Chá para dois escrita por Apaixonada sama


Capítulo 1
c-h-á.


Notas iniciais do capítulo

+ Postada no Amino (Undertale Brasil e Undertale AUs).
+ Era para ter saído ontem, no quarto aniversário de UT, mas me atrasei. 3
+ HAPPY B-DAY UNDERTALE!



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“Estranho como um bule  pode representar ao mesmo tempo o conforto da solidão e o prazer da companhia”. 
Zen Haiku.

 

Você começou sentir uma ansiedade inexplicável, assim que ultrapassou a última porta da Sala do Julgamento. Suas mãos receavam, assim como seus pés insistiam em voltar para o salão anterior e aguardar até que estivesse pronto para a última coisa que estava por vir.

A última batalha.

Contra o Rei do Subsolo.

Assim que adentraste o território, deparaste com um recinto repleto de flores em um jardim dourado. As gramíneas lhe tocavam as botas marrons que estava calçando, fazendo com que o receio e ansiedade pudessem diminuir brevemente. Ergueste a cabeça, absorvendo todo o ar possível, enchendo-se de determinação. Tu colocaste uma das mãos no bolso, certificando-se que a faca estava lá e então, ajeitou o pingente em seu pescoço dando ainda sim, um passo a frente.

Um cantarolar humorado fazia questão de se propagar no ambiente, fazendo-te procurar de onde se iniciava a canção. Seus olhos se depararam com um grande tecido arroxeado de costas. Ao pisar no galho, a figura também havia reparado sua presença ali.

Vossa mercê engoliu a seco.

— Oh? Tem alguém aí? — Questionou o homem costado, aparentando se apressar em sua tarefa. Vós tentastes imaginar o que poderia estar sendo feito ali, mas parecia óbvio demais para ser verdade. — Só um momento! Estou quase terminando de regar essas flores.

A toada de água parecia emergir do regador para todo o restante de chão florido. Você pôde mirar atentamente o solo, notando como rastros aquáticos se espalhavam, outros adentravam pequenos furos na terra arada. Destes um sorriso mínimo, notando a simplicidade daquilo que havia apreendido sua atenção. Retornou a elevar a cabeça.

— Prontinho! — O rei se virou de forma tranquila, como se não quisesse arrumar encrenca com você. — Saudações! Como posso aju...

Recuou bruscamente, com os olhos arregalados, semelhante a alguém que acabou de ver a morte depondo à sua frente. Você maneou a cabeça para o lado, buscando entender o que havia acabado de acontecer ali. Mas, olhou para si mesmo: A faca já estava disposta em mãos, não deixando de mostrar o porquê de estar ali. Abaixastes a arma, estando totalmente envergonhado de sua atitude. Remexeu um pé timidamente, negando com a cabeça. Em seguida, guardou o objeto ameaçador no bolso, suportando uma feição que mais parecia inofensiva.

— Ah... — Hesitantemente, o tão dito “Asgore” virou para o lado, bufando conformado. Retornou a olhar para tua pessoa, que já despontava em sua frente. — Eu quero tanto dizer, “você gostaria de uma xícara de chá?”, mas você sabe como é.

O silêncio desfadigou entre ambos, fazendo com que apenas o constrangimento e o tempo parecessem infinito, apenas se arrostando. Você avançou, sentindo um pouco de pena da situação. Era como Papyrus e Undyne haviam dito: Asgore pode parecer alguém bruto, mas é tão gentil em seus atos...

— Hum... — Tu enunciaste timidamente, não deixando de chamar a atenção do rei para si. — Se você quiser servir o chá, eu aceito tranquilamente...

— S-sério?! — Asgore questionou como se tivesse acabado de receber uma boa notícia faz eras. Suas orelhas grandes e brancas abanaram como se fosse de alegria pela tua decisão. — U-um momentinho só!

E tu esperaste pacientemente. – Não muito diferente de como sempre fez. Pelo menos, não precisaria machucar aquele grande homem que mais era abnóxio ao ver de todo mundo.

 

 

Asgore trouxe em seus braços uma pequena mesa de chá, assim como uma cadeira que parecia fazer parte do kit. Logo após, um bule fervente e diversos aperitivos para se degustar se despontavam na mesa redonda. Tu sentaste-te na cadeira, percebendo que era do tamanho ideal, permitindo chegar um pouco mais perto da bandeja com os pires repletos de detalhes admiráveis, ainda mais, totalmente conservados.

— Dia lindo hoje, não é? — Ele indagou servindo o chá em uma das xícaras com extremo cuidado, pois suas patas – diga-se de passagem, “mãos”. – eram enormes com as unhas finas. — Pássaros cantando, flores desabrochando...

Você concordou com a cabeça.

— Clima perfeito para brincar de bola. — Concluiu, com uma risada repleta de graça que te agradou. Vós também não resististes, dando uma risadinha.

— Sim, senhor Dreemurr.

— Oh não, por favor, me chame de Asgore. Não exijo tanto respeito assim do meu convidado de chá! Sinta-se a vontade. — Entregou o pires e a xícara que borbulhava às suas mãos. — Cuidado, está quente.

— Agradeço pelo chá. — Agradecestes, logo repousando o conjunto na mesa, pegando a colherzinha e adicionando um cubo de açúcar até que a bebida exalasse um aroma adocicado. Mesmo assim, permanecia quente demais.

— Não há de quê.

Os pássaros de fato cantavam mais à distância. Asgore colocou uma de suas grandes mãos próxima à orelha, fechando os olhos e erguendo o queixo, aproveitando o trautear das aves. Em seguida, retornou a preencher a xícara com o bebes cálido. Tu bebericaste delicadamente.

— O que achou do chá?

— É doce. — Você diz enquanto chupitava mais um pouco. Retornou os olhos ao monarca. — Na superfície os chás não costumam ser tão doces, tirando o de “Erva Doce”.

— Nunca provei... Aqui nossos chás costumam serem os de “Flores Douradas” e olhe lá. Não temos grandes especiarias, no entanto, este aqui dá para o gasto. Cai bem em qualquer hora!

“Sim, isso é fato... Dá para descontrair...”, pensastes silenciosamente.

Você alcançou um biscoito na bandeja e olhou o formato. Era de gengibre com alguns detalhes minuciosos que mais pareciam jujubas. Permitiu-se dar um sorriso abobado antes de mordiscar o doce pela mão.

— Jamais pensei que alguém ia aceitar tomar chá comigo... — Asgore elucidou tranquilamente, como se fosse algo comum de se dizer. — Ainda mais, alguém que está para decidir o futuro tanto dos humanos como o dos monstros.

— Sim... Mas... Que tal tentarmos não falar nisso? — Você questionou encabulado e observando como a majestade ergueu as sobrancelhas, parecendo oferecer um pedido de desculpas internamente.

— Como quiser, perdoe-me. — Pretextou enquanto bebia mais um pouco do líquido da xícara. Os olhos se voltaram para ti. — O que lhe trouxe ao... Subsolo?

Isso fez você se lembrar do motivo. E não queria comentar.

— Hum... Dispenso comentários. — Tua pessoa pronunciou, vexada, quase afundando o rosto dentro da pequena xícara.

— Sem problemas... É que você me lembrou de Chara... Uma criança que caiu aqui há muito tempo. Devo dizer que o senso de vestimenta de vocês, é de fato, semelhante.

Você se ajeitou na cadeira, como se incitasse que Asgore continuasse a contar. A excitação em seu rosto era evidente, arrancando risadas do rei. E este encheu novamente a xícara com o líquido fervente.

— Chara era uma criança estranha, sabe? Não falava quase nada, concordava com quase tudo... Às vezes era até engraçado, rendia bons momentos. Asriel nunca havia se sentido tão feliz tendo alguém tão íntimo dele. — Suspirou, mordiscando um monstro de gengibre. — Chegaram até quase me matar, por acidente.

— Meu Deus. — Tu pronunciaste, adocicando o chá.

— Bem, eles não têm culpa... A diversidade das flores é enorme, hoje em dia é fácil confundirem um “Buttercup”, imagine quando crianças! — Olhou de forma distante para a xícara, de certa maneira, memórias pareciam ser exibidas em seus olhos. — Mesmo depois daquele acidente, eu continuei amando eles... Amor de família é uma loucura, entende? Seus filhos podem errar mil vezes, você acabaria perdoando eles mil e umas.

— Com certeza.

O suspiro de Asgore não era reconfortante. Muito pelo contrário, mais parecia chateado com a situação que estava contando. Pegou o bule, notando como estava vazio. Descruzou as pernas, levantando-se e anunciando que voltaria logo com mais chá e biscoitos.

E para onde mais você iria? Aguardastes ali.

 

 

Os passos pesados e autoritários do rei anunciavam seu retorno. Sentou-se no chão novamente, sobrepondo o bule e a bandeja na mesa. Os biscoitos não eram mais de gengibre e pelo cheiro, era algo de baunilha. – É o que a sua intuição de olfato dizia. – Enquanto enchia as xícaras novamente, Asgore devolveu o olhar para tu, que observava atentamente os movimentos dele, que adotou um semblante entristecido e cabisbaixo.

— Ah... — Murmurou, terminando de preencher com o líquido. Pegou uma das xícaras e bebericou cuidadosamente. — Eu me lembro do dia após meu filho morrer. O Subsolo inteiro estava sem esperança.

Parecia ser doloroso para o rei grandioso dizer aquilo. Soava mais como um desabafo disfarçado de hora do chá.

— O futuro mais uma vez havia sido tomado de nós pelos humanos. — Seus olhares se cruzaram, mas não parecia ser oferecendo um ataque a você. — Em um momento de raiva, eu declarei guerra... Eu disse a todos que destruiria qualquer humano que viesse aqui.

Você engoliu a seco, sentindo o êmbolo em sua garganta. É óbvio que estava sentindo um pouco de culpa... Asgore estava quase desabando à sua frente. E, nenhuma frase conseguia sair de sua boca.

—... Que eu usaria suas almas para poder me tornar um ser de poder divino e, nos libertaria dessa terrível prisão. — Cobiçou. — Então, eu destruiria a humanidade. E deixaria os monstros viverem na Superfície, em paz.

Era um discurso motivacional, no entanto, com palavras repletas de ódio. Você podia sentir um pouco de esperança ao ouvir aquilo, imaginando como os habitantes havia se sentido também, escutando aquelas majestosas sentenças.

— Logo, a esperança de todos havia retornado. Minha esposa, porém, se sentiu repugnada por minhas ações. — Exprimiu, passando a mão atrás do pescoço, exibindo uma feição acabrunhada que semelhava também à tristeza e mágoa profunda. — Ela foi embora desse lugar, e nunca mais foi vista.

— Meus sinceros lamentos... — Tu aludiste, permitindo que o som do chá sendo bebido interrompesse a sentença que diria a localização de onde Toriel está alojada. Pressupôs que seria melhor assim, mesmo que quisesse lhe revelar a verdade.

— Honestamente... Eu não quero poder. Eu não quero ferir a ninguém. — Com um soluço desamparado, deliberou sentindo as mãos tremerem. Respirou fundo, tentando não perder a compostura. — Eu só queria que todos tivessem esperança... Mas... Eu não aguento mais isso tudo.

“Eu não sei como o senhor aguentou isso tudo...”, vós pensastes silenciosamente, mirando o reflexo no chá.

— Eu só quero ver a minha esposa. Eu só quero ver o meu filho... Por mais que seja impossível, agora... Esse é o sentimento mais amargo que eu pude presenciar em todos os meus anos de vida. Não amaldiçoo ninguém, não é de meu anseio que alguém passe por isso... É tão... Sufocante.

O silêncio pairou no ar como anteriormente. Você queria poder dizer que as coisas iriam melhorar, porém... Parece tudo tão distante e impossível. Asgore era apenas um rei com um grande coração. Isso lhe trazia uma balbúrdia sem fim, afinal... Como recolher a alma de alguém que... Está tão... Fragilizado?

— A-ah, criança, n-não precisa chorar... — Desesperadamente Asgore pegou um guardanapo e secou o seu rosto, tentando não parecer muito agressivo com suas atitudes. — E-está tudo bem...

Vós não se destes conta de como chorava. O soluço que lhe dava dissabor se propagava no salão inteiro, mas não entendia o motivo de estar aos prantos, na frente de quem era seu dito “arqui-inimigo”. Passastes as mãos no rosto, tentando confortar-se.

— O-olha, c-calma... — Pronunciou. — Parece que nossos biscoitos acabaram... Lá em casa tem mais, são de... Chocolate. V-você quer? E-eu posso trazer...

O que fazer quando você mais queria dar um abraço no grande rei e leva-lo pela mão, até a Toriel? Aquilo parecia fora de solução. E ele não merecia isso. Só deveria ganhar... Amor.


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