A Spiderella Story escrita por saintprongs


Capítulo 1
Face it, Tiger




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/782759/chapter/1

James não conseguia não encarar a ruiva. Era impossível. O cabelo dela longo, acaju meio acobreado e avermelhado, com todas aquelas ondas, era fascinante demais. As sardas espalhadas delicadamente pelo rosto eram um charme extra. Seus olhos verdes eram tão intensos e pareciam esconder os segredos do universo, sugando James repetidamente para aquele vórtex interminável. Os longos dedos pareciam tão delicados ao passar pela estante, escolhendo um encadernado aleatório para abrir e folhear. Já havia decorado a sequência: escolher um encadernado, abrir, folhear, morder os lábios, tentar prender atrás da orelha aquela insistente mecha de cabelo da franja que caía sobre os olhos, tão logo surgindo aquela pequena e adorável ruga entre as sobrancelhas conforme avaliava o que via.

Toda terça e quinta feira, pontualmente às 17h ela aparecia ali, justamente na golden hour, fazendo parecer que ela própria era o sol. O cabelo parecia fogo; na verdade, tudo nela parecia queimar intensamente a todo momento. Quando ouvia o sino indicando que a porta havia sido aberta, James sabia que a visão da ruiva lhe tiraria o fogo. Poderia jurar nesses momentos que viveu sua vida em escuridão e só agora conhecia a luz do sol, só agora que a conheceu.

Sabia já o que ela faria toda vez. Chegaria por aquela porta, daria para ele um tímido sorriso e se dirigia direto para a seção de hqs do Batman. Passaria algum tempo ali, indo direto para as do Capitão América em seguida, X-Men, uma olhada geral e, por fim, acabaria levando uma qualquer do Homem Aranha. Uma vez por mês, na primeira quinta feira de todo mês, ela levaria algum encadernado. Esses eram os dias que ela passava mais tempo na loja, escolhendo cuidadosamente. Então ela passaria no caixa, daria outro sorriso tímido para James, agradeceria e iria embora, parecendo levar o sol com ela.

Sabia de todos esses detalhes da garota e sequer sabia a coisa mais básica o possível: seu nome. Sim, ele soa como stalker, mas não era. Era apenas que seu cérebro parecia não conseguir lidar com o quanto ela era linda e na hora de falar algo pertinente tudo que saia eram variações de "ahn", "hum" e "aaaaa". Demorou algum tempo até ele conseguir formar um simples "boa tarde" e "obrigada por sua compra e volte sempre". E ainda assim, toda vez que ele dizia essas frases, podia sentir suas mãos suando nervosamente.

O que era absolutamente patético. James Potter não era alguém que não sabe como falar com garotas. James Potter, na verdade, tinha a capacidade de falar com qualquer um que chegasse em sua frente. Esse era um dos seus dons: sua personalidade extrovertida e tranquila. Tudo sempre estava bem para ele, não existia situação constrangedora e a popularidade não era um estorvo e sim uma benção.

Ele tinha a vida dos sonhos de qualquer um que cresceu vendo filmes de high school poderia desejar. Era bonito com sua estatura de 1m82, os ombros largos e orgulhava-se particularmente de seu sorriso relaxado e de seu cabelo que tinha praticamente uma reputação por si só. Era capitão do time de lacrosse e tinha os melhores amigos que poderia desejar. E falando em desejar, sabia que era desejado por ¾ da população daquela escola. Suas notas também eram excelentes sem esforço.

Entretanto, havia uma parte de sua vida que gostava de manter separada e essa parte era sua verdadeira nerdice. Não porque tinha vergonha; isso nunca, mas sim porque parecia ser algo tão pessoal e íntimo que apenas seus amigos mais próximos sabiam. Sentia que se algum semi conhecido lesse suas hqs preferidas e lesse seus tweets descompromissados em sua conta anônima, estaria, na verdade, tendo uma visão exclusiva e privilegiada de sua própria alma.

Então, mantinha essa parte de sua vida muito bem escondida, obrigada. Trabalhava meio período em uma comic store do outro lado da cidade, onde podia passar horas em meio ao conteúdo nerd que tanto amava, onde podia estudar em paz devido ao movimento tranquilo da loja e ainda, toda terça e quinta feira, podia ver a Mary Jane Watson que entrava por aquelas portas pontualmente. Se o mundo todo lhe pressionava para ser o filho perfeito, o capitão perfeito do time de futebol, o futuro médico genial, o pegador, sabia que naquela loja ele poderia ser simplesmente ele mesmo.

E, aparentemente, ele mesmo não sabia como lidar com mulheres bonitas. Toda semana se programava para chegar na ruiva, perguntar seu nome, indicar alguma hq. E em toda vez, falhava miseravelmente. No seu fracasso mais recente seus amigos estavam ali para presenciar.

— Obrigada!

Era a única palavra que James já tinha ouvido falar e, pateticamente, havia se tornado sua nova palavra preferida. Sabia que era sua vez de responder o casual "Obrigada e volte sempre" ou, até mesmo, perguntar seu nome e pedir seu número. Mas, talvez fosse pela forma que ela mordeu o lábio, fazendo-os ficar vermelhos por alguns instantes ou como o sol parecia fazer sua pele brilhar, a maneira como ela olhava no fundo dos olhos castanhos claros dele, tudo que ele conseguiu falar foi:

— Obri...sem...ahn…Tchauvoltesempreatélogo.

A ruiva pareceu perplexa e piscou algumas vezes confusa antes de virar-se e ir embora, ao passo que Sirius, seu amigo que estava sentado em um puff lendo uma hq qualquer dos Guardiões da Galáxia, soltou uma gargalhada, que logo foi acompanhada por Peter, que lia uma hq dos Vingadores deitado no chão, e por Remus, que estava em uma poltrona lendo uma versão ilustrada do Manifesto Comunista.

— Então, esse é o famoso pegador do Hogwarts High School?

James revirou os olhos para o amigo de cabelos longos.

— Cala a boca, vai.

— Ei, sem julgamento aqui, mas simplesmente não parece o mesmo cara que transou com a Emmeline Vance no banheiro da quadra. — apontou Sirius, que sempre que tinha uma chance relembrava essa história que havia sido espalhada pela escola no ano anterior. Spoiler alert: isso nunca tinha acontecido. Ele simplesmente estava passando pelo lado de fora dos vestiários, escutou um grito do vestiário feminino, e ajudou Emmeline, que havia escorregado no chão molhado e caído. Usando apenas uma toalha. E justamente na hora em que ele segurava ela firmemente para lhe ajudar a levantar, a maior fofoqueira da escola, Rita Skeeter, entrou no vestiário e viu toda aquela cena. Pronto, o estrago estava feito.

— "Não parece o mesmo cara mimimi" — debochou James, imitando o amigo. Saiu de trás da bancada de atendimento e foi até as janelas da loja para trancar todas. — Vamos, larguem as HQs, Hagrid deixou eu fechar a loja mais cedo hoje por causa do treino de futebol daqui a pouco. Só estava esperando a Mary Jane passar por aqui.

Remus o encarou por cima do livro vermelho, com um olhar incrédulo em seu rosto.

— Você poderia ter ido embora há horas atrás mas estava esperando aquela menina vir pra sequer trocar uma palavra com ela?

Um tanto constrangido por sua atitude ter sido apontada assim, James deu de ombros e passou a fechar as persianas, escurecendo o cômodo, ouvindo protestos dos amigos que ainda não haviam largado suas leituras.

— Hm...sim?

Remus apenas balançou a cabeça, fechando o livro e levantando-se para colocar uma mão no ombro de James, encarando-o profundamente.

— Cara...gado demais.

Sirius aplaudiu e apontou para o amigo com cabelos cor de areia.

— É o que eu digo toda vez!

Antes que James pudesse retrucar, escutaram uma batida na porta, que já estava coberta pela persiana. Hesitante, James foi abrir. E ali estava a sua Mary Jane, ao lado de um carteiro. Uma cena certamente inesperada. Ficaram-se encarando alguns segundos até que ela quebrou o silêncio, ao mesmo tempo que o carteiro.

— Ahn… eu esqueci meu cartão aqui.

— Uma encomenda para o senhor James Potter.

Como sempre, o cérebro de James travou na presença da ruiva e, em uma sequência de atitudes estúpidas, ele pegou a encomenda das mãos do carteiro, assinou, enfiou o pacote nas mãos da ruiva, olhou bem para a cara dela e disse:

— Obrigada por sua compra e volte sempre.

Assim fechando a porta na cara dela e do carteiro, inclusive virando a chave. Alguns instantes se passaram, nos quais ele e os amigos apenas encararam-se em horror, até que finalmente tudo explodiu.

— QUE MERDA FOI ESSA?

— VOCÊ TÁ MALUCO?

— EU SABIA QUE DEVIA TER ME PREOCUPADO MAIS QUANDO SEUS PAIS CONTARAM QUE TE DERRUBARAM DO BERÇO DE CABEÇA.

— EU NÃO SEI O QUE ACONTECEU E CALEM A BOCA, ELA VAI OUVIR VOCÊS. — gritou James espelhando o pânico dos amigos.

E para seu terror, a voz leve da Ruiva se fez ouvir do outro lado.

— Ahn, vocês sabem que dá para ouvir tudo perfeitamente, não é?

Respirando fundo e recobrando sua sanidade (já que sua dignidade já era caso perdido), James foi até o balcão, achou o cartão de crédito sem nome da ruiva, abriu a porta, pegou seu pacote das mãos dela e lhe deu seu cartão, sorrindo de talvez uma maneira um pouco tranquila demais ao dizer:

— Perdão pela confusão e muito obrigada pela visita. Volte sempre, a Hadrid's Geek Shag agradece.

Assim restaurando a normalidade o máximo o possível ao fechar a porta. Os amigos ainda o encaravam incrédulos.

— Sabe, acho que você devia desistir do cosplay de Spiderman e fazer de Duende Verde, pois você claramente enlouqueceu. — Peter suspirou, levantando-se e pegando o pacote das mãos de James para abrir. — É a sua roupa pro cosplay?

— Sim. O traje do Andrew Garfield como Spiderman em Amazing Spiderman 2. Um dos trajes mais lindos para um dos filmes mais injustiçados. — James refletiu com um sorriso, ao pegar o traje em suas mãos.

Sirius, que estava apoiado em uma estante encarando o amigo, apenas balançou a cabeça.

— Aiai, o que será que a escola diria se soubesse que o famoso James Potter teve um surto por não conseguir falar com uma garota bonita e ainda vai viajar para Comic Con para fazer cosplay de Spiderman.

James deu de ombros, guardando o traje azul e vermelho de volta na caixa.

— Eu não dou a mínima para o que eles diriam, só estou feliz que eu não terei que ver a ruiva por uma semana enquanto estarei na Comic Con. Vai que ela esquece de tudo isso até lá. — o olhar na cara dos amigos indicava que tudo aquilo não seria facilmente esquecido. Irritado, continuou. — Vem, estamos atrasados pro treino já, vamos sair daqui antes que ela venha falar que esqueceu a bolsa e eu me jogue de uma ponte sem querer.

 

E assim, para sua alegria de não ter que encarar a ruiva por algum tempo após aquela situação constrangedora, James viajou para a famosa Comic Con. Tinha sorte de ter pais que apoiavam suas loucuras nerds e amigos que guardavam seu segredo tão bem, mas, ainda assim, por garantia e para seu próprio divertimento, James havia feito uma promessa: só andaria pelo evento fantasiado de Spiderman.

Tudo estava indo bem. Seus pais o haviam deixado na porta do evento e saído para turistar, seu cosplay estava incrível já que, francamente, ele sabia muito bem impersonar a personalidade do Spider. A todo momento o paravam para tirar fotos, mas ele não se importava; gostava daquela atenção. E, além de tudo, só havia pensado na ruiva e naquela situação constrangedora só umas 35 vezes ao invés de 70 vezes, como faria em um dia habitual!

— Ei, Peter Parker! Que tal tirar uma foto comigo e com a Gwen? — a voz de um homem gritou para ele, chamando sua atenção. James sorriu por debaixo da máscara, grato por ter tido finalmente a chance de encenar algo que planejava há tempos. Só podia esperar que aquela Gwen embarcasse em sua loucura.

Virando-se dramaticamente, voltou-se para o homem e ali, ao seu lado, estava uma cosplayer com o traje de Spider Gwen. James esperava que a referida Gwen fosse realmente a Gwen, com o clássico traje do dia de sua morte mas, ei, era impossível reclamar de um cosplay tão bem feito de uma de suas personagens preferidas. 

— Peter? Peter Parker? Você… você tá vivo?

Aquela Gwen disse, através da máscara. James teve a leve sensação de que conhecia aquela voz, mas era difícil definir com a máscara no caminho e tantas pessoas tinham vozes similares no mundo, que ele logo deixou de lado tal informação. Feliz por ela mesmo ter criado essa interação, entrou em sua onda, dando alguns passos incertos na direção dela.

— Gwen… É você mesma? Eu… eu te perdi. Como?

Com delicadeza, a Gwen tocou nos braços de James. O toque parecia íntimo de certa forma, o que era certo para o tom da cena. James ficou impressionado na dor da voz da garota ao lhe responder.

— Em meu mundo… eu te perdi, eu falhei com você.

Tentando replicar a mesma emoção, James disse:

— Perdão, Gwen… Perdão por ter te deixado cair, por ter transformado você em um alvo. Pelo menos tenho algum conforto em saber que em algum universo você continua...viva.

“Gwen” puxou-lhe para um forte abraço no qual era visível a angústia dos personagens. E a angústia muito real de James, já que o ato de abraçar alguém, ainda mais uma mulher daquelas, vestindo aquele traje fino e ajustado ao corpo, era difícil. Conseguia sentir como o corpo dela parecia encaixar perfeitamente no dele e, só por garantia, trouxe à mente imediatamente a imagem de Peter vestido de enfermeira sexy no Halloween anterior. Só por garantia.

Quando finalmente se soltaram do forte abraço, escutaram aplausos de uma pequena multidão que havia se reunido ao redor deles.  Fizeram pequenas menções em agradecimento e logo começaram a tirar fotos com cada um que aparecia, recriando algumas poses icônicas como a da Gwen morrendo nos braços do Peter.

Tão logo quanto a multidão se dispersou, James voltou-se para a companheira de cosplay.

— Hey, bom trabalho ali. Muito criativo

Era difícil conversar através das máscaras, sem saber a expressão da garota e sem poder usar seu rosto para passar a mensagem, mas ele sabia que ela estava sorrindo assim como ele, com o seu "sentido aranha".

— Obrigada. Sou uma cadelinha de PeterGwen, qualquer chance de alimentar meu coraçãozinho que ainda sofre por eles, eu vou aproveitar. Adorei o traje de Amazing Spiderman 2, não é uma escolha muito comum. 

James deu de ombros.

— Ele não é apreciado o suficiente. Andrew foi o melhor Peter Parker e Spiderman, só o roteiro que não ajudou. E eu nem preciso falar da química dele com a Emma Stone, nenhum outro Spider conseguiu ter um relacionamento bom como o deles no cinema.

— Sim! Ano passado vim com o traje da Gwen do dia que ela morreu, então pensei em variar um pouco. E agora eu passei a usar aquela roupa casualmente até para ir na aula… Bem, uma pena que não te encontrei no último ano, eu adoraria recriar toda aquela cena da morte dela.

Então seu instinto original estava, de certa forma, correto. Ele só havia errado por um ano, mas ela de fato era o tipo de garota que se vestia com as roupas do dia da morte da Gwen.

Era precipitado e mais esquisito do que o CGI daquele episódio de Doctor Who no qual os personagens viram manequins, mas James sentia que gostava da companheira de cosplay à sua frente. Talvez fosse apenas o sentimento estranho de solidão de estar num evento daquele tamanho sem ninguém o acompanhando, talvez fossem seus hormônios de adolescente sendo inconsequentes, mas ele tomou coragem e perguntou:

— Bem, você está sozinha por aqui? Porque eu estou e sabe, queria dar uma passada no estande da BBC para tirar umas fotos na TARDIS e, sabe, seria legal ter companhia, ainda mais de uma Gwen Stacy…

A garota ficou alguns instantes em silêncio e tudo que James desejava é que não usassem aquelas máscaras. Não podia ver a expressão dela, e isso não ajudava em nada com seu nervosismo. Nervosismo irracional, afinal, não era como se um fora dela fosse como um fora da ruiva da loja.

Para seu alívio, ela acabou com sua agonia.

— Eu também estou sozinha, mas antes disso, uma pergunta muito importante: Tennant ou Capaldi?

James refletiu alguns segundos, mas era como se ela lhe tivesse para escolher entre um filho preferido, entre Remus, Peter e Sirius.

— A única resposta possível é: ambos.

Sua "Gwen" lhe estendeu uma mão, a qual ele apertou firmemente.

— Resposta certa. Vamos, a fila pra TARDIS deve estar quilométrica e eu realmente ainda quero olhar o último estande de Game of Thrones, acho que a Sophie Turner vai estar lá.

Ela não desfez o aperto de mão e logo começou a puxá-lo para andar junto com ela, transformando aquele aperto em um segurar de mãos muito confortável. James a seguiu, confuso pelo aperto constante, entretanto, fazia sentido; era um local abarrotado de pessoas e a coisa mais fácil a se fazer era se perder, ser levado pela multidão. Até que percebeu que não tinham feito a mais básica pergunta.

— Ei, você não me disse seu nome. Acho que não podemos passar o dia juntos sem saber o nome um do outro, não é?

A garota parou abruptamente, virando-se para ele.

— Na verdade, podemos sim, Peter Parker. Eu acho que devemos nos dirigir um ao outro até o final do dia por "Peter" e "Gwen". E, se você merecer, eu te dou meu número e tiro essa máscara. Admite, esse clima de mistério tem seu charme.

O garoto refletiu alguns instantes. Ele era, de fato, competitivo, e transformar esse dia num jogo para conseguir o nome dela era uma ideia interessante.

— Tudo bem então, Gwen. Agora vamos lá, eu preciso de uma chave de fenda sônica.

***

Estar com "Gwen" era fácil. Ela era divertida, inteligente e eles descobriram tantos gostos em comum. Concordavam que Star Trek era melhor que Star Wars, assim como How I Met Your Mother era melhor do que Friends, mas nenhuma das duas se comparava à The Office e New Girl. Ela também concordava que Robb Stark no trono de ferro, com Margaery como sua rainha seria o reinado perfeito para Westeros, mas gostou de ter a Sansa como Rainha do Norte.

E, nesse dia inteiro ao lado de Gwen, James não havia pensado nem uma vez sequer sobre a ruiva da loja.

O dia havia passado rapidamente e já eram sete da noite. James poderia jurar que iria morrer se não comesse logo. Ser o capitão do time de futebol exigia muito dele e, consequentemente, ele estava acostumado a comer monstruosamente a cada 3h. Entretanto, Gwen o havia entretido tanto que ele simplesmente esqueceu de comer durante o dia. Mas a essa altura, seu estômago estava tentando digerir a si próprio.

Para sua sorte, Gwen parecia pensar da mesma forma, virando-se repentinamente para ele após saírem do Artist's Alley.

— Suponho que suas coisas estejam junto com o camarim dos cosplays.

— Sim, por que?

— Porque eu estou morrendo de fome, Parker, e me recuso a pagar $15 em uma batata frita mixuruca. — se tons de voz pudessem ser tão específicos quanto expressões faciais, James só poderia definir a voz que ela fez a seguir como maliciosa, como a de quem estava tramando algo. E ele tinha propriedade para falar disso, já que usava o mesmo tom toda vez que planejava uma pegadinha com seus amigos. — Então, eu ia dizer para pegarmos nossas coisas, pedirmos uma pizza e irmos para um lugar comer. O que acha?

Em um gesto automático de distração, James levou a mão aos cabelos para bagunçá-los mais ainda e, opa, não tinha cabelo já que ele estava usando aquela máscara. Há quase doze horas. E estava cansado, e com fome, e curioso para saber quem era aquela garota com quem havia passado o dia. Por isso, nem questionou os enormes furos no plano, por exemplo, onde eles conseguiriam comer uma pizza no meio daquela Comic Con.

— Por favor, só peço que não coloque abacaxi na pizza, aquela coisa é nojenta.

***

Tão logo, estavam no terraço do centro de convenções, de alguma forma. Gwen o convenceu que era uma boa ideia subir naquela enormes escada de emergência levando suas mochilas e uma pizza sem derrubar para eles terem "alguma privacidade" (frase essa que fez os hormônios adolescentes de James se acenderem como uma árvore de natal) e assim, estavam sentados ali, dividindo uma pizza napolitana já que ela era vegetariana, observando a vista da cidade. Era um dos melhores momentos da vida de James.

E ele não poderia deixar ela escapar, não quando ela fazia ele se sentir tão bem, não quando era tão divertido e fácil estar com ela.

— Ok, passamos quase 12 horas juntos. Você não acho que eu mereço saber seu nome e ver seu rosto?

Rosto porque ela havia insistido que deviam continuar com as máscaras, mesmo comendo. Só haviam levantado o suficiente para deixar a boca e nariz livres. O que James não entendia, porque ela claramente era linda, ele sabia só de olhar aquela boca que, de alguma forma, lhe parecia familiar de uma maneira estranha. Pelo menos agora ele conseguia ver quando ela sorriu para ele, mesmo que isso tenha tirado o ar de James e feito seu coração errar uma batida.

— Vamos jogar um jogo. Nós perguntamos qualquer coisa da vida um do outro, exceto o nome. Uma espécie de 20 questions

James sorriu. Era uma boa ideia, afinal, ele sentia que precisava saber mais sobre ela.

— Tudo bem por mim, então, posso começar? — ela acenou com a cabeça e ele continuou. — Como é que seus pais e amigos te chamam?

Ela gargalhou e aquele poderia ser definido como um dos melhores sons do mundo inteirinho.

— Boa, espertinho. Meus pais me chamam de "filhota" e meus amigos me chamam de "amiga". Pega essa bola curva, vai. — ela sorriu maliciosa e passou alguma instantes em silêncio, antes de perguntar. — Você tem o que, 17 anos?

O garoto assentiu, mas antes que pudesse abrir a boca para questioná-la sobre a mesma coisa, ela continuou:

— Também tenho 17 anos. E em três meses, último ano do ensino médio e acabou, fim, vida adulta. Quem é você no ensino médio, Peter Parker? O atleta? O popular? O nerd? Só mais um na multidão?

James chacoalhou a cabeça. Ele tinha tantos papéis que era difícil conciliar.

— O capitão do time de lacrosse, o rei do baile, o popular… e o nerd, como podemos ver. Mas não sei, acho que esse lado meu que você viu hoje é algo que eu prefiro manter para mim mesmo. É como se fosse a parte mais… não sei, mais real minha. Mais particular.

— Então quer dizer que você é um Homem Aranha reverso? Sem a sua máscara você é o popular rei da escola, mas com a máscara você é o nerd?

— Perceba que eu sou extremamente charmoso com alter ego ou não.

Gwen sorriu para ele, com um desafio brincando em seus lábios.

— Ok então, Parker, você claramente é o atleta, como pode-se perceber pelo seu físico. Mas você é só mais um bonitinho que sabe correr pelo campo ou tem o necessário para ser um verdadeiro Spiderman?

Ela apontou para a estrutura ainda mais alta acima deles que levava a uma antena. Devia ter uns cinco metros. Era um desafio para ver se ele conseguia subir, pelo menos um pouco, naquilo.

— Minha querida Gwen, você vai perceber como eu sou um perfeito Homem Aranha. Na verdade, se a Sony quiser rebootar novamente a franquia, eu mesmo irei começar uma campanha online para ganhar o papel.

— Ok então, Spiderman, vá provar isso então.

James levantou-se e abaixou a máscara novamente. Deu algumas cambalhotas e estrelinhas aleatórias para se exibir, até chegar à estrutura metálica, onde, de maneira dramática, começou a subir as escadas. Quando chegou a uma determinada altura, Gwen gritou para ele:

— Ok, já provou seu ponto! Pode abaixar, Peter!

Com em uma ideia espontânea, James deu um jeito de apoiar seus joelhos naquele degrau e foi descendo seu corpo de costas lentamente, até ficar pendurado de ponta cabeça. Na exata altura onde estava o rosto de sua Gwen, que estava repentinamente muito próxima.

— Finalmente tenho você onde eu quero, Peter Parker.

O cérebro de James congelou enquanto ela puxou a ponta da máscara dele até revelar novamente o nariz e os lábios apenas.

— Ahn… o que você está fazendo?

— Eu estou tentando te beijar, Tiger.

E antes que ele conseguisse produzir uma resposta coerente, ela fechou a distância entre eles, encostando seus lábios sobre os deles. Era sutil, delicado e cheio de expectativa, as mãos dela envolviam o rosto dele.

Recobrando um mínimo de controle sobre seu próprio corpo, James abriu seus lábios sobre os dela, fazendo-a seguir o movimento. Ainda sutilmente, eles finalmente beijaram-se. E era melhor do que ele esperava.

Durante sua vida toda, tentou imaginar como funcionava aquele icônico beijo entre o Peter e a Mary Jane do filme. Era tão confuso quanto de fato parecia, mas era melhor do que esperava. Era o melhor beijo que ele já dera em toda sua vida, era sobre isso que os escritores de romance escreviam. Tudo que importava era o contato de seus lábios com os dela, as mãos dela no rosto dele, todo aquele toque. Queria poder tocar ela, puxá-la para mais perto, controlar a intensidade e velocidade. James estava perdido; não saberia mais viver uma vida sem os beijos de sua Gwen Stacy.

Contra sua vontade, ela quebrou o beijo, com o mais lindo dos sorrisos tímidos nos lábios.

— Eu acho que você deveria descer daí, você vai desmaiar e eu ainda tenho que te beijar muito.

Com certo esforço, James desceu de lá e tão logo estavam os dois no chão, beijando-se, com James por cima dela. Poderia ficar assim por uma eternidade. Ela era incrível. Perfeita. A sensação do corpo dela, tão próximo do dele, só separados por aquele traje era inebriante, ainda mais ao sentir os lábios dela juntos dos dele. Queria poder só tirar aquela máscara e observar o rosto dela, beijar cada centímetro.

Gwen quebrou o beijo, mas antes que James pudesse reclamar, ela passou a distribuir beijos por seu maxilar. Um pouco deslumbrado demais, James perguntou:

— Eu acho que eu mereço seu nome, não é?

Sentiu o sorriso dela contra seu maxilar, ao passo que ela afastou para olhá-lo, as mãos acariciando o rosto de James. A boca dela era tão delicada, os lábios vermelhos devido aos beijos. Em seu nariz podia perceber algumas sardas, que desapareciam em direção à máscara. Hm, ela tinha sardas então.

— No final da noite, Peter Parker, você pode conseguir muito mais do que meu mero nome.

Tão logo, seus lábios retomaram o contato, recobrando a intensidade. Era isso. Aquele devia ser o paraíso. Beijar sua Gwen Stacy era a própria definição de paraíso. 

O som alto de Shake It Off de Taylor Swift os interrompeu cedo demais, fazendo Gwen sobressaltar-se e correr em direção à mochila, onde o celular dela estava. Atendeu o telefone parecendo exasperada.

— Oi… que? Mas já? Mas mãe… Ok, ok, não precisa falar assim, eu chego aí em 5 minutos. Tchau.

Rapidamente, ela começou a fechar sua mochila e estava dirigindo-se a escada para descer, quando James a interrompeu, confuso.

— Ei, o que aconteceu?

— Minha estúpida irmã entrou em trabalho de parto e meus pais querem pegar o avião agora para conseguir estar no hospital quando meu sobrinho nascer. Estou indo embora em 5 minutos. — ela já estava descendo a escada, enquanto James continuava no topo do prédio, olhando-a. Ela parou por um instante e o encarou, parecendo irritada. — Vai descer comigo ou não?

Saindo de seu transe, James a seguiu, descendo rapidamente pela escada. Quando chegarem no chão, Gwen começou a correr em direção à um táxi parado em frente ao centro de convenções. Ela iria escapar e ele sequer sabia seu nome. Correu atrás dela, até ficar em sua frente, impedindo-a de entrar no carro.

— Ei, ei, ei, você sequer me disse seu nome ainda!

Exasperada, sua Gwen bufou impaciente.

— Pega seu celular, rápido. Vou te dar meu número.

Enquanto corria para achar seu celular em meio de tantos bolsos da mochila, desbloquear, abrir o teclado de discagem e entregar o celular para ela colocar seu número, James disse, um tanto tonto:

— Vai colocar seu nome aí, não é?

Sorrindo enquanto digitava seu número, Gwen afirmou:

— Isso, meu caro, é algo que você vai conquistar assim que me mandar mensagem. Até lá, salve meu contato como Gwen Stacy, Mary Jane, o que preferir.

Entregou o celular nas mãos dele, seu número anotado ali na discagem e ficou na ponta dos pés para dar um beijo final nele, rápido demais para a vontade de James. 

— Espero sua mensagem, Potter.

E tão logo quanto entrou em sua vida, Gwen entrou naquele táxi e saiu.

Uma sequência de eventos fez James ficar travado ali na calçada, com seu celular em mãos:

1- Ele tinha conhecido a garota que era possivelmente o amor de sua vida;

2- Ela não havia lhe dito seu nome, mas tinha acabado de lhe dar seu número para mandar mensagem;

3- Sua Gwen sabia seu nome real. Ela o chamara de James. Ela o conhecia de verdade. Todas as vezes que ele sentira alguma familiaridade com alguma característica dela, como seus lábios ou sua voz não havia sido coincidência, ele realmente a conhecia. E não conseguia se lembrar de onde;

4- Ela entrou no táxi e assim que fechou a porta e o carro arrancou, sua Gwen tirou a máscara, revelando os cabelos longos. Entretanto, devido ao insulfilm nas janelas do carro, o cabelo dela poderia muito bem ser preto, ruivo, castanho ou até mesmo um loiro escuro.

E, por fim:

5- Enquanto estava ali na calçada, celular em mãos, tentando digerir tudo que aconteceu, um homem qualquer em uma moto passou rente à calçada e arrancou o celular de suas mãos. O celular com o número de sua Gwen, o qual ele ainda não havia salvado nos contatos ainda. Ele tinha acabado de pedir seu celular e, principalmente, sua única chance de contatar essa garota que havia virado seu mundo de cabeça pra baixo.

***

Por dias, James procurou por sua Gwen misteriosa. Publicou no evento oficial algumas de suas fotos com ela, mas nem sinal dela aparecer. Pediu para os amigos a lista de todas as alunas de 17 anos da escola, mas nenhuma parecia certa. Ao comprar um novo celular, foi todo esperançoso nos seus contatos, esperando que o Google de alguma forma tivesse salvo mas ainda assim, nada. 

Sua mente a todo momento estava focada na Gwen, na sua identidade secreta e em como precisava a encontrar. Lembrava de como era bom estar do lado dela e como ninguém no mundo beijava como ela.

E em todos esses dias desde que conheceu sua Gwen, nem por um segundo pensou na Mary Jane da loja.

Ao fim da Comic Con, quando seus pais e ele retornaram para sua cidade, tudo parecia diferente.

Primeiro, James estava irrevogável e incondicionalmente apaixonado por sua Gwen Stacy, cujo nome e rosto não sabia, como o verdadeiro otário romântico que era.

Segundo, finalmente uma família havia se mudado para a casa do lado da dos Potter e, aparentemente, tinham uma filha da mesma idade de James.

Terceiro, a Mary Jane da Comic Store tinha ido lá novamente, mas James não ligava mais para ela. Não quando tudo que havia em sua cabeça era sua Gwen Stacy.

Quarto, uma nova aluna, chamada Lily Evans, havia se matriculado na escola, mesmo sendo final de ano letivo.

Quinto, e por fim, Lily Evans, sua nova vizinha e a ruiva da Comic Store eram a mesma pessoa, como James descobriu quando chegou em sua casa após um dia preguiçoso na casa de Remus com os amigos e a viu sentada, casualmente, na sua sala de estar junto dos pais dela e os de James.

— Ahn...oi?

— Oi, querido! Conheça os nossos novos vizinhos, os Evans. Esse é John, essa é Rose e essa linda ruiva aqui é Lily Evans, filha deles! Ela vai começar na sua escola na segunda feira, você deve ajudar ela! — sua sorridente mãe, Euphemia disse para ele, aparentemente inocente, mas James e Fleamont, seu pai, escutaram muito bem a ameaça implícita: ou você ajuda ela ou vai ver só.

— Oi, senhor e senhora Evans e oi… Lily.

— Hey, James. — Lily sorriu para ele, parecendo despreocupado. Seu lindo cabelo ruivo estava mais curto e algo sobre o sorriso dela fez ele sentir um arrepio estranho, como se ela soubesse de algo que ele não sabia. — Dessa vez não vim acompanhada de nenhum carteiro, se não tiver problema.

O moreno conseguia sentir todo sangue de seu corpo indo para seu rosto, conforme os adultos da sala viravam-se para olhá-lo confusos e a menina sustentava um sorriso malicioso no rosto, que lhe parecia estranhamente familiar.

— Tudo bem, Lily, mas não posso garantir que não vou te trancar para fora novamente.

O sorriso dela aumentou e ela piscou para ele. Era impossível não se sentir contagiado e logo James se pegou sorrindo tanto quanto ela. Os pais de ambos continuavam confusos.

— Vocês se conhecem? — o sr. Evans questionou.

— Ah, eu sou uma fiel cliente da loja de quadrinhos em que James trabalha, mas sabe, nunca pudemos trocar muitas palavras assim como agora. — ela voltou-se para o pai e em seguida para os Potter. — É lá que comprei todos aqueles quadrinhos para o Dudley, papai. Minha irmã e o marido não são as pessoas mais brilhantes do mundo, e apesar do meu sobrinho ter nascido há pouco tempo, sinto que é minha função educar ele desde o berço, sabe, tentar salvar ele.

— Lily Evans! — a sra. Evans censurou a filha, mas parecia concordar com o comentário dela.

— Você gosta dessas coisas também? Que bom, o James é um enorme nerd, inclusive esses dias fez a gente…

— Ei, pai, precisa explanar não. — James interrompeu o pai antes que ele falasse demais. — Bem, licença, o Remus só tinha aqueles cookies sem glúten que tem gosto de serragem e eu preciso…

— Por que não leva Lily com você, querido? Vocês podem fazer um chá e trazer para todos nós.

James conhecia bem aquele tom de voz e expressão no rosto da mãe. Ela estava tentando bancar o cupido para ele e sua ruiva da comic store, que agora possuía nome e endereço. Lançou um olhar fulminante à mãe, que fazia uma cara inocente.

— Sim, Lily, por que não ajuda esse lindo rapaz! Vocês têm tanto em comum!

O olhar e o tom de voz da sra. Evans indicavam que ela queria bancar o cupido tanto quanto Euphemia. Conseguia ver as duas conspirando e arranjando os preparativos para o casamento de ambos. James teria adorado isso há poucos dias atrás, mas agora que só conseguia pensar na sua Gwen, tudo isso parecia irrelevante.

— Eu não acho que o fato de nós dois gostarmos de quadrinhos vá influenciar no chá, mas, claro, eu posso ajudar. — Lily levantou-se e foi na direção da cozinha antes que James pudesse falar algo. Sentou-se em um balcão ao redor da ilha, colocando o rosto apoiado em uma das mãos para então falar para James. — Receio que não posso ajudar em muita coisa aqui, mas vim para nossas mães ficarem felizes. E para te avisar para tomar cuidado, se não vai estar sendo arrastado para um altar dentro de um mês. Conheço bem minha mãe.

James sorriu para a garota enquanto colocava a água no bule para esquentar e vasculhava a geladeira para achar algum lanchinho para servir aos convidados. Acabou achando uma variedade de salgados de festa para assar. Teria que servir.

— E você pode me exemplificar quais atitudes me fariam acabar em um altar às pressas?

— Ah, você sabe, o usual. Ir para um encontro comigo, me beijar, me engravidar aos 17 anos…

Virando-se abruptamente, James encarou a ruiva à sua frente que tinha em seu rosto o sorriso malicioso que lhe parecia tão familiar. Levantou uma sobrancelha para ela.

— Isso é uma escalada rápida de eventos. Pode deixar, não tenho interesse em fazer nada disso.

Os ombros de Lily pareceram murchar e seu sorriso perdeu o brilho rapidamente, virando logo uma expressão de horror.

— Meu Deus, você tem namorada? Ou namorado, não sei, eu também sou bissexual, quer dizer, é 2019, ninguém é realmente hétero.

Foi a vez de James olhar para ela chocado.

— Não, não! Sou solteiro e hétero, para a tristeza dos homens do mundo. É que… — o garoto suspirou. Deveria falar para ela mesmo? Quer dizer, já havia acabado de estragar suas chances de pegar a garota que cobiçava há meses, então, que mal faria desabafar para uma quase estranha? — Há alguns dias eu fui na Comic Con, de cosplay de Spiderman. O traje chegou naquele pacote que você pegou, inclusive. Bem, lá eu conheci uma cosplayer de Gwen Stacy, passamos o dia juntos e juro que me apaixonei por ela. Mas ela nunca me disse o nome dela e eu perdi o número de celular dela porque assim que ela me passou, fui assaltado. E é isso. Eu juro que há alguns dias eu teria matado pela chance de te pegar, mas agora eu estou apaixonado por uma garota que é um fantasma praticamente.

A ruiva encarava James incrédula e ficou alguns segundos em silêncio, apenas o encarando e julgando.

— Você foi assaltado e perdeu o número? — James suspirou e assentiu com a cabeça, derrotado. O tom dela indicava que ela o achava meio burro. Por fim, ela suspirou. — Ok, eu gosto de uma boa história de amor à lá Cinderella. Vou te ajudar a achar sua Spiderella.

Surpreso, James piscou algumas vezes.

— É sério?

— Claro, não tenho nada a perder mesmo. — a ruiva deu de ombros. — Ei, se você for fazer esses salgadinhos, certifique-se que tem pelo menos um sem carne. Sou vegetariana.

E foi assim que James achou a mais improvável aliada para lhe ajudar a encontrar sua Gwen Stacy, ou melhor, sua Spiderella.

***

No dia seguinte, após uma ameaça doce de sua mãe, James foi até estava na porta de Lily Evans às 07h15 pontualmente, pronto para dar uma carona para ela. Ela logo entrou no carro ao seu lado, oferecendo um sorriso.

— Oi, obrigada pela carona.

— Imagina, Evans, você mora do meu lado mesmo. Só te avisando que eu dou carona para mais alguns amigos e o carro vai ficar meio lotado e mal frequentado.

A primeira parada foi para buscar Peter, que parecia estar prestes a ter um ataque cardíaco quando viu a ruiva no carro de James.

— James, você sequestrou essa garota? — questionou parecendo preocupado genuinamente.

— Ah pelo amor de Deus, Wormtail, você espera tão pouco de mim mesmo? E eu falei ontem no grupo que a Lily se mudou para a casa do meu lado.

— Prongs, você fez eu, Remus e Sirius ligarmos para mais de 100 números que você achava que eram daquela sua Gwen. Meu ouvido tá doendo até agora com aquela velha maluca que começou a gritar comigo por ligar errado. Não me culpe por não ter lido as 300 mensagens no grupo ontem.

Lily o encarava com interesse.

— Você realmente fez isso por uma garota com quem passou meio dia?

James deu de ombros.

— É difícil querer viver um amor no século da putaria. — citou o de óculos, complementando em seguida: — Ai de mim que sou romântica...

A segunda parada foi para buscar Remus, que parecia menos surpreso do que Peter ao ver Lily no carro de James, já que participou do surto no grupo ontem.

— Ei, Mary Jane.

— Oi, garoto comunista.

Remus sorriu para a ruiva, que pelo visto tinha percebido a leitura dele naquele outro dia.

— Boa sorte pra você, morar ao lado do Prongs, ainda mais com aquelas janelas enormes uma de frente para a outra.

Sim, além de tudo, Lily havia se mudado para o quarto que era de frente para o de James, que possuía uma enorme janela assim como a dele. Eles podiam se ver a todo momento. 

— Não posso reclamar pois acho que é karma por todas as vezes em que desejei ser a Taylor Swift no clipe de You Belong With Me. 

— E no caso você é a Taylor nerd ou a Taylor líder de torcida?

Lily sorriu de uma maneira estranhamente maliciosa, com um olhar de quem sabe algo que o resto não sabia.

— Apesar delas serem a mesma pessoa, acho que sou a Taylor líder de torcida nesse caso, já que James quer a sua Gwen, que nesse caso é a Taylor nerd. 

E virou para trás, para encarar Remus, ao passo que ele apenas ergueu uma sobrancelha, parecendo entender algo. Abriu a boca para falar alguma coisa, mas Lily apenas assentiu com a cabeça. Remus soltou uma gargalhada e Lily sorria. James e Peter estavam confusos.

— Eu perdi algo? — perguntou James.

— O que você não perdeu, Prongs? — Remus respondeu misterioso, fazendo James bufar.

Por fim, buscaram Tonks e Sirius, já que o garoto havia ido morar com a prima há alguns anos. O carro estava com lotação máxima, então, para todos caberem, Tonks acabou sentando no colo de Remus. 

— Eu não acho que essa seja uma boa ideia. — Sirius reclamou, não estando muito feliz com a situação.

— Você preferia o que, que eu sentasse no seu colo? Não estou afim de seguir o exemplo de nossa família em relação ao incesto e sabe, o nazismo e outras coisas, sinto muito. — Tonks apontou aborrecida, mas feliz pelo contrato próximo com Remus. Tinha uma pequena queda pelo amigo do primo há anos. Para tirar o foco de sua felicidade, conversou com Lily. — Finalmente alguma mulher por aqui, oi! Obrigada por me salvar.

— Imagina! Sabe, estou há uns 15 minutos nesse carro e não imagino seu imensurável sofrimento.

Sirius parecia se divertir com os comentários de Lily.

— Cuidado ruiva, olha que o James tranca a porta da loja na sua cara de novo. Ele já não fez isso hoje?

— Não, mas são só 7h30, temos o dia todo cheio de oportunidades pela frente.

James fechou a cara com todas aquelas provocações e comentou ranzinza:

— Maldito o dia que eu fechei aquela porta na sua cara e maldito o dia que você virou minha vizinha.

Lily deu uma piscadela para o garoto e em seguida um dar de ombros.

— O que eu posso fazer se o destino fez questão de me colocar na sua vida, Potter?

***

Até a hora do almoço, a escola inteira amava Lily Evans. Ela era espontânea, extrovertida, divertida, claramente muito inteligente e ainda passou o dia sendo acompanhada pelos tão famosos Marauders e seus amigos. Todos já falavam da brilhante ruiva.

A mesa habitual de almoço dos Marotos era composta por eles, Tonks (apesar dela ser um ano mais nova), Alice, Frank e Marlene McKinnon. E agora, Lily Evans, que logo que viu Alice lhe deu um abraço muito apertado.

— Vocês já se conheciam? — questionou Sirius.

— Lily é uma amiga de infância. Eu que convenci que ela deveria começar a frequentar a escola esse ano mesmo ao invés de continuar na antiga escola dela. — a doce Alice explicou sentando-se na mesa com a amiga. 

— Amiga, me diz: o quão interessada você estaria em entrar na Simulação da ONU e fazer parte das líderes de torcida? — Marlene perguntou com interesse. Definitivamente não era época de selecionar novos membros para clubes e associações esportivas, considerando que faltavam apenas 3 meses para acabar o ano, mas ela via potencial na garota. E já havia obrigado Alice a passar um currículo quase completo do que Lily havia feito na escola anterior e ficou muito satisfeita com o que viu.

— Bem, na verdade eu teria interesse sim. Eu era uma líder de torcida na minha última escola e realmente sinto falta.

Era possível ver corações nos olhos de Marlene ao olhar para Lily. Na verdade, toda a mesa a olhava assim. Meio dia com a garota no grupo e ela já parecia uma parte essencial. Entretanto, enquanto todos a olhavam assim, James, que foi a primeira pessoa que olhou para Lily assim, há tantos meses, não tinha o mesmo olhar. Sua cabeça ainda estava na sua Gwen, perdida pelo mundo.

***

Quando se está ocupado, o tempo passa com uma velocidade impressionante, e o ano letivo logo estava em seus últimos dias. A final do campeonato estadual de lacrosse havia acontecido no último fim de semana e, graças à liderança de James, a Hogwarts High School havia ganhado. Era a última semana de aula e ao final dela, havia o baile de encerramento.

Além das suas ocupações com estudar para passar na faculdade, com a comic store e como capitão do time de lacrosse, ainda estava a procura de sua Gwen Stacy. Todos os dias entrava em grupos e perguntava sobre ela. Lily o ajudava, mas mesmo assim, não encontrava absolutamente nada.

Lily também tinha se tornado uma das melhores amigas de James. Todo dia iam para a aula juntos, ela o acompanhava na comic store toda terça e quinta e ficavam ali por horas, estudando, conversando, assistindo episódios de Doctor Who quando a loja estava vazia. Conversavam por meio de bilhetes através das janelas de seus quartos, assim como naquele clipe da Taylor Swift (inclusive, James nunca esqueceria do dia que Lily o obrigou a escutar todas as músicas de Taylor. Sem exceção). Lily era uma parte essencial da rotina de James já e ele sabia que se apaixonar por ela seria a coisa mais fácil do mundo.

Entretanto, cada vez que achava que deveria tomar iniciativa com Lily, chamá-la para o baile, a imagem da sua Gwen Stacy vinha à cabeça, perseguindo-o como uma assombração da qual ele não conseguia se livrar. E ele simplesmente não conseguia esquecê-la.

Em uma tarde preguiçosa de sábado, uma semana antes do baile, os marauders estavam jogados no porão da casa de Remus, fazendo absolutamente nada. Quer dizer, o resto estava, enquanto James estava deitado no chão mexendo no celular, mais uma vez buscando sua misteriosa Gwen. Até Sirius perder a paciência.

— Sério cara, fazem quase 4 meses. Você não vai desistir?

James colocou a mão no rosto frustrado.

— Eu não sei como desistir quando sei que essa garota é o amor da minha vida.

Remus soltou um barulho de frustração.

— A Lily é o amor da sua vida, James, por que você não enxerga isso?

— Lily é incrível e uma das minhas melhores amigas, mas sabe, eu não sei se poderia ficar com ela enquanto minha cabeça está em outra.

Sirius chutou James com a ponta do pé, fazendo o amigo se sentar, para em seguida agachar e falar com James olho no olho.

— James. Me escuta bem. A sua Gwen da Comic Con é passado. Foi uma coisa de um dia. Você perdeu a chance. Mas a Lily está bem ali! Por que você não enxerga? Você passou meses obcecado com ela, sem sequer saber o nome da garota. E então, simplesmente, ela muda para a casa ao lado da sua e começa a estudar na nossa escola e, surpresa, ela é mais incrível do que poderia imaginar! Ela é espontânea, divertida, inteligente, faz parte das líderes de torcida. Um tantinho arrogante e manipuladora de uma maneira que me assusta um pouquinho? Sim, mas porra, ela é seu par ideal, James. Por quê você não aceita que sua Gwen foi embora e não tem mais volta?

James encarou os amigos sem saber o que falar. Eles estavam certos sobre Lily; ela era incrível, a garota dos seus sonhos. Entretanto, o dia que tinha passado com Gwen era inesquecível. Mas talvez fosse só isso que deveria ser. Uma lembrança inesquecível de um bom dia.

Como um último sinal, Peter colocou uma mão no ombro de James e lhe disse:

— Prongs… chama a Evans para o baile antes que seja tarde demais.

***

James correu para sua casa, indo imediatamente até a enorme janela. Para sua sorte, Lily estava no quarto dela, estudando, e logo viu quando James chegou, abrindo um sorriso e indo pegar o bloco que usavam para se comunicar, James espelhando o movimento. Logo, Lily levantou uma placa escrito:

”VOCÊ TÁ BEM? TÁ COM UMA CARA ESTRANHA".

James escreveu rapidamente em resposta:

”RESOLVI DESISTIR DA GWEN".

Lily pareceu ficar chocada por alguns instantes, para então responder:

"SINTO MUITO :/".

James deu de ombros e, com expectativa, começou a escrever "LILY EVANS, VOCÊ QUER IR NO BAILE COMIGO?". Mas antes que pudesse mostrar a placa, viu Lily segurando uma escrito:

"DIGGORY ME CHAMOU PARA O BAILE E EU DISSE SIM".

Se James achou que foi decepcionante perder sua Gwen Stacy, percebeu que não era nada comparado a perder sua Mary Jane Watson, também conhecida como Lily Evans. E ele tinha sido um idiota por ter passado todos esses meses atrás de uma garota que sequer conhecia quando tinha tudo que ele poderia querer ali, ao seu lado. Como uma criança mimada, ele só percebeu que amava algo quando perdeu. 

Reunindo a dignidade restante em seu corpo, arrancou a folha em que pedia ela para ir ao baile e escreveu um rápido "QUE LEGAL :) TE VEJO LÁ ENTÃO", recebendo em resposta um sorriso tímido, um dar de ombros e uma cortina fechada, indicando que ela ia dormir.

E James ficou ali, questionando o quão estúpido ele realmente era.

***

Era o dia anterior ao baile e o último dia letivo. Faltava só uma prova de Biologia Avançada para James finalizar tudo, causando sua ida à biblioteca para achar uma explicação um pouco mais coerente sobre determinado assunto. Enquanto estava escondido entre as estantes, pesquisando em diversos livros, ouviu vozes sussurrando alto. Logo reconheceu essas vozes como as Remus e Lily.

"... Se você tivesse esperado mais um dia!"

"Esperado exatamente o quê, Remus? Eu já desisti. Ele nunca vai ligar os pontos. Eu tô há meses dando dicas e nada"

"Ele tá apaixonado por você, Lily, de uma forma ou de outra"

Escutou-se um suspiro cansado de Lily, que quase fez James revelar que estava ali ouvindo a conversa, apenas para consolá-la.

"Mas do que adianta se ele não me vê de verdade?"

Tão logo quanto apareceram foram embora do alcance da audição de James, que foi deixado ali com muitas dúvidas. Até que, em meio a uma epifania, James finalmente ligou os pontos.

Lily Evans era vegetariana. Lily Evans tinha uma irmã que tinha acabado de ter um filho. Lily Evans era uma "enorme nerd" de acordo com seus pais. Ela gostava igualmente do Tennant e do Capaldi como Doctor e amava Gwen Stacy, principalmente a da Emma Stone. Lily já havia usado um casaco igual ao da Gwen Stacy no dia da sua morte e quando James perguntou sobre aquilo, ela simplesmente disse "eu acho uma roupa bonita, Potter". Ela falava Potter como a sua Gwen Stacy falava.

Tudo fazia sentido. Finalmente James sabia porque a boca de sua Gwen Stacy parecia tão familiar.

Sua Gwen Stacy era também sua Mary Jane Watson, assim como era sua nova vizinha, sua nova melhor amiga. Lily Evans era o nome de sua Gwen Stacy e James levou 4 meses para perceber o que estava na sua cara todo esse tempo.

Todo esse tempo em que esteve apaixonado por Gwen Stacy e a sua procura, ela estava bem ao seu lado, esperando que ele percebesse. Agora ele percebia todas as dicas que ela deu, por exemplo, ela dizendo que a Taylor líder de torcida e a nerd eram a mesma pessoa e que James, estando apaixonado por uma, estava também por outra.

Jogou-se na cadeira mais próxima, ainda chocado pela realização que finalmente teve, sentindo-se o homem mais burro do mundo. Todo esse tempo que ele achou que tinha perdido sua Gwen e a Lily, elas estavam ali, do seu lado.

Ele tinha que fazer algo sobre isso. Já deixara ela escapar uma vez, não poderia repetir seu erro. E então, um plano formou-se na sua cabeça.

***

Seus amigos haviam deixado James na mão com o plano de irem em grupo para o baile. Quer dizer, teoricamente, eles ainda eram um grupo. Porém, era claro que Tonks e Remus estavam (finalmente) juntos como um casal, assim como Alice e Frank, Marlene e Sirius e, para o desgosto de James, Lily e Amos Diggory. O único que não estava com um par era Peter e, sejamos francos, esse não era o melhor dos incentivos.

Entretanto, James não se deixou abalar. Seu plano estava já encaminhado e ele não desistiria tão fácil.

Lily estava estonteante. O vestido azul brilhava como uma noite estrelada, justo nos lugares certos. A cada segundo que a olhava, em que olhava para seu corpo, achava uma loucura como não tinha percebido quem ela era antes. A cada segundo que olhava em seus intensos olhos verdes e via seu sorriso misterioso, tinha mais certeza de que sempre esteve apaixonado por ela

Durante uma hora, James deixou as coisas como estavam. Era torturante ver Lily com Amos, mas ele ainda tinha esperanças de que seu plano daria certo. O som dos primeiros acordes de You Belong With Me davam a deixa para James de que era hora, conforme tinha combinado com o DJ.

Correu para a coxia do palco, arrancando seu terno o mais rapidamente que conseguia antes de entrar no palco. Usava por baixo o infame traje de Homem Aranha, logo colocando a máscara para completar a roupa. Ele iria fazer isso direito e com estilo.

Entrou no spotlight ao mesmo tempo que o DJ, Benjy Fenwick, diminuía a música de Taylor para chamar a atenção de todos.

— Fala aí, galera do Hogwarts High School! Uma pequena pausa porque nosso amigão da vizinhança aqui tem um recado para dar. Vai que é tua, Homem Aranha!

James aproximou-se do microfone, procurando Lily na multidão. Achou ela finalmente, empurrando com uma das mãos Amos para longe, a boca aberta em choque enquanto encarava James. Ótimo, ele tinha a atenção dela.

— Hm, oi pessoal. Eu queria contar a história de um garoto que vivia uma vida dupla. Na escola ele era o atleta, o popular. No resto do tempo ele era um enorme nerd que trabalhava numa comic store e era apaixonado por uma ruiva que ia todas as terças e quintas naquela loja, mas não conseguia falar com ela. O garoto queria manter sua vida como enorme nerd secreta, privada, então apenas seus amigos mais próximos dias sabiam dessa sua quase segunda identidade. Um dia, ele viajou para uma Comic Con, vestido como Homem Aranha. Lá, passou o dia com uma Gwen Stacy e se apaixonou por ela, perdidamente, de uma maneira até mesmo patética. Só que, como ele é um enorme azarado, não conseguiu o nome dela e perdeu o número da sua misteriosa Gwen. Passou meses obcecado com isso, afinal, tinha certeza que ela era o amor da sua vida. E nisso, buscando um fantasma, não conseguia enxergar que o amor da sua vida estava esse tempo todo bem ao seu lado. Literalmente, ela é minha vizinha.

Uma voz que James não conseguiu identificar gritou no meio da multidão silenciosa.

— POTTER, A GENTE SABE QUE É VOCÊ, CARA, ARRANCA ESSA MÁSCARA LOGO, MAL DÁ PARA OUVIR O QUE VOCÊ FALA.

Seguida de outra voz, que gritou:

— CARA, É 2019, NINGUÉM LIGA SE VOCÊ É NERD, TODO MUNDO AQUI FOI VER AVENGERS: ENDGAME NA ESTREIA.

James respondeu irritado:

— Eu tô tentando fazer um momento romântico aqui, será que vocês podem me deixar ser dramático em paz? — voltou seu olhar para Lily, que parecia se controlar para não rir. Deus, como não havia percebido antes que era o mesmo sorriso de sua Gwen?

Respirou fundo e arrancou a máscara de seu rosto de uma vez, olhando fixamente para Lily, que sorria abertamente para ele. Era impossível não se contagiar por aquele sorriso.

— Eu não vi que a mulher perfeita estava na janela da frente, do meu lado no carro, me obrigando a escutar Taylor Swift todo dia e explicando a cronologia dos relacionamento dela. Eu não vi que já havia achado minha Gwen Stacy e que eu amo cada detalhe sobre ela. Eu amo o sorrisinho malicioso que parece que ela sabe algo que você não sabe, eu amo as provocações dela, eu amo sua inteligência e seus comentários sagazes, eu amo como ela adora fazer palavras cruzadas apesar de ser algo que apenas idosos gostam, eu amo como ela fala que eu tenho um ego e uma cabeça grande demais para meu corpo. Eu amo como ela beija espetacularmente bem. Eu amo cada detalhe sobre ela, mas tem algo que eu amo mais ainda: finalmente saber seu nome.

Tomando ar para conseguir colocar tudo para fora, viu que Lily estava cada vez mais próxima do palco, os olhos brilhando segurando lágrimas, mas não brilhando tanto quanto seu sorriso radiante. Ele poderia viver por aquele sorriso. Era aquele sorriso que lhe fizera ficar obcecado por tanto tempo e, sinceramente, entendia perfeitamente o porque.

Nas mãos de James estavam dois papéis cuidadosamente dobrados. James começou a desdobrá-los, enquanto voltava a falar.

— Você não me deixou dizer aquele dia meu nome, mas agora não tem como você me impedir, Gwen Stacy: olá, eu me chamo James Potter, mas você já sabia disso.

Enfim abriu os papéis, um daqueles que eles usavam para se comunicar através das janelas.

Em um dizia "OLÁ GWEN STACY, OU MELHOR, LILY EVANS" e no outro estava escrito "VOCÊ ACEITA SER A MINHA LILY EVANS?".

Lily subiu no palco, encarando James intensamente. O coração dele parecia que ia sair do peito de tão rápido que batia. A expectativa pela resposta dela parecia que iria matá-lo. 

— Finalmente você se tocou. — a voz dela parecia suave, mas o sorriso dela indicava que ela não estava tão tranquila quanto parecia.

— Desde quando você sabia que era eu naquela fantasia?

— Eu soube do momento que ouvi sua voz e vi aquela fantasia, Parker. Lembra aquele dia em que você me entregou sua encomenda e trancou a porta na minha cara? Na encomenda estava escrito não só o seu nome, mas o que tinha no pacote também. Entretanto, só quando você subiu a máscara eu tive certeza. Sabe, foram longos meses indo naquela comic store só por causa do atendente com o sorriso bonito e a voz profunda. Eu nunca confundiria aquele sorriso.

James piscou confuso.

— Você tinha um crush em mim?

Lily revirou os olhos para o garoto, chegando mais perto dele. Agora pouco mais de 30 centímetros os separavam.

— Eu vou escolher ignorar essa pergunta sua, Tiger e responder uma mais interessante: sim, eu aceito ser sua Lily Evans, sua Gwen Stacy, sua Mary Jane Watson. — virou-se rapidamente para a multidão que os observava embasbacados e falou no microfone. — Desculpa por isso, Amos, mas ei, você pode pegar a Abbot finalmente!

Antes que James pudesse reagir, como de costume, os lábios tão familiares de Lily estavam sobre os dele, após tantos meses. Não como sua Gwen Stacy, não como sua Mary Jane, mas sim como sua Lily Evans. E aquilo era mais do que o suficiente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!