Por Alguma Razão escrita por AfterCloudiaSan


Capítulo 5
As razões de cada um




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Na verdade, não sabia como havia a notado tão rapidamente. Seus trajes dessa vez haviam mudado drasticamente. Usava uma camisa social branca dobrada ate os cotovelos fazendo conjunto com uma calça plus size preta até metade das pernas junto de uma sapatilha da mesma cor. Aquele conjunto lhe dava um ar diferente embora parecesse preservar sua personalidade. E não só isso, ate seu penteado havia modificado levemente, estando com um lado modelado para trás, mas com o caimento da franja adornando seu rosto. Reparou também que ela carregava uma bolsa de cor preta de viagem simples no ombro para pouca bagagem.

“Por acaso acabou de chegar de viagem?”

Naoya não sabia mais o que raciocinar. Ela havia literalmente sumido e agora estava ali milagrosamente em meio a um evento tecnológico? Era um turbilhão de sentimentos e pensamentos que o invadia e não sabia a ordem certa que deveria coloca-los. Mas se fosse para selecionar ao menos um desses sentimentos, seria sem duvidas a felicidade de vê-la novamente.  Já havia esquecido da presença de Kensuke e Yoshiki que haviam o arrastado até aquele lugar, percebendo que seu corpo estava se movendo inconscientemente ate a sua direção. Estava mais próximo a cada passo que dava, até finalmente estar atrás dela que ainda testava algumas funções de um notebook.

Finalmente Kou havia deixado sua atenção ao aparelho de lado e deu as costas a este ate dar de cara com aquele dito cujo loiro que a observava com um olhar indecifrável. Seus olhos esmeraldinos haviam se dilatado ao vê-lo ali diante dela. Dentre os últimos acontecimentos da semana, esperava que as coisas não ficassem piores do que já estava desde que ficou fora. E claro, sabia que poderia ter agido errado especialmente com ele, simplesmente por ter sumido de forma tão rude. Mas justamente agora, não esperava encontra-lo dessa maneira. Já sentia seu rosto em brasas com toda aquela situação:

— Nifu...Nifuji Kun... – sua gagueira havia retornado no pior momento deixando sua linha de raciocínio mais difícil para lidar com aquilo. Sua bolsa pendurada no ombro ameaçando cair também não a ajudava em nada. – Vo-vo-cê... eu só queria dizer que ...

— Desculpas? – Seu tom de voz não havia soado doce e inocente como antes. Havia sido melancólico e com pesar. Kou havia sentido – vai me pedir desculpas? Kou... onde você estava? – aquela calmaria em sua voz, era pior do que se estivesse falando com raiva.

Naoya já sentia seus sentimentos seguindo uma linha de pensamento diferente do que havia sentido nos últimos dias. Estava com ... raiva?

Sim. Estava. Isso Kou havia também percebido. Porém, esse meio tempo lhe situou algumas questões que devia adotar mais vezes. Como se estivesse segurando uma ancora de salvação, segurou a alça da bolsa em busca de segurança. Falou:

— ...Não. Não vou apenas pedir desculpas ..., mas queria conversar com você. Podemos?

Mais uma vez aquele mesmo olhar estava estampado no rosto dela. O mesmo que viu a quase quatro dias atrás. Claro. Podia estar se sentindo mal agora, mas ele não podia esquecer. Era Sakuragi Kou que estava na sua frente. Com certeza alguma coisa havia acontecido naquele dia. Seu sumiço, e agora essas roupas, ela devia ter uma explicação para tudo isso. Em troca de sua pergunta, não deu exatamente uma resposta, mas sim uma reação direta. Ainda não encarava de fato aqueles olhos verdes que tanto sentiu falta, mas pegou a bolsa que ela usava e colocou no seu próprio ombro. Ela de início não entendeu esse ato, até sentir sua mão esquerda sendo coberta por uma mão maior e quente segurando com firmeza.

— ... Vamos sair daqui – foi a única coisa que disse antes de sair andando em meio à multidão trazendo-a consigo.

Saíram do local de evento e seguiram andando pelas ruas em silencio, porém suas mãos continuavam dadas. Já era fim de tarde. As pessoas começavam a sair do trabalho, e as luzes aos poucos acendiam. Caminharam exatamente até uma praça movimentada da região. Era um local mais calmo, composto por plantas e árvores nativas onde era tipicamente frequentado por casais. Ao chegarem em um banco, Naoya deixou a bolsa no local e finalmente olhava diretamente no rosto daquela garota que simplesmente tomou seus pensamentos. 

Aquele silêncio já estava corroendo Kou por dentro. Aquele sorriso fácil e brilhante que o garoto a sua frente sempre dava, tinha sido substituído por uma expressão que ela não sabia dizer se era positiva ou negativa. Institivamente desviou o olhar, mas logo seu queixo havia sido capturado por ele sentindo suas bochechas corarem levemente com aquele toque quente e inesperado. Havia sido forçada a olha-lo de novo, e dessa vez a expressão estava lá. Lagrimas corriam pelo rosto de Nao silenciosamente.

O desespero lhe batia violentamente. Não aguentaria vê-lo chorar, até que qualquer reação de sua parte foi interrompida com seu corpo sendo puxado de encontro ao dele sendo abraçada profundamente. Naoya envolvia sua cintura tentando trazer para si toda a presença que emanava dela. Certificar que ela estava ali mais uma vez e que não iria poder fugir.

— Kou Kun... onde você estava? ...- lágrimas - desculpa, mas, senti medo de você ter ido embora para não voltar mais ... – a abraçava mais forte afagando suas costas.

Em contra partida, Kou literalmente não sabia como reagir naquela situação. Nunca havia lidado com isso em relação a amigos, e principalmente Nifuji. Lhe doía muito vê-lo daquela forma principalmente por ela ser a razão. Seguindo seus instintos, retribuiu o abraço enlaçando seu pescoço, consequentemente sentindo sua loção masculina enquanto afagava suas madeixas loiras.

— Nifuji kun, me desculpe por isso. – falou próximo ao seu ouvido- Por ter viajado sem nem ao menos te avisar. Mas não! Eu não vou sair do seu lado, se você não quiser... ta bom? – aquelas palavras haviam o tocado em sinal de alivio.

— Não vai mais embora? - Falou ele se afastando um pouco para olha-la no rosto. Ali estava aquela expressão inocente e ingênua que tanto gostava. Com os polegares, limpou as lagrimas que insistiam em cair pelo seu rosto já avermelhado o segurando no processo.

— Não! Eu não vou. Estou aqui, tudo bem? – falou com um simples sorriso no final o tranquilizando de vez.

Depois de acalmarem os ânimos, estavam sentados no banco sentindo a brisa fresca do inicio da noite.

— Kou Kun, da ultima vez que nos encontramos, você estava um pouco diferente, talvez até triste, não é? O que aconteceu desde aquele dia? Você estava chorando? – Kou sabia que ele precisava de uma boa explicação quanto a isso. Sentando-se de frente para ele, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha criando coragem para começar.

— Bem, você basicamente já sabe que eu moro com meu pai, não é? - ele concordou com a cabeça - Naquele dia, especificamente pela manhã, minha mãe havia ligado para mim e para meu pai por vídeo chamada. Ela não mora aqui. Mora em uma cidade um pouco mais longe. Acontece que minha relação com ela, não é das melhores possíveis... nem existe algo fraterno da parte dela na verdade.

Este era um fato inédito sobre ela que só agora ele descobria. Fato este que nitidamente a fez ficar triste só em lembrar. Segurou então uma de suas mãos para repassar confiança.

— Ainda quando eu era mais nova e meus pais não eram separados, nós morávamos juntos. Eu, ele, ela e minha irmã mais nova. - “irmã mais nova?!” foi pego de surpresa. – No entanto, minha mãe é membro de uma família muito tradicional, do tipo que todos os planos já devem estar traçados. No caso, eu fui a quebra inicial desses planos.

Naoya não parecia gostar do rumo que isso estava tomando

— Ela nunca escondeu o fato de que queria que o progenitor da família fosse um menino. Aquele que seria o futuro chefe da família. Mas o fato de eu nascer menina não a alegrou muito. Fato esse que meu nome não é muito feminino... – deu um riso totalmente sem emoção. Com o passar do tempo, as coisas não pendiam para uma melhora. Minha mãe queria me impor questões da sua família desde cedo, ainda estudei uma época no colégio tradicional, definitivamente seguindo suas ordens. No entanto o meu pai sempre foi um homem mais flexível. Ele não ligava para normas ou tradições. Para ele, o importante era o agora. Inclusive foi dele que veio minha influência no mundo dos jogos... - Dessa vez ela havia deixado escapar um sorriso em tom carinhoso ao se lembrar do pai. – Era ele que me levava para passear em finais de semana ou datas especiais, ou escolher roupas que eu me sentisse a vontade de usar. Ele nunca cobrava nada desse tipo. Mas houve um tempo que a situação entre meus pais se tornou insuportável mesmo com mesmo depois do nascimento da minha irmã mais nova. Foi aí que meu pai se separou e veio se estabilizar em Tóquio antes de vir me buscar para morar com ele. Passei então a só conviver com ela. Ela nunca gostou de mim... nem nunca me deu afeto que eu queria. Tudo se resumia a dizer que a culpa era minha e que eu deveria ter mais responsabilidades... pena que ela dizia isso para uma garota de sete anos... depois meu pai veio me buscar quando conseguiu se estabelecer aqui na cidade. Ele sabia que o relacionamento entre mim e ela não era das melhores. As coisas melhoraram um pouco no ritmo lento.

Mesmo de cabeça baixa, Naoya via duas lágrimas correrem do seu rosto. Nunca poderia imaginar que toda aquela história se refletia em Kou até hoje. Seu habito de sempre se desculpar, seus gestos retraídos, seu olhar que sempre vacilava... claro. Óbvio que isso tinha uma origem. Internamente se culpava muito por sua falta de noção não o ter feito imaginar algo do tipo.

— Mas ligando isso com essa semana, como havia dito, ela falou conosco. Pra variar, me criticou em todos os pontos que podia, desde roupas ate ... o fato de ser eu. Ela e meu pai brigaram também para variar. O único motivo dessa chamada, era que minha irmã ia completar seu aniversário e queria minha presença. Para finalizar seu recado, pediu que eu comparecesse na festa ao menos como de fato uma menina e não o contrário.

Naoya quase não acreditava que aquele anjo a sua frente poderia ser descendente de alguém tão insensível como sua mãe. Talvez nunca a dissesse, mas já não gostava dessa mulher.

— Naquele dia quando eu praticamente fugi de você, eu ainda estava decidindo se iria ou não. Seria muito mais pratico ignorar tudo isso, mas pela primeira vez, eu não quis fugir. Eu queria resolver aquilo de frente. Então fui quando ela me solicitou para ajudar a organizar a festa como ela mesmo dizia, “da sua filha preferida”. Porém nunca culpei minha irmã ou coisa do tipo. Meu pai precisou viajar por uma questão de trabalho, e de lá iria nos encontrar na nossa cidade natal. Em meio a esses dias, tive que lidar com familiares da minha mãe, uma série de perguntas, minha mãe me criticando... até que ... – ela parecia estar se lembrando do dito momento pelo seu olhar perdido:

— Até que? 

— Até que eu não pedi desculpas a minha mãe pela primeira vez ...- Aquilo parecia ser tão simples, mas Nao podia sentir que havia algo de importante por trás daquilo.

— Pela primeira vez, não senti vontade de pedir desculpas só pelo fato de não estar dentro do padrão que ela queria. Eu tinha consciência no momento que não estava fazendo nada de errado de fato. Eu me senti... livre! – Era nítido seu pequeno sorriso em contentamento com o feito. – Foi por isso basicamente que acabei não te falando nada. Não queria te preocupar com essas questões familiares, ou transparecer que estava triste. Dessa vez me desculpe! Mas eu sentia que queria resolver tudo isso, e depois de contar pessoalmente com calma. Todas as conversas que tivemos, me ajudaram bastante. Obrigada, Nifuji Kun!

Naoya não esperava escutar aquela parte final. Ela havia crescido um pouco mais e ele havia ajudado mesmo que indiretamente nisso? Era algo que custava a acreditar embora sentisse seu rosto ruborizar e não encontrasse as palavras certas para responde-la. Mas no fundo, podia dizer que estava orgulhoso dela de forma especial.

— Obrigado também... embora tudo isso só tenha acontecido porque você quis e se esforçou. Você é incrível, Kou kun! – Após ambos rirem um pouco sobre assuntos menores da festa que ela comentava:

— Por sinal, não esperava te encontrar no evento Kou kun.

— Ah, é que, minha mãe havia brigado comigo... então peguei o primeiro trem que vinha para Tóquio. – Falou meio sem jeito como de costume. - Ainda estava meio agitada e queria me distrair nessa feira tecnológica que haveria hoje... Aliás, também não esperava te encontrar lá. Você foi com Ken chan e Yokkun?

— Eh?

Sim, agora Naoya se dava conta de que havia deixado para trás seus amigos, e ao reparar na hora, já era 21:00 para ser mais especifico. O evento com certeza já havia acabado. A cara de desespero dele pelo possível transtorno que causou, e nem as ligações que atendeu por estar com o celular no mudo, foi o suficiente para fazer Sakuragi sorrir como a algum tempo ele não via.

A breve conversa breve que teve com Hirotaka, havia surgido na sua mente clareando algumas questões naquele momento.

Em virtude do horário, resolveram sair de onde estavam e seguiram para a área mais movimentada. Ambos pareciam estar com suas mentes conectadas, pois nenhum dos dois queriam se separar agora. Por isso que quando Naoya propôs passarem antes nas áreas de jogos e arcades que ainda funcionavam a todo vapor, foi prontamente seguido pela garota que se sentia enfim, no seu local de conforto. Nao havia pegado novamente sua bolsa, e sem pensar muito, segurou a mão de Kou de modo muito espontâneo. Só aí percebeu seu ato, e além de parecer embaraçoso, já estava pronto para que ela soltasse sua mão. Mas para sua surpresa, sua mão não se afastou da dela, e quando a olhou no rosto, o viu levemente avermelhado. Assim seguiram para o destino que os esperava.

Quanto a lembrança que teve da conversa com o irmão, conseguia entender agora, enquanto via Kou derrotar seu adversário nos jogos de pontaria, no fliperama ou sua satisfação acompanhada do seu olhar entusiasmado por completar mais uma partida. Compreendia juntamente a isso os motivos de sua inquietude, a falta dela ao seu lado, de não poder conversar livremente ou poder olhar profundamente naqueles olhos que o encantavam. A razão para todos esses fatores, era que já amava demais aquela garota para ser mantido longe dela. Ela havia se tornado a razão da sua felicidade, mesmo sem saber.


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