A story painted Black escrita por crowhime


Capítulo 4
Capítulo 4




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A rotina não mudou muito: se cumprimentavam educadamente nos corredores como se não fossem próximos, estudavam e faziam as patrulhas juntos nos corredores, mas às vezes se beijavam, e Remus garantia pegar o mapa e levá-lo junto consigo para evitar gerar maiores suspeitas nos amigos.

Contudo, às vezes era difícil. Como quando em seu aniversário uma coruja lhe entregou uma enorme caixa do chocolate mais caro da Dedos de Mel. Não havia carta ou bilhete ou assinatura, só soube de quem vinha pois pegou Regulus observando-o discretamente da mesa da Sonserina. Não teve sequer tempo de fitá-lo propriamente, pois logo o restante do grupo começava uma série de implicâncias sobre Remus ter alguma admiradora secreta.

Ficou constrangido e mandou os amigos pararem (não que eles o ouvissem), simplesmente porque sabia que a pessoa era ninguém mais ninguém menos do que Regulus Black. Além do constrangimento, foi inevitável alguns pensamentos passarem por sua cabeça. Um: como ele havia descoberto seu aniversário? E dois: quando era o aniversário dele? Nunca conversaram sobre, embora desde que entrara em Hogwarts os aniversários de Remus tenham se tornado deveras mais agradáveis.

Agora, estava desesperado buscando na própria memória algum indício de quando era o aniversário de Regulus, preocupado se já teria passado. Porém sua memória não estava ajudando: tinha certeza de que no primeiro ano Sirius enviou um presente para o irmão mais novo em casa, mas já fazia bastante tempo, e nos seguintes realmente não o viu fazendo nada que pudesse indicar quando era o aniversário de Regulus. E não podia simplesmente perguntar ao amigo sobre, ele já andava desconfiado e não muito feliz pela quantidade de tempo que Lupin estava passando com o Black mais novo, se o fizesse aconteceria a maior comoção.

E se Regulus havia descoberto sozinho, ele também precisava fazê-lo.

Perguntar ao Ranhoso era fora de cogitação. Ele o odiava com razão. Bartemius? Não, Regulus descobriria, afinal eram do mesmo ano e, mesmo que não andassem tão mais juntos ultimamente, tinham aulas juntos. Ele comentaria com o sonserino, tinha certeza. Poderia também perguntar diretamente a Regulus como última opção, porém se sentia envergonhado de nunca ter pensado nisso até então. Não era uma simples questão de orgulho. Suspirou derrotado.

“Remus!” A voz de Lily alcançou seus ouvidos, ela se aproximava com um sorriso e um livro em mãos. “Feliz aniversário. Desculpe, não consegui embrulhar, mas espero que goste.”

Os olhos de Lupin se iluminaram.

“Lily!” Exclamou animado, como se a solução para seus problemas estivessem bem ali e fazendo a ruiva se sobressaltar. “Obrigado. Vou ler e te digo. Mas me diz, você sabe se conseguimos acesso ao registro dos alunos?”

“Anh…” Lily o fitou confusa, um pouco desconfiada. “Como monitores, sim. Mas é necessário permissão de algum diretor das casas ou do próprio Dumbledore.”

Remus concordou com a cabeça. Aquilo fazia sentido. E tornava claro como Regulus descobriu seu aniversário também… Não imaginaria que ele se daria ao trabalho, mas ele era surpreendentemente carinhoso, embora de seu jeito discreto.

“Obrigado, Lily! Você é incrível!”

Não deu tempo para a amiga perguntar o motivo daquilo, pois foi atrás de McGonagall pedir a dita permissão. Não foi difícil, logo estava com o registro de Regulus em mãos. A intenção era ver só o aniversário dele, e respirou aliviado ao ver que ainda não havia passado, mas a curiosidade de Remus fez com que espiasse o restante do histórico. Notas perfeitas, como era de se esperar, porém franziu o cenho ao perceber que havia vários registros médicos nos anos iniciais dele na escola.

Sentiu-se mal e culpado por estar vasculhando a vida dele e guardou o registro, marcando em sua cabeça o dia 30 de maio como importante.

Caminhavam para próximo do fim do ano letivo (e do aniversário de Regulus consequentemente) quando percebeu que Barty já não andava mais com a namorada e repentinamente voltava a estar com o sonserino em vários momentos, não só nas aulas que o quinto ano das respectivas casas dividiam. Não que estivesse com ciúmes, só um pouco incomodado por ele não ter lhe contado.

“Ei, Reggie”, chamou, tomando a mão do sonserino. Já haviam passado por vários corredores e nem sinal de problema ou qualquer alma viva - ou morta - então se sentiu confortável para fazê-lo. O moreno não puxou a mão, segurando a dele de volta. “Barty ainda está namorando?”

“Hm? Não… eles terminaram há algumas semanas. Ele já não estava aguentando fazia um tempo, dizia que ela era muito grudenta, aí resolveu terminar.”

“Por que não me contou?”

Indagou sem que pensasse, fazendo o mais novo parar de súbito, e só se deu conta do que havia falado quando sentiu o braço ser puxado. Virou-se para fitar o mais baixo, embora constrangido por estar soando como uma criança, sustentou o olhar inquisitivo do outro.

“Eu deveria?” Regulus devolveu com outro questionamento, e continuou após a falta de resposta do maior, soando irônico e presunçoso. “Você é fofoqueiro e eu não sabia ou está com ciúmes?”

Remus soltou um ruído desconfortável e virou o rosto, sem saber como lidar com a situação que havia causado. Nunca se considerou uma pessoa ciumenta, mas Regulus levava seus sentimentos a uma intensidade com a qual não sabia lidar. Como se fosse contagiado. Não que estivesse o culpando, gostava da relação que tinham, ele era atencioso e responsável, às vezes agia como uma criança mimada, mas já havia visto pior com os amigos, e um pouco ruim iniciando ou demonstrando afeto, mas quando o fazia era sempre transbordante e não deixava dúvidas de que ele também gostava, mas pensar que ele poderia ter uma relação ainda mais próxima e intensa com Bartemius era incômodo. Pensar que eles podiam estar se beijando entre aulas, ou nas noites quando Regulus não estava com ele, ou ainda…

Seus próprios pensamentos o irritavam, fazendo Remus apertar os lábios com força. Não sabia se era a lua cheia se aproximando ou só seus sentimentos confusos, mas não conseguia controlá-los.

“Não vamos começar com isso, eu não fico implicando com os seus amigos.”

“Você não tem razão pra isso, afinal eu não fico beijando eles por aí.”

Regulus puxou a mão com violência e a raiva que queimou em seus olhos fez o grifino se arrepender imediatamente do que falou e desejar nunca ter aberto a boca.

O pior de tudo foi que ele não disse nada, apenas lhe deu as costas e saiu andando. Assim que soube que tinha o magoado.

“Ei, Reg. Reg!” Foi atrás dele, porque não queria simplesmente foder com tudo, e sabia, em alguma parte de si, que se o deixasse ir daquele jeito nunca mais o veria. Agarrou-lhe o pulso, puxando-o para si. “Regulus! Espera. Desculpa. Eu não queria...”

“Sim, você queria!” Exclamou entredentes, empurrando o mais alto de modo familiar, e nem um pouco agradável. “Sempre me perguntei porque se aproximou de mim, é por que sou fácil? É isso? Achou engraçado que não tenho ninguém e resolveu se aproveitar? Ou foi pena?” Regulus continuou a empurrá-lo a cada sentença e Remus não tentou impedir, apenas recuando um passo a cada empurrão, ouvindo-o despejar sobre si seu tom amargo. “Eu não quero sua pena… Eu não preciso de você, eu não preciso de ninguém!”

Ele bradou e, mesmo à luz fraca vinda das janelas do corredor, viu os olhos escuros brilhando com lágrimas acumuladas, não derramadas, nas pálpebras e, repentinamente, Remus se sentiu transportado para o corredor banhado pelas cores do pôr-do-sol em seu terceiro ano.

Regulus parou de empurrá-lo e apenas o encarou.

“Se acha que vou ficar implorando por você, está enganado. Você acha que gosto dos seus amiguinhos? Não, não gosto! Nunca disse nada porque estava bom, porque achei que você não fosse igual a eles, mas se for começar com essa merda, é melhor pararmos por aqui antes que eu veja que estava enganado.”

Seu tom era de quem colocava um ponto final na história. Ele ofegava de raiva. Os olhos em brasa.

E então Remus percebeu que ele não havia mudado tanto quanto pensou. Regulus ainda era o mesmo garoto sensível e expressivo de antes, só que agora ostentava uma máscara mais grossa.

Pressentindo que, como anos atrás, ele desapareceria, agarrou os braços do mais novo com força, puxando-o contra si. Remus não era mais o mesmo, decidiu que não queria ser mais o mesmo, e que não iria mais deixá-lo chorando sozinho. Juntou os lábios e forçou o início de um beijo, ouvindo alguns sons de protesto abafados e o outro tentar empurrá-lo novamente, porém apenas serviu para Remus enlaçá-lo com os braços e o prender contra si, usando da vantagem de sua altura. O sonserino ainda tentou lutar por algum tempo, por fim cedendo e retribuindo o beijo, permitindo-se ser abraçado.

Percebendo o outro mais calmo, inclusive o som de sua respiração, afastou lentamente as bocas, a própria voz soando baixa. “Me desculpe… me desculpe, Regulus.” Remus apertou os próprios olhos, selando demoradamente a face do mais baixo, sentindo-se imensamente arrependido por ter o magoado daquela forma. “Sou eu. Você é tão incrível, eu só… fiquei com ciúmes. Me desculpe. Me desculpe.”

Regulus segurou seu rosto, apertando-o com mais força do que devia. Doía.

“Você deveria acreditar mais no que eu falo. Eu não saio beijando qualquer um por aí, idiota.”

Não teve a chance de responder pois logo ele quem o puxava para beijá-lo. Sim, Regulus não era aquele tipo de pessoa, já deveria saber àquela altura. O beijo era rude, desesperado, intenso. Talvez ele ainda estivesse com raiva, porém não teve tempo de perguntar ou se preocupar, pois de algum jeito, enquanto se atracavam pelos corredores, acabaram chegando na sala dos monitores e Remus só teve tempo de trancar a porta antes de ser empurrado no sofá. Quando teve o pescoço mordido com força, ao ponto de sentir os dentes dele marcando sua pele, veio a certeza de que ele ainda estava bravo. Deixou o Black extravasar, também incapaz de se conter.

Nunca tinham ido tão longe antes. Mãos bobas ocasionais, beijos ardentes constantes, e amassos em variados pontos do castelo, mas a racionalidade ou timidez ou outros fatores os impediam, mas naquela noite se deixaram levar sem pensar muito ou se preocupar se poderiam ser pegos.

Regulus era silencioso. Porém seus olhos pareciam queimar, e reagia com todo seu corpo. Remus sentia as costas ardendo, fruto dos diversos arranhões feitos em sua pele, porém não era nada se ajudasse Regulus a lidar com a dor, da qual não reclamou em momento algum e suportou quietamente, embora tivesse oferecido para parar mais de uma vez.

“Reg…? Está doendo? Não temos que continuar, se não quiser.”

“Sim. Está doendo. Mas continue. Não é ruim… a dor.”

Gentilmente afastou os cabelos escuros do rosto corado, sorrindo de canto com sua resposta. Ele era absurdamente atraente. Não havia como não se deixar envolver. Estava profundamente apaixonado por Regulus.

Descobriu algumas coisas interessantes nas semanas seguintes. Regulus não era exatamente uma pessoa matutina, embora sempre fosse pontual e aparecesse a todos os compromissos de manhã, acordar mais cedo que o normal, necessário para que não gerassem desconfianças de que passaram a noite fora do dormitório, parecia incomodá-lo, e Remus quem precisava despertá-lo - embora algumas vezes cedesse ao comportamento manhoso e permitisse a ambos minutos a mais apenas deitados abraçados. Era extremamente adorável, mas se o chamasse de fofo sabia que ele não gostaria. Quando finalmente se mexia, o sonserino se comunicava por grunhidos até que alcançassem o banheiro dos monitores, e só após um bom banho ele parecia pronto para encarar o dia.

Também tentou sondar se ele precisava ou queria algo, pois não fazia a mínima ideia do que dar para ele de aniversário, mas como esperado o herdeiro Black parecia já ter tudo. Pessoas ricas eram complicadas.

Mas o dia chegou rapidamente, faltava exatamente um mês para o final das aulas, então era compreensível a correria. Todos pareciam muito preocupados com os exames, incluindo os amigos, o que tranquilizava um pouco a Remus, que volta e meia precisava despistá-los, pois estavam curiosos para saber quem era sua “namorada secreta”.

Pensou se deveria enviar uma coruja com o presente, mas queria entregar pessoalmente. Ficou atento à Regulus sempre que possível, procurando-o com o olhar no Salão Principal, porém o sonserino dessa vez não o olhava de volta, pois Bartemius havia se aproximado com um embrulho bonito em mãos. Relapso, o lufano ainda afastou um dos colegas de casa de casa de Regulus, sentando-se ao lado dele e visivelmente atrapalhando a paz na mesa, no que alguns se afastaram enquanto faziam caretas para a dupla. Remus também fez uma, de longe. Queria ter coragem de fazer aquilo. Ou poder fazer aquilo. Não é como se fossem abertamente amigos, para começar, ou como se alguém soubesse do relacionamento deles… embora nem Lupin soubesse qual era.

Suspirou. Precisaria esperar o momento que ele estivesse sozinho.

O que, aparentemente, não aconteceria tão cedo. Além das atividades extracurriculares, Crouch parecia mais grudado em Regulus do que nunca, a tarde já se aproximava de seu fim e ainda não havia conseguido uma brecha para falar com ele. Teria de criá-la.

Aproximou-se da dupla com a expressão mais fechada possível. Não gostava de mentir, mas era o jeito.

“Black, o professor Slughorn está te chamando.”

O moreno pareceu confuso, porém deve ter lido a mentira em seu olhar, pois concordou e se levantou do gramado que estava sentado junto a Barty.

“Quer que vai com você?” Indagou o lufano e, naquele momento, Remus quis esganá-lo.

“Não… Talvez demore, você sabe como ele é. Não se preocupe, não precisa me esperar. Te vejo mais tarde.”

Sentiu um pouco de inveja de como Regulus podia sorrir abertamente para Barty, embora fosse um sorriso discreto. Tentou pensar que só consigo o sonserino de fato relaxava, e seus maiores sorrisos eram direcionados a Remus - não que soubesse se era verdade ou não - e engoliu o ciúmes que crescia dentro de si. Andava na frente em silêncio, seguido de perto pelo outro, caminhando por alguns corredores à esmo até encontrar um canto vazio, e interrompeu o mais novo, que começava a abrir a boca para perguntar o que estava acontecendo, tomando-lhe os lábios em um beijo ardente, prendendo-o contra a sombra da parede ao ouvir risadas.

Regulus tentou se soltar, embora retribuísse ao beijo, e parou de se mover ao perceber o som se aproximando, o corpo tenso como se apreensivo, porém as vozes passaram pela entrada do corredor que estavam e seguiram direto. Remus aproximou ainda mais os corpos, demandando mais do beijo, intensificando a forma como as línguas se enlaçavam e uma de suas mãos agarrou os cabelos escuros do mais novo, afundando os dedos nos fios e os puxando.

Só se afastou quando ouviu um ruído sôfrego escapar abafado por entre os lábios do sonserino, recuando com um meio sorriso despontando ao ver o rosto avermelhado e a bagunça que havia feito nos cabelos e na respiração do outro. Regulus se encolheu, visivelmente constrangido.

“O que foi isso? Digo… o que é isso tudo?”

“Queria te dar feliz aniversário.” Respondeu com tom singelo, beirando o inocente. “Desculpe, ele não desgrudava de você e não queria deixar o dia acabar…” Viu o sonserino ficar desconsertado e confuso, provavelmente se perguntando como ele havia descoberto, porém não demorou mais que alguns segundos para o entendimento cruzar seus olhos. Remus achou uma pena, pois gostava de ver Regulus perdendo o controle, porém resgatou de dentro do uniforme um pacote apertado, o embrulho mal feito, porém compacto, e entregou ao mais novo. “Feliz aniversário, Regie.”

Sentia-se sem graça. Um tanto quanto bobo, temendo que Regulus risse. Era um presente simples e relativamente barato, embora tivesse levado parte de suas economias, um cachecol verde musgo que comprou em uma viagem escondida à Hogsmeade, afinal não poderia deixar ninguém vê-lo comprando algo da casa rival. Era uma besteira, porém nunca via ninguém da Grifinória usando verde, como se fosse um tabu. Mas viu os olhos de Regulus se iluminarem, brilhando como obsidianas, e valeu a pena todo o esforço para escolher. Mesmo que fosse um item de promoção, já que estavam fora da estação.

Ele sorriu, mas por um momento Remus achou que ele fosse chorar.

“Obrigado, eu… vou usar com cuidado.”

Riu baixinho, porque não precisava de tanta formalidade, mas estava feliz que o fez sorrir. Selou-lhe os lábios mais uma vez, prometendo que se encontrariam mais tarde, após o jantar.

A despedida para as férias se deu no dia anterior à partida do trem, afinal sabiam que seria difícil ter privacidade nos vagões. Era difícil resistir ao saber que ficariam afastados durante todas as férias, mas ao vê-lo com o cachecol jogado em torno do pescoço em pleno verão - embora não estivesse enrolado - lhe dava alguma segurança de que nada mudaria, que poderiam ficar juntos quando retornassem para Hogwarts no próximo dia primeiro de setembro.

Não poderia estar mais enganado.


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