Quando se ama o impossível escrita por Daroon


Capítulo 1
Apenas a sua função


Notas iniciais do capítulo

lol minha primeira fic na categoria ♥️ espero que gostem, pois eu gostei de escrever ela



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“Esse I.A irá cuidar de você.

De seu irmão mais velho, Ichiro.”

Era apenas isso que constava na carta, e juntamente, vinha uma enorme caixa com a inteligência artificial. Jirou estava extremamente nervoso, amassou a carta com força e a jogou para longe. Seu irmão, que sempre foi afastado de si e jamais se importou com a sua saúde, repentinamente resolveu ser um irmão mais velho, como se os outros anos nunca tivessem existido. Ichiro deveria estar brincando consigo, enviar-lhe um I.A. para cuidar de si era como se fosse uma piada.

Bufou ao olhar novamente para a bendita caixa lacrada do I.A, perguntava-se mentalmente se jogava fora aquele presente ou se o usava. Rodopiou seu olhar pela sua casa, vendo o quão desorganizada se encontrava, “talvez alguém para limpá-la não seja tão ruim”, pensou, voltando a olhar para a caixa. Soltou um longo suspiro, levantando-se do sofá e indo até a caixa, enfim a abrindo.

Olhava atentamente para aquele I.A., com a sobrancelha arqueada, “homem? Porque ele me enviou um homem?”, pensou, mas logo resolveu esquecer, tentar entender o seu irmão era algo impossível, não entendia como o caçula da família vivia harmonicamente com o mais velho.

Esquecendo esse pequeno detalhe, passou brevemente seu olhar no manual de instruções do I.A. Quando chegou na parte mais importante para si, que era como ligá-lo, arqueou a sobrancelha em ver que era apenas apertar um pequeno botão que se encontrava atrás da orelha esquerda. Pensava que seria algo mais complexo, mas parece que melhoraram as I.A's. com o tempo, na verdade, Jirou não entendia muito o porquê das pessoas gastarem uma fortuna nessas máquinas, “Será que são tão boas assim?”, pensou.

Aproximou-se do I.A., mais especificamente da orelha esquerda, e apertou o tal botão, surpreso ao sentir que a pele do I.A. parecia como a de um humano, certamente tinham evoluído. Deu um passo para trás, vislumbrando o I.A se ligando, ficou estupefato em ver os olhos carmesins, que pareciam tão reais. 

— É um prazer em lhe conhecer, mestre Yamada Jirou. — o moreno deu um pulo em ouvir a voz marcante do I.A., “Nem parece um andróide! O quanto essas coisas evoluíram?”, pensou, alarmado. — Você está bem, mestre Yamada? Seus batimentos cardíacos estão elevados.

Jirou se endireitou.

— Sim, estou! — sibilou, logo se tocando que o I.A. falou seu nome completo. —Espera, como sabe o meu nome? — indagou, com o cenho franzido.

— Eu sei tudo sobre você, Yamada Jirou. — o moreno sentiu um arrepio em ouvir isso. Se era para sair algo normal, saiu extremamente assustador em sua concepção.

— E como… você sabe? — deu um passo para trás.

— Pelo banco de dados.

— Ah… — disse Jirou, piscando freneticamente, já estava achando que tinha sido o seu irmão que implantou alguma coisa naquela máquina. — Okay! — não sabia o que dizer, achava tudo aquilo extremamente estranho. Passaram-se longos minutos com ambos se encarando, o I.A. aguardava as ordens, enquanto que Jirou tentava entender toda a situação. — Então… — resolveu quebrar o clima estranho que se estendia apenas para si.

— Sim, mestre Yamada?

— … — Jirou abriu a boca, mas não pronunciou nada, “O que eu tenho que fazer?”, pensou, olhando para os cantos.

— Mestre? — ao ouvir o tom de voz preocupado do I.A., franziu o cenho. Pelo que leu brevemente no manual, os I.A's. podem reproduzir uma entoação de voz cheia de sentimentos, a princípio tinha achado aquilo um tanto de exagero, mas, agora, estava impressionado. — Mestre? — Jirou piscou várias vezes, como se estivesse voltando para a realidade.

— Poderia não me chamar me mestre? — o I.A. olhava fixamente para o outro.

— Isso é uma ordem? — Jirou queria se estapear, seu pedido não tinha soado nem um pouco como uma ordem, parecia que tinha feito uma pergunta.

— Isso. — disse, brevemente.

— E como devo lhe chamar?

— É… Jirou? — inclinou a cabeça para o lado, confuso.

— É uma ordem? — tornou a perguntar, Jirou olhou rapidamente para os olhos carmesins do I.A.

— Sim!

— Certo, Jirou. — o moreno arregalou seus olhos heterocromáticos. Seria muito estranho admitir que gostou da forma em como seu nome saiu da boca do outro.

Balançou a cabeça, não podia pensar nesse tipo de coisa, aquilo era uma máquina, e não uma pessoa.

— Certo. — murmurou, desviando rapidamente o olhar antes de voltar fixá-lo no I.A.

— Então… nossa relação não precisa ser baseada em mestre e… sei lá o quê… — disse, confuso. — ... enfim, vamos agir normalmente, como duas pessoas normais?

— Se essa é a sua vontade!

— Okay. — aquilo tudo era muito estranho para si. — Como você se chama? Quer dizer, você tem um nome?

— XDCCLXXXII versão 2.0.

— Quê?

— XDCC… — e o I.A. foi interrompido.

— Sim, sim, isso eu entendi. — disse, afobado. — Esse é o seu nome?

— Sim. — Jirou olhou atentamente para aquela máquina e voltou a ler o manual.

— Hum. — murmurou. — Parece que, conforme vão criando o “nome” de vocês, é o número de criação. — e mirou seu olhar para o I.A. — É um “nome” complicado de se pronunciar. — gesticulou.

— O dono tem o direito de escolher um nome para a sua inteligência artificial. — explicou.

Jirou olhou atentamente para o outro. Tinha que admitir que achou desconfortável a palavra dono, já que quando olhava para o I.A., parecia um humano, e não uma máquina. Isso era deveras estranho para si.

— Certo. — murmurou. Agora vinha a parte difícil, Jirou era péssimo em nomes. Quando criança, seus bichinhos de pelúcia tinham nomes muito estranhos e vivia os esquecendo, acabando por criar novos. Soltou um pequeno suspiro, coçando sua bochecha. — Aohitsugi, o que acha?

— Se esse nome lhe agrada, que sua vontade seja feita.

— Não! Espere. — atropelou o moreno. — Você não pode simplesmente aceitar qualquer nome que eu falar, tem que ser um que você goste.

O I.A. olhava fixamente para o seu dono, não conseguiu entender o que Yamada queria dizer, mesmo tendo sido programado para entender os sentimentos humanos para ser mais fácil de cuidá-los, ainda assim era complicado. Sentimentos não são uma simples equação que pode ser entendida em segundos, era algo extremamente complexo e que não importa o quanto evoluem, seria difícil de entendê-los.

Jirou soltou um longo suspiro em ver que o outro não tinha pronunciado nada. Tinha certeza que seu irmão não enviou aquilo para lhe cuidar, e sim dar dores de cabeça. Como iria agir que nem dono? Sentia um gosto amargo em pensar nisso, era muito estranho. O I.A. parecia um humano, e ser chamado de dono era uma sensação horrível. 

— Olha… — Jirou bagunçou seus cabelos negros, não sabendo o que dizer. “Talvez tivesse sido uma péssima ideia ter ficado com aquele presente”, pensou.

Deveria ter devolvido para o seu irmão, aquilo certamente lhe daria tremendas dores de cabeça, exatamente como agora, sendo que nem passou um dia com o I.A.

Acabou por bufar.

— Está irritado. — pronunciou o I.A., recebendo um olhar afiado do menor, que soltou mais um suspiro, querendo ao máximo se manter calmo. Não poderia brigar com uma máquina.

— Me diz… você tem uma função onde eu não sou o seu dono, e onde você deve agir mais como um humano?

— Eu não estou agindo como um humano? — indagou, inclinando a cabeça. Jirou tinha que admitir que com essa reação, o I.A. agiu como um humano, mas, mesmo assim, não deixou de ficar assustado.

— Não, você não está! Você tem aparência, voz e talvez gestos, mas não está agindo como um humano, meu Deus! Você acabou de dizer que eu sou o seu dono, um humano não pensaria isso. Eu sei que vocês são programados para cuidar e fazer as coisas que nós pedimos, mas não quer dizer que seus desejos não possam ser atendidos. — Jirou não entendia o porquê de estar brigando com o outro. Na verdade, nem sabia o motivo de ainda não tê-lo desligado e devolvido o presente para o seu irmão.

O I.A. pôs sua mão sobre o queixo, analisando atentamente tudo o que humano tinha dito. Tinham sido programados para fazerem exatamente o que os seus donos queriam, sem nem ao menos questionar; é claro que existiam donos que permitiam a opinião do I.A., mas são raros. Voltou o seu olhar para o humano à sua frente, ele certamente se encaixava na minoria.

— Certo, Jirou… lhe chamar assim mesmo? — se o humano queria que agisse com a sua própria vontade, então agiria.

— Pode. — murmurou num leve gaguejo, Yamada sentiu um leve rubor em sua face. Sentiu-se estranho naquele momento, não entendeu o porquê da vergonha; o outro era uma máquina, certamente ficar enfurnado dentro de casa não é nada saudável.

— Ah, sobre o nome... eu gostei. — e sorriu torto, ter liberdade de pensamento e ações realmente era interessante. As programações que recebem atualmente são avançadas ao ponto de fazerem parecerem idênticos aos humanos.

— Hum. — murmurou. — Certo, espero que nossa convivência seja boa. — disse, com um pequeno sorriso.

[...]

Passaram-se dois meses desde que Jirou aceitou o I.A. que seu irmão mais velho lhe deu. E, durante esse tempo, mesmo a convivência tendo sido agradável, o moreno ainda se sentia estranho por ter mais alguém em sua residência. Aohitsugi cuidava literalmente de tudo; limpava a casa, fazia todas as refeições do dia e sempre se certificava da saúde de Yamada. O moreno tinha que admitir que gostava de ter o robô por perto, cuidando de si, já que negligenciava se cuidar.

Jirou permanecia sentado no chão, mantendo suas costas escoradas no sofá. Chupava tranquilamente um pirulito, enquanto manuseava o controle em suas mãos, sua mente estava tão focada no jogo que não prestou atenção quando bateram na porta de sua casa. Nem mesmo viu Aohitsugi abri-la, tudo o que importava para si era zerar o jogo. Apenas não contava sentir alguém empurrar o seu boné para baixo, atrapalhando sua visão e o fazendo morrer. Bufou, largando o controle e ajeitando o boné, desviou o olhar para cima, avistando Ichiro com um largo sorriso.

— Olá, maninho! — disse tranquilamente, passando a caminhar ao redor da residência.

Jirou levantou-se abruptamente, estava começando a ficar nervoso com a presença do outro, que não estava nem cinco minutos.

— O que faz aqui, Ichiro? — indagou, de maneira grosseira. 

O mais velho parou o olhar sobre a cama de casal do quarto de seu irmão, tinha certeza que o mesmo possuía uma cama de solteiro, e não de casal. Olhou para o seu irmão mais novo e, em seguida, para o I.A. que deu para o mesmo, o andróide se encontrava na pequena cozinha daquele minúsculo apartamento, preparava alguma coisa que não conseguiu vislumbrar. Novamente, seu olhar foi para o seu irmão, que estava vermelho de raiva pela falta de resposta. Deu um curto sorriso antes de responder:

— Não posso mais ver meu irmão?

Jirou elevou a sobrancelha e cruzou os braços.

— Pronto, você já viu. Agora, vai embora! — e apontou para a porta, mas Ichiro o ignorou.

— Vejo que gostou da inteligência artificial que lhe enviei. — comentou, sentando-se no sofá. — E pra quê toda essa agressividade? Não nos vemos faz tempo.

O mais novo não pronunciou nada, até que apareceu Aohitsugi com uma bandeja com xícaras de chá e biscoitos.

— Acho melhor se acalmar, Jirou. De acordo com os meus dados, mesmo quando os irmãos brigam, uma boa xícara de chá para acalmar os ânimos, enquanto conversam sobre suas diferenças, faz muito bem para a relação. — disse, após entregar as xícaras para ambos.

— Não sei da onde tirou isso. — murmurou Jirou, completamente emburrado no outro lado do sofá.

— O I.A. tem razão… — o mais velho tinha sido interrompido pelo mais novo.

— O nome dele é Aohitsugi. — Ichiro arqueou a sobrancelha pelo tom de voz do outro.

— Aohitsugi?! — indagou para ninguém em específico. — Vejo que gostou dele. — o mais novo olhou rapidamente para o outro, sentindo seu coração bater rapidamente com aquele comentário, e antes que pudesse dizer algo, o I.A. se manifestou:

— Jirou, você está bem? Seu coração está acelerado!

O Yamada mais novo sentiu seu rosto queimar pelo olhar avaliativo que seu irmão mandava. Queria pular no pescoço daquela máquina por ter sido entregue.

— Estou, Aohitsugi. — sibilou. O I.A. de cabelos brancos sorriu largamente e se retirou. Se o humano estava bem, então não precisaria estar em cima do mesmo.

Ichiro permaneceu olhando para o seu irmão mais novo, sabia que não tinha sido um excelente irmão mais velho com o do meio, e que estava na hora de mudar isso.

Quando descobriu que ele vivia sozinho em um apartamento extremamente pequeno e não saía de casa, tendo também suas dúvidas que o outro cozinhava, acabou por resolver comprar um I.A. para cuidar do mesmo, mas analisando a pequena interação, se perguntou se tinha sido uma boa ideia, já que seu irmão não saía mais de casa, ou seja, sem convívio social com outras pessoas, não tendo troca de sentimentos com outros humanos, apenas um I.A.

— Vejo que comprou uma cama de casal. — comentou, como se ignorasse o acontecimento anterior.

Jirou franziu o cenho e inclinou a cabeça para frente, a fim de vislumbrar a sua cama que, de fato, era nova.

— Como sabe? — indagou, confuso.

— Saburo reclamou de seu sofá e em como você não cedeu sua cama de solteiro a ele. — disse, cruzando as pernas em seguida, avaliando atentamente o outro. — Por que comprou uma cama nova?

— É que… como Aohitsugi faz tudo por aqui, achei melhor comprar uma cama de casal para ele ter conforto… — enquanto dizia, Jirou percebeu que no momento em que comprou a cama, a ideia em sua cabeça tinha sido ótima, mas analisando naquele momento, era um tanto estranha, em vários sentidos.

— Entendo… — “Mas você sabe que ele pode ‘dormir’ em pé, né?”, completou mentalmente, seu irmão estava definitivamente estranho, apenas torcia que aquilo que se passava na sua cabeça não estivesse realmente acontecendo.

E o silêncio predominou no ambiente, Ichiro queria rir naquele momento em perceber que seu irmão começou novamente a lhe fitar com farpas nos olhos. Há alguns minutos, o mais novo tinha esquecido completamente a raiva que sentia pelo maior, tudo porque a vergonha o tinha dominado.

— Sabe que eu estou tentando, né? — comentou o mais velho, um pouco cansado de toda aquela situação tensa.

— Eu não pedi que tentasse. — sibilou.

Ichiro tinha certeza que o mais orgulhoso da família era Jirou. O maior soltou um suspiro antes de dizer:

— Mas eu quero! — o menor ficou sem fala, observando a expressão cansada do outro, acabou por desviar o olhar para o chão. Ichiro resolveu que era melhor ir embora, deixar o mais novo com os seus pensamentos, antes que uma briga acontecesse. Levantou-se do sofá e colocou a xícara sobre a mesinha, aproximou-se do menor que ainda não tinha coragem de lhe olhar, removeu o boné do mesmo, jogando-o no sofá e bagunçou os seus cabelos, sabendo que isso o deixaria bravo. Acabou por não evitar uma risada. — Até algum dia, maninho!

Logo após ter ido embora, Jirou não se moveu; não pegou o seu boné e muito menos ajeitou os seus cabelos, nem ao menos bufou pelo mais velho tê-lo bagunçado, sua mente estava trabalhando apenas numa única pergunta e nada mais, “me aproximar do meu irmão?”. Parecia uma incógnita extremamente complexa para si, admitia que queria ter o mais velho por perto, até porque, quando eram crianças, Ichiro era próximo de si, mas do nada, se afastou, daí as brigas de ambos surgiram constantemente que chegou num certo ponto de não envolver apenas agressão verbal, e sim física. Está certo que, analisando a situação num todo, as brigas eram por motivos quase que fúteis, mas Jirou não entendia o porquê de ser tão orgulhoso ao ponto de não ceder uma aproximação. Sua mente estava num caos total e, Aohitsugi vendo isso de longe, resolveu agir. Pelo tanto de tempo que esteve com o humano, o I.A. aprendeu várias coisas sobre o mesmo, sempre sabia quando estava triste com algo ou quando estava pensativo demais ao ponto de que isso não fazia bem para ele. Para o I.A. era fácil de ler o humano.

— Jirou. — pronunciou, ajeitando os fios negros do outro. O I.A. sabia que o outro gostava que mexiam em seus cabelos, pelo seu banco de dados, o humano parecia um cachorrinho que gostava de atenção, mas é claro que se dissesse algo do gênero, Jirou ficaria nervoso. Às vezes, o I.A. o enxergava como um pinscher por causa de suas mudanças de humor.

Ao ouvir a voz do andróide, foi como se tivesse voltado para à realidade, seus olhos heterocromáticos se fixaram nos carmesins do outro.

— Sim? — murmurou.

— Não pense muito, apenas vá! — disse, Jirou anuiu absorvendo aquela pequena frase, sabendo que o I.A. tinha a completa razão. Não tinha o porquê de pensar naquilo, não tinha por que continuar orgulhoso por motivos bestas, se seu irmão mais velho estava tentando se aproximar de si e recuperar o tempo perdido, não tinha motivos para negar, apenas precisava se aproximar igualmente, até porque sentia falta do mesmo, sempre foram muito próximos antes das brigas, e não deixou de sentir uma nostalgia por isso, voltar a ser próximo do outro.

[...]

As semanas foram se passando, e quando menos perceberam, três meses haviam se passado. Nesse meio tempo, Ichiro e Jirou aproximaram-se gradativamente. Com o tempo, o mais velho passou a ir constantemente na casa do mais novo, e conforme o visitava, a preocupação com Jirou apenas aumentava, e essa preocupação tinha nome; Aohitsugi. Este que se encontrava nesse exato momento ao lado de Jirou.

Enquanto que a cidade já se encontrava enfeitada com o espírito natalino, a neve caía tranquilamente, deixando as pessoas alegres construindo os seus bonecos e fazendo guerras de bola de neve, mas mesmo com todo esse clima festivo, Jirou não se encontrava nele. Ele estava num repouso absoluto em sua cama, por possuir imunidade baixa, era fácil o moreno ficar doente no frio. 

Seu rosto se encontrava extremamente vermelho por causa da febre, seu corpo não só tremia como também suava bastante. Aohitsugi tentava, a todo custo, fazer a febre abaixar apenas com compressa fria, visto que o moreno não gostava de tomar remédios. O I.A. tinha vontade de enfiar os comprimidos goela abaixo do outro, mas não poderia fazer isso. Então, tentaria a persuasão.

— Você irá melhorar mais rápido se tomar o remédio. — os olhos heterocromáticos olhavam fixamente para os carmesins do I.A., que esbanjavam preocupação. Sentiu seu coração se apertar, pois sabia que aquilo não era real, era apenas uma programação. Lágrimas se acumularam no canto de seus olhos ao perceber que seu irmão mais velho tinha razão. 

— O que houve? — o tom de preocupação que carregava naquela voz lhe destruiu, era como se várias adagas tivessem sidos punhaladas em seu peito.

Queria rir de sua desgraça, quais eram as chances de se apaixonar por um andróide? A resposta seria quase nula, se realmente Jirou não tivesse se apaixonado pelo seu robô. “E como não se apaixonar? ”, pensava, por mais que Aohistsugi fosse uma máquina, ele se comportava como um humano, cuidava de si e transmitia aquela preocupação que normalmente não teria num andróide, Jirou tinha certeza que criaram aquelas máquinas num intuito de ferrar com o psicológico da pessoa, principalmente se ela for alguém que não sai de casa e conversa com outras pessoas, assim como o moreno. Tudo aquilo era uma grande piada para si.

Por mais que quisesse fingir que não sentia algo pela inteligência, estaria mentindo.

E não importava o quanto tentasse desapegar daquele sentimento, Aohitsugi estava ali, recebendo-o com sorrisos, perguntando sobre sua saúde, cuidando de si, por mais que soubesse que essa era a função do I.A, foi impossível evitar aquele sentimento.

Quando o seu irmão lhe contou o motivo de sua preocupação, foi como se tivesse recebido um tiro, o que sentia estava transparente, mas Aohitsugi jamais entenderia isso. Queria rir, chorar, berrar; parecia tudo uma grande piada, e toda vez que seu irmão lhe via com Aohitsugi por perto, Jirou sentia-se um masoquista, como se amasse sofrer daquele jeito, por mais que odiasse, mas como conseguir se livrar desse sentimento? 

Preso em seus pensamentos mórbidos, o moreno levou um susto ao sentir as mãos do I.A em sua testa, sentia raiva por aquelas mãos serem macias e não metálicas.

— Jirou… — aquela voz grossa lhe chamando era tão tortuoso. — Tome o remédio, por favor. — era possível sentir a súplica naquela voz, mas o moreno sabia que isso era da programação.

— Certo. — sussurrou, o remédio certamente lhe faria dormir, e era melhor isso do que permanecer olhando para Aohitsugi e ficar se remoendo por algo impossível.

Após tomar o remédio, não demorou muito para que dormisse.

Quando acordou, sentia-se melhor, desviou o olhar e não encontrou Aohitsugi ao seu lado, naturalmente estaria para recarregar as baterias. Empurrou as cobertas para o lado e levantou-se da cama, sentindo um arrepio ao encostar os pés no chão frio. Seguiu rumo à sala, onde encontrou o I.A. sentado no sofá “dormindo”. Desviou o olhar para o relógio que se encontrava na parede próximo da cozinha, eram três da manhã, muito provável que Aohitsugi tenha ficado cuidando de si até ter a certeza absoluta de que a febre tinha abaixado, e isso deve ter feito chegar ao limite de sua bateria.

Tinha que admitir que encontrar o outro naquele estado deixava o seu coração a mil, olhando para ele, nem parecia um andróide. Deu um sorriso trêmulo conforme se aproximava de Aohitsugi, sabia que não iria “acordá-lo”, já que ele se ligaria apenas quando a bateria estivesse completa.

Tocou nos fios brancos do I.A., sentindo a maciez que eram. Jirou tinha que admitir que fizeram um excelente trabalho em deixá-los parecendo como humanos, não tinham nenhuma falha, — apenas que não possuíam realmente sentimentos, e isso era horrível, ao menos para si.

Logo, as palavras de seu irmão invadiram sua mente.

“Você sabe que existe a opção de desligá-lo de vez, né?”

Sim, Jirou sabia daquela opção, mas quem disse que era fácil tomar aquele tipo de decisão? Não era, e jamais seria. As lágrimas não paravam de traçar o seu rosto conforme tocava na pele do I.A, era como se tocasse alguém de verdade, “Por que ele tinha que ser uma inteligência?”, pensou, mordendo o lábio inferior em seguida, querendo evitar o soluço que queria tanto sair.

“Se não conseguir, eu faço por você.”

E, novamente, as palavras de seu irmão inundaram a sua mente, lembrava-se da preocupação do mesmo, e não viu sinal de julgamento sobre Jirou acabar gostando de um andróide, e não de uma pessoa. Apenas via compaixão.

Por mais que quisesse que o irmão fizesse aquilo, não poderia permitir, aquilo era um problema seu, foi ele quem se enfiou naquilo para começo de conversa. Sabia que Ichiro se culpava, já que Aohitsugi fora um presente seu, mas não era a culpa do mais velho, a culpa era toda de Jirou, por isso era ele quem tinha que fazer aquilo.

Aproximou seus dedos na nuca do I.A., traçando o sinal alpha ali, surgindo, em seguida, na pele, uma pequena tela.

“Deseja desligá-lo permanentemente?”

Sim / Não

E com a mão trêmula, tocou no sim, vislumbrando a tela sumir de vez e Aohitsugi cair no chão, como se fosse um boneco de pano. Não suportando mais o seu próprio peso, Jirou caiu de joelhos no chão, enfim liberando tudo o que estava guardando, sentia uma dor alucinante, parecia que seu coração estava sendo esmagado. Não queria aquele final, não queria ter aberto o presente de seu irmão, não queria ter criado esse sentimento pelo I.A., deveria ter sido tudo diferente. Aohitsugi apenas cumpria a sua função, mas Jirou deixou-se levar para algo a mais, algo que jamais iria alcançar.


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Notas finais do capítulo

Me sinto orgulhosa da fic ♥️



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