Além do Crepúsculo escrita por Maiah Oliveira


Capítulo 2
Capítulo 1 – Chegada


Notas iniciais do capítulo

Sinceramente eu não esperava demorar tanto para postar esse capítulo, já que meu prólogo foi bem curtinho e queria ter postado na semana seguinte, mas imprevistos na minha vida e da minha beta entraram no meio e atrapalharam a postagem desse capítulo. Próximo capítulo não sei quando vai sair, de qualquer forma podem ficar tranquilos que as postagens vão ser constantes se um pouco irregulares, mas espero conseguir regularizar as postagens o mais rapidamente possível!

Quem acompanhou a primeira versão dessa história, vai perceber que eu mudei tudo nesse primeiro capítulo, embora várias informações continuem as mesmas, estou cortando muita coisa. Night Fall existe e é uma paródia de Crepúsculo, feita pelo anime Little Witch Academia.



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Érico Veríssimo disse: ‘Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.’ Eu não sabia qual dessas pessoas eu me tornaria, a que levantava barreiras ou a que construía moinhos, eu esperava que no fim me tornasse a última.

 -§-

Bella amava clichês. Em sua opinião eles tinham uma péssima fama. Mas, se bem escritos faziam histórias fantásticas. Seu gênero favorito era fantasia. Não poderia ser diferente ela amava histórias que fugiam à sua realidade ótima, porém monótona. A ideia de uma pessoa comum viver uma realidade fantástica ou ser jogado em algo assim era bastante atraente. Livros de fantasia urbana adolescente sempre pareciam começar da mesma maneira. Garota se muda para cidade do interior e conhece garoto misterioso que tinha um segredo com certeza bem sobrenatural ou garoto novo chega a cidade e tem um segredo… você entende a ideia. Bella amava ler clichê, mas vivenciá-los não era algo tão agradável assim. E era isso o que a vida dela se tornou desde que seu pai recebeu uma promoção no trabalho.

Parecia estupidez não achar fantástica a ideia de mudar de país e viver o sonho americano sem ser barrado na fronteira ou correr qualquer risco de ser extraditado. Claro que ajudava o fato de seu pai ser um homem branco natural da Inglaterra e não outro latino. Em teoria era incrível, mas na prática era bem menos glamouroso do que parecia.

— Ei, tudo bem? — indagou seu irmão batendo levemente em seu ombro, desviando seus pensamentos para a realidade.

— Sim, sim, tudo bem. Falta muito para chegarmos?

— Pela hora... — começou olhando para o relógio. — menos de meia hora pelo menos.

Menos de meia hora... 

Tudo aconteceu tão rápido. Em um momento sua vida era perfeitamente normal e ótima, muito obrigada. Família, amigos e o conforto de sua própria rotina, mas de um instante para o outro   tudo isso foi arrancado; tudo o que ela conhecia, todos que ela conhecia de repente estariam a um oceano de distância.

Foi doloroso deixar tudo para trás. Sua família numerosa, com todos seus primos que adorava, sua amada avó, a escola que estudou a maior parte de sua vida e suas amigas queridas. Principalmente quando foi confrontada com a visão da casa em que cresceu, vazia, nua de tudo que poderia alegar como deles, quase chorou - algo que se recusou a fazer desde que recebeu a notícia.

Se fechasse os olhos, ainda poderia sentir seus dedos tocando as paredes pela última vez, respirar o aroma de alfazema que tanto ela associava com seu antigo lar, ver as antigas marcas de bola no quintal. Doía imaginar outra família morando naquela casa tão cheia de lembranças boas para ela. Essa foi a razão que a fez querer chorar mais: a despedida final de um longo e bom capítulo de sua vida. Algo que não voltaria.

Seus olhos arderam, ela respirou fundo para evitar as lágrimas. Tentando não chamar atenção para si, ela empurrou os ridículos óculos escuros no nariz. Em apenas um mês, tudo mudou e ela ainda estava lidando.

Quando recebeu a notícia que seu pai conseguiu um emprego nos Estados Unidos e que em razão disso todos iriam se mudar, a vontade de se rebelar e dizer que não iria foi grande. Era horrível abandonar o que tinham pelo desconhecido. Contudo, a esperança nos olhos de sua mãe ao ouvir a boa nova e a alegria do seu pai com a promoção a contiveram.

Como ela poderia fazer algo contra isso? Ir para Forks era o melhor para sua família em tantos sentidos, que a ideia de cogitar algo diferente disso a enchia de culpa. Mas racionalmente saber o que era melhor, não a fazia se sentir bem por deixar sua vida para trás. Não a fazia menos triste. Mas ela teria que lidar, afinal, qual era a alternativa?

 —§-

Depois que o avião pousou em Port Angeles, em pouco tempo todos estavam confinados em um carro de aluguel indo em direção à nova casa. Bella ainda estava inconformada com sua (falta de) sorte em morar em uma cidade do interior, cujo o índice pluviométrico era maior que o da vila da chuva em Naruto. Tudo cortesia de uma antiga amiga de faculdade de sua mãe que cantou louvores da cidadezinha, mas Bella conseguia ver a verdade: era tudo inconveniente.

Seus pais iam trabalhar em Seattle, o que garantiria maior tempo na estrada e custo com a gasolina para ambos. No entanto, a amiga (que devia ser da onça, para dar esse tipo de sugestão) vendeu a cidade como ‘muito econômica e pacífica’ com ‘ótimas escolas’ e os pais de Bella caíram como patinhos.

Contudo, depois das várias horas de viagem em uma máquina pressurizada, de ter que lidar com as paradas em suas conexões e levar sua mochila em todos os cantos, como uma tartaruga; sem contar com a confusão de ter de lidar com um fuso horário zoado, ela estava moída demais e pronta para chegar em sua casa. Tanto era assim, que se mostrassem a ela um barraco e dessem um colchonete ela choraria de felicidade. Diferente da maioria das pessoas, seu cansaço com certeza diminuiu um pouco do seu mau humor e alguma da sua antipatia geral para o lugar.

Quando chegaram à frente do lugar onde iriam morar em Forks, o seu novo lar, foi mais fácil encarar e apreciar a beleza da casa e todo o cuidadoso trabalho de reforma que ela sabia que havia sido feito. Sua mãe passou semanas em Forks tendo a ajuda da sua amiga, que por sorte era decoradora e arquiteta.

A casa era linda por fora e por dentro. Havia tudo o que Bella e sua mãe sempre comentavam querer, após assistir muito ‘Irmãos a Obra’ e outros programas do tipo no Discovery Home and Health. Elas sempre sonharam com o conceito aberto ou os móveis claros e planejados, contudo nunca houve dinheiro ou tempo suficiente para isso no Brasil.

Bella e sua mãe eram pessoas muito diferentes, com gostos, sonhos e metas distintas. Havia até mesmo um pouco de falta de afinidade nelas, certo distanciamento. O fato dela ter passado boa parte de sua vida mais na casa da sua avó que em sua própria não ajudava. Bella sempre admirou a mãe e o trabalho que ela exercia como essa figura distante, inalcançável e por isso mesmo inacessível. Ela nunca estaria à altura de uma super mulher como sua mãe e muito menos seria capaz de atender as expectativas dela.

Era frustrante.

Principalmente quando sua mãe parecia querer que Bella entrasse em um molde que ela não cabia. Por isso, não foi uma grande surpresa quando seus hormônios adolescentes começaram a se fazer presentes em sua puberdade, a tornando rebelde e responsiva, que seu relacionamento tenha se deteriorado.

Então, em uma madrugada insone de sábado depois de um longo dia as duas se estabeleceram no sofá, quietas, sem nenhuma briga, provocação ou a sensação de desconforto e inadequação, apenas silenciosas, assistindo um programa de reformas. Isso se repetiu por algumas semanas, até que Bella se pronunciou comentando o quão medonho era o enfeite de um dos quartos antes da reforma e sua mãe logo concordou, de repente estavam comentando o que gostavam ou não gostavam e por fim pareciam concordar mais do que discordar.

Depois disso sua mãe sugeriu assistir outros programas desse gênero, vendo vídeos no youtube ou revistas sobre o assunto, esse se tornou o único assunto que elas falavam ou discutiam que não terminava em briga. E Bella passou a só falar sobre isso com sua mãe, pois parecia ser o único assunto em que podiam concordar.

Até o dia em que ouviu escondida sua mãe falar com sua amiga arquiteta pedindo dicas de programas ou revistas, qualquer coisa diferente e interessante sobre o tema. Naquele dia, a mãe de Bella confessou para a amiga que se esse era o único tema que mãe e filha poderiam conversar então ela queria estar bem preparada.

Após ouvir aquela conversa, Bella não podia mais negar. Ela estava agindo como uma pirralha mimada, sem de fato ouvir o que sua mãe tinha a dizer e sem falar o que sentia. Naquela noite elas tiveram sua primeira conversa sincera em um longo tempo. Finalmente conseguiram dizer o que sentiam e pensavam, ainda que fosse aos trancos e barrancos, algo que felizmente não resultou em nenhuma briga.

Com rapidez Bella viu as coisas pelo que realmente eram. Sua mãe não queria que ela fosse ninguém além de si mesma, mas como elas nunca conversaram de verdade, sua mãe tinha apenas a si mesma e suas próprias experiências para se basear. E traçou um caminho que, na cabeça dela, lhe traria a mesma felicidade para Bella que havia conquistado. Depois dessas conversas, sua mãe não demorou a perceber que o caminho para a felicidade da filha era um diferente do que ela tinha trilhado.

A relação delas melhorou muito a partir desse momento. Elas continuaram conversando sobre reformas ou designers de interiores, mas apenas porque era uma rotina que ambas adoravam partilhar, mas também passaram a compartilhar pensamentos e sonhos. Tudo que antes elas calavam. Aqueles momentos que elas passaram a ter nos últimos anos planejando uma reforma que nunca aconteceria, cheios de tanta cumplicidade, Bella entesourou em sua memória com carinho.

No entanto, agora era real. Os planos e projetos se transformaram em realidade. Bella estava honestamente feliz com isso. Talvez, todas aquelas mudanças pudessem ter alguma consequência boa. Mas apenas se ela não encarnasse uma mocinha de uma novela mexicana em tempo integral.

Estava muito claro como sua mãe queria que as coisas dessem certo, que tudo fosse perfeito. Era nítido em cada detalhe daquela casa e em especial no seu próprio quarto. Na escrivaninha e na cama, nos lençóis e nas luminárias, em cada canto daquele lindo quarto. Ela tentou muito fazê-la feliz, então como podia tentar menos em ser dessa forma? Como qualquer pensamento de rebelião poderia sequer ter cruzado sua mente?

Bella não desejava menos que a felicidade para sua mãe. Olhar para aquele quarto a fez lembrar porque aceitou sem protestos ir para Forks em primeiro lugar. Sua mãe, na verdade, seus pais sempre tinham sido investidos em sua felicidade. Eles fariam de tudo por ela e seu irmão. Sacrificariam qualquer coisa. E Bella não faria menos por eles.

Lembrar como sua mãe tinha sido triste, frustrada, desesperada mesmo, no Brasil e o quanto ela se transformou ao saber da mudança, como ela estava animada e cheia de esperança; lembrar o quanto isso era importante para ela e o quanto o trabalho dela era importante, tanto para ela, quanto para um monte de gente. Era o que a fez fingir com o melhor da sua capacidade estar feliz com tudo isso.

Mas ver tudo o que sua mãe fez naquele lugar. O carinho com que ela de alguma forma transformou tudo isso em realidade, a fez lembrar também que fingir não era o suficiente. Que sua mãe não fez tudo aquilo para comprar sua aquiescência, afinal isso ela já tinha. Ela fez tudo isso porque a amava e porque sua felicidade era o mais importante para ela. E essa era a forma dela dizer isso. Depois de compreender essa verdade simples, foi fácil perceber sua estupidez. Porque fingir estar feliz não era o suficiente, nunca seria. Essa paródia de felicidade que ela criou, não era o que sua mãe desejava para ela. Ela queria a coisa real e estava tentando através desse gesto demonstrar isso.

É claro que não havia um botão que ela poderia apertar e se tornar magicamente feliz, mas a forma como ela estava fechada a tudo, apenas fingindo, tampouco ajudaria. Ela precisava deixar de fingir e tentar de verdade. Se abrir para esse novo lugar e aceitar todas as oportunidades de fazê-lo seu novo lar, aceitando tudo de bom que Forks poderia lhe proporcionar. Começando por esse quarto.

Sentando na cama e traçando com carinho o desenho do jogo de cama lilás, depois olhando para o quarto e por fim para sua mãe, abriu o maior sorriso que já deu desde que tinha recebido a notícia de sua mudança.

— É perfeito, mãe! — disse com animação real.

— Que bom que você gostou! — falou sua mãe deixando a soleira da porta e indo sentar ao seu lado.

— Gostar? Eu adorei! — disse cheia de um entusiasmo que não sentia há muito tempo — Obrigada. — terminou de forma silenciosa, ainda com um sorriso no rosto.

Sua mãe a abraçou, jogando as duas para a cama e fazendo Bella rir do movimento repentino. Olhando em seus olhos sua mãe disse cheia de sentimento, algo que a surpreendeu:

— Eu que agradeço.

Bella franziu o cenho confusa com a declaração. Talvez sua mãe agradecesse por parar de agir como alguma garota Emo ou por apreciar um pouco seu trabalho duro, ou por milhões de outras coisas que ela nem imaginava, por isso não pode deixar de indagar.

— Por quê?

— Por entender — respondeu sorrindo. Acariciando seus cabelos continuou — Você vai ser muito feliz aqui. — Parecia um pouco uma promessa, misturada com esperança.

— Espero que sim — disse com sinceridade, porque, afinal, o que mais ela poderia dizer?

Quebrando um pouco o clima, sua mãe soltou uma exclamação, aparentemente se lembrando de algo, fazendo as duas sentaram na cama de novo.

— Não sei como pude esquecer! Sabe a minha amiga que mora aqui em Forks? — Começou animada ao que Bella acenou ainda surpresa pela mudança súbita. — Ela tem cinco filhos quase da sua idade, duas são meninas, uma delas eu tenho certeza que tem a sua idade, o que significa que talvez possam estudar juntas. Acho que pode ser uma ótima ideia convidar minha amiga e suas filhas para um brunch — disse a última palavra de forma tão esnobe e convencida que fez Bella rir apesar de tudo.

— Eu não sei se é uma boa ideia mãe — disse um pouco amuada, encabulada por ser jogada em uma versão platônica de um encontro às cegas organizado por sua mãe, nem menos, para que ela encontrasse uma amiga.

— Bella, faça isso pela sua mãezinha querida do coração? — falou com um olhar de cachorro que caiu do caminhão de mudança.

— Tudo bem! — respondeu falsamente a contra gosto, revirando os olhos.

Bella viu sua mãe se levantar animada e sair do quarto, já ligando o telefone para falar com a amiga e marcar o tal brunch.

Isso vai ser tão embaraçoso! Se jogou de costas na cama já imaginando todas as formas possíveis desse encontro se tornar um dos momentos mais constrangedores de sua vida.

 

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Notas finais do capítulo

Gostaria agora de agradecer muito o feedback que recebi do prólogo! Vocês realmente são demais!!! Espero que esse capítulo tenha alcançado as expectativas de vocês sobre essa história. Gostaria de saber o que acharam desse capítulo? Tem alguma coisa que vocês sentiram falta ou que gostariam de ver? Fiquem a vontade para se manifestar!



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