Shut Up! escrita por Daniela Mota


Capítulo 38
3ª Fase: Capítulo 8 - Rock 'n Roll


Notas iniciais do capítulo

Oi, galerinha. Tudo bem com vocês?
Tenham uma boa leitura.
PS: Personagem nova chegando.



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Jasper PDV

Coloquei uma boa música para tocar, a fim que me relaxasse um pouco. Talvez eu corresse o risco de me distrair, mas a estrada pela qual eu percorria era deserta. Tratava-se de um atalho que eu descobrira. As chances de eu bater o carro eram mínimas. E se eu o batesse, o faria ao som de Welcome to the jungle, do Guns. Tinha cultivado algumas bandas pelas quais eu ainda tinha um carinho especial. As outras, fiz questão de descartar, pois me deprimiam e me faziam mal.

Por que eu estava no meu carro ouvindo rock e sem saber pra onde ia? Bem, havia sido um dia turbulento e aparentemente longo, devido à quantidade de coisas pela qual havia passado e ainda nem era noite. O dia em que quase fiz coisas que eu considerava imprudentes. O dia que eu ouvi conselhos do meu irmão que antes era um otário hipócrita. O dia que me dei conta que a minha amizade com o Orlindo ainda estava um fiasco, e que ele havia se afastado muito de mim, mesmo morando na minha casa – para ser sincero, raramente o via, e não sabia com o que estava ocupando aquele tempo, provavelmente saindo com os amigos. Também dei por falta de objetos e eletrônicos que antes estavam no meu quarto, mas manti a calma. Já não bastava tudo isso, ainda teve uma guerrinha interna entre meus dois eu’s, até que eles pareceram entrar num acordo e viraram um meio-termo.

 Quando enfim tudo parecia estar bem, Carlisle soltou uma bomba em mim e na Rosalie. Quem imaginaria que aquela reunião de família que foi adiada inúmeras vezes pela ausência de um, era pra aquilo? Ainda ficava difícil acreditar que a minha mãe não estava morta, e que ela havia fugido com um cara qualquer.  Eu tinha uma visão completamente diferente sobre ela, não a amava muito, mas tentava pensar que ela foi uma boa pessoa a quem eu não tive oportunidade de conhecer completamente. Por um lado, eu estava certo, de fato não a conhecia. Por outro, eu estava errado, ela não era uma boa pessoa. Boas pessoas juram amor, quando não o sentem? Boas pessoas o abandonam o cônjuge que a ama tanto pra fugir com um desconhecido? Boas pessoas largam os filhos, todos pequeninos, como se não fossem nada? E agora, ela ainda tinha a coragem de voltar depois de anos, e pedir dinheiro para assinar o divórcio. Caso o contrário, meu pai não poderá casar com a sua amada Esme, pois seria acusado de bigamia. Aquilo só não foi surpresa pro Edward, que mantinha um olhar terno sobre Carlisle que ainda se sentia abatido ao falar sobre o assunto, mesmo depois de anos. Edward parecia lhe dar um devido apoio através de olhares e batidinhas no ombro. E, por um momento, eu imaginei o quanto Edward também sofrera por aquilo. Mas, por outro momento, achei que o certo era dar mesmo uma de revoltado, e pedir explicações. Afinal, por que eles nos enganaram? Por que mentiram pra mim todos esses anos? Mas a tristeza do meu pai era tão aparente em falar sobre esse assunto, que eu simplesmente fiquei sem fala. Rosalie se encontrava com uma expressão difícil de desvendar, mas não parecia abalada. Tudo que eu consegui dizer foi um “Tudo bem.”, em seguida saí do escritório e procurei pela chave do meu carro. Nunca havia sido tão difícil acha-la.

Dar uma volta por aí sempre funcionava, principalmente se fosse acompanhada da trilha sonora certa. Tentei me concentrar na música, a fim que a digestão sobre esse dia turbulento ficasse pra mais tarde.

-UIECAMI TIUDÉ DIANGOU, UIA FARA GUEIS. – cantarolei, enquanto ria do meu inglês perfeito. Nunca havia conseguido cantar aquela música certa. Não me deixei abater pela minha perfeita dicção. Balancei a cabeça, curtindo bem a música. – TCHANANANANA NISS, NISS. MOOR, MOR.

Para combinar com o clima, pisei no acelerador. O que eu não esperava, era que um enorme pipoco faria com que o carro reduzisse mais a cada segundo. E foi reduzindo, reduzindo... Até que enfim parou. Desliguei o aparelho, e saí do carro, a fim de ver o que estava acontecendo. Abri o capô, e dele saiu muita fumaça. Bufei ao notar que havia sido sabotado. Há umas horas atrás, a culpa seria do Edward. Mas agora eu sabia bem quem havia o feito, a mesma pessoa que sumiu com algumas coisas do meu quarto. A mesma pessoa que me ameaçou. Era só um pouco difícil de engolir que eu havia sido sabotado por uma velha de mais de 80 anos. Fechei o capô com força, não conseguindo esconder de mim mesmo a minha irritação em relação a tanta coisa que vinha acontecendo de uma só vez. O celular estava sem sinal, e eu não podia fazer nada. Fechei os olhos, e respirei fundo. Uma hora, alguém deveria passar por este atalho, mesmo ele sendo pouco conhecido pelos motoristas da região. Uma hora, uma pessoa de bom coração, me veria preso aqui e me ofereceria ajuda de bom grado. Era pedir demais? Era pedir muito que alguma coisa tornasse esse dia menos desastroso e ruim? Definitivamente, meu dia não podia piorar.

Já havia se passado 20 minutos, e tudo que eu conseguia ouvir era um som semelhante à corujas fazendo sexo. Foi a única coisa que consegui associar àquele som totalmente estranho. Eu temia que o céu escurecesse. Fechei os olhos, e desejei que qualquer coisa passasse por ali, até mesmo uma carroça. Depois deste desejo, contei mais 10 minutos e 2 segundos. Até os segundos passaram a ser importantes para mim. Coloquei a mão na cabeça, acreditando que tudo estava perdido, e que eu ficaria preso naquela estrada por um longo tempo, até que alguém desse por falta de mim e começasse a me procurar por aí. Foi aí que avistei um Volkswagen Gol 2013. Dava pra saber o ano, pois era composto por barras horizontais e faróis de linha retangulares. Era até um bonito carro, de cor vermelha, mas de um modelo popular. Como eu sabia dessas coisas? Ninguém sabia da minha paixão por carros. Na verdade, as pessoas sabiam muito pouco sobre mim, pois sempre fiz questão de esconder. Pra eles, antes eu era apenas um emo, desligado, sozinho e otário. E isso não rimou por coincidência.

Suspirei de alívio, e corri pro meio da estrada, acenando sem parar, e ainda gritei um “Ei, pode me dar uma ajudinha aqui?”. Acenei mais ainda, que nem um louco saído do hospício, mas cada vez o carro estava mais perto de mim, e não reduzia. Continuei insistindo, acenando e gritando. Meus olhos se arregalaram quando o carro já estava a alguns centímetros de mim e não havia parado. Senti o carro bater em mim numa freada brusca e caí que nem um bebê aprendendo a andar. Caí de vez, naquela estrada de barro. Sorte a minha que não havia caído em cima de uma pedra, ou algo pontiagudo. Tentei me reerguer, mas minha cabeça doía, pois havia batido no chão, e minhas costas também, por isso, me vi sem forças para fazê-lo.

Ouvi passos, provavelmente do motorista imprudente e imbecil que havia enfim notado que havia atropelado alguém a quem negou ajuda, ignorando. Mas ele não podia ignorar agora alguém que estava em seu caminho, a não ser que tivesse a ideia de passar por cima, que não me agradava nem um pouco. Respirei fundo, e tentei levantar, falhando novamente. Pude observar uma mão, meio que embaçada, e mesmo a contragosto, engoli o orgulho e a segurei. Essa mão me ajudou a levantar, ainda que cambaleando.

-Estou bem! – falei irritado e frio, não querendo que me prestasse socorro a contragosto. Nem olhei pra cara do sujeito imbecil. Apenas coloquei a mão na cabeça, como se fosse salientar a minha dor, e recuei, à procura do meu carro.

-Não é o que parece... – a voz feminina e um tanto doce me surpreendeu, já que eu pensava desde o principio que se tratava de um homem – Posso te levar a um hospital, te devo isso.

-Não, obrigado. Já fez o suficiente. Será mais fácil sobreviver assim, indefeso contra ataques animais. – caprichei na ironia.

-Está preso aqui?! – assenti, ainda de cabeça baixa – Eu tinha certeza que saíria da frente, por isso não freei antes.

-Ficaria mais aliviado se dissesse que me atropelou de propósito. – continuei andando de volta pro meu carro. Infelizmente, as minhas pernas se tornaram um obstáculo para mim, e acabei por tropeçar nelas. Fui ao chão de bruço, mas consegui impedir que minha cabeça batesse no chão. Resmunguei uns palavrões, obviamente irritado. Se ela não fosse uma mulher, eu com certeza a xingaria por ter feito aquilo comigo. Meu dia tinha sim como piorar. Tentei levantar, mas não consegui. Então ouvi uma risada divertida vinda da motorista, e senti uma raiva enorme crescer dentro de mim.

Abri os olhos, pisquei algumas vezes, tentando desembaçar a minha visão a fim de ver a cara daquela louca que se divertia com a minha desgraça. A imagem à minha frente, ou melhor, a garota a minha frente tirou o meu fôlego. Ela era perfeita fisicamente. Cada traço, linha e curva. Possuía olhos azuis e um tanto grandes, mas não deixavam de serem os olhos mais bonitos que eu já vira em toda a minha vida. Tinha cílios bem grandes e curvados. Seu cabelo preto era longo e perfeitamente ondulado, e uma franjinha lisa cobria sua testa. Seu nariz era afilado, e sua boca carregava o tom vermelho, e era perfeitamente desenhada. Suas bochechas eram levemente rosadas. E um sorriso fabuloso se abriu por algum motivo, mostrando os dentes alinhados, e a covinha que carregava na bochecha. Ela vestia uma camisa preta do Guns ‘N Roses, e uma calça jeans básica. Ofereceu a sua mão novamente, mas eu me vi petrificado e sem reação.

-Pode, por favor, parar de se fingir de fortão e me dar a sua mão? Precisa de cuidados médicos, sabe disso. – a sua voz soara calma e gentil.

-Não quis me ajudar antes, por que me ajudaria agora? – continuei sendo ignorante e orgulhoso, mesmo com aquela beldade em forma de mulher. Ser linda não lhe dava o direito de me atropelar como se eu fosse um animal pequeno e quase invisível no meio da estrada.

-Não quis te ajudar antes?! – ela ergueu uma sobrancelha e o disse num tom um tanto irônico e zombador.

-O que acha que eu estava fazendo na frente do seu carro? Tentando me suicidar? – bufei e ela deu uma risada gostosa, assentindo – Não tenho vocação pra suicida. – bufei novamente.

-O que faria se visse um cara acenando que nem um maluco no meio da estrada? Você podia ser um ladrão, ou um estuprador, ou um louco fugitivo do hospício. – ela deu de ombros, e eu dei um riso irônico, como se tivesse achado graça.

-Deveria considerar que podia ser só um cara, tendo um dia ruim. – murmurei, e ela parou de ri, me encarando. Sua expressão de riso sumiu totalmente, e até parecia terna, como se não soubesse o que dizer – E que a suposta vó da minha futura meia irmã aprontou pra mim, e eu fiquei no meio dessa estrada deserta sem nenhum socorro aparente. E o único que apareceu, tentou me matar!

-Ok, isso é pior do que eu pensava... Precisamos mesmo ir ao hospital. – ela ofereceu a mão – Vale lembrar que caminhoneiros conhecem este atalho.

No inicio, não queria pegar na sua mão, mas ou eu o fazia, ou ficaria por muito tempo no chão. Em seguida, ela pôs uma das suas mãos na minha cintura, e a minha mão no seu ombro. E então fomos andando até o carro dela, mesmo eu tropeçando nas minhas próprias pernas que se tornaram um obstáculo. A desconhecida tinha um perfume delicioso que eu não conseguia identificar o aroma, porque outra pergunta se passava na minha mente: “Quantos caras no mundo foram atropelados por uma garota tão bonita?” Bem, eu não sabia, mas eu era um deles.

Ela me pôs no banco do carona, colocando devagar o meu cinto de segurança. Não conseguia parar de examinar os seus olhos inquietos, enquanto não conseguia me prender direito. Seu busto roçou em mim, e ela corou quando percebeu isso, se afastando constrangida. Levantei as mãos pra cima, a fim de anunciar que deixasse que eu pusesse o cinto. Foi uma atitude gay, não foi? Enfim, eu estava tonto, não bêbado. Ela fechou a porta com força, e deu a volta, indo para o banco do motorista. Observei-a sentar-se e bater a porta com mais calma, além de saber perfeitamente como colocar seu cinto. Procurei interpretar de outra forma, mas só conseguia achar que ela ficava nervosa perto de mim. E então, ela deu a partida, com o olhar focado na estrada. Observei ainda a sua camisa, que, por coincidência, se tratava da banda que eu estava ouvindo há uns minutos atrás. Talvez, só talvez, o meu dia não tivesse sendo tão ruim assim.

-Você... Gosta mesmo de Guns ‘N Roses? – perguntei meio que sem jeito, a fim de quebrar o gelo,  e ela apenas assentiu – Do que mais gosta?

-Está tentando forçar um dialogo? Eu nem te conheço, do que te interessa meus gostos musicais? – ela se concentrou na estrada, e eu engoli em seco. Encarei o teto.

-Perdão pelo incomodo, senhorita. Deveria ter me deixado pra trás, ou passado por cima. – caprichei na ironia, cruzando os braços. A esta altura, ainda estava meio zonzo, mas a minha cabeça doía menos.

-Acha que eu passaria meu carro por cima de você? O que acha que eu sou, uma animal? – ela ergueu uma sobrancelha. O meu comentário anterior havia incomodado ela por algum motivo.

-Só quero dizer que não é uma obrigação sua ter minha presença num mesmo ambiente que o seu, só porque me atropelou. Principalmente porque até a minha voz a incomoda. – fui sincero, não suportando fazer papel de inconveniente. Aquilo fez com que sua expressão fria se desarmasse, e a ouvi respirar bem fundo.

-Stone Sour, Bon Jovi, Avenged Sevenfold, Nirvana, Nickelback, AC/DC, Guns ‘N Roses, System of a Down, Bullet For My Valentine, Evanescence, além de outras... – ela citou um em um, com devida calma – Te atropelei ao som de AC/DC, foi emocionante, devo acrescentar. – ri um pouco, pondo a mão na cabeça.

-Highway to Hell? – perguntei e ela assentiu, surpresa pelo meu palpite certo. Eu ouvia bastante aquela música. – Combina perfeitamente com a ocasião.

Ela riu, balançando a cabeça, e voltou a olhar a estrada. A boa notícia? O hospital mais próximo ficava há uns 20 a 25 minutos dali. E eu estava começando a gostar da companhia dela. Afinal, quem não gostaria? Sabe o que mais eu gostava? De quebra-cabeças difíceis. Eu costumava brincar disso quando era pequeno, e de casinha com a Rosalie. E ao contrário do que Edward pensava, isso não alterou minha masculinidade. Enfim, eu gostava mesmo de quebra-cabeças, não aqueles que a Rose tinha, que davam pra montar em 1 minuto. Me refiro àqueles de 10.000 peças, que levavam horas para serem montados, mas que todo o esforço valia a pena no final. Sempre achei que todas as garotas eram difíceis, antes de descobrir que poucas eram. Poucas se preservavam e não se entregavam pra qualquer canalha que a chamavam de linda ou passavam qualquer cantada medíocre que leram na internet. E adivinha? Estava diante de uma. E era encantadora.

-Seu gosto musical é como uma cópia do meu. – observei, e ela deu de ombros.

-Já considerou que o seu que pode ser uma cópia do meu? – ela ergueu uma sobrancelha – E pode estar dizendo isso apenas pra me impressionar.

-Garanto que não. – fui firme à resposta.

-Músicas favoritas do Avenged Sevenfold? – ela intencionava me desbancar, a fim que eu admitisse que só quisesse impressionar ela de alguma forma.

-Seize the Day e A Little Piece Of a Heaven. – respondi rápido.

-AC/DC? – ela fez uma grande pausa, antes de perguntar.

-Highway To Hell, Back in Black e aquela... You shook me all night long também é demais. – fui breve, porém indeciso, mas isso não pareceu incomodá-la. Ela apenas balançou a cabeça, como se desacreditasse.

-Guns ‘N Roses?

-Welcome To The Jungle, apesar de gostar muito de Sweet Child o’ Mine e November Rain. – respondi e ela balançou a cabeça novamente e sussurrou um “Fala sério!”.

-Nickelback? – ela insistiu.

-If Today Was Your Last Day, Lullaby e Savin me. Além das ótimas letras... Já viu o clipe dessas músicas? São totalmente incríveis! – me empolguei, e ela assentiu, sorrindo.

-Nirvana? – insistiu, mas parecia realmente intrigada e interessada na minha resposta.

-Fico dividido entre Smells Like a Teen Spirit, Something In The Way e In Bloom. Lamento até hoje a morte de Kurt Cobain. – a fitei, e observei ela deixar um sorriso escapar meio que sem querer. Dei um sorriso, meio que exibido.

-Inacreditável. – ela proferiu baixinho e revirou os olhos. Foi tudo que ela disse, e voltou a se concentrar na estrada. A esta altura, estávamos um pouco perto do hospital. E mais... A essa altura a coisa mais forte que sentia era a minha respiração, e os meus batimentos cardíacos.  O sinal fechou, e então ficamos a espera, com alguns carros a nossa frente. Pela sua impaciência inicial, achei que ela fosse passar por cima de todos os carros. Mas não foi isso que ela fez.

Assisti-la aperar o play, e fiquei feliz quando uma das minhas músicas preferidas começou a tocar: Smells like a teen spirit, do Nirvana. Eu ouvia aquela música há anos e ela costumava me animar bastante. Principalmente o refrão que era contagiante. Eu tinha que cantar... Tinha que can...

-HELLO, HELLO, HELLO HOW LOW. HELLO, HELLO, HELLO HOW LOW. HELLO, HELLO, HELLO...  – comecei a cantarolar o refrão, meu inglês era menos enferrujado nessa música, pois eu já a ouvira muitas e muitas vezes. Cantava baixinho, um pouco constrangido por aquela garota que estava do meu lado. A garota me encarou, achei que me censuraria, mas não o fez.

-WITH THE LIGHTS OUT... IT’S LESS DANGEROUS. HE WE ARE NOW, ENTERTAIN US. – ela me acompanhou, cantando de um jeito bem bonitinho e engraçado. Balançou a cabeça algumas vezes, bagunçando o cabelo.

-I FEEL STUPID AND CONTAGIOUS. HE WE ARE NOW, ENTERTAIN US. – continuei, dessa vez me soltando mais.

- A MULATTO, AN ALBINO, A MOSQUITO, MY LIBIDO, YEAH, HEY, YAY. - ela cantou, já empolgada.

-I'm worse at what I do best, and for this gift I feel blessed.Our little group has always been and always will until the end. HELLO, HELLO, HELLO, HOW LOW. HELLO, HELLO, HELLO, HOW LOW. HELLO, HELLO, HELLO... – cantamos juntos, ela, claro, numa pronuncia muito melhor que a minha. Tomei fôlego pra continuar – WITH LIGHTS OUT, IT’S LESS DANGEROUS. HE WE ARE NOW, ENTERTAIN US. I FEEL STUPID AND CONTAGIOUS, HE WE ARE NOW, ENTERTAIN US. – nos empolgamos loucamente, e ela balançou a cabeça, curtindo o som, enquanto eu dançava como um epilético. Observei os vários fios de cabelo que acabaram entrando na sua boca. Ela fez uma cara engraçada e começou a tentar tirar, e como não conseguiu, o cuspiu, logo depois o arrumando. Revirou os olhos, fazendo careta. Tirando ela de foco, observei o motorista ao lado olhar pra nós com cara de “Quem deixou que esses malucos escapassem do hospício?”. A garota, quando percebeu que tinha gente nos olhando, corou de vergonha, e tentou disfarçar, segurando o volante e fazendo uma cara séria. Aquilo de fato era uma coisa insana, principalmente entre dois desconhecidos à caminho de um hospital. Logo depois que o sujeito virou a cara, ela se pôs a gargalhar, e sua risada era tão contagiante, que acabei por acompanha-la. Depois de uns segundos, ela balançou a cabeça, e voltou a olhar estrada. O sinal já estava aberto, então partimos.

-Me sinto melhor. – falei, e ela ergueu uma sobrancelha. Ela não disse nada, apenas deu um sorriso de canto, sem tirar os olhos da estrada.

Apoiei então minha cabeça no encosto do carro, e fiquei apenas observando, a fim que ela não notasse o quanto a fitava. Encantado.

(...)

A garota que eu ainda não sabia o nome, e que não se preocupava em saber o meu, havia sumido. Não, ela não havia sumido diante dos meus olhos. Se bem que seria mais convincente saber que ela não se tratava de uma humana. Quando o ser humano conseguiu atingir tamanha perfeição? E eu não me referia aos nossos gostos musicais compatíveis, ou a sua incomparável beleza física. Tudo nela era convidativo... Tudo nela era espetacular. Mal a conhecia, e já estava a ponto de odiar tudo nela, só pelo fato de todas as coisas serem altamente amáveis. Droga, que diabos estava acontecendo comigo?

 Eu me encontrava à esta altura numa maca, e acabara de ser examinado por um médico almofadinha que dizia algo sobre eu ser um homem de muita sorte. Fechei os olhos, numa tentativa falha de parar de me perguntar o que tanto aquela garota tinha que me levava à loucura. Aquilo era totalmente bizarro. Aquela sensação estranha que não havia sentido antes. Isso não é coisa de filmes? E isso não acontece tão rápido, acontece? E por que eu me sentia tão idiota por isso? Ela tinha ido embora, era que nem o circo; encanta, e depois vai embora. 

Ouvi passos, e desejei 1.000 vezes que fosse ela, antes dos passos pararem em frente a porta. Infelizmente, era a enfermeira ruiva, que ao me ver sussurrou algo como “Este não é o quarto, idiota, se bem que poderia ser.”.  Eu queria ri com o seu comentário, mas tudo que consegui foi bufar de desgosto. Mas o que eu esperava, que a garota permanecesse lá? Eu entendia porque tinha ido embora, eu só queria que tivesse ficado lá. Minha expressão meio que despencou de decepção, e deu vontade de me socar por isso. Eu mal a conhecia, e isso era uma droga.

-If you can hear me now, I’m reaching out, to let you know that you’re not alone. – ouvi uma vozinha suave cantar um dos trechos de uma das minhas músicas favoritas: Lullaby, do Nickelback. Abri um sorriso automático, quando percebi que era a estranha perto da porta. Não uma estranha qualquer, aquela estranha. Ela estava encostada na parede, enquanto me observava.

-Ainda está aqui. – suspirei, sem querer. Ela assentiu, como se fosse obvio.

-Está melhor? – ela perguntou, baixinho.

-Melhor agora. – ergui os olhos, quando percebi que isso soara como uma cantada. Ela apenas revirou os olhos e cruzou os braços.

-O médico disse que não foi nada grave. Mas que talvez sinta um pouco de dor de cabeça e tontura depois. – ela respirou fundo – A boa noticia é que não fui eu que lhe causei os danos cerebrais. Eles já existiam. – ela riu, e eu fui obrigado a rir também. Talvez só fosse um pouco engraçado.

-Ainda tem sua parcela de culpa pelos meus danos mentais... Quanto aos sintomas, talvez eu não os sinta depois, se souber pelo menos o nome da pessoa que me atropelou. – Meu Deus, desde quando eu havia me tornado tão... tão... Edward?

-Não importa. – ela me deu uma cortada, e eu engoli em seco.

-Essa é a parte que eu peço desculpa, e então me diz seu nome? – ergui uma sobrancelha e ela riu, negando. Não vou mentir, nem eu conhecia esse meu lado.

-Meu nome é Jasper. – insisti.

-Não perguntei seu nome em nenhum momento. – ela disse, fria.

-Vamos lá, seu nome não pode ser tão difícil. Aposto que acerto. – tentei fazer uma base de quantos nomes femininos eu conseguia, e ela deu um risinho, como se me desafiasse – Maria? – ela negou – Ana? – ela negou – Thais? – ela negou – Beatriz? – ela negou – Daniela? – ela negou – Isabella? – ela negou - Rosangela? - ela negou – Alice? – ela negou. Talvez fosse hora de eu tentar algo mais radical – Pietra? – ela negou – Crodoalda?

-Passou longe. – ela riu, enquanto descruzava os braços.

-Nesse caso, vou te chamar de... Desconhecida. Ou prefere fulana?  – ela balançou a cabeça em negação, erguendo as mãos pra cima – Coisinha? – ela sorriu, e ficou claro que eu saberia seu nome pela insistência.

-Twoany. – ela disse baixo. Nunca havia ouvido aquele nome antes, mas achei simplesmente incrível.

-É um lindo nome. – disse, num quase sussurro – Acredita em destino, Twoany?

-Não. – ela disse numa voz um tanto fria e indiferente.

-Quer dizer que acha que uma velha de mais de 80 anos ter me sabotado, fazendo com que eu parasse naquela mesma estrada que você passou minutos depois, e ter pedido ajuda, fazendo com que me atropelasse, e me levasse pro hospital não é destino? Quer dizer que você estar usando a camisa da banda que eu estava ouvindo antes do meu carro parar de andar não é destino? Quer dizer que termos o mesmo gosto musical e gostarmos das mesmas músicas não é destino? Quer dizer que eu não posso entrar no seu lugar preferido por acaso, mesmo sem saber onde mora? – ergui uma sobrancelha e ela balançou a cabeça, parecia incrédula e atordoada – Acredita que eu nunca mais encontrarei você?

-Acredito que não. – ela descruzou os braços – Quer parar de tentar flertar comigo? Eu só estou aqui porque te devo isso por ter te atropelado, e não por que tô a fim de você. Isso pode ter funcionado com várias garotas, mas nunca comigo.

-Ah, claro. Eu tenho um detector de gatas. Liguei-o pra ver se alguma estava passando por aquela estrada deserta. Daí ele começou a apitar, soube logo que tinha gata a caminho. Daí, resolvi me jogar na frente do carro dela, porque queria ser atropelado pra fisga-la. – caprichei na ironia, ela fez menção de proferir algo, mas nada disse.  Em seguida a encarei, esperando por uma reação, que provavelmente seria evasiva.

-Para de me olhar assim, com esses olhos... – ela resmungou, revirando os olhos.

-Gosta dos meus olhos? – sorri que nem um exibido.

-São comuns. – sua resposta não soou muito convincente.

-Os seus são os mais bonitos que já vi em toda minha vida. – me diverti, observando ela corar. Ela não disse mais nada depois disso, apenas balançou a cabeça, desviou o olhar, fez menção de que ia proferir algo, mas virou as costas e foi embora dali.

Em poucos minutos, o médico me deu alta, e me deu algumas recomendações, caso eu viesse a ter dor de cabeça ou tontura. Troquei-me, e saí procurando por Twoany, mas foi uma busca falha, porque ela já deveria ter ido. Desci o elevador, a fim de sair daquele ambiente que me deixava um tanto desconfortável. Suspirei de alivio, quando enfim saí de lá, só aí me dei conta que eu não tinha mais um carro pra ir pra casa. O que me restava era pegar um táxi.

Fui caminhando, a procura de um táxi para me levar pra casa. Ouvi buzinas seguidas no meu ouvido, como se o pai ou a mãe tivesse deixado a criança brincar de apertar a buzina em plena estrada. O som irritante continuou, e então eu me virei pra checar. Para a minha sorte, não era um pai de um garoto mimado e irritante ao volante, era a garota misteriosa como motorista.

-Não vai conseguir achar um táxi por aqui. – ela alertou, logo depois que abaixou o vidro do carro que se encontrava na velocidade de uma tartaruga para me acompanhar.

-Estou grato pela informação. – pisquei pra ela, e continuei andando.

-Como planeja chegar lá? Entra no carro, eu te levo pra casa. – ela enfim deu o braço a torcer, mas eu continuei andando. Ela continuava me seguindo numa mesma velocidade, e isso incomodava os motoristas que estavam atrás e não podiam ultrapassá-la, se queriam permanecer vivos.

-Quer parar de tentar flertar comigo? – repeti sua fala, e ouvi-a dar um riso irônico.

-Entra no carro, Jasper. – ela pediu, dessa vez mais calma. Ouvi o carro de trás buzinar e o motorista dele resmungar algo como “Que droga!”.

-Lembra-se do meu nome? Achei que não quisesse saber. – sorri que nem um babaca.

-Me dê um motivo pra que eu não te atropele de novo entrando na droga desse carro. – ela disse firme, provavelmente já ficando sem paciência.

Ri um pouco e entrei no carro, colocando meu cinto de segurança.  Ela pisou fundo no acelerador, observei suas mãos segurarem firme o volante. Parecia um tanto irritada, e aquela irritação, de alguma maneira, me divertia.

-Onde mora? – ela perguntou, ainda olhando pra estrada.

-Na minha casa. – falei, rindo um pouco. Ela riu ironicamente bem, e revirou os olhos.

-Ok, muito engraçado. Onde é a sua casa? – ela insistiu.

-Onde eu moro, oras. – me diverti revendo sua paciência se esgotar.

-Onde mora? – repetiu, dessa vez mais firme.

-Do lado do meu vizinho. – continuei.

-Onde seu vizinho mora? – ela bufou.

-Do meu lado. – ela bateu a cabeça no volante, e eu enfim resolvi responder – Mansão Swan. – lhe informei, e ela não pareceu surpresa, e nem mudou seu comportamento por conta disso. Isso me impressionou bastante.

-Se sua intenção é me irritar, tá funcionando. Se é que eu goste de você por ser babaca, não está funcionando nem um pouco. – ela disse, séria. Eu apenas dei de ombros, e olhei pra estrada.

-Tem quedinha por babacas? – perguntei e ela negou. 

-Cala a boca. – ela revirou os olhos.

-Eu fico calado o resto do percurso, mas só se prometer que não será a ultima vez que nos veremos. E preciso de uma garantia. – dei um meio sorriso, e ela enfim cedeu. Bufou umas 3 vezes, revirou os olhos, encostou o carro e enfim começou a remexer no porta-treco do seu carro. Observei uns 5 CDs de algumas das bandas que ela havia citado.

-Você é inacreditável. Duvido que desvende. – ela respirou fundo e puxou meu braço, achei que me beijaria ou coisa parecida, mas começou a rabiscar nele alguma coisa com um piloto preto.

Fiquei embasbacado ao notar que tudo que escrevera era “Never mind. Idade que Kurt Cobain morreu. Lies. Lost Highway.”.

-9127-8907. – disse em automático, e ela se surpreendeu.

-Bingo! – ela sorriu, e enfim voltou a dar a partida – Não é tão burro como eu pensei. O que é admirável, pra alguém que se joga em cima do carro das pessoas.

-E não é tão difícil de desvendar, como eu pensei. O que é admirável, pra alguém... Pra alguém tão perfeita. – bati na minha cabeça ao notar que nada do que eu dissera, havia feito sentido.

-Disse que calaria a boca se eu te desse uma garantia que me veria de novo. – fingi que bati um cadeado na boca, e joguei a chave pela janela – Costuma ser... Assim? – ela esperou eu responder, até a ficha cair de que eu não podia mais falar, exatamente porque acertamos isso – Pode responder, eu deixo.

-Há uma semana, eu tinha medo da minha própria sombra, me isolava da sociedade, vivia usando lápis de olho preto forte e roupas pretas, ouvia músicas pesadas e vivia no mundo da lua, além de não ligar para garotas. – confessei, rindo um pouco.

-E como pôde mudar em tão pouco tempo? – ela ergueu uma sobrancelha, parecia mesmo curiosa.

-Só... Descobri quem eu era. Deu trabalho, porque antes virei alguém que eu nunca seria, pra descobrir que era um meio-termo. Eu gosto de ficar sozinho, mas também de companhia. Eu não sou pegador, mas também me interesso por garotas. Eu gosto de música, mas também gosto de outras coisas. Eu gosto do visual rockeiro, mas também do básico. Eu vivo no mundo da lua, mas uma garota bonita me atropelando faz com que eu pise meus pés no chão. Ou, dependendo do ponto de vista, ponha meu traseiro no chão com o impacto da batida do carro. – ela riu, e passou a mão no cabelo. Em seguida me encarou, sorrindo.

-Tem péssimas cantadas. – ela revirou os olhos.

-Sorrir é um indicio que gostou. – disse e ela ergueu uma sobrancelha. Nossa Jasper, nossa...

-Posso só estar sendo educada. – ela disse.

-Ah, claro. Um dos indícios da sua educação, é que não conseguiu nem disfarçar que não gostou de mim desde o inicio.  – dei de ombros.

-Na verdade, maioria dos meus diálogos com caras se limitaram a: “Oi!!!” “Oi.” “Tudo bem?” “Sim.” “Não vai perguntar se estou bem?” “Não, tchau.” – ri.

-Me sinto melhor depois de ouvir isso. – ergui uma sobrancelha e ela riu.

-E eu me sinto melhor por não ter te matado. – ela sorriu – Se bem que seria divertido.

-Divertido matar alguém? Passatempo do Chuck, o boneco assassino. – revirei os olhos.

-Ah, o filme que diziam ser de terror quando eu era menor. Sempre acreditei que fosse de comédia. Terror sempre foi meu gênero favorito. – ela riu.

-Acho o mesmo, e terror também é meu gênero favorito. Atividade paranormal também é bem fraco, e Sexta Feira 13? Premonição 4, fatalmente clichê. – ela concordou, balançando a cabeça – Acho Rec um bom filme, apesar de não gostar de filmes em forma de documentários. Acho um filme diferente, original em vários aspectos. Já, Arrasta-me para o inferno e Alma Perdida também são bons filmes, arrepiantes.

-Você... Isso... Muito bizarro. – ela ergueu uma sobrancelha, e eu apenas ri.

Ficamos um tempo calados, aparentemente sem nada a dizer. Mas só aparentemente. Eu queria conhecer mais aquela garota que estava ao meu lado, que a pouco tempo atrás eu nem sabia o nome. Mas fazer uma pergunta sobre ela era meio difícil, já que esperava uma cortada.

-O que acha de um jogo pra distrair no resto do percurso? – sugeri, quase me soquei por isso.

-Que tipo de jogo? – ela ergueu uma sobrancelha.

-Confissões. Tipo, é bem mais interessante com pessoas que não se conhecem.  – A verdade? Queria conhece-la mais.

-Eu topo. – ela, estranhamente, concordou com minha ideia maluca – Eu começo... Hm... local que deu seu primeiro beijo?

-Boate. E você? – só quando respondi, pude perceber o quanto minha resposta era ridícula. Ela arregalou os olhos, desacreditando.

-Escola. Peraí, boate?

-Então... Eu tinha medo das garotas, sério. – ela riu junto comigo – E agora entendo o por que. Enfim, meu irmão me levou pra uma boate, acabei bebendo, e...  

-Hm... Cor preferida?

-Preto. – respondi e ela fez um dois com a mão – Algo que se arrepende?

-As brigas que tive com meu pai no inicio da adolescência. Ele é um homem incrível, e não merecia isso. – ela respirou fundo – Enfim, e você?

-O tempo que perdi não sendo eu. Mesmo eu sendo estranho e babaca. – fui sincero.

-Não é estranho. – ela riu, e também o fiz – Raro, talvez.

-Hm... Uma confissão? – perguntei, já entretido.

-Diante das circunstâncias, acho que talvez eu tenha mesmo... uma... quedinha por babacas. – ela sorriu, e a observei corar, desviando rapidamente o olhar.

-Eu sabia!

Edward PDV

Eu me sentia feliz e triste ao mesmo tempo. Há umas horas atrás, apenas a felicidade preenchia o meu ser. Mas depois que eu, Jasper e Rosalie tivemos no escritório do Carlisle, aquela felicidade deu um lugar à uma tristeza rotineira do tipo que eu não sentia há muito tempo. Eu estava triste pelo Carlisle. Triste por vê-lo triste, feliz e depois triste de novo. Triste por ver seus olhos se apagarem por um longo tempo, e quando voltaram a brilhar, vê-lo apagar mais uma vez. Aquela mulher não deveria invadir a vida dele assim, depois de tantos anos. Ela não tinha o direito de chegar assim, do nada e atrapalhar a vida que ele levou tanto tempo pra construir. Mesmo revoltado com esta história, tentei me manter calmo, o confortando a cada palavra dita aos olhos curiosos, e logo depois desacreditados de Rosalie e Jasper. Jasper pareceu bastante abalado com a notícia, então ao invés de argumentar, ele pegou suas chaves do carro e saiu estrada a fora. Rosalie não teve a mesma reação, apenas disse para meu pai lhe pagar a alta quantia. Eu sabia bem que Carlisle não dispunha daquela alta quantia, e aquilo o atormentava, já que queria guardar segredo da Esme. O aconselhei que contasse, e então ele a convidou pra um jantar, onde o faria num clima menos estressante.

Vaguei pelos corredores daquela grande casa. Eu tinha que ver a minha garota, a fim de esquecer todos aqueles tormentos e dá lugar a uma felicidade completa. Mas antes eu precisava comer algo, logo após iria a sua procura. Desci as escadas apressado, e em seguida fui direto para a cozinha. A imagem que vi, ou melhor, a garota que vi ali, me fez sorrir.

Bella preparava algo, e estava em frente a bancada, porém de costas pra mim. Ela usava um vestido floral um tanto meigo, e por cima dele, um avental, amarrado com um laço perfeito nas costas. Tudo com cores neutras, e claras. O cabelo estava diferente, preso num rabo de cavalo. E os pés se encontravam descalços, sem nenhuma preocupação com o fato do chão estar frio. Encarei por vários minutos, encostado na parede e com os braços cruzados, deixei um sorriso idiota escapar quando ela começou a cantarolar uma música que provavelmente tinha acabado de inventar.

“I’m cooking in the kitchen, tanananan”.

Ri baixinho daquela maluquice que construíam a garota perfeita. E pensar que na minha concepção antiga achava que uma garota perfeita era o conjunto de corpão e rosto bonito. Garota perfeita era aquela com os pés descalços, cantarolando sozinha uma música que há poucos minutos atrás não existia. Garota perfeita era aquela que mesmo sendo rica, não se preocupava em pôr o mão na massa, e ainda o fazia feliz. Garota perfeita era aquela que não precisava de muitos esforços para ser encantadora.

Ela não me viu ali, então aproveitei pra chegar nela de mansinho, e a segurei pela cintura, colocando minha cabeça em seu ombro. Ela deu um sorriso deslumbrante.

-O que está fazendo? – perguntei baixinho no seu ouvido.

-Bolo de chocolate. – ela disse. Só aí pude notar a mistura que estava fazendo. Não o fazia na batedeira como uma pessoa normal, o fazia a mão mesmo.

-Parece gostoso. – comentei, e ela revirou os olhos.

-É por que está. – ela se gabou.

Tentei pôr o dedo e tirar um pouco da massa, a fim de provar, mas ela tirou o meu dedo antes que tocasse na massa, e me censurou com o olhar. Fingi irritação, e soltei sua cintura, me encostando no balcão, enquanto a observava mexer a massa com eficiência.

-Posso ajudar pelo menos? – pedi, e ela assentiu.

-Pode colocar farinha de trigo naquele copo de dosagem e despejar na mistura pra mim. – ela apontou o copo, perto da pia. E a farinha, na bancada.

Fui até a farinha, e coloquei cuidadosamente no copo, pouco a pouco pra não cair. Afinal, eu sou altamente econômico. Esse pensamento se esvaiu, quando Bella assoprou a farinha na minha cara. Por alguns segundos, me vi cego. Fiz um drama básico, esfregando os olhos e tentando me apoiar na bancada. Bella pareceu preocupada e arrependida, mas só depois que deu boas risadas. Ela parecia procurar por algo, pegou um pano úmido e começou a passar cuidadosamente no meu rosto. Aquilo era bonito, mesmo eu parecendo um fantasma da opera. Em seguida levantou, pegou o copo que eu havia colocado farinha, e despejou na massa, mexendo.

-Preciso de leite. – ela disse, e eu lhe dei um olhar sugestivo. Ela entendeu o duplo sentido, e corou envergonhada.

-Primeiro terá que fazer uma dança sensual. – ri do seu constrangimento, e ela fingiu irritação.

-Estamos fazendo um bolo, não uma coleção de piadas sem graça. – riu irônica.

Fui à busca do leite, e coloquei um pouco no copo. Pensei no que ia fazer por 2 segundos, mas de uma maneira inacreditável, Bella previu meu movimento antes que eu pudesse sujá-la de leite, e tirou o copo da minha mão. Ergui uma sobrancelha, e ela colocou o leite na mistura, a tornando, depois de umas mexidas, no ponto certo.

-A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena. – ela disse, enquanto ria – Agora... Unte a fôrma para que levemos isso ao forno.

Apenas segui a instrução, peguei a fôrma que estava em cima da bancada, e comecei a untar com margarina, logo após colocando a farinha e espalhando. Bella veio com a mistura, e despejou na fôrma. Espalhou certinho, e depois ajeitou o forno, pondo o bolo lá em seguida.

Suspirou, e sentou na bancada. Sentei ao seu lado.

-Quanto tempo ficará no forno? – questionei.

-30 a 40 minutos. Irei ficar de vigia, a fim que não queime.

-Posso ficar aqui com você? – ela parecia pensar.

-Não acha arriscado?

-O Carlisle e a Esme saíram para um jantar. E além do mais, sei me controlar. - menti na segunda frase, claro.

-Podemos raspar a vasilha por enquanto. Sei que isso é meio... Estranho. Mas eu nunca perdi essa mania. – ela deu de ombros, e eu fui pegar a vasilha, logo depois sentando ao seu lado novamente.

Ofereci-lhe a vasilha suja de chocolate, e ela passou o dedão, logo após o lambendo. Fiz o mesmo, só que ao estilo Orlindo, caprichando na sensualidade que não existia. Isso arrancou risadas da Bella, e talvez aquilo fosse uma das sete maravilhas existentes. E, por sinal, a mistura estava deliciosa. Ela pôs o dedão de novo, e o lambeu. Pus o dedão, tirando uma boa parte de chocolate da vasilha, e sem dó nem piedade, sujei o seu rosto, como uma forma de vingança. Ela fez cara de incrédula, como se dissesse “Eu não acredito que você fez isso!”. Não demorou 2 segundos, e eu também estava com a cara suja de chocolate.

-Mas disse que a vingança... – ela tapou a minha boca, impedindo que eu terminasse a minha frase.

-Esquece o que eu disse. – ela disse, tirando a mão cautelosamente.

Em 2 minutos, não tinha mais nada na vasilha. Então me levantei, a fim de lavá-la, já que não me restava muito a fazer, pois não podia agarrar a Bella. Encarei os outros pratos, e resolvi que os lavaria também. Peguei o jato de água, que ficava ao lado da torneira, e tinha uma mangueira de alcance expansível, já que funcionava como uma mola. Comecei a lavar os pratos apenas com o jato, vendo que isso era o suficiente pra deixa-los limpos.

-Não sabe pra que serve detergente? – Bella ergueu uma sobrancelha.

-Duvido que faça melhor. – desafiei.

Ela se levantou e veio até a mim, tentando tomar o jato da minha mão. De proposito, o abri, fazendo com que a água espirrasse na cara dela. Observei-a ruborizar na água fria, e seu cabelo encharcar, mesmo preso. Ela colocou as mãos no rosto, como se lhe servisse de escudo. Continuei a molhando mesmo assim, até que, por um descuido meu, ela pegou o jato da minha mão e deu um sorriso maligno. Apontou pra mim, propus uma trégua, mas ela discordou. Comecei a andar pra trás, mas ela ligou o jato de água fria na minha cara. Tentei pegar de volta, mas ela não cedia, enquanto ria sem parar. Depois de se divertir por longos segundos, desligou o jato e foi pôr ele em seu lugar. Só que, inesperadamente, escorregou no caminho, indo ao chão. Chequei se não tinha quebrado nada antes de começar a rir da sua cara. Ela fez cara de enfezada, e eu lhe ofereci a mão gentilmente. Só não esperava que ela não deixaria aquilo barato e me puxaria com força, fazendo com que eu caísse. Caí em cima dela, e antes de pensar em levantar, ela sacudiu as mãos encharcadas na minha cara.

-Quando eu disse que sabia me controlar, eu estava mentindo. – confessei.

-Acho que não precisa, mas desse jeito alguém acabará nos flagrando. 

-Não tem problema. São só dois quase meio-irmãos se pegando no chão da cozinha. – ri, lembrando do argumento do Jacob.

-Isso não deveria ser nojento? – ela levantou uma sobrancelha, e eu ri.

-Deveria, mas não é nem um pouco.

A fitei por longos segundos, e um meio sorriso babaca surgiu no meu rosto. Ela sorria, iluminada, e combinava perfeitamente com o iluminação dos seus olhos. Seus cilios estavam bagunçados, e devido ao não uso de maquiagem, seu rosto não estava borrado. Apenas perfeito. Ela estava linda. Ela era linda.

-Você é linda. – disse, no seu ouvido. Assisti suas bochechas adquirirem uma cor rosada.

A fitei por mais alguns segundos, e não consegui me controlar até encostar suavemente os meus lábios nos lábios macios dela. Dei-lhe demorados selinhos, enquanto me apoiava nos meus braços que estavam no chão me dando uma certa suspensão e equilíbrio, a fim de não esmaga-la. O gosto do beijo dela era algo totalmente irresistível e viciante, e se o ser humano não perdesse o fôlego, faria questão de prolongar aquele beijo por muito tempo. Era incrível como nossos lábios se encaixavam perfeitamente, e nossas linguas sabiam a coreografia das danças que faziam. Era incrível o amor que aqueles dois idiotas deixavam em evidência até na maneira de beijar. Era mais incrível pelo fato de ser incrível, todas as vezes

-Mas que pouca vergonha é essa?! – ouvi uma voz alta e revoltada. Abri os olhos em choque, e dei de cara com a velha Ardolina. Sua face estava vermelha de raiva, enquanto nos espiava com os braços cruzados e um olhar fuzilante.

-Eu posso explicar! – eu e Bella dissemos em coro.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Queria me desculpar pela demora, já era pra eu ter postado há dias atrás, mas tava achando que o capítulo ficou sem graça. Quanto à personagem nova, ela recebeu um nome que eu sempre amei, e que se possível, o darei pra minha filha. Se pronuncia "Tchiuen", creio. E além de ter recebido o meu nome favorito, ela carrega minha personalidade, e a aparência um pouco parecida com a linda da Zooey Deschannel. E carrega o meu gosto musical, meu gosto por filmes e afins. Enfim o Jasper se deu bem, e achou alguém pra ele. Mas será que ele já a conquistou, ou ainda tem um longo caminho a percorrer pra isso? E a velhinha, o que ela vai fazer? E a mãe do Edward? E por que a autora sacana não colocou o PDV da Alice pra se saber qual reação teve e qual o segredo do Orlindo? Perguntas, perguntas...
Até a próxima!
Xoxo.