Desde o momento que o Adrien tomou a decisão de dar espaço para a Marinette, ele evitava situações que ficassem sozinhos, falava com ela normalmente nas conversas em grupo, mas sempre voltava a falar com o Nino.

Como Chat Noir, não foi para as patrulhas com a Ladybug, evitava até mesmo ir dar uma olhada em como a Marinette estava, queria ter certeza do que sentia e por quem sentia. Em una folha começou a escrever seus sentimentos pela Ladybug do outro lado os sentimentos pela Marinette, na tentativa de que isso pudesse clarear seus pensamentos.

A verdade, é que não estava funcionando. Ele sentia falta das conversas e brincadeiras que tinha com a Ladybug durante as patrulhas. Estava com saudades do tempo que ficava com a Marinette, pode conversar, abraçar, beijar ou simplesmente assistir alguma coisa comendo alguns lanches.

Ele rasgou a folha se sentindo frustrado e guardou na mochila pra se livrar dela depois, a única coisa que ajudava ele a clarear seus pensamentos em relação aos sentimentos era quando conversava com a Marinette. Sem saber mais o que fazer, olhou o horário, todos já estariam dormindo.

— Plagg? - Adrien o chamou pegando um pedaço de queijo e o kwami se aproximou

— Vai sair? - Plagg perguntou pegando o queijo e começou a comer

— Preciso resolver isso, antes que eu acabe enlouquecendo - Adrien falou vendo o kwami terminar de comer

— Então vamos acabar com esse tormento - Plagg falou após comer

— Plagg, mostrar as garras - Adrien se transformou e saiu pela janela

Ele seguiu o caminho até a casa da Marinette, mas parou no telhado da casa em frente e sentou, olhando para a janela do quarto, a luz estava acessa, mas não havia movimento. Esperou por alguns minutos, pensando em como iria começar aquela conversa, mas nenhumas das alternativas parecia boa o suficiente.

Ele viu quando a Mari entrou no quarto, respirou fundo e se levantou, usou seu bastão para saltar até a varanda, não se preocupou em ser silencioso, queria que ela soubesse que ele estava ali. De dentro do quarto, Mari ouviu o barulho que a chegada do Chat fez e olhou para a Tikki.

— Fique por perto - Mari sussurrou pra kwami que assentiu se escondendo

Mari suspirou e começou a subir a escada que dava acesso a passagem para a varanda, ao sair viu o Chat olhando a cidade, ela sabia que ele havia notado a sua presença, mas não se virou e Mari não se aproximou. Algum tempo se passou enquanto o silêncio se instalava entre eles.

— Devo presumir que a falta de contato visual seja uma resposta sobre a sua decisão? - Mari perguntou e viu o Chat abaixar levemente a cabeça

— Não. Não é uma resposta - ele falou se virando para olha-la

— Já se decidiu? - Mari perguntou cruzando os braços, como se quisesse criar uma barreira

O silêncio dele enquanto a olhava, a deixou um pouco nervosa.

— Não - ele admitiu frustrado começando a caminhar pela varanda

— Pedi que só voltasse quando tivesse escolhido - Mari falou olhando para baixo

— Eu sei. Eu pensei, pensei muito nos últimos dias - Chat falou olhando-a - Sempre que pensei em você, eu tive certeza de que te amo. O jeito carinhoso, seu sorriso, a sua força, seu olhar que sempre consegue transmitir tranquilidade...

— Mas? - Mari perguntou ao perceber que não era tudo

— Mas quando penso na Ladybug, a coragem, a determinação, a capacidade que ela tem de fazer com que acreditemos que tudo é possível, eu... - Chat Noir falou abaixando o olhar

— Você também a ama - Mari falou e deu um sorriso discreto, que ele teria notado se estivesse olhando-a

— Eu não consigo escolher entre vocês - ele falou se sentando na cadeira de jardim e pôs as mãos na cabeça olhando pra baixo - Como meu coração pode desejar duas pessoas ao mesmo tempo?

Mari suspirou relaxando a postura e caminhou em direção as grades.

— E se não fossem duas pessoas? - Mari falou olhando na direção do Chat atraindo a atenção dele - E se fosse apenas uma?

Chat apenas seguiu o olhar da Mari que estava direcionado para a passagem.

— Está tudo bem - Mari falou olhando a Kwami que estava fora do campo de visão do Chat - Ele tem que saber.

Chat viu a Kwami carmesim passar voando pela claraboia e ficar no ar próximo a Marinette.

— Boa noite, Chat Noir - ele lembrou de quando tiveram que trocar os Miraculous

— Tikki? - ele murmurou surpreso e olhou para a Marinette - Você é a Ladybug

— Por favor, me desculpa - Mari falou se aproximando dele - Mas eu precisava saber quem você escolheria, se seria a...

Ela não teve tempo de terminar, foi interrompida por um abraço do Chat que após alguns segundos do susto retribuiu.

— Eu sabia que amava você tanto quanto amava a Ladybug - Chat Noir falou aliviado - E agora amo ainda mais por serem as mesma pessoa.

— Me perdoa por ter confundido você - Mari pediu ainda abraçada a ele - Era uma insegurança que tinha e...

— Princesa, olha pra mim - Chat pediu afastando o suficiente para que pudessem se olhar - Está tudo bem. Nem imagina o alívio que estou sentindo neste momento, principalmente por saber que podemos ficar juntos.

Chat Noir sorriu levemente, aproximando o rosto da Marinette, tinha muita coisa que ele gostaria de perguntar, mas no momento ele só queria matar a saudade que sentia dela, sentir novamente os lábios dela contra os seus. As mãos estavam na cintura dela quando a beijou, no início um selinho demorado que logo se aprofundou em um  beijo lento, repleto de carinho, saudade e desejo, se separaram devido a falta de ar.

— Eu te amo, Marinette - Chat sussurrou

— Vamos entrar, tá ficando frio aqui fora - Mari falou e ele assentiu

Mari entrou primeiro sendo seguida por ele.

— Tenho que te contar uma coisa - Mari falou pegando um cookie pra dar a Tikki

— Tudo bem - Chat falou sorrindo, mas ele notou que ela parecia tensa - Tá tudo bem?

— Acho melhor se sentar - Mari falou e ele parou de sorrir sentando no divã

— Agora está me deixando preocupado - Chat falou olhando-a

— Lembra que eu dizia que era apaixonada por outro cara? - Mari falou sentando na cadeira

— Lembro. O que é que tem? - ele perguntou começando a ficar nervoso

— Nesse tempo que ficamos longe, ele voltou - Mari falou olhando as próprias mãos - Achei que poderíamos ter uma amizade, mas as coisas saíram um pouco do controle.

— Como assim? - Chat perguntou sentindo o coração acelerado

— Ele me deu uma carona pra casa depois da festa de aniversário da Chloe e nos beijamos - Mari falou deixando o Chat sem reação

"- Todo esse tempo, ela gostava de mim?" - Chat pensou assimilando a descoberta

— Eu sinto muito. Eu não queria te trair, aconteceu antes que eu me desse conta - Mari falou olhando-o e Chat notou que ela lacrimejava - Me perdoa.

— Princesa, tá... - Chat começou a falar, mas foi interrompido

— Aquilo foi um erro. Nunca deveria ter acontecido - Mari falou com firmeza enquanto as lágrimas rolavam

Chat ficou em silêncio, a forma que ela falou fez ele ver que talvez a reação dela não fosse unicamente por ter beijado "outro" enquanto era namorada do herói.

— Porque diz isso? - Chat perguntou

— Desde que ele se mudou para a minha escola, sou apaixonada por ele, por quatro anos, fiz de tudo pra que ele me notasse - Mari admitiu olhando as próprias mãos - Fiz planos mirabolantes pra me declarar, boa parte da nossa classe tentava me ajudar, mas nunca dava certo.

Chat ouvia atentamente, sentindo seu coração doer, a cada lágrima que ela derramava

— Eu cheguei ao ponto de ser stalker, tinha toda a agenda dele anotada, eu era patética - Mari falou ainda sem olha-lo - Ele uma vez me pediu ajuda para se aproximar de outra garota, mesmo aquilo me machucando o ajudei.

Chat lembrou do encontro que teve com a Kyoko, enquanto a Mari estava com o Luka.

— Depois que meu pai morreu, fui fazer uma patrulha e o vi - Mari falou tentando conter as lágrimas - Ele estava aos beijos com a Chloe, foi quando me dei conta de que ele só me veria como uma amiga.

— Mari - Chat tentou falar, mas as palavras pareciam ter fugido

— Foi então que aceitei viajar com a minha mãe, pra ficar longe de tudo e tentar superar isso - Mari falou secando as lágrimas - Foi durante a viagem que percebi que você era mais que um amigo e que podíamos dar certo juntos.

Chat a olhava sentindo seus olhos ardendo, quantas vezes ela chorou por causa dele? Quantas vezes ela se sentiu insuficiente por não ser notada?

— Então começamos a namorar, tudo estava bem, mas ele começou a se aproximar e mexer com meus sentimentos outra vez - Mari falou se levantando

Chat percebeu a aflição dela, sabia o que era estar assim, talvez devesse dar um espaço pra ela e com calma revelar quem realmente era

— Se estiver em dúvida, posso te dar um tempo pra assimilar tudo - Chat falou em tom compreensivo

— Eu já tomei minha decisão - Mari falou com firmeza enquanto secava as lágrimas - Eu te escolhi. Diferente dele, você sempre me notou, sempre esteve ao meu lado, sempre me apoiou, nunca me fez sofrer.

Chat se levantou e foi até a Mari, a puxou delicadamente pra si

— Esconder garras - ele sussurrou a abraçando

Ela estava com os olhos fechados, tentando se recompor, era a primeira vez desde a morte do seu pai que ela falava tão abertamente dos seus sentimentos.

— Eu sinto muito, meu amor. Nunca desejei que sofresse, me desculpa - Adrien falou deixando algumas lágrimas rolarem - Eu sinto muito, por favor me perdoa

— Não tenho que te perdoar. Você não... - as palavras se perderam quando ela viu quem estava a sua frente e se afastou - Adrien?

— Princesa, eu sinto muito, nunca imaginei que estivesse passando por isso, eu estava tão focado nos meus sentimentos pela Ladybug que não consegui te notar antes - Adrien falou deixando as lágrimas rolarem - Mas, agora temos a chance de começar do zero, sem segredos, sem receios, agora podemos ficar juntos

Adrien tentou se aproximar, ela recuou com uma expressão de choque e ele parou tentando não se desesperar

— Não faz isso, princesa, por favor - Adrien pediu e ela parecia tentar assimilar tudo

— Eu... Eu... - ela tentou formular uma frase, mas nada parecia sair

— Vamos nos acalmar, então poderemos conversar - Adrien tentava controlar a si mesma e acalmar a Mari que estava chorando mais do que antes

— Vá embora - foi tudo que a Mari conseguiu dizer

— O quê? - Adrien murmurou sem reação e viu a Mari respirar fundo

— Eu preciso ficar sozinha - Mari falou mais pra si mesma do que pra ele e foi em direção a escada pra sair do quarto

— Marinette, espe... - Adrien estava quase indo atrás dela quando o seu kwami apareceu em sua frente

— Deixa ela pensar um pouco, garoto - Plagg falou olhando o portador

— Eu não posso perder ela, Plagg - Adrien admitiu deixando mais lágrimas rolarem

— Eu vou ver como ela está - Tikki falou e foi atrás da portadora

Adrien foi em direção ao divã, pensando em tudo que havia descoberto, deitou fechando os olhos, precisava se acalmar ou poderia ser akumatizado. Na sala, a Mari estava caminhando de um lado para o outro, com as mãos na cabeça.

— Fica calma, Mari - Tikki falou se aproximando da portadora

— Como isso é possível, Tikki? - Mari perguntou se sentando no sofá - Tantas pessoas, ele tinha que ser o Chat Noir?

— Ele não é um bom parceiro? - Tikki perguntou pousando no colo dela

— Não é isso, ele é o melhor parceiro que eu poderia ter - Mari falou conseguindo parar de chorar - Só não consigo entender como fui me apaixonar por ele duas vezes.

— Acho que dá mesma forma que ele se aproximou duas vezes por você - Tikki falou olhando-a e Mari deu ar de riso

— Eles são tão diferentes - Mari falou pensando nas diferenças entre o Adrien e o Chat

— Independente disso, algumas coisas tem que acontecer, de um jeito ou de outro - Tikki falou tranquilamente

— O que eu devo fazer, Tikki? - Mari perguntou olhando-a

— Primeiro, se acalmar. Segundo, tomar uma água e depois pensa no que fazer - Tikki falou olhando a portadora - Você é inteligente, vai saber lidar com isso.

— Obrigada, Tikki - Mari agradeceu fazendo carinho na kwami que sorriu de volta

Aos poucos, ambos os heróis foram acalmando seus sentimentos, colocando seus pensamentos em ordem, afinal, agora com todas as informações ficava mais fácil, deixar as coisas claras. Vários minutos se passaram, Tikki acabou dormindo nas mãos na Mari.

Mari se levantou com cuidado para não acordar a Kwami, caminhou até a cozinha, bebeu um pouco de água e subiu a escada, estava precisando de uma boa noite de sono. Subiu a escada para o quarto, quando olhou na direção do divã viu o Adrien sentado com os cotovelos apoiados nos joelhos e de cabeça baixa.

— Tinha pedido pra que fosse embora - Mari falou baixo, para não acordar a Tikki

Mari caminhou até a casinha de boneca e acomodou a Tikki.

— A gente precisa conversar - Adrien falou suavemente a olhando - Nós dois passamos quatro anos, sofrendo por um amor achávamos não ser correspondido.

— Adrien, eu... - Mari falou olhando-o

— Nós dois merecemos esclarecer isso, Mari - Adrien falou e Mari suspirou pesadamente

Olhou para a almofada ao lado do Adrien vendo o Plagg dormindo.

— Tudo bem, mas não aqui - Mari falou olhando-o e indicou os kwamis dormindo - Vamos lá pra baixo

— Tá bem - Adrien falou se levantando e eles desceram a escada

Seria uma longa conversa, ambos precisavam disso.