A vida é um sopro escrita por apenasmay


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas. Não sei quanto tempo depois, mas estou aqui. A one-shot surgiu a partir de duas frases que ouvi durante um "passeio" de carro com familiares. Espero que vocês gostem. Boa leitura!



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Alguns meses haviam se passado desde a morte de Ronald Weasley. Hermione, embora bastante idosa, não aceitara morar com nenhum de seus filhos, nem netos. Ela optara por permanecer na casa onde ambos construíram sua história. As paredes daquela casa haviam presenciado momentos bons e ruins, brigas e declarações de amor, lágrimas de felicidade e de tristeza. A bruxa sabia que Rony teria feito a mesma opção.

Há meses seus dias tinham se resumido a leituras e mais leituras. Aos fins de semana, ela sempre recebia a visita de seus filhos e netos. Nas férias, às vezes seus dias eram coloridos pela presença de seus bisnetos, todos já estudantes de Hogwarts.

Quando era apenas uma estudante, ela não fazia ideia do que seria de seu futuro e, embora tivesse planejado coisas incríveis, ela nunca conseguira sequer chegar perto de tudo o que acabou por vivenciar. Ela nunca sequer sonhara que teria uma família tão linda e que seria tão bem sucedida em sua carreira – ocupando, inclusive, o cargo de ministra da magia.

Agora, seu corpo já não tinha a mesma força e vigor de outrora. Ela passava por um momento diferente da vida. No entanto, era um momento de imensurável gratidão. Seus olhos já não enxergavam como antes, mas ela ainda se permitia ocupar o tempo – agora tão vasto – com leituras.

As mãos enrugadas fecharam um livro antigo e acariciaram a capa marrom com delicadeza. Em seguida, com certa dificuldade, Hermione se levantou e pousou o livro sobre a prateleira mais próxima de si. A luz que iluminava o ambiente presenciou o momento em que suas mãos pegaram um pergaminho e o colocaram sobre a mesa. A mesma luz acompanhou uma pena sendo molhada no tinteiro e, em seguida, formando uma palavra. Era uma palavra formada por apenas quatro letras: Rony. Depois da palavra introdutória, várias outras começaram a se formar...

 

“Rony,

Hoje se completam oito meses do dia em que eu presenciei o seu último suspiro. Eu achei que seria mais fácil. Achei que aquela dor toda viraria apenas saudade com menos tempo, mas não é exatamente assim que as coisas têm sucedido.

Todos os dias eu me levanto e vou à nossa cozinha. Eu preparo o café esperando você começar a reclamar das decisões do atual ministro, daquele jeito ranzinza que só você tinha. Antes, quando você diariamente fazia suas reclamações, eu optava por reclamar também – mas do seu jeito rabugento, e não das decisões do ministro. Hoje, confesso que se pudesse ouvir suas reclamações, nem que fosse apenas por mais uma manhã, eu apenas sorriria. É, Rony. Eu olharia seu rosto enrugado, seus cabelos que já não possuíam resquícios do ruivo de antigamente e sua feição irritada, e apenas sorriria, por ter sido agraciada com a sua presença mais um dia.

Você, apesar do jeito tão implicante e impaciente, possuía uma doçura incrível. Você era a minha proteção, o meu porto seguro. Você foi o melhor companheiro que eu poderia ter.

Ainda me lembro do legume insensível que você era e da amplitude emocional de uma colher de chá que você possuía, quando jovem. E isso é mais um motivo de gratidão para mim. Eu pude acompanhar seu crescimento, Rony. Eu pude presenciar todos os momentos em que você se fazia de durão na frente das pessoas, mas se permitia ser você mesmo ao meu lado. Eu presenciei você chorar por diversas vezes, e cada um desses choros me fez te amar ainda mais. Cada vez que você se permitiu ser você mesmo e deixar seus sentimentos e emoções expostos para mim, eu percebi o quanto você era perfeito para mim.

Eu não quero te deixar preocupado, mas eu já não consigo controlar as minhas lágrimas durante o café da manhã. E também quero te dizer que, embora eu tenha relutado, querendo cozinhar utilizando magia durante toda a nossa vida, agora eu preparo tudo manualmente, como você gostava. Não me julgue mal. Não o faço por provocação, mas pelo simples fato que consigo me lembrar do seu sorriso satisfeito e do abraço que você sempre me dava, dizendo em tom de brincadeira que proibiria o uso de magia na cozinha para sempre.

Antes de iniciar esta carta, eu estava lendo. É isso o que mais tenho feito nesses últimos oito meses. O Hugo vem me visitar quase todas as manhãs antes de ir para o Ministério. E ele e a Rose quase todos os finais de semana almoçam comigo. Ele tem a sua cara, o seu jeito e a sua doçura. Já a Rose, tem principalmente a sua teimosia. Ela insiste para que eu vá morar com ela. Mas eu jamais aceitaria, Rony. É aqui que eu quero estar. No lugar onde a sua presença me acompanha onde quer que eu vá.

As suas roupas continuam no nosso guarda-roupa. Seus sapatos no mesmo lugar de sempre. Aquele seu sapato marrom favorito continua perto da cama, onde você gostava de deixar para ficar mais fácil calçá-lo na hora de sair. A sua varinha ainda está na escrivaninha ao lado da cama, no mesmo lugar onde você gostava de deixar, para o caso de precisar dela durante algum perigo proveniente da madrugada.

Ah, Rony... A vida é um sopro.

Lembra quando você me dizia para aproveitar cada dia? Para me preocupar menos com o amanhã? Para largar o trabalho e desfrutar a sua companhia e a companhia da nossa família? Você estaria orgulhoso ao me ver admitir, agora, que você esteve certo o tempo todo.

A vida é só um sopro, Rony... E eu agradeço por me ensinar a aproveitar os momentos, a aproveitar a vida. Porque ela é uma só.

A vida é só uma, Rony. E, ainda que eu tivesse duas vidas inteiras para viver ao seu lado, ainda seria pouco para mim.”

O pergaminho sobre a mesa foi testemunha das lágrimas que o molhavam. Os livros e as prateleiras presenciaram quando Hermione deixou a pena de lado e se levantou da cadeira onde estava. Ela levou o pergaminho consigo e murmurou “Nox” antes de se retirar daquele ambiente.

Com certa dificuldade, apoiando as mãos nas paredes, ela se dirigiu ao quarto que dantes fora dela e de Rony. Ela adentrou o cômodo com o caminhar lento e um pouco embaraçoso, tirou o robe que usava sobre a camisola e o colocou sobre a escrivaninha, dobrado, ao lado da varinha de Rony.

Lentamente, Hermione pousou a carta no travesseiro que fora de seu esposo e enxugou as lágrimas que restavam em seus olhos. Ela se deitou e murmurou um “boa noite, Rony”, antes de fechar os olhos, poucas horas antes de suspirar pela última vez.


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Notas finais do capítulo

Quem quiser lencinhos, estou doando, kkkkk. Triste demais até para o coração da autora.



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