Sabrina estava alegre. Sua ultima canção tinha feito toda a plateia ir a mil. O sentido de sua vida estava lá, em fazer com que cada alma no estádio pulsasse como uma só, e ela conseguiu, mais uma vez.

Quando entrou no camarim esperava ver Marcelle, sua namorada, retribuindo o sorriso infantil que desenhava seu rosto. Marcelle, porém, possuía apenas horror e palidez em seu rosto.

— Os seguranças estão parando de responder, um a um. - Disse Marcelle - Tem alguma coisa errada.

— Sabbat. Eles devem ter esperado o fim do show. - Disse Sabrina, retirada de seu êxtase – Precisamos fugir.

Sabrina sempre soube que cantar em São Paulo seria um risco de vida, mesmo sem se envolver muito na política dos Membros, - afinal, para o Sabbat, se você não é um fiel, é um inimigo – mas a verdade é que como toda artista Toreador, simplesmente não podia ignorar seus fãs. Em alguns segundos já estavam prontas para o pior, Sabrina com a mochila cheia de armamentos e Marcelle com sua edição especial de Sandman.

Próximo a moto escondida que sempre estava pronta para a fuga, estava um rapaz alto, de cabelos compridos encaracolados. Vestia somente uma calça jeans azul e uma jaqueta surrada e aberta. Suas feições eram demoníacas e ele sorria maliciosamente.

— Vão a algum lugar meus amores? A noite apenas começou!

— Pro inferno com clichês – Marcelle disse rispidamente enquanto apontou o punho fechado para o homem. O símbolo alquimico tatuado imediatamente brilhou, e um cone de chamas foi projetado. O homem sequer teve tempo de reagir, e quando parou sua magia, nem suas cinzas se viam, apenas cimento ardente.

Sem dizer uma única palavra, as duas colocaram seus capacetes e montaram na moto. Sabrina manobrou o melhor que pode para escapar da fila do fim do show. Se chegassem ao Aeroporto, poderiam escapar. Seus perseguidores pareciam ter previsto o movimento, pois logo após virar uma esquina, deu de cara com a estrada bloqueada por pneus em chamas, e vampiros sedentos. Antes que tivesse a chance de manobrar, uma saraivada de balas destruiu a roda dianteira, inutilizando-a. Eles estavam brincando com elas.

— Heeeeeey meninas. Eu também quero um pouco – Um homem careca, aparentemente líder do bando avançava, pondo a língua entre os dedos.

A batalha deve ter se arrastado por pelo menos meia hora. A presença ameaçadora de Sabrina fazia a maioria dos membros recuarem aterrorizados. Os que ousavam avançar descobriam que a ameaça era bem fundamentada pelo puro poder de fogo que carregavam. Nove vampiros foram explodidos, incinerados e baleados até então. Eventualmente, o bando conseguiu forçar as duas a recuar para um beco sem saída.

No fim do beco, trocaram olhares.

— Eu nunca quis te arrastar para isso – Sabrina disse com os olhos marejados.

— Você não me arrastou, eu estou aqui por minha vontade, e não mudaria uma única noite. Não me arrependo de nada. Nem mesmo do seu ultimo show – Os olhos de Marcelle carregavam a mesma determinação de quando ela conjurava suas magikas.

— Meu amor, tu fizeste cada noite solitária antes de te conhecer valer a pena. Você aceita se juntar a mim em meu ultimo encore?

E elas se beijaram. Um beijo tão poderoso que mesmo os vampiros em volta sentiram que o tempo parou, e um mago experiente poderia perceber que Marcelle estava de fato dilatando o tempo.

— Nesta vida e na próxima

E lutaram até a morte.