Além do Crepúsculo escrita por Maiah Oliveira


Capítulo 7
Capítulo 5 – O brunch


Notas iniciais do capítulo

Eu teria postado esse capítulo antes se não tivesse passado tão mal nos últimos dias, dei uma pausa, até que estivesse melhor e descansada antes de postar o capítulo. Mas depois acabei ficando ocupada, por isso estou postando cinco dias depois do que eu pretendia.

Esse capítulo foi minha primeira inspiração para essa fic e é também uma homenagem a todas nós, fanfiqueiras de plantão! Espero que gostem.



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Afinidade é um sentimento engraçado, até mesmo um pouco particular ao meu ver. Para mim não é apenas sobre gostar das mesmas coisas que uma pessoa, mas também encontrar diferenças entre vocês, coisas em que vocês não concordam ou não combinam perfeitamente, mas que de alguma forma se encaixam, transformando em algo que as unem.

Bella Swan

§§§

 

Sua imagem no espelho a encarou incomodada e não pôde fazer nada além de suspirar, então assentiu para si mesma com resignação. As roupas espalhadas por toda a parte era a prova de seu esforço em escolher o look perfeito para esse malfadado encontro. Bella trocou de roupa pelos menos umas três vezes, penteou os cabelos umas duas e verificou se estava com cecê pelo menos outras três vezes.

Era ridículo!

Isso era apenas um encontro amigável armado por sua mãe com a filha da amiga. Bella na verdade nem fazia questão de conhecer a garota. Isso não era um primeiro encontro romântico com o cara mais quente da escola nem nada. Era absurdo o nível de preocupação que ela reservou para esse momento em particular. Precisava relaxar. Sem dúvida a coisa toda não passaria de um encontro empolado e desconfortável, com alguém que ela mal falaria nos corredores da escola.

Verificou o relógio no celular em cima da mesinha e se voltou para a bagunça no quarto. Agarrou todas as roupas espalhadas e enfiou em um dos armários que ainda era apenas um esqueleto do que devia ser. A maioria das malas ainda descansavam em um canto no quarto, aguardando sua preguiça sumir para serem desempacotadas.

Bella desceu as escadas envolvida pelo cheiro de café, pão e bolo vindos da cozinha e se animou na hora. Estava morrendo de fome! As três bananas que comeu quando acordou não encheram nem um terço do seu estômago. 

Suspirou feliz com o cheiro. 

Apesar de tudo, esse brunch tinha uma vantagem definitiva, a comida. Sua mãe com certeza estava fazendo um esforço para que esse brunch fosse um sucesso, pensou. Bella viu com apreciação uma pilha de panquecas na bancada ao lado do fogão. A fumaça ainda saía delas. Chegou a salivar um pouco. Ia sobrar para congelar! Mal podia esperar para comer.

Ao lado das panquecas, havia também um bolo de cenoura, um prato cheio de biscoitos amanteigados, outro com ovos mexidos e torradas. Bella não pode deixar de pensar que horas exatamente sua mãe acordou para ter feito um banquete desse tamanho. Pobre Liam, se ele visse todas as delícias que a mãe deles preparou, ele teria pensado duas vezes antes de ir com seu pai para Port Angeles.

— Querida, pode arrumar a mesa? — Sua mãe disse sem sequer se virar do fogão.

— Indo! — Bella fez sinal de sentido enquanto pegava a toalha de mesa. A visão de toda aquela comida melhorou significativamente seu humor.

— Pode colocar aí no balcão mesmo.

— Não vai fazer na sala de jantar?

— Não, aqui parece bem mais aconchegante e informal — disse se virando ligeiramente e sorrindo satisfeita.

— Tudo bem!

— Eu colhi umas flores no jardim. Agora temos um jardim, dá pra acreditar! — Sua mãe falou animada fazendo Bella rir — Coloque o vaso na mesa também.

Logo a mesa estava posta. Tinha até rabanadas ou melhor torradas francesas (como faziam desse lado do continente), notou com surpresa e nem era natal! Se tudo o mais desse errado, a comida a salvaria de qualquer fiasco. Depois disso não demorou muito para a campanhia tocar.

Sua mãe foi atender e Bella aguardou na cozinha ajeitando sem qualquer necessidade o cabelo.

Uma mulher entrou na cozinha ao lado da sua mãe. O rosto em forma de coração, traços suaves, testa alta e uma expressão convidativa. Ela era linda, não o tipo de beleza que se via em mulheres nos dias de hoje, excessivamente magra ou artificial, não. Era como uma dessas atrizes de filmes dos anos 50. Olhar para ela era como ver uma bela foto antiga, quase podia vê-la em tons de preto e branco. Mas o que realmente chamava a atenção era o sorriso. Fez Bella pensar nos afagos e carinhos de sua mãe e avó, uma qualidade intangível que a acalentou.

Mas foi quando Bella desviou seu olhar que ela teve uma surpresa.

Atrás da amiga de sua mãe, estava a última pessoa que ela poderia imaginar adentrando sua cozinha, com uma cesta de piquenique nas mãos.

— Alice?!

O seu choque não poderia ser mais evidente em sua voz ou em seu rosto congelado em uma careta de descrença.

— Bella!

Alice nem deu a chance de Bella reagir antes de envolver seus braços nela, em um abraço de um braço só.

— O que... está acontecendo?

Para alguém tão pequeno Alice tinha um aperto bem forte. Bella apenas se contentou em dar umas batidinhas com uma das mãos ainda confusa demais para fazer muito mais que isso.

— Surpresa! — Alice anunciou se desvencilhando dela e esticando os braços de maneira teatral, fazendo Bella involuntariamente rir.

— Eu estou um pouco lenta hoje, o que tá acontecendo? — indagou olhando todas as mulheres na cozinha.

— Vocês se conhecem? — indagou sua mãe logo depois.

— Nos conhecemos ontem na verdade Sra. Stewart. Bella estava passeando e acabamos nos esbarrando e conversando um pouco — respondeu Alice sem nem piscar sorrindo de maneira secreta para Bella — Desculpe por não ter te avisado nada ontem Bella. Quando minha mãe me avisou desse brunch e depois de encontrar a única pessoa nova na cidade, eu sabia que só poderia ser você que iria encontrar, mas achei que seria legal fazer uma surpresa. E aí, gostou?!

Bella riu do absurdo e da coincidência da situação. Alice era a única pessoa a fazer o primeiro dia de aula soar menos assustador e mais antecipatório. A única a melhorar seu humor no último dia. O fato de que Alice era a única pessoa que fez o primeiro dia de aula soar menos assustador e mais antecipatório ajudou muito seu humor no último dia. E agora ela brotava do nada em um café da manhã metido a besta onde o desastre era o convidado de honra. E mais uma vez salvava seu dia só com a sua presença. Ia acabar  que tinha tudo para ser um desastre e salvava mais uma vez o seu dia só com a sua presença. Ela ia acabar ficando mal acostumada com o time perfeito de Alice Cullen para melhorar seu dia.

Bella riu do absurdo e da coincidência da situação. Alice era a única pessoa a fazer o primeiro dia de aula soar menos assustador e mais antecipatório. A única a melhorar seu humor no último dia. E agora brotava em um café da manhã metido a besta (o qual o desastre prometia ser o convidado de honra por sinal) só para salvá-la com a sua presença ali. Ia acabar ficando mal acostumada com o time perfeito de Alice Cullen para melhorar seu dia.

— Adorei! — Dessa vez Bella abraçou Alice, agora mais corretamente.

— Isso é um alívio saber que vocês já se conhecem e estão se dando bem. — sua mãe disse com um sorriso nos lábios.

— Eu te falei que elas iam se dar muito bem. — Sra. Cullen disse com bom humor.

As meninas se separaram e sua mãe conseguiu apresentar adequadamente a mãe de Alice para ela. Logo, todas as quatro estavam sentadas desfrutando de um ótimo brunch. Com várias frutas tropicais, compotas, brownies e waffles, cortesia da Sra. Cullen. E eram um verdadeiro crime de tão bons.

A conversa fluía com facilidade. Assuntos desde o tempo à vida em Forks, flutuavam no ar da cozinha junto com a fumaça do café e do chá aquecendo o ambiente. Alguns risos também eram ouvidos. No fim as coisas foram muito melhores do que Bella poderia ter antecipado. Não houve silêncios desagradáveis ou conversa engessada. Era tudo natural, convidativo e familiar. A recordava um pouco dos cafés da manhã na casa da sua avó, mas com bem menos barulho. A repentina lembrança de casa foi como uma agulha de gelo atingindo seu peito e esfriando seu bom humor de forma eficaz.

— Hey, Bella! — Alice chamou a distraindo da sensação desagradável.

— O que?!

— Porque não me mostra seu quarto?

A pergunta repentina a fez desviar definitivamente seus pensamentos de sua antiga casa.

— Ah, eu não sei Alice, ainda está tudo uma bagunça, mal desfiz minhas malas pra falar a verdade.

— Melhor ainda! Eu sou ótima com arrumação, não é mamãe?!

Esme riu do eufemismo.

— Minha filha mais nova é uma planejadora e organizadora quase compulsiva, tenho certeza que ela pode ajudar você a organizar suas coisas em pouco tempo.

— Sim! — Alice bateu palmas animadamente. Ela parecia já imaginar por onde começar.

Isso suavizou as arestas geladas em seu peito.

— Ok, vamos lá.

 

Arrumar suas coisas com Alice foi uma experiência totalmente nova. Ela não só era organizada, mas muito criativa. E fazia tudo com um entusiasmo de dar inveja. Se não fosse por Alice, ela só teria todas as coisas desembaladas daqui há uns seis meses, isso se ela forçasse as coisas. Tirando cozinhar, Bella não era nem um pouco afeita a tarefas domésticas, muito menos ao tipo de arrumação mais sistemática que Alice era capaz de realizar, isso aos seus olhos era bastante admirável. Foi bem mais fácil também fazer esse tipo de tarefa enfadonha acompanhada de uma ótima conversa.

Curiosamente, elas tinham muita coisa em comum. Entre filmes, séries e livros, não houve falta de assunto para discutir. E mesmo quando não concordavam era divertido discutir e debater com alguém tão inteligente, animada e bem humorada como Alice. Bella pensou com um pouco de humor que havia encontrado sua alma gêmea. Principalmente quando descobriram serem fãs da mesma saga de livros, Night Fall. 

Esse foi o momento que a loucura realmente começou.

Bella era uma apaixonada/fanática por Night Fall. Eles foram os primeiros livros que ela leu de verdade, com mais de 100 páginas (sem figuras) e com uma quantidade de capítulos superior a 15, então ela sabia que mesmo quando ficasse mais velha e lesse livros mais sofisticados, eles ainda seriam uma série que ela guardaria em seu coração. Bella sempre foi uma garota sonhadora, que amava contos de fadas, quando ela ficou um pouco mais velha, uma história de vampiros cheia de romance, parecia o próximo passo lógico. 

A história possuía todos os elementos de um conto de fadas moderno, foi amor à primeira vista desde a primeira página. Tudo era convidativo. O romance impossível. O rapaz misterioso surgindo na nova cidade. A garota ingênua e tão comum, arrastada em uma trama de segredos e mistérios sobrenaturais muito além da sua insípida realidade. 

Bella não teve nenhuma chance.

Ter que esperar um ano por um novo livro da saga era um sofrimento real. Mas depois de ler seu segundo livro e vasculhar a internet por qualquer sinal de Night Fall ou informações sobre o próximo livro, Bella descobriu algo que explodiu sua mente. Começou com uma pequena história que na época Bella acreditou que era produção da própria autora da série. Talvez um pequeno petisco para os fãs da saga. Mas depois que terminou ela descobriu que na verdade aquilo era não algo feito pela autora da saga, mas sim por um fã.

Foi dessa forma que ela conheceu o incrível universo das fanfictions. Um lugar onde o limite era a imaginação. E foi outro buraco de coelho onde ela caiu muito feliz. Ler aquelas fanfics realmente foi algo muito importante para ela, na época em que as coisas não estavam tão bem com a sua mãe e que ela não tinha tantos amigos próximos. 

O mundo das fanfics foi seu porto seguro, um lugar que a protegeu, a acalentou e a confortou. Lá ela conheceu muitas pessoas fantásticas, criou teorias malucas, teve discussões tão incríveis quanto terríveis, mudou de ideia (várias vezes e sobre tudo), começou a pensar sobre as coisas mais criticamente e a analisar tudo sob o sol. O mundo parecia crescer, se ampliar e sua visão dele felizmente seguiu o mesmo caminho.

Era por isso que mesmo Night Fall não sendo a melhor coisa já escrita na atualidade, ela ainda a amava, porque Night Fall abriu seu mundo de uma forma que ela nunca imaginou e por isso ela era grata.

— Eu acabei o último livro publicado e estou morrendo pra saber o que vai acontecer agora. — Alice comentou dramaticamente. 

Qualquer um que olhasse o semblante desolado da garota acharia que ela via o fim do mundo bem diante de seus olhos.

Bella riu. 

Agora depois da arrumação as duas se encontravam deitadas na cama de Bella olhando para o teto.

— Quer dizer eu comecei a ler tem poucas semanas e devorei eles em menos de duas semanas. Agora estou sofrendo de uma terrível e inenarrável crise de abstinência Bella. Você não entende! Eu preciso saber o que acontece depois ou vou literalmente morrer de curiosidade. — Alice terminou tampando com uma mão pra cima parte de seu rosto em uma pose exagerada de drama que fez Bella rir de novo.

Bella virou de lado para encarar o perfil de Alice com o travesseiro seguro em seus braços.

— Infelizmente não tem muito o que eu possa fazer por você, cara companheira. Temos que esperar e ir bolando teorias sobre o rumo da história. Tem uma.... — Bella mordeu o lábio.

— O que?! — Alice virou de imediato, com os olhos esbugalhados, o que em um rosto tão pequeno a fazia parecer uma lunática.

— Bom...

Bella contraiu involuntariamente o rosto. Seria muito ridículo falar com sua nova amiga, sobre fanfiction? Sempre tinha gente para criticar e falar que era coisa de criança, reduzir fanfic a uma produção de segunda ou pior compará-las a fake news. Claro que existiam coisas muito mal feitas (mas muita gente era jovem e só estava aprendendo e se divertindo), mas havia também verdadeiras obras de arte que não deviam em nada para um livro publicado, com a vantagem de que era de graça.

Bella nunca teve coragem de falar para suas amigas mais próximas sobre seu amor por fanfics. Nenhuma das duas era tão afeita a leituras, Lígia não gostava de romances e Tina detestava o gênero de fantasia/sobrenatural. Elas viam sim, filmes e séries, mas ambas tinham pouca paciência para leitura em uma base regular. Por isso, apresentar as fanfics parecia um exercício de inutilidade que acabaria por constrangê-la de alguma forma se não na realidade então em sua própria imaginação.

Mas Alice era diferente, ela era tão apaixonada por Night Fall, quanto a própria Bella. Ela não parecia o tipo que julgava o coeficiente de inteligência de alguém com base em seus gostos de leitura. E se Alice gostasse teria uma amiga no “mundo real” com quem compartilhar seu amor por fanfics em geral e fanfics de Night Fall em particular. Isso nunca aconteceu!

— Só um minuto.

Bella levantou, já buscando seu notebook e colocando em cima da cama, onde mais uma vez deitou agora de barriga para baixo, Alice seguiu seu movimento.

Ela entrou em seu computador e no site onde lia a maioria de suas fanfics preferidas com seu login e senha.

— O que é isso? — Alice indagou curiosa.

— Você já ouviu falar em fanfiction?

— Hm, ouvi um pouco por alto.

Bella explicou de forma simples todo o conceito de fanfiction para Alice que parecia mais interessada e animada a cada palavra. Bella sorriu.

— Você disse que queria saber o que acontecia depois, bom eu não sei. Mas tem uma menina, uma ficwriter escrevendo uma história sobre o que poderia acontecer depois daquele livro e ela é muito boa mesmo!

— Oh my God!!!! — Era a primeira palavra que Alice falava em inglês, Bella percebeu — Eu preciso ver isso agora!

Na próxima uma hora e meia as duas meninas ficaram deitadas com a cara de frente ao computador lendo a fanfic que Bella indicou.

— Cadê o resto? — Alice indagou assim que terminou de ler.

— Então a autora ainda não postou. Esse foi o último capítulo que ela atualizou ontem. A fic ainda tá bem no começo, por isso que não tem muitos capítulos, mas essa autora geralmente não atrasa. Eu sigo ela há mais de um ano e ela nunca abandonou uma fanfic. Ela provavelmente vai postar semana que vem.

— Ah não! Eu vou ter que esperar tanto pra ler outro capítulo? — soltou dramaticamente.

O olhar desolado com uma dose de desespero de Alice, fez Bella querer rir, mas ela manteve uma cara séria, com dificuldade.

— Nem reclama, ela não demora tanto e é uma das autoras que postam com mais frequência que eu sigo no fandom. Muitas autoras não são tão regulares ou abandonam suas histórias, ou tem bloqueios homéricos. É complicado quando você tem uma vida pra variar, sabe?! — Bella comentou sarcasticamente.

— Hmm... — Alice fez um muxoxo amuado — E agora o que eu faço até a próxima semana?

— Lê outra fanfic? É isso o que eu faço, posso te indicar várias. — Bella sentiu-se animada catalogando mentalmente suas fics preferidas para indicar a nova amiga — Tem histórias que seguem o cânone, tem UA...

Ela explicou os meandros do mundo das fanfics enquanto Alice ouvia com atenção. Era bom ser ouvida e era melhor ainda partilhar uma de suas paixões mais secretas com alguém do mundo real. Havia algo em Alice que deixava Bella desarmada, estar com a outra garota era como estar em casa e ser afagada por alguém que amava. Ela gostava da sensação.

A conversa foi interrompida pela mãe de Bella chamando as duas meninas para almoçar. Depois de receber a ligação do marido avisando que ele e o filho esticariam a visita a Port Angeles até Seattle, Fanny resolveu esticar o encontro pelo resto da tarde. A decisão foi recebida com comemoração pelas duas meninas que depois do almoço subiram novamente ao quarto de Bella. Fanny e Esme permaneceram na cozinha colocando a conversa em dia.

— Eu adoro essa fanfic, mas não sei…. se fosse eu faria diferente. — Bella começou falando dos pontos negativos e positivos de uma das histórias que ela acabou de indicar.

— Nossa, isso ia ser incrível! Night Fall nos anos 20! Isso precisa acontecer! — Alice exclamou animada e empolgada com a ideia.

— Infelizmente não tem nenhuma assim. Tem até umas histórias de época deles, mas é tudo ou na idade média ou na era vitoriana e com todos humanos. Eu só queria uma história onde eles são vampiros e vivem essas aventuras históricas que eu tanto adoro. Eles como humanos não têm a mesma graça pra mim. Eu me apaixonei por essa série justamente porque eles são vampiros. O que é totalmente uma das melhores coisas sobre esses personagens.

Alice riu.

— Então você gosta de vampiros?

— Eu adoro fantasia, é meu gênero de livros favorito. O mundo normal é tão absurdamente chato que eu acho que precisa de um pouco de magia e os livros nos dão isso, sabe?! — Alice assentiu — Mas respondendo a sua pergunta, sim. Eu adoro vampiros! Você poderia dizer que eles são o meu tipo de “monstro” favorito — disse rindo fazendo o sinal de aspas com a mão.

— E porque você gosta deles?

Alice pareceu realmente curiosa com sua pergunta, por isso Bella refletiu seriamente sobre sua pergunta.

— Eu não sei bem. Só que sempre teve algo sobre vampiros que me fascinava, o mistério, o perigo, o ar sensual que é atribuído a eles na maioria dos cânones. Eles são fascinantes, instigantes, apaixonantes de um jeito sobrenatural. Acho que parte do apelo é que eles são essas criaturas atemporais, que viram o mundo passar por incríveis transformações e devem saber tanto sobre o mundo e as pessoas, tendo a sabedoria de um velho e um corpo quente pra caramba!

Bella riu na última parte, fazendo Alice espelhar seu gesto.

— Eu acho que se não tem nenhuma fanfic de época com os personagens de Night Fall como vampiros você deveria totalmente escrever uma. — Alice mudou de assunto pegando Bella desprevenida.

— O que? Eu escrevendo uma fic?

— Porque não, ia ser incrível ler uma história com todas essas ideias que você tem! Eu tenho certeza que ela ia ser incrível.

— Não, nem pensar! Eu não sou uma escritora.

— Bom pelo que eu entendi ninguém é um escritor profissional, todos são apenas fãs que adoram a série, acho que esse é o pré-requisito básico pra escrever uma fanfic, não é?!

— Bem é, mas... — Bella começou incerta.

— Então é só escrever! Eu te ajudo na revisão de texto e posso te ajudar na pesquisa também, eu adoro coisas de época e entendo um monte dos anos 20. — Alice disse isso de um jeito estranhamente convencido, um sorriso secreto grudado em seus lábios, que foi estranho e cativante ao mesmo tempo.

Havia algo no ar que Bella não conseguia captar, mas a sensação chegou e se foi muito rápido para ela processar.

— Não, nem pensar, eu iria morrer de vergonha! E não vamos mais falar nisso — Bella continuou quando Alice ameaçou retrucar.

A conversa rapidamente se desviou sobre o próximo filme de super heroína que as meninas estavam interessadas em ver e o assunto morreu. Mas o brilho nos olhos de Alice mostrou que ela não desistiria tão fácil dessa questão, ela só teria que esperar uma próxima oportunidade.

O tempo passou voando para as duas meninas e logo Bella estava na porta da frente de casa se despedindo com um abraço de sua nova melhor amiga.

O dia de hoje tinha estabelecido algo que Bella suspeitou desde seu primeiro encontro com Alice. A forma como elas se encaixavam, como elas combinavam, não em tudo, (graças a Deus, não havia nada mais chato do que alguém que concordava em tudo com você) um pouco de discussão e combatividade saudável entre amigos era sempre ótimo e estimulante. Alice quase parecia sua alma gêmea, se o conceito de almas gêmeas incluíssem amigos como irmãos também. Bella nunca teve uma afinidade tão forte ou rápida com alguém como a que ela experimentou com Alice. E não apenas isso, mas Alice era familiar de uma forma que ela não conseguia descrever. Era como se ela e Bella tivessem se conhecido desde o berço. Como se fossem sempre amigas.

Ela nunca imaginou que depois de tudo o que aconteceu nas últimas semanas, hoje ela estaria ansiosa com a perspectiva de começar na nova escola, mas ela estava. A visita de Alice provou que Forks poderia se tornar sim o seu novo lar e que ela poderia sim ser feliz lá.

 

§§§

 

— Já o encontrou, Edward?

— Sim e você terminou o trabalho?

— Já está feito. — A voz de Jasper saiu calma e sem emoção. Ao fundo o som de sirenes ecoava cada vez mais próximo de onde Jasper estava.

— Então agora só falta denunciá-lo, pode deixar isso comigo.

— Sem rastros como sempre.

— É a minha especialidade. — O sorriso presunçoso na sua voz foi inconfundível.

Depois de mais de seis horas de buscas nas propriedades de todas as pessoas ligadas a Simpson, Edward por fim havia encontrado o que procurava em uma cabana de caça nos limites de Seattle. Agora só precisava encontrar a pessoa certa para informar a polícia.

Respirando fundo, ele relaxou sua mente e permitiu que ela se abrisse, se expandisse para além dos limites humanos alcançando todos os humanos próximos da área. Focou sua atenção nas pessoas que como ele, ainda caminhavam pela rua. Havia um humano há dois quarteirões, na pior parte da cidade, por isso não se surpreendeu ao perceber que se tratava de alcoólatra inveterado. Obviamente seu tipo não serviria aos seus propósitos.

Foi um pouco mais longe. Um casal voltava de carro de uma festa de gala. O homem fantasiava com o encontro que teria mais tarde com sua amante, já a mulher calculava quanto dinheiro conseguiria arrancar no acordo do divórcio, assim que o caso do marido fosse desmascarado. Ambos agiam com superficial cordialidade. A dissimulação humana não era algo que o chocasse ou surpreendesse mais. Não depois de ser um leitor de mentes por tanto tempo. Se desviou do casal, afinal eles serviriam tanto quanto o bêbado.

Acelerou sua busca pelas mentes de todos que estavam mais perto, atrás da pessoa certa. Um viciado em jogo. Não. Uma prostituta. Muito menos! Nenhum deles serviria, aumentou seu raio de busca, cinco, dez, quinze quilômetros... Um homem gerente de uma lanchonete, voltava para casa muito depois da hora, ele estava cansado do dia fatigante, seus pensamentos turvos e anuviados pelo sono e cansaço.

George tinha que me alugar novamente pra falar da última briga com a namorada?! Eu devia ter fechado antes dele começar a contar a história. Molly vai ficar bem irritada quando eu chegar em casa. A imagem de um poste sem luz e uma rua escura surgiu. Preciso ligar pra companhia de luz, esse parque agora vive escuro! É um perigo para as pessoas, imagine se assaltam alguém por lá. Logo Molly e minha garotinha também estarão frequentando o parque, definitivamente eu preciso fazer algo, amanhã...

Um bom samaritano. Era tudo o que ele precisava. Se chegassem a descobrir quem ligou nunca suspeitariam de Artie Harris, o gerente de uma lanchonete, casado e com uma filha para nascer. Ele era uma opção, muito segura. Seria mais fácil conter seus instintos perto de uma pessoa boa, alguém que tinha uma família que precisava dele. Uma família que ficaria destruída se ele morresse.

Seguiu os pensamentos até o homem em questão e em poucos segundos apenas cinco passos o separavam de Artie Harris e do seu objetivo. Tocou sua mente com um cuidado e uma lentidão estudada. Uma coisa era acalmar os humanos e fazerem eles não resistirem a aproximação de um vampiro e se deixarem submeter, para que o vampiro se alimentasse e depois apagasse todo o interlúdio de suas memórias. Mas o que Edward fazia agora, no entanto, exigia muito mais talento e habilidade do que um vampiro médio era capaz de manipular. 

Edward ia convencer a mente de Artie através de sugestão para que ele executasse uma tarefa muito específica. Isso era algo bem mais complexo do que pedir alguém para ficar parado e não resistir a sua aproximação. Era como hipnose. Ele iria se conectar a sua imaginação e não a mente consciente. A mente iria aceitar o que a imaginação criasse por mais bizarro que fosse, entretanto, Edward sabia que nenhuma sugestão no mundo poderia levar ninguém a fazer algo contra seu caráter moral, contra a sua vontade. Um santo hipnotizado, ainda seria um santo.¹ 

E era exatamente por isso que Artie Harris era a pessoa perfeita para concluir seus objetivos. Ele era um cidadão de bem, o tipo de pessoa que teria a consciência de denunciar um assassino se a oportunidade se apresentasse diante dele. E agora Edward estava dando essa oportunidade a Harris, mesmo que ele não soubesse disso.

As palavras fluíram da sua mente a dele e logo fizeram eco em seus lábios. A leve conexão que ele precisaria manter para induzir Harris estava estabelecida. Depois disso não foi tão difícil convencê-lo a seguir até uma cabine telefônica e repetir as palavras que condenariam definitivamente Jordan Simpson.

Agora era hora de liberar Harris. Rápido assim, simples assim. Com suas habilidades, como leitor de mentes, para ele era muito fácil, manipular a mente humana. E fazê-los acreditar em suas ilusões e mentiras. Ele era tão talentoso, que quase os fazia ultrapassar seus limites morais para acatar sua vontade. Ainda conseguia lembrar com uma assustadora riqueza de detalhes o quão poderoso se sentiu quando conseguiu dominar um humano completamente. 

Podia ver no olho da sua mente, ele na mesma posição que agora, drenando de toda vida um humano. A sensação inebriante de poder que era ainda mais doce que o sangue em seus lábios. O quão forte e poderoso se sentia. Era como estar no topo do mundo, vendo as formigas rastejando abaixo de seus pés. Foi o melhor momento de sua existência como vampiro. Era intoxicante, embriagador, viciante... um prazer quase hedonista. O sangue em seus lábios, quente e fresco, um prazer insidioso que tornava o momento ainda mais intoxicante. O sentimento o atingiu com uma saudade dolorosa e uma queimação funda no estômago. 

E agora no presente, bem ali na sua frente um humano de sangue quente se postava diante dele, acessível, tentador, pronto para atender o simples pedido de ficar parado e não reagir enquanto saciava a sua sede. Uma pequena dose sem dúvida não causaria qualquer estrago permanente. Apenas uma dose do gosto do sangue descendo com prazer pela sua garganta, aquecendo seu corpo, inflamando imediatamente cada célula do seu corpo com mais vida e mais rapidez do que o insípido sangue frio que ele era obrigado a suportar, não faria qualquer mal. Não havia nada de ruim em experimentar. Tirar uma pequena prova. 

Mas e se eu não conseguisse me controlar? E se eu o matasse? 

Sua consciência se intrometeu o impedindo de dar um passo à frente. Um sussurro irritante. Consciência estúpida! 

E daí, se ele morresse, o mundo era cheio de humanos. Eles povoavam esse mundo como baratas, eles eram apenas um grande Buffet pronto para ser servido. Um a mais um a menos, não faria diferença. 

Porque ele precisava liberar aquele humano? Ele só continuaria com uma vida tola, medíocre e curta. Tão curta...

Eu estaria fazendo um favor a ele o livrando de uma existência inócua. E ninguém precisa saber. Ninguém da minha família ia precisar se preocupar com um pequeno deslize como esse. 

Ele era o único leitor de mentes da família. Ele só precisaria sumir com o corpo, uma tarefa muito simples de realizar, talvez enterrá-lo no mato. Ou melhor, queimar a loja com seu corpo drenado dentro. A polícia viria e provavelmente alegaria um curto circuito, logo o caso seria esquecido. Ele poderia fazer isso e cobrir com eficiência seus rastros com cuidado e diligência. Graças a um amigo ele sabia como os Sentinelas operavam e usar quaisquer deslizes deles em benefício próprio.

Um passo à frente e um pedido para ele inclinar seu pescoço, pedido que o humano obedientemente acatou, mal sabendo o quão perto do fim ele estava. Suas presas se alongaram em antecipação, então quando estava pronto para cravar elas no pescoço do humano… 

A imagem dela saltou de forma repentina em sua mente como uma bomba o paralisando. Ela estava na mesma posição vulnerável da visão de Alice. Enrolada em si mesma, chorando sozinha. Uma frágil humana que ele não apenas queria tocar, mas que ele queria desesperadamente proteger.

Edward recuou em choque, sacudido até o núcleo com a imagem mental e principalmente com o sentimento inesperado que ela evocou. A visão dela fez a névoa vermelha, que ele não percebeu nublando sua mente, subir e se dissipar. Sua razão chegou logo em seguida. 

O que eu estava fazendo! Matar um inocente. Ele quase caiu na teia que a luxúria de sangue envolveu sua mente. E depois? E se um dia ele a encontrasse? Ela se tornaria outra vítima? Apenas mais uma estatística? 

Recuou enojado com a simples ideia de machucá-la. Edward rosnou uma ordem para liberar o humano... 

Humano não. Artie Harris. Casado. Com um filho a caminho. Se lembrou e repetiu como um mantra em sua cabeça, até que ele pudesse se afastar o suficiente.

Alguns quilômetros depois, Edward se encostou em um beco abandonado. Agora ele conseguia recordar com clareza o que quase aconteceu. Estava fora de si. Ele estava mal, sabia disso já há algum tempo. Contudo, seu frágil controle estava se deteriorando mais rápido do que todos imaginavam. Antes ele sempre pôde se controlar o suficiente para parar a si mesmo, sem intervenções externas. E agora, lá estava ele.

Controlar um humano. Não, controlar uma pessoa sempre era arriscado. Era uma tentação em si mesmo, ele sabia disso, todos sabiam. Por isso, mesmo os vampiros que tinham essa habilidade de forma mais acentuada usavam ela com muita parcimônia e cuidado. Era por isso, que ele era tão cuidadoso com as pessoas que submetia ao seu controle. 

Ele sempre era muito seletivo, procurando escolher pessoas decentes, inocentes. Saber que elas tinham famílias, que eram pessoas boas, decentes, que não mereciam morrer, tornava o trabalho mais fácil. Colocava a tentação à baila, a vontade, o desejo era sempre inevitável, mas ele ficava em um lugar longínquo de sua mente onde não o afetava com tanta força. Ele era capaz de se controlar, pois estava sempre ciente do que estava fazendo, apesar do desejo, da vontade insana de sangue ser como uma entidade viva, sempre espreitando nos recessos mais sombrios de sua mente. 

Seu monstro pessoal.

Porém, há alguns minutos atrás ele se perdeu. Não era mais ele. Era a fome. O desejo de matar, a cobiça pelo poder. Aconteceu apenas uma vez antes. E foi o suficiente. Destruiu tudo o que ele era e restou apenas o arrependimento que carregaria pelo resto da eternidade.

Naquela época ele estava com tão consumido pela dor, pela raiva, pelo ódio mesmo, que foi facilmente engolido no frenesi da luxúria de sangue. O que apesar de não justificar seu ato abominável, foi compreensível, se ele poderia usar uma palavra tão branda para explicar o que ele fez naquela noite.

No entanto, aqui e agora, cheio de sangue, ele por um segundo estava tranquilo. E talvez isso tenha sido sua queda, o fazendo abaixar a guarda. Ainda assim era grave demais! Estremeceu apenas com a lembrança de como ávido ele era. Como o perigoso predador nele levantou sua cabeça feia e deixou o monstro que ele era surgir. Não houve mais que um breve suspiro de racionalidade que foi brutalmente ofuscado pelo mais cru instinto.

Ele esteve tão perto, tão perto de dar o passo derradeiro. Então a visão dela surgiu como fogos de artifício iluminando sua escuridão interior. No momento mais inesperado, porém quando mais precisou. Era a mesma visão, a mesma postura, só a mesma imagem como um filme diversas vezes visto e ainda assim, naquele momento obscuro sua imagem foi luz, iluminando sua mente, sua alma. O fez lembrar quem ele era.

Apenas a sua memória de um momento roubado, salvou sua vida. Em silêncio ele a agradeceu. Esperava um dia ter a oportunidade de fazer isso cara a cara. O pensamento desse possível encontro afastou os últimos resquícios obscuros de sua mente.

Talvez, apenas talvez, se ele a encontrasse poderia se banhar um pouco na sua luz.

Se tivesse sorte.

Muita sorte.


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Notas finais do capítulo

Bom, aí está. Espero não ter decepcionado ninguém por esse não ser o grande encontro. Mas pelos meus planos o encontro vai ser no próximo capítulo isso se ele não ficar maior que o esperado e eu tiver que dividir ele em duas partes. Me digam o que acharam desse capítulo, curtiram a homenagem? Que outras coisas vocês desejam ver nessa história? Comentem, favoritem, sigam e recomendem essa história se estiverem gostando e se não também estou aberta a críticas construtivas. Um beijo e até o próximo capítulo... e provável grande encontro!

¹ Trecho adaptado de O Mentalista Episódio 18 "Russet Potatoes", “Em Transe” em português.



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