu sei. Eles não precisariam passar pelo que vão passar.

Eu não posso mais. E também acho que o Christien merece mais.

Aí, na cozinha da Domenique, quando eu estava criticando os presentes caros que o Christien me deu no natal, a senhora disse que isso era porque seu filho era apaixonado por mim. A minha resposta, só a Fifi ouviu.

O Christien tem muito ainda que mudar, além de continuar em terapia para resolver de vez o problema da memória. A memória é a sobrevivência do ser humano, sua maior defesa.

Ele fez e refez, machucou e repisou o machucado. O erro repetido pouco depois de cometido. Porque? Pouco caso? Para mim, vezes e mais vezes, pareceu falta de amor. Talvez a terapia consiga dizer a ele mesmo se foi desamor ou memória.

Não pude me despedir. Eu não queria. Tive que fugir. Espero que vocês me perdoem.

Gosto muito de todos vocês. Do fundo do meu coração. Está sendo difícil fazer o que estou fazendo, e sei que vou passar muito tempo para me recuperar e perdoar a mim mesma a separação.

Talvez seja impossível me perdoar não ter conseguido em onze anos, mudar uma pessoa o suficiente para que nossa convivência nos permitisse criar nossos filhos em harmonia.

Amo vocês, sempre.

Ajudem o Christien.

Dior

ps : Algum dia entro em contato, já que a senhora leu até o fim esta carta, talvez fale comigo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem a história, espero que tenham gostado.



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