Réquiem escrita por Carol McGarrett


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Então, eu estava assistindo ao episódio Requiem (S05E07) e, depois de muito chorar, o que é inevitável para tantas memórias que este episódio tem, comecei a pensar sobre o final que não mostraram. Sim, durante todo o episódio é nítida a preocupação de toda a equipe com o Gibbs e com o que ele faz. Mas, tem duas partes que me chamaram a atenção, quando a Diretora pergunta para ele sobre qual era o caso, e ele diz ser pessoal e ela parece entender, e, depois quando o Gibbs some, Shepard e DiNozzo perguntam um para o outro se tinham conseguido falar ao telefone com Gibbs. Quem assistiu ao episódio sabe que, no final, DiNozzo salva a vida do Chefe e ele termina em seu porão, sem nunca ter aberto a cápsula do tempo que Kelly e Maddie tinham enterrado no quintal da casa... mas nunca mostraram a reação do Gibbs a tudo isso... e, como todos que leem as minhas fics sabe, sou uma Jibbs de carteirinha, então se preparem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/782354/chapter/1

Eu tinha uma pilha de trabalho para fazer, mas, sentada aqui no conforto da minha casa, eu não pude parar de pensar em tudo o que havia acontecido nas últimas vinte e quatro horas. Na verdade, eu não podia parar de pensar em tudo o que havia se passado na cabeça dele.

— É pessoal.

— Pessoal quanto? Quem é a garota?

— Uma amiga da família.

— A quanto tempo? Cinco? Oito anos?

— Quinze.

Ele não precisava falar mais nada. Maddie Tyler era uma conexão com um passado que Jethro nunca havia esquecido. E eu sabia muito bem o que estava passando na cabeça dele no momento em que ele saiu do prédio deixando a identificação e o distintivo.

Ele iria salvar a vida da menina como não pode salvar a vida de Kelly.

E foi o que ele fez. Depois de conseguir ficar um passo à frente de cada um de nós, ele se pôs na linha de fogo. E, em um ato heroico, acabou por jogar o carro com os dois dentro do cais.

Se não fosse por DiNozzo estar ali na hora e momento exatos, o final dessa história seria muito diferente. Tony tirou os dois de dentro d’água e, de alguma forma eles sobreviveram.

É claro que Jethro se recusou a ir para o hospital mesmo depois de ter “morrido” por um tempo, mas os paramédicos foram claros, ele não estava cem por cento bem.

E não estava mesmo. Eu vi no fundo dos seus olhos o quanto toda esta história o tinha abalado.

E eu simplesmente não posso ignorar tudo isso. Eu não posso deixa-lo passar por isso tudo sozinho. Sim, ele nunca disse nada abertamente sobre elas. Eu acabei por descobrir sozinha. Quando perguntei a ele o porque de não ter dito, ele desconversou e me perguntou se teria mudado algo entre nós. Na época eu não respondi nada. Hoje, pensando em tudo o que aconteceu depois daquele dia, eu posso responder com certeza, sim, teria. Eu teria entendido suas palavras e suas ações. Até porque eu também tinha os meus próprios segredos enterrados.

Que se dane o fato de que, muito provavelmente ele quer ficar sozinho, de que ele não vai conversar comigo. Ele não vai ficar sozinho naquele porão remoendo o passado e repassando de novo e de novo cada um dos momentos felizes que viveu ao lado delas, e, que amanhã, só o deixará com mais saudades ainda. Levantei, jogando alguns arquivos no chão e deixando outros tantos sobre a mesa. Saí apressada, trancando o escritório e me dirigindo para o carro. No caminho tive que dispensar meus seguranças. Hoje eles não eram necessários.

Refiz o caminho para aquela casa em Alexandria com a cabeça longe. Depois de tudo o que fiquei sabendo, aquela casa, daquele jeito, a porta destrancada, tudo era explicado. Ele não tinha nada de precioso para proteger ali, pois ninguém pode roubar lembranças, a casa, daquele jeito, era apenas um santuário, onde ele ainda esperava poder encontra-las em algum dos cômodos ou quando abrisse a porta ao chegar em casa.

Parei o carro, desci e não me importei em bater. Primeiro porque a porta estava mesmo destranca, segundo porque eu sei que ele me ouviu chegar.

Fiz meu caminho até a escada que leva ao porão. Outro barco estava sendo construído. Nem sabia que o último tinha ficado pronto ou que nome ele havia dado a ele. Mas, nos últimos meses não nos falamos muito.

Ele notou a minha presença, e, como eu previ, não gostou de me ver ali.

— Veio me dar um sermão sobre nunca agir por impulso em um caso, Madame Diretora? – Seu tom e voz eram amargos, mas eu não era a culpada por ele dizer essas coisas, era apenas a destinatária, a qual ele direcionava toda a dor e culpa enterrados há muito tempo.

— Não. Não vim aqui como Diretora, Jethro. Vim como a sua parceira. – Respondi assim que alcancei o último degrau.

Ele me observou desconfiado.

— Então veio fazer o que aqui? Se certificar de que eu ainda estou vivo, Jen?

Mais uma vez não me importei com a acidez em sua voz.

— Não. Vim te escutar. – Respondi sincera.

E ele gargalhou sarcasticamente em minha direção. Eu não movi um músculo, então ele parou.

— Você sabe que não falo muito. – Foi o que me disse a meia voz.

— Às vezes, Jethro, não precisamos conversar no sentido literal da palavra. – Olhei em seus olhos e vi que ele me entendeu. Assim como eu havia entendido o que ele queria fazer assim que ele começou com aquele caso.

— Eu não vou conversar sobre isso com você.

— Então eu vou te fazer companhia enquanto você conversa consigo mesmo. – Me sentei em um canto do porão e fiquei quieta.

Ele me olhou incrédulo. Colocou um pouco de Bourbon em um porta-parafusos que estava por ali e tomou um gole. Sua mão direita descansava em uma caixa de alumínio suja e meia enferrujada, parecida com uma velha merendeira ou caixa de brinquedos. E eu continuei calada e ele continuava a ignorar a minha presença.

— O que te faz pensar que você, dentre todas as pessoas, poderia entender o que eu estou pensando? – Ele se dirigiu a mim depois de uns vinte minutos de completo silêncio.

— Porque, assim como você, eu também perdi alguém que amava muito. Não sei como é a dor de se perder uma filha, Jethro, mas sei o que é perder a família, sua base, as únicas pessoas que você tem certeza que irão te apoiar não importa o motivo. Eu sei o que é perder tudo e ficar sozinho. Ser aquele foi deixado para trás, mesmo quando a nossa vontade era de ir junto com eles.

Jethro ponderou por um minuto. Depois caminhou até onde eu estava e se sentou do meu lado. A velha caixinha de alumínio em suas mãos.

— Era de Kelly. – Ele falou, reverenciando o nome da filha. – Ela e Maddie enterraram no quintal, como uma cápsula do tempo. E ele ficou em silêncio novamente.

Como eu disse, eu vim para escutá-lo. 

 - Eu não tenho coragem de abrir.  – Ele continuou depois de algum tempo.

Levantei minha sobrancelha em direção a ele.

— E por quê? – Minh voz apenas um sussurro.

Ele balançou a caixa, com certeza eram brinquedos, mas poderia haver algo mais.

— Maddie me disse eram os tesouros delas, a maioria de Kelly. E...

— E cada um desses tesouros irá te trazer uma outra memória que você não quer lembrar, mas tem medo de esquecer.

Ele somente meneou a cabeça e a encostou na parede fechando os olhos.

— Você consegue? – Ele me perguntou depois de um tempo.

— Ver as lembranças e não sentir a dor?

Ele confirmou com outro balançar de cabeça.

— Jethro, se eu conseguisse fazer isso, eu não tinha continuado a morar naquela casa e a me sentar naquele escritório. Tudo ali me lembra o meu pai. Eu fiquei para não esquecer, mas isso também me impediu de seguir em frente.

— Nós seguimos em frente, Jen. Mas nunca esquecemos.

— Não Jethro, as outras pessoas seguem em frente. Nós dois prometemos coisas impossíveis tanto para nós quanto para eles. E nunca ficaremos em paz com isso. Somos assim.

— E tem outro jeito de seguir em frente?

— Não sei. O que eu achei que era o certo só me trouxe mais dor... – Fui sincera.

— Um dia vai parar de doer...

— Queria saber quando isso vai ser... às vezes estou cansada de ficar lamentando. Tem vezes que tudo o que eu mais quero é jogar tudo para o alto e esquecer de tudo, até de quem eu sou. Queria virar outra pessoa em outro lugar, bem longe de tudo que possa me lembrar do que aconteceu.

— Eu já tentei fazer isso. Não dá certo. Como você disse, nós mesmos nos colocamos nessa situação.

— Acho que somos dois masoquistas então, Jethro. – Eu o cutuquei com o cotovelo e ele me deu o mínimo dos sorrisos.

— Devemos ser mesmo, Jen. Ou nós dois não estaríamos aqui.

— Acha que é a nossa teimosia que nos permitiu ficarmos vivos? – Olhei para ele.

— Em partes, sim. Fomos teimosos o suficiente para sobrevivermos a tudo isso, sem desistir.

— Ah, Jethro, eu quis sim, desistir. Muitas vezes. – Disse baixo.

— Sei o que é isso. Também quis.

Me assustei.

— Não consigo te imaginar pegando o caminho mais fácil. – Falei alarmada.

— Nem eu a você.

— Mas eu quis.... – Deixei a frase solta.

Ele não falou nada por mais um tempo. Nem eu. Eu ficava tentando imaginar o tamanho da dor dele, quando ele acordou do coma e se lembrou que elas haviam ido embora, que o amor da vida dele havia ido, e a garotinha do papai também... deve ter sido insuportável. E pensar que ele passou por isso duas vezes...

Suspirei em pesar. Eu realmente não sabia o tamanho da dor dele. Nunca saberia. Os pais não devem enterrar os filhos...

— Por que você veio, Jen? – Ele me pegou de surpresa.

— Já disse.

— Não. Você disse que veio para me escutar. E está fazendo isso. Mas, o que te fez tomar a decisão de vir?

O que eu falaria? Como eu explicaria a necessidade que eu tive de aparecer nesse porão para ficar com ele? Como eu explicaria que reviver o passado diversas vezes não vai muda-lo, nem tornará a dor mais fácil?

— Não queria que você passasse por tudo isso de novo, sozinho... – Escolhi pela verdade. – Você esteve do meu lado por tantas vezes, Jethro, achei que era a minha hora de estar aqui por você.

Foi então que ele fez o inesperado. Me abraçou de lado, apoiou a cabeça em meu ombro e me agradeceu.

— Não há de que.... – o abracei de volta e, mais uma vez, caímos em silêncio.  A esta altura, eu não fazia ideia de que horas eram.

Achei que ele tinha dormido, ainda mais depois do dia que ele teve, mas ele me assustou ao quando falou.

— Foi bom te ver em um interrogatório de novo. Você ainda leva jeito. E vê se para de se assustar, eu não vou te morder.

— Achei que estivesse dormindo...

— E você estava com a cabeça aonde?

— Em lugar nenhum, Jethro. E para seu governo, eu sempre vou levar jeito para os interrogatórios. É como andar de bicicleta, você nunca esquece.

— Eu sinto falta da Agente Shepard... , Jen. Você era mais...

— Mais o que? Maluca?

— Divertida.

— Definitivamente os dois minutos que você ficou sem respirar estão te afetando, Jethro! De onde você tirou isso?

— Agora você só fica fechada na sua sala ou no MTAC. Tinha quanto tempo que você não descia da sala do esquadrão?

— Sério?!

— Sim...

— Quanto tempo?

— Muito... – Suspirei em pesar. Eu sempre gostei da ação, mas em algum ponto acabei me perdendo em um mundo que eu almejei por muito tempo e que acabou por não ser o que eu pensava que seria...

— Me responda uma coisa, você sente falta de ser agente de campo?

— Não. – Respondi na hora.

— Jen, você sente falta de ser agente de campo? – Ele repetiu a pergunta, só que dessa vez ele segurou meu rosto de frente para o dele.

— Você joga sujo, Jethro, muito sujo! – Tentei libertar meu rosto do aperto dele.

Ele riu do meu desespero, porque, claro, ele conseguiu ler a verdade em meus olhos, ou pelo menos se eu dissesse não novamente, ele leria a mentira.

— Agente de Campo ou Agente Infiltrada?

— Eu fui líder de equipe também!

— Eu não vi isso... – o tom de voz dele era como se duvidasse da minha palavra.

— Pois acredite, eu fui.

— Então eu devo ter te ensinado direito...

— Você não ensina, Jethro... nunca ensinou...

— E como você me disse que queria que a Ziva aprendesse com o melhor?

— Às vezes eu me arrependo das minhas palavras.... Você não ensina, Jethro, a gente olha e aprende. Simples assim. E eu falei isso para a Ziva. Satisfeito?

— Ainda sim, disse que eu sou o melhor.

— Eu quero ter a sua autoestima e seu ego quanto tiver a sua idade... – Brinquei com ele.

— Não sou tão mais velho que você, Jen...

— Ótimo, vai discutir a minha idade agora? Por que se for, sei que você já está bem o suficiente e eu poderei voltar para minha casa! – Eu falei, me afastando dele, mas ele não me deixou sair.

— Ainda não...  – ele me pegou em um aperto de ferro. E a única coisa que consegui pensar era no que tinha dito um pouco mais cedo.

Devemos ser dois masoquistas, então.

Quanto a ele eu não sei, mas quanto a mim...

— Você disse que veio até aqui porque não queria me deixar sozinho hoje, não é?

Não entendi o motivo dele voltar neste assunto... então apenas concordei com a cabeça.

— Então por que você me deixou sozinho há sete anos?

— Jethro, não hoje... você passou por muita coisa...

— Me diga e talvez eu possa enterrar tudo de uma única vez.

— Medo... covardia... eu achei que fazia a coisa certa...

— Se eu tivesse te contado sobre elas....

— E se eu tivesse te contado sobre o meu pai?

E aqui era o ponto. Nossos segredos. Ele tinha Shannon e Kelly. Eu tinha a minha vontade de vingança.

— Eu te falaria que vingança não vale a pena.

— E se eu não acreditasse?

— E se eu te dissesse que eu sei sobre isso.

— Nós nunca vamos saber, Jethro. A Jenny de hoje é diferente da Jenny de Paris.

— A Jenny de hoje, o que ela pensa?

— Sobre tudo? Desde o início?

— Sim.

— Que ela perdeu uma oportunidade, a maior da vida dela. Que não deveria ter subido tão rápido. Que deveria ter parado um tempo... ter vivido.

— Você se arrepende da sua carreira? – Ele me olhou espantado.

— Não. Nunca. Me arrependo das decisões que tive que tomar para chegar até aqui e por tudo o que elas me custaram.

Jethro me olhava intensamente agora. Tentando ler em meus olhos o que minha boca tinha acabado de expressar.

— Você se arrepende de Paris?

— Não. De jeito nenhum.  

 Ele continuava a me encarar.

— Me arrependo da carta. – Virei meu rosto para ele parar de me ler...

— Então, por que você disse não no seu primeiro dia?

— Seja a primeira mulher dirigindo uma agência armada, Jethro. Seja uma mulher no mundo de homens, e talvez você possa me entender...

E ele compreendeu a mensagem, mas não entendeu a importância.

— E hoje. E se fosse hoje?

— Você me perdoaria? – Eu o peguei de surpresa. - Eu não tenho mais idade para joguinhos Jethro.

Ele olhou para um outro canto do porão, e eu segui o seu olhar. Uma caixa grande, no alto de todas.

— Aquilo ali é?

— Sim. – Ele me respondeu.

— Por quê? – Eu disse em um sussurro e inconscientemente peguei em braço.

— Achei que um dia você viria pegá-lo.

Minha respiração ficou presa em minha garganta. Tive que engolir a culpa que sentia para poder continuar a falar.

— E achou que teríamos a conversa que não tivemos?

— Não... como eu te disse no seu primeiro dia, Jen, eu realmente senti a sua falta. E você foi a única.

A única... a única depois de Shannon.

— Eu... – Eu não tinha palavras.

— Eu nunca acreditei naquelas palavras. Você nunca foi mulher de esconder o que pensa ou de deixar sentimentos escritos em papel. Você escreveu a carta por um único motivo, você sabia que não conseguiria mentir para mim... porque de alguma forma, eu saberia que você mentia. E sim, eu saberia. E as suas ações desde a sua volta provaram isso. Você não esconde o que pensa, consegue me deixar sem graça, só para ter o prazer de estar no controle, do mesmo jeito que você fazia em nossas missões. Consegue jogar na cara de um agente do FBI algo que o fará recuar e, foi incapaz de esconder o seu ciúme quando a Hollis participava de algum caso. Você mentiu ali, Jen. Você mentiu naquelas cartas e eu só gostaria de saber o motivo...

— Você teria me convencido a voltar com você. Você teria o poder de não me deixar vingar o meu pai, ou pior, iria comigo... e se algo te acontecesse...

— Eu fui...

— Sim, quando não tinha mais jeito..., mas você, Jethro, era o único motivo, a única pessoa pela qual eu me arrependo da minha carreira ter sido tão veloz. Você é o meu maior arrependimento, Jethro. Se eu tivesse falado com você cara-a-cara, se eu tivesse parado para escutar o que você me diria...

— Eu te deixaria seguir a sua carreira, Jen.

— Você me deixaria ir?!

— Não. Eu te apoiaria. Com uma única condição.

— Que condição?

— Que quando você voltasse, você aceitaria a proposta que te fiz na França.

— De morar com você?!

— Você não tem o perfil de quem irá se casar, Jen... nunca teve.

E aqui eu fui desarmada. Eu nunca imaginei...

— Mas por quê? – A essa altura eu estava ajoelhada de frente para ele. Minha cabeça girando com a oportunidade que tinha perdido, com cada uma delas.

— Por que?

— Sim... não faz sentido! Jethro, eu iria do mesmo jeito, por seis anos...

— Sim, você seguiria a sua carreira, mas no fim, você voltaria. Você tinha pelo que voltar...

Eu o olhei, como ele poderia ter tanta certeza do que eu faria, sendo que isso era uma hipótese?

— Você voltaria, Jen, pelo mesmo motivo que você me acompanhou na caça ao Ari, na noite em que você voltou. Pelo mesmo motivo que você ficou naquele hospital do meu lado, mesmo quando eu não lembrei de você. Pelo mesmo motivo que você não assinou o meu pedido de aposentadoria. Pelo mesmo motivo pelo qual você tenta me parar quando eu passo dos limites, mas, é só eu virar as costas e você consegue aquilo que eu queria. Pelo mesmo motivo que você está aqui hoje. E pelo mesmo motivo que eu não deixei você sozinha quando você foi atrás da Rã. Porque Paris...

— Paris não foi uma mentira. – Eu completei o raciocínio dele.

— Não foi. – Ele me encarava, seus olhos azuis lendo os meus. E, por um segundo, nós dois voltamos ao mesmo lugar, e eu posso jurar que estávamos pensando nas mesmas coisas, na mesma noite...

— Mas você...

— Não respondi o que você queria escutar naquela noite?

Eu olhei para a caixinha que ainda estava no colo dele. Ele não respondeu o que eu queria ouvir não porque ele não se importava com o que eu sentia, mas porque ele tinha medo de admitir algo e assim, esquecer delas. Para amar Jethro eu tenho que entender que elas sempre serão uma grande parte dele. Que ele se culpa por elas terem ido e ele não ter estado lá para protegê-las.

— Não foi sua culpa, Jethro. Você nunca poderia imaginar que... – Eu não terminei. – Você nunca vai esquecê-las. – Não era uma acusação. Era uma afirmação. – Elas formaram quem você é hoje Jethro, e estarão sempre com você... não importa o que aconteça.

— Você pode conviver com isso?

— Você pode viver com o fato de que eu te deixei para conseguir uma vingança contra o homem que matou o meu pai?

E nós chegamos no ponto que deveria ter sido discutido há sete anos.

Eu sabia a minha resposta. Sim, eu poderia conviver com as memórias delas. Afinal, o Jethro que eu amo é esse que foi moldado na dor de perder a quem se ama, moldado na lealdade e em suas regras. Mas, e quanto a ele? Ele pode viver com o que eu tinha feito? Eu tentava ler a sua expressão enquanto ele me encarava de volta, ele queria a minha resposta antes que ele desse a dele. Achei justo. Nossas desculpas, nossos motivos eram bem diferentes.

— Sim, Jethro, eu posso conviver com as suas lembranças. – Olhei para ele e, pela primeira vez desde que tinha voltado, tive a coragem de diminuir a distância entre nós e pousei a minha mão no rosto dele.

Minha sorte estava lançada. Eu tinha, novamente, sido a primeira a admitir algo. E, como em Paris, a ansiedade me tomou. Eu hoje precisava da resposta certa. Eu já não tinha tanto tempo mais, não poderia lutar por um amor impossível.

— Eu realmente te magoei em Paris, não foi? Para você desconfiar tanto da minha resposta. – Ele pegou a minha mão que estava em seu rosto e beijou meu pulso. Meu corpo respondeu ao toque no mesmo instante, fazendo com que o sangue corresse mais rápido nas veias.

Não encontrei a minha voz, todo o pensamento voltado o local onde ele havia beijado. Então apenas o olhei.

— Sabe Jen, eu te perdoei há muito tempo.  Não sei quando foi, mas só tive certeza quando de te vi dentro do MTAC, depois de todo aquele tempo. E como eu te disse naquele dia, eu senti a sua falta. Em todos os sentidos Jen. – E ele parou, tentando me ler de novo.

Eu segurava uma lágrima teimosa. O que eu havia feito? Por que eu joguei isso fora?

— Você não faz ideia, Jethro, do quão insuportável foi viver sem você, e depois... o quão doloroso é te ver todos os dias e não poder fazer nada, não poder dizer nada, não... – Eu respirei fundo e levei a minha mão até meu rosto para limpar mais uma teimosa lágrima. Inacreditável, eu estava chorando na frente dele...

— Estaria disposta a tentar de novo? – Ele tinha as minhas duas mãos presas nas deles, sua pele quente em contato com a minha, me fazendo arrepiar.

— Sem dúvida alguma. E, se algo der errado, disposta a abrir mão de qualquer outra coisa, só para ficar com você. – Dessa vez eu não consegui esconder o choro.

— Não seja tão exagerada, Jen...  – Ele disse quando me puxou para um abraço. – Ninguém vai mexer com você, porque eu não vou deixar... – Jethro, mais uma vez prendeu o meu olhar no dele, e ali eu pude ler o que ele estava prestes a fazer.

— Vai ficar só olhando ou eu vou ter que tomar a iniciativa? – Perguntei quando tentei levar meu rosto à altura do dele.

Ele deu um sorriso de lado e me deu beijo, que começou calmo, mas depois de tanto tempo separados, paciência era algo que não tínhamos.

—-----------------

Nossa volta não passou despercebida, mesmo que durante o expediente continuávamos a manter o profissionalismo. Contudo, oito meses depois, a fofoca chegou aos ouvidos de SECNAV, e ele veio imediatamente tirar satisfações.

— Chegou aos meus ouvidos, Diretora, que você está tendo um caso com um de seus subordinados, e eu quero crer que esta fofoca é apenas isso, fofoca, porque você sabe muito bem o que isso pode afetar na sua carreira...

— Bem... quem foi que espalhou tal noticia, Senhor Secretario?

— Alguém que quer muito essa cadeira, Shepard.

Eu ponderei por um minuto. Sabia perfeitamente bem quem queria o meu lugar, Leon Vance, ele nunca se conformou em ter sido preterido.

— Se algo assim estivesse acontecendo, quais seriam as implicações?

— Preferia que fosse resolvido internamente, você terminaria o relacionamento, mandaria a pessoa para outro escritório e tudo estaria resolvido. Não podemos tolerar que algo assim acontecesse.

— E a outra opção seria ou eu ou a pessoa pedir demissão?

— Jennifer, não me diga que....

— Diga a Leon Vance que ele pode arrumar as coisas dele e se mudar para Washington junto com a família dele. E que esta cadeira estará desocupada na próxima segunda-feira.

SECNAV ficou lívido.

— Você está maluca? Está abrindo mão de um cargo como esse?

— Com todo respeito, Senhor Secretário, sim, eu estou em um relacionamento com um dos meus agentes, e, a julgar pelas duas opções que você me deu, eu escolho a segunda, eu perdi muito tempo e muito da minha vida para chegar até aqui e não ser totalmente acreditada, pouco me importo com quem vai se sentar aqui agora, um dia eu acabaria saindo mesmo... Mas dessa vez eu saio sabendo o que estou fazendo e porque estou fazendo isso. Além do mais, dentro de alguns meses eu precisaria me afastar mesmo, posso adiantar as coisas e cuidar de mim. Não se preocupe, minha carta de demissão será enviada para o senhor o mais breve possível.

— Você não sabe o que está fazendo! Acaba de fazer a escolha errada! – O Secretário gritou em minha direção.

— Eu tenho plena consciência de que tenho a capacidade para liderar essa agência sem nenhum problema, senhor, o único empecilho que vejo são os homens poderosos ao meu redor que se sentem inferiorizados com a minha presença e capacidade, Leon Vance é um deles e posso dar outros nomes também, então, eu creio que, se uma mulher no posto mais alto que os dele já os deixa assim, imagine uma mulher grávida ou, quando ela for mãe, e conseguir conciliar tudo ao mesmo tempo? Creio que eles arrumariam mil e uma desculpas para me pôr na rua. Assim, para evitar que inventem qualquer escândalo, eu estou saindo, pelo meu bem e pelo bem do bebê que estou carregando.

Foi a vez do Secretário não falar nada, ele também era um dos homens que viviam tentando taxar o meu trabalho, sempre colocando defeitos ou fazendo insinuações sobre como eu posso fazer o que faço com competência.

— É a sua palavra final, Shepard?

— Sim, Senhor Secretário, é a minha palavra final.

Mal sabia eu que ali foi só o começo de algo muito melhor...

Assim que o Secretário saiu da minha sala, duas pessoas entraram correndo. Uma era Cynthia que tinha ouvido toda a conversa, a outra, Jethro, por quem eu estava deixando o cargo, mas que não sabia como tinha ficado sabendo da conversa

— Mas senhora, como vamos ficar.... eu não entendo... – Cynthia tentava absorver a notícia.

— A agência existia antes de mim, Cynthia e vai continuar existindo. A cadeira da Direção é feita de ciclos, e o meu sempre teve data para acabar, se eu não saísse hoje, um dia me tirariam. – Falei para ela.

Uma semana depois, eu deixava o cargo e o NCIS. Não tinha o que reclamar, aqui eu aprendi muito, seja para o bem, seja para o mal. Fiz amigos, ganhei uma família postiça e conheci o amor da minha vida.

E por falar em família postiça, se Abby continuar me abraçando desse jeito, é bem capaz que eu morra por falta de ar.

— Então... – a gótica começou – você vai aparecer por aqui, para nos ver, não vai?

— Não prometo ser sempre, mas sim, Abby, eu venho ver vocês. E te trazer seu CAF-POW!

— Eu vou sentir muito a sua falta!!! – Ela me abraçou mais uma vez.

— Eu também vou sentir a sua, Abby. – Retribui o abraço de urso dela.

E, este foi só o primeiro dos discursos de despedidas.

Por fim, já que eu estava saindo mesmo, nada mais me impedia, ou melhor, nos impedia de contar a novidade. Então, olhei para Jethro, que apenas assobiou chamando a atenção de todos que estavam ali, na nossa pequena reunião na Sala do Esquadrão.

— O que foi Chefe? – Tony se alarmou.

— Vocês não precisam ficar preocupados com a possibilidade de Jen nunca mais voltar aqui para vê-los.

— E por que não? – Abby disse, ainda com lágrimas nos olhos.

— Bem, talvez por um tempo seja um tanto difícil de aparecer por aqui, - eu continuei - mas eu tenho certeza que nosso bebê vai querer vir ver os tios e tias dele...

A cara de cada um processando a informação foi hilária, a primeira a conseguir se recompor foi Ziva.

A israelense veio na minha direção, me deu os parabéns e, depois, em hebraico, me disse:

— Já era sem tempo de vocês dois ficarem juntos!!

— Obrigada, Ziva.

E ela foi parabenizar Jethro.

Abby logo em seguida começou a pular e dançar sem parar. Quando finalmente conseguiu conter um pouco de sua alegria, gritou em plenos pulmões:

— Teremos um Jiblet!!!!! É menina ou menino?

— Não sabemos. – Jethro respondeu por mim.

— Tem chances de ser um menino e uma menina? – Ela continuou.

— Pelo amor de Deus, Abby! Duas crianças ao mesmo tempo? – Tony disse.

— Mas seria tão fofo uma miniatura de cada um.... – Ela disse em um muxoxo.

—---------------    

Oito meses depois de sua saída no NCIS. Jen dava entrada na Maternidade. E como Abby tanto quis, sim, nossos gêmeos estavam nascendo.

Eu estava no meio de um caso, quando Jen me ligou, me informando que tudo estava bem, que ela já estava no hospital e que era para que encontra-la lá.

— Não me lembro de você ter alguma consulta hoje, Jen..

— Jethro, não é consulta.... seus filhos resolveram ser impacientes como o pai e querem chegar um pouquinho antes ao mundo e eu gostaria muito que você estivesse aqui, para que eu possa esmagar a sua mão quando mais uma contração rasgar o meu corpo.... – Minha esposa disse ao telefone.

Larguei tudo o que estava fazendo, liguei para a secretaria de Vance e informei que estava tirando alguns dias de folga.

— Está tudo bem, Chefe? – McGee que tinha ouvido algo da conversa me perguntou.

— Sim. Mas esse caso não é mais nosso.

— Droga! Quem foi que quer se meter em nosso caso agora? –DiNozzo disse revoltado.

— Quem o diretor vai mandar, eu não sei, mas eu estou indo conhecer os meus filhos.

— Peraí... – Ziva gritou... – Mas já?

— Sim...

— Então, Chefe, vai logo porque a mãe deles não gosta muito de esperar não! – Tony riu – Vamos esperar a outra equipe chegar e logo, logo estaremos lá!! Cuidado só para a Jenny não quebrar a sua mão!

Dei um tapa na cabeça de DiNozzo quando passei por ele e rumei para o hospital. No meio do caminho, lembrei de avisar a Abby, se esses bebês nascessem e ela não estivesse perto, seria o fim do mundo dentro da Agência, ela já vinha reclamando que não deu para acompanhar a gravidez direito – isso porque passou em nossa casa no mínimo duas vezes por semana para ver como Jen estava indo.

—-----------------

— Onde você estava que demorou tanto? – Fuzilei Jethro com o olhar assim que ele entrou no meu campo de visão.

— Trabalhando. – Foi a resposta monossilábica que recebi.

— Sério, Jethro?!

Ele chegou perto de mim e beijou minha testa.

— Como você está? – Seu tom de voz era preocupado.

— Já tive dias melhores, mas já senti dores piores também. Por que o nervosismo? Não é o primeiro parto que você acompanha... – Fiz uma careta quando outra contração passou por mim. Agora elas vinham de três em três minutos... não iria demorar muito mais.

— É o primeiro parto que acompanho, Jen. Não estava aqui quando Kelly nasceu.

Olhei para ele e apenas assenti.

— Tudo bem... só não banque o neurótico, deixe os gritos comigo, pode ser? – Brinquei com ele para amenizar o clima.

 - Kelly vai ser irmã mais velha. – Ele disse relembrando da filha. – Ela sempre pediu uma irmãzinha ou irmãozinho.

— E eles vão saber que têm uma irmã que os ama aonde quer que ela esteja, Jethro.

Mais uma contração... esses bebês têm que nascer logo...

—---------------

— Bem, pessoal, agora que chegamos no grande dia, temos que rever as apostas! – Eu falei para todos na sala do esquadrão.

— Tony, não começa, temos que terminar isso aqui para podermos ir para a Maternidade! – Ziva me cortou.

— É Tony... parece que está demorando um pouquinho para os gêmeos virem ao mundo.. – Abby concordou com a amiga.

— Eu só quero saber se alguém quer trocar a aposta! Todo mundo já sabe que daqui a alguns meses teremos um Mini-Chefe por aqui... mas ele terá um irmão ou uma irmã?

— Irmão! – McGee disse sem pestanejar.

— Irmão! – Ziva respondeu.

— Irmã! A Jenny não traria dois meninos ao mundo de jeito nenhum. – Abby sorriu.

— Irmão. – Jimmy concordou.

— Bem, as chances de termos dois Mini-Gibbs, pelas ideias de vocês são altas...

— E você, Tony, o que acha? – Ziva me perguntou quando entramos no carro em direção ao Hospital.

— Vai ser uma menina. E ela vai ser ruiva.... O Chefe vai pagar com juros e correção monetária!!

— Veremos daqui a pouco....

Chegamos ao hospital e fomos para a ala da maternidade. Se os gritos vindos dos quartos indicavam algo... ter um filho era realmente doloroso.

 Ziva e Abby foram logo querendo saber algum tipo de informação.

— Vocês são da família? – A enfermeira chefe perguntou.

— Mas é claro! Somos os tios e tias dos bebês! – Abby disse ofendida.

A enfermeira não pareceu acreditar muito, mas acabou por nos informar que não deveria demorar muito mais.

— Se esses bebês forem tão rápidos para nascerem quanto o pai é para dirigir, beleza, mas se eles forem tão devagar quantos os pais para assumirem que se amam.... vamos ficar aqui até amanhã! – Abby disse olhando apreensiva para o corredor.

Foi depois de duas horas que o Chefe apareceu na porta da sala de espera. De início, não pudemos distinguir nenhuma emoção.

— Gibbs, Gibbs, Gibbs, Gibbs! Que cara é essa? E aí como eles estão? – Abby foi a primeira a abraçar o Chefe.

— A pergunta que não quer calar, Jethro, temos dois meninos, ou uma menina irá alegrar os nossos dias também? – Ducky fez a pergunta que todos nós queríamos fazer.

— Jen fez um trabalho incrível. – Ele disse feliz acariciando a mão esquerda, que agora notamos, estava enfaixada. – Os bebês estão bem. Estão sendo checados nesse momento enquanto Jen está descansando.

— Gibbs!! Responda! – Ziva perdeu a paciência e eu podia jurar que a ninja do Mossad iria invadir o berçário só para saber.

O Chefe deu um sorriso e virou em minha direção.

— Como estão as apostas, DiNozzo?

— Bem... 4x2 para serem dois meninos.

— Daqui a pouco vocês são saber quem acertou. Já vão leva-los para o quarto e vamos apresentar os bebês para vocês.

— Mas GIBBS!!! EU TÔ MORRENDO DE CURIOSIDADE! – Abby gritou aos plenos pulmões dentro do hospital.

— Daqui a pouco, Abbs! – E ele deu um beijo na bochecha dela, e foi ficar com a esposa. – Eu venho buscar vocês! – Ele disse saindo da sala de espera.

— Eu vou morrer de curiosidade! – Abby bateu o pé no chão.

—--------------

— E então? Como estão as apostas? – Jen me perguntou assim que entrei no quarto, ela tinha um dos bebês no colo.

— Tá faltando alguém.

— Daqui a pouco chega. Estão terminando os exames iniciais. – Ela me garantiu. – Tudo está normal com eles, são fortes e saudáveis! Mas como está?

— Eu notei pela altura que choraram! – Ri ao lembrar do choro dos dois nenéns ao chegaram a este mundo. - Está 4x2 para serem dois meninos.

— Bem... isso facilita as coisas. Olha quem está chegando! – Ela abriu um sorriso quando a enfermeira trouxe o segundo bebê e o colocou no berço ao lado da cama dela. – Agora, Jethro, vá chama-los.

Peguei o bebê no colo dela e o levei comigo para chamar o restante da família! Quando cheguei na sala de espera com o pequeno embrulho azul, todos se levantaram.

— É agora? – McGee perguntou.

— Sim, Tim. Vamos lá.

— Posso segurá-lo? –Abby pediu.

— Por que não? – Entreguei meu filho para ela e todos fizeram uma roda em torno dela.

— Meu Deus!! Chefe, ele parece com você! – Tony foi o primeiro a dizer.

— Mas tem os olhos da Jenny. – Ziva constatou.

— Uma mistura perfeita! – Ducky disse.

— Oi você! Eu sou a tia Abby, e te prometo que vou te ensinar tudo o que você precisa saber sobre como ser o melhor cientista forense que há!

Tive que rir de Abby.

Mas logo estávamos no quarto e Jen segurava o outro pequeno embrulho. Assim que ela ouviu os passos, perguntou:

— Quem foram as duas pessoas que apostaram que o segundo bebê era uma menina? – A voz dela era séria e, de onde todos estavam, eles não podiam ver a cor do cobertor que envolvia o bebê.

Abby me entregou meu filho e deu um passo para frente, assim como DiNozzo.

— Parabéns, vocês são os padrinhos da Ana.  – E ela apresentou Ana para todos os demais.

Abby e Tony abriram o um sorriso e foram em direção a Jenny para conhecerem a afilhada de perto.

— E a propósito. Este aqui é o Alexander. – Apresentei o bebê no meu colo.

— E os padrinhos? – Tony perguntou sem tirar os olhos da minha filha.

— Ziva, Tim? Aceitam o encargo? – Jen perguntou depois de entregar Ana para uma Abby muito feliz.  

— Mas é claro! – Ziva respondeu feliz.

— Com certeza! – Tim fez coro.

Ficamos em silêncio, os seis observando os dois bebês dormirem, até que Abby percebeu uma coisa.

— Ela é ruiva!

— Isso todo mundo já tinha visto! – Tony disse com Ana no colo.

— E tem olho azul. Azul igual ao do Gibbs.

— Vai ser difícil saber qual deles vai ter a personalidade mais forte! – Jimmy constatou.

—-------------------

Não posso reclamar das escolhas que fiz. De nenhuma. Todas elas me levaram a este momento. Mas a de que mais me orgulho, foi ter escolhido Jethro e meus bebês em detrimento do cargo de diretora.

Bem, para falar bem a verdade, eu não fiquei tanto tempo desempregada assim. Dois meses depois que a minha saída do NCIS se tornou pública, recebi um estranho convite para um jantar. Bem, convite era a forma educada de se dizer, pois um pedido daqueles não se recusa.

E, neste jantar, me ofereceram o Departamento de Defesa. Me disseram que a minha saída da agencia foi uma perda para o governo, e que eles estavam precisando de alguém com ideias novas.

Minha primeira reação foi negar. Estava grávida de três meses, tinha acabado de descobrir que teria gêmeos... Contudo, me pediram para ficar calma, eles sabiam da minha atual situação e me deram um prazo para voltar, um ano depois que as crianças nascessem.

Depois de muito conversar com Jethro, acabei por aceitar o cargo. Não foi fácil de início, mas nada é. E todos aqueles que duvidavam da minha capacidade de dirigir uma agência armada, agora eram meus subordinados, inclusive aquele que ficou no meu lugar no NCIS...

É... o mundo realmente dá voltas.  

E são tantas que parece que foi ontem que eu e Jethro saiamos da Maternidade com dois pequenos embrulhos em nossos braços e nossa família fazendo as vezes de guarda-costas, porém, já se passaram cinco anos desde aquele dia, e Alex está cada dia mais parecido com o pai, e Ana comigo, com uma pequena peculiaridade, às vezes reconheço nos olhos verdes de meu filho a mesma ambição que sempre tive, e nos da minha filha a mesma força que o pai tem.

Como bem disse Jimmy na maternidade, difícil saber quem puxou quem. Mas eu prefiro pensar que nossos dois bebês herdaram nossas partes boas... e as misturaram, e isso os tornaram quem são hoje.

E se alguém parar para perguntar o que eles querem ser quando crescerem? Alex quer ser fuzileiro – meu coração se aperta só de pensar na possibilidade de vê-lo sendo mandando para qualquer lugar em guerra, mas se ele herdou os genes do pai para isso, vai ser tão bom fuzileiro quanto Jethro é; já Ana, ela já quis ser um monte de coisa, mas agora tem uma única ideia na cabeça, quer ser a primeira mulher a ser Presidente – o que dá calafrios em Jethro, já que ele odeia política! E vindo dela e da personalidade que ela tem, eu não duvido.

— Alexander, Ana! Venham já aqui. – Chamei as duas pestinhas que não pararam de correr um minuto nessa festa. – Hora dos parabéns.

E todos se reuniram em torno da mesa, os amigos da escola, alguns novos amigos do trabalho, mas nossa fiel e disfuncional família sempre presente, Ducky, Jimmy e a esposa Breena, Tony, Ziva, Abby, McGee com a noiva, Delilah e Cynthia, sim, ela também, afinal, o que seria de mim sem a minha fiel secretaria?

E quando foi o momento de assoprar as velas, tanto eu quanto Jethro falamos, ao mesmo tempo, nos ouvidos de nossos filhos, “Façam um pedido!

Eu não sei o que eles pediram. Mas eu tinha certeza que, ao vê-los ali, eu só tinha uma coisa a fazer, a agradecer.

Eu tinha que agradecer há uma jovem mulher chamada Maddie que há seis anos atrás entrou no NCIS pedindo pela ajuda de Jethro, agradecer ao fato de que Kelly a teve como melhor amiga e, principalmente, agradecer que, depois de tantas idas e vindas, nós dois nos acertamos naquela noite dentro daquele porão.

Tanto aquela casa em Alexandria quanto a minha em Georgetown foram vendidas, como Jethro disse, nós seguimos em frente, mas nunca esquecemos.

Sim, nós dois e nossa família, seguimos em frente. Estamos vivendo as nossas vidas da melhor maneira que conseguimos, mas sem nunca, jamais, esquecermos do porquê de estarmos aqui e, principalmente, o por quem estamos aqui. Pois, depois de muito tempo, tanto Shannon, quanto Kelly e meu pai tiveram os seus merecidos descansos. Eu e Jethro enterramos as dores e agora vivemos somente com as memórias felizes de um passado que agora não nos traz pesar, mas sim orgulho. Orgulho de quem somos e tudo o que conseguimos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E esse foi outro dos episódios que tinham o potencial de ter feito algo de útil por esse casal e não fez...
Anyway, espero que tenham gostado, e muito obrigada por lerem.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Réquiem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.