Internamente Evans escrita por psc07


Capítulo 21
Capítulo Vinte


Notas iniciais do capítulo

Feliz sexta e feliz dia 18!! Boa noite, queridos leitores! Espero que não tenham me odiado pelo final do último capítulo, mas como dizia Tiririca: pior que tá não fica.

Ou será que fica?

Vou deixar vocês descobrirem em nosso ante-penúltimo capítulo! Boa leitura!



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Inspira, expira.

Inspira, expira.

Lily levou alguns minutos para conseguir controlar o choro.

Não tinha ninguém vendo, então ela podia deixar as lágrimas caírem.

Mas tinha que parar em algum momento, então ela precisava inspirar e expirar. E se controlar porque ela não podia ficar desse jeito, muito menos ser vista assim.

Quando ela parou de chorar, Lily lavou o rosto até que não mostrasse o que estivera fazendo nos últimos minutos.

Seu próximo passo foi retornar à emergência, onde James estava sentado olhando para frente, meio desolado; e Snape parecia, pela primeira vez desde que havia visto o residente, feliz.

—Eu vou tirar meu horário de descanso – Lily anunciou. James olhou para cima imediatamente – Já passam das três e passo enfermaria amanhã. 

—Claro – James replicou imediatamente – Vai lá.

Lily assentiu e se retirou imediatamente, indo para o quarto dos internos e se jogando na cama de baixo do beliche, lembrando de colocar o despertador.

Ela não podia se dar ao luxo de outra queda.

No final das contas, não foi necessário o alarme; Lily não conseguiu dormir nada. Ela agradeceu que ninguém tivesse ido para substituir Dorcas, porque isso lhe dava todo o conforto para se refazer.

Ela sabia que não era o fim do mundo, mas… ainda assim… 

Lily ficou encarando o celular, vendo os minutos passarem, e torcendo para que ainda não tivesse sido espalhado por todo o hospital. Então ela lembrou que já tinham boatos, e entendeu que ela não estava sendo paranoica, como Marlene dissera.

Honestamente, era fácil assumir exatamente sobre quem estavam falando. Lily se xingou mentalmente por não ter se tocado antes. Era óbvio que os rumores que circulavam o hospital eram sobre ela e James. Não tinha como pensar de outro modo. Seria muita coincidência ter outro casal de residente e interno ao mesmo tempo. Se ela não tivesse tão envolvida e esperançosa, talvez tivesse feito essa análise óbvia.

Ela ficou olhando para a tela do celular, mas não estava realmente vendo – a cena que Snape fizera, a expressão da técnica e da enfermeira… isso sim ela estava enxergando. Para não falar em Bertha Jorkins.

Era exatamente esse tipo de situação que Lily temia desde o início. Ter suas conquistas questionadas pelo fato de estar se relacionando com alguém. Ela sabia que estava fazendo um bom internato, e sabia que Jorkins e Snape tinham motivos próprios para querer fazê-la acreditar que não estava.

Mas ela sabia que eles não seriam os únicos a questionar isso.

Então ela precisava se preparar para as perguntas, para os olhares, para os comentários e para todo o resto.

E foi isso que ela fez pelas próximas quatro horas. Ela não saiu do conforto até depois das sete da manhã, para ter certeza de que não se encontraria com James no caminho para a enfermaria.

Ela foi diretamente ver os pacientes, deixando sua mochila e outros materiais no conforto dos internos e levando apenas o estetoscópio, oxímetro, caneta e caderno nos seus bolsos. E o celular – agora no modo avião para não se distrair. 

Ela sabia que iria se atrasar um pouco, mas também sabia que os residentes do dia (Sirius e Caradoc) não se importariam com isso. Ela ainda estava na metade dos pacientes quando Sirius se sentou ao seu lado.

—Lily – Ele cumprimentou, depositando um copo de café ao seu lado.

—Hey, Sirius. Obrigada – Ela agradeceu, pegando o copo. Ela tinha pulado o café da manhã do hospital, também sem querer arriscar se encontrar com James.

—Imaginei que fosse precisar, como um plantão noturno – Ele explicou – Foi cheio? James parecia um zumbi quando encontrei com ele. Nem me disse nada.

Lily engoliu em seco. Ela definitivamente não falaria nada disso para Sirius naquele momento.

—Foi… cansativo, eu acho. Não exatamente cheio. Teve cirurgia e tal.

Sirius assentiu, e ficou mexendo no celular enquanto Lily passava os pacientes para o computador, anotando os exames e fazendo as prescrições. Quando ela terminou, Sirius estava com Emme, e Caradoc foi em sua direção.

Ela viu todos os pacientes com Caradoc, e esperou um pouco Sirius terminar com Emme, ainda sem pegar o celular. Quando ele se aproximou, estava sorrindo um pouco.

—Você está bem cansada também, Lily. Deve ter sido um plantão e tanto. 

—Foi – Ela concordou.

—Ah! – Sirius exclamou – O pessoal da Cabeça e Pescoço avisou que o paciente do câncer de laringe… o cantor…

—Philip?

—Isso! Ele vai ser operado hoje de tarde. Achei que fosse gostar de saber.

Lily agradeceu e eles foram discutir os pacientes. Lily tentou ao máximo prestar atenção no que Sirius falava, mas os dois pareciam saber que ela não estava absorvendo nada – ele só julgava que era pelo cansaço.

Ela deixou ele acreditar que era só por isso.

Quando eles finalmente terminaram, Lily não conteve o suspiro, e Sirius riu.

—Sono? – Ele perguntou. Lily fez uma careta.

—Nada fora do normal.

—Bem o suficiente para me dar uma carona? Minha moto tá na oficina – Sirius exibiu com seu sorriso típico.

—Claro, Sirius. Eu só preciso pegar minhas coisas no conforto.

—Eu vou com você – Ele afirmou.

Os dois seguiram ainda em silêncio para o conforto. No caso, Sirius estava assobiando alguma música baixinho durante o caminho, e só parou para entrar no carro.

Lily ligou o som, mas nem se importou muito com o que estava tocando. Ela ficou satisfeita que Sirius parecia distraído com a música – ele estava usando os dedos como baquetas imaginárias e as coxas como baterias e pedira para aumentar o volume.

—Ha – Sirius exclamou de repente, com sua típica risada rouca – Eu amo essa música! James poderia ter escrito essa música pra você, Lily.

Lily se forçou a prestar atenção na letra, e percebeu pela primeira vez que tinha ido ouvindo Arctic Monkeys para o hospital.

 

Suck it and see, you never know

Sit next to me before I go

Jigsaw women with horror movie shoes

Be cruel to me 'cause I am a fool for

 

Lily engoliu em seco, se controlando enquanto o solo de guitarra preenchia o carro e sua mente. Ela expirou lentamente, esperando pelo resto enquanto Sirius imitava a guitarra com gosto.

 

Blue moon girls from once upon a Shangri-La

How I often wonder where you are

You have got that face that just says

"Baby, I was made to break your heart", oh-oh-oh

 

Lily se lembrou de James no conforto – o meio-sorriso forçado antes dele dizer que a amava e que iria respeitar sua decisão e que nada mudaria na vida acadêmica dela – e ela imediatamente deu seta e encostou o carro no posto de gasolina que estava ali.

—Que droga…? – Sirius exclamou, e se virou para Lily, que estava escondendo o rosto nas mãos, mas não conseguia disfarçar o som do choro ou os soluços – Lily o que…? Ah, merda – Sirius xingou, finalmente percebendo que havia alguma coisa de errado – O que aquele idiota fez?

Lily não respondeu – ela só continuou tentando se acalmar, repetindo o mesmo mantra da madrugada (inspira, expira, não é o fim do mundo). Depois de alguns minutos, ela conseguiu se recompor mais uma vez, mas continuou sem encarar Sirius.

—Ele não fez nada, Sirius – Ela murmurou, a voz rouca – Nada de errado, ok? Só… era… não… 

Ela sentiu a mão de Sirius em suas costas.

—Não precisa falar nada, Lily – Ele garantiu, afagando o ombro da garota – Só… se acalme, ok? Quer que eu dirija ou algo assim? Retribuir o favor daquele dia?

—Não precisa, eu estou bem – Lily afirmou, sacudindo a cabeça.

—Vai direto pra casa e eu pego um uber de lá – Sirius sugeriu, mas Lily negou novamente.

—Não precisa disso. Eu te levo. Só…

—Sim, sem referências – Ele disse. Lily limpou a garganta e ligou o carro de novo, voltando para a pista – Vou apenas… mudar o cd, tá? Não acho que Arctic Monkeys seja a melhor opção no momento…

Lily bufou, seu estado não permitindo que o humor do comentário sarcástico de Sirius elicitasse uma risada verdadeira, mas sendo exatamente o que ela precisava no momento.

***

Lily ficou agradecida por ter chegado em casa com as outras garotas ainda no quarto. Ela entrou no seu, jogando a mochila no chão de qualquer jeito e se enfiou no banho. Ela sentiu uma parte da tensão do corpo se desfazendo de seu corpo e suspirou.

Alguns bons minutos depois ela se jogou na cama, pegando o tapador de olhos e fechando a cortina. Lily conseguia sentir o efeito relaxante do banho enquanto se cobria, e a noite corrida e sem descanso cobrou da garota: ela apagou imediatamente.

Quando Lily acordou e tirou o tapador do rosto, a cortina em sua janela não mais servia para cobrir o clarão do lado de fora – ela dormira até de noite. Naqueles momentos imediatos após despertar, não houve nenhum momento de confusão – ela sabia exatamente o que tinha ocorrido, as imagens ainda gravadas em sua mente. Ela também sabia que não podia ficar trancada no quarto para sempre, mesmo que quisesse. Ela ainda passaria enfermaria no dia seguinte, então nem um fim de semana inteiro de afogar as mágoas Lily teria.

Com um suspiro, Lily se levantou e foi para a cozinha – ela não comera desde o jantar às onze da noite do dia anterior, e seu estômago já reclamava pela falta de alimento.

No caminho, contudo, encontrou Marlene, Mary e Tonks sentadas no sofá, conversando baixinho enquanto o programa que passava na televisão era ignorado. Uma pizza estava na mesa em frente ao sofá. Quando Lily entrou no campo de visão delas, as três se calaram e olharam para a ruiva como se esperassem alguma coisa.

Lily suspirou.

—Quem já falou para vocês? – Ela perguntou, fazendo Marlene se levantar e puxar Lily pro sofá. A ruiva não ofereceu nenhuma resistência e se deixou ser abraçada pelas amigas.

—Sirius mandou uma mensagem perguntando como você estava e mencionou um término, mas não disse mais nada – Marlene explicou.

Lily suspirou e jogou a cabeça para trás, se preparando para falar tudo.

E ela estivera completamente correta quando assumiu que choraria quando contasse para Marlene. Ela narrou os boatos, a suspeita com o residente de ortopedia, Bertha Jorkins no banheiro, Snape e a decisão que tomara.

Nenhuma delas falou muita coisa. Só abraçavam e faziam os sons certos nos momentos certos – e também xingaram Snape de maneira muito eloquente.

No final, Marlene suspirou.

—Ai, Lily, eu entendo seu lado, de verdade – Ela disse – Mas eu não acho que todo mundo veria desse jeito ruim.

Lily sacudiu a cabeça em negação.

—Eu realmente não sei, Marls. Mas você deveria ter visto a cara do residente de ortopedia. Ou das técnicas, quando Snape terminou de falar. Foi humilhante

Marlene fez uma careta, mas não disse mais nada; ao invés disso, pegou um pedaço da pizza e entregou a Lily.

—Você tem alguma dúvida da sua competência? – Mary questionou.

—Bem… todo mundo tem, Mary.

—Mas você concorda com Snape? – Mary insistiu – Você acha que está sendo beneficiada porque James te ama?

Lily gemeu.

—Não fala desse jeito dele, Mary…

—Que jeito? 

—Não falar que ele te ama? – Tonks perguntou – Porque tipo… isso já tava claro pra todo mundo, Lily. 

—Ugh! Mas cada vez que vocês falam isso, eu lembro que… – Lily engoliu em seco – que eu também amo ele, e uma nova onda de choro ameaça!

Mary teve a indecência de rir.

—Ai, Lily – Marlene disse – Claro que você não é favorecida por causa dos sentimentos de James. Você já se destacava antes de tudo. Todos os residentes acham que você é excelente. Você arrasou na prova de Moody. 

Lily sacudia a cabeça de novo.

—Lene, não . Eu não… podemos mudar de assunto? Eu… obviamente eu não estou feliz com isso, ok? Vocês sabem como eu me sinto, então… por favor?

As garotas concordaram imediatamente, e Lily terminou o pedaço de pizza em silêncio, fingindo prestar atenção à televisão. 

—Fora tudo isso, algo mais de interessante no plantão?

Lily deu de ombros e suspirou, se afundando mais no sofá. Tonks levantou e foi para a cozinha, voltando com um pote de sorvete e entregando para a ruiva, que sorriu e pegou a sobremesa com gosto.

Não que ela se esquecesse completamente do que acontecera, mas se afogar em sorvete e pizza com as amigas ajudava.

Lily chegou mais cedo que o habitual no dia seguinte para passar a enfermaria, querendo se adiantar e não ficar muito tempo no hospital. Ela supunha que os boatos ainda não estavam em força total, mas ela sabia que não ia demorar de se espalhar.

Ela tinha terminado tudo antes de nove da manhã, e quando Sirius entrou na sala de prescrição, ele foi diretamente para ela.

—Hey, Lily – Sirius cumprimentou, levemente hesitante – Uh, tudo bem?

Lily lhe ofereceu um pequeno sorriso.

—Estou bem, Sirius, obrigada – Ela conseguiu falar. Sirius franziu a testa – Claro que não estou, mas bem o suficiente para fazer minhas coisas e fingir para terceiros que estou bem de verdade.

Sirius suspirou e fez uma careta.

—Não vai ajudar se você ficar me encarando desse jeito, Black – Lily acrescentou, estreitando os olhos para o residente – Pena vai me fazer lembrar da bagunça que estou por dentro, então…

—Não é pena, é preocupação, ruivinha – Sirius replicou, tocando a ponta do nariz dela com o indicador – Se te faz sentir melhor, James está uma bagunça por dentro e por fora…

—Não faz.

—E ele não está com raiva nem nada disso. Se te faz sentir melhor.

Lily escondeu o rosto nas mãos com um grunhido, e depois encarou Sirius depois de lhe dar um tapa no cocuruto.

Não, claro que não, seu panaca! Se ele estivesse com raiva seria melhor porque eu me sentiria menos culpada!

Sirius soltou uma risada e sacudiu a cabeça em negação.

—Eu não vou me meter nisso, Lily, mas… você teve seus motivos. E são válidos, mesmo que eu não… não importa o que eu acho na verdade. Eu só… você é uma excelente amiga, Evans, e eu só queria ter certeza que… 

Lily deu o primeiro sorriso verdadeiro desde o plantão de sexta-feira.

—Claro que o que aconteceu não vai atrapalhar nossa amizade, Sirius. Pelo menos não para mim. Eu entendo completamente se você e Remus não quiserem conviver comigo porque…

—Nah, você é mais agradável de se olhar do que James – Sirius respondeu, sorrindo de volta.

—Obrigada – Lily replicou e Sirius tocou o ombro dela com o seu – Como oferta de paz, me diz como foi a cirurgia de Philip.

—Ah, eles conseguiram remover tudo, mas foi uma cirurgia maior o que o esperado. Ele foi pra UTI. A DPOC e a hipertensão também pesaram. Se quiser – Sirius disse, mexendo no computador e abrindo o sistema – procura o nome e sobrenome aqui e acompanha a evolução dele na UTI.

Lily sorriu em agradecimento, e passou os pacientes para Sirius. Como planejado, ela conseguiu sair mais cedo e foi diretamente pra casa, onde Marlene, Mary e Tonks lhe esperava para fazer a faxina geral do mês.

Elas colocaram música alta e se jogaram no trabalho braçal, o que funcionou bem para Lily esquecer um pouco da vontade de se enrolar no sofá e tomar o resto do sorvete. Elas fizeram uma pausa rápida para almoçarem sanduíches e logo voltaram à limpeza pesada.

Só terminaram tudo perto das quatro da tarde, e cada uma foi para seu quarto tomar banho. Tonks demorou um pouco mais porque iria sair com Remus, então quando Lily voltou para a sala agora brilhando, só Marlene e Mary estavam lá, espalhadas no sofá e esperando Lily para darem play em Lucifer – elas tinham combinado de ver o seriado juntas.

Lily odiava ficar se sentindo assim. E daí que ela terminara o namoro? Tinham coisas piores no mundo, certo? Claro que era triste, mas não havia motivo para ela ficar se escondendo e enfiada em casa.

Não significa, claro, que ela iria começar a cantar e dançar naquele momento.

Ela chegou a essa realização mais ou menos na mesma hora que a campainha anunciou a chegada de Remus. Marlene foi atender a porta após um pedido gritado por Tonks do quarto. Remus acenou e ocupou um lugar ao lado de Lily.

—Hey – Ele disse em seu tom calmo de sempre, tocando levemente com o ombro no de Lily.

—Remy, oi – Ela replicou.

—Er… como você está? – Remus perguntou, fazendo uma careta logo depois de falar. Lily lhe ofereceu um pequeno sorriso.

—Você já sabe o que aconteceu. 

—Sim, eu sei. Por isso quero saber como você está – Ele insistiu – Não me esqueço de quem estava presente pra me ajudar, sabe.

O sorrisinho de Lily aumentou levemente.

—Eu comi metade de uma pizza e metade de um pote de sorvete sozinha – Ela informou. Remus franziu o cenho.

—Isso deveria significar alguma coisa? Parece apenas Peter num sábado à noite.

Lily riu e revirou os olhos.

—Vou ficar ótima. Eventualmente – Ela garantiu com um aceno, quando ouviu Tonks saindo do quarto – Obrigada pela preocupação, Remus.

Ele assentiu e a abraçou.

—Estou com Marlene de interna. Se quiser, eu posso fazer vocês trocarem de paciente – Remus ofereceu, se levantando. Lily fez uma careta.

—Tentador, mas não, obrigada. Não quero mais deixar relações interpessoais interferirem no meu internato. Até paciente de Snape eu enfrento agora. Além do mais, nós já criamos vínculo com os nossos pacientes. Não justifica mudar.

—Isso é extremamente maduro e ético de sua parte – Remus comentou com um sorriso – Mas a questão com Snape está fora de cogitação depois daquele espetáculo na enfermaria.

Lily se remexeu no sofá, e sentiu Mary fazer o mesmo.

—Eu sou capaz de manter um relacionamento profissional com James – Lily afirmou.

—É só você não olhar pra ele, tudo certo – Marlene acrescentou sorrindo, voltando da cozinha com duas grandes bacias de pipoca. Lily semicerrou os olhos para ela.

—Eu nem vou responder isso. Obrigada, Remy – Lily disse mais uma vez. O residente sorriu de volta e se levantou, para cumprimentar Tonks segurando as mãos da garota e depositando um beijo.

—Qualquer coisa que precisar pode falar comigo – Ele falou antes de se despedir e sair com Tonks.

Fez-se um pequeno silêncio, em que Mary não deu play na televisão e ficou observando Lily.

—Então você não contou a James ou aos meninos exatamente o que aconteceu na sexta-feira? – Mary questionou – Algo me diz que Remus teria mencionado Snape de outro jeito se soubesse.

Lily suspirou.

—E algo me diz que James e Sirius teriam se irritado com Snape – Lily justificou – Mais do que da vez passada. Eu não quero mais drama nem nada do tipo. E definitivamente não quero falar pra James sobre a ex dele – Ela franziu o nariz – A outra ex dele.

Marlene soltou uma pequena risada.

—Desculpe, Lily, foi o jeito que você falou. De qualquer sorte, que bom que você pretende manter um relacionamento civil com James ao invés de ignorá-lo completamente – Marlene comentou – Fica mais fácil pra vocês reatarem depois que acabar o rodízio.

Lily ergueu as sobrancelhas.

—Como é?

—Vocês vão reatar depois do rodízio, eu sinto isso – Marlene repetiu. Mary parecia estar considerando a ideia.

—Você sente muitas coisas, Lene, mas ainda não vi todas se tornaram verdade – Lily retrucou.

—Lily. Eu te amo. Mas eu vou te agredir se você for teimosa e burra.

—Quando acabar o rodízio, ainda estaremos no St. Mungo’s, Lene. Não muda muita coisa – Lily justificou.

—Muda sim. Mas não vou falar com você sobre isso agora. Agora vamos babar um pouco em Tom Ellis enquanto Mary finge que não está mandando mensagem pra Bertram.

Mary nem se dignou a reclamar; ela apenas deu de ombros e, depois de dar play, pegou o celular. Lily tentou não pensar muito no que Marlene falara, porque pensar nisso lhe daria muitas esperanças, e isso era algo que ela não podia se dar ao luxo de ter se quisesse manter um relacionamento profissional com James.

E esse definitivamente era o foco dela.

Lily ficou repetindo em sua mente tudo que falara com Remus sobre como iria se relacionar com James dali em diante. Educada, mas não muito. Marlene dissera brincando, mas olhar menos para ele seria uma boa ideia. Definitivamente ficar mais afastada seria bom também.

Na segunda-feira, Marlene percebeu um pouco da tensão de Lily, então não falou nada sobre o encontro que ambas sabiam ser o responsável pelo estado da ruiva.

Lily não perdeu tempo na sala de prescrição, e foi imediatamente ver seus pacientes. Eles pelo menos não ficariam sabendo, certo? Será que a fofoca e os boatos chegavam nos pacientes também?

Se chegassem, Lily nem sabia o que faria. 

No momento, ela apenas focaria em seus pacientes, que eram o motivo dela estar ali. O paciente que ela dividia com James estava com programação de alta hoje, e Lily avaliou que ele realmente já tinha condição de ir para casa. O segundo paciente seria operado pela tarde por Sirius, então era mais rápido.

Assim que sentou no computador, Lily fez algo que há muito não fazia: colocou os fones de ouvido com uma música alta enquanto passava os dados dos pacientes para o sistema e fazia as evoluções, prescrições e a alta. Quando terminou, olhou rapidamente ao redor, e como não tinha nenhum interno esperando pelo computador, aproveitou para checar os dados de Philip.

Ele não tinha exatamente melhorado, mas tampouco piorara. Ainda não estava respirando sozinho – a ventilação mecânica estava acoplada à traqueostomia, e ele ainda estava completamente sedado. O leucograma tinha aumentado, mas ela sabia que depois de uma cirurgia grande isso poderia acontecer sem significar uma infecção de fato.

Lily lia a evolução da UTI com o cenho franzido – ela ainda não passara por essa ala, então tinham vários termos que ela não entendia. Resolveu imprimir para estudar em casa, mas antes que selecionasse a impressora, uma mão em seu ombro lhe distraiu.

—Vamos? – Sirius chamava. Lily assentiu, e fechou o sistema. Ela poderia imprimir depois. Seguiu Sirius para outro canto da sala com um sorriso, dizendo que estava tudo certo com o paciente para a cirurgia.

Lily focava seu olhar para os papéis que mostrava para Sirius, e o residente não comentou nada sobre o assunto. Ele corrigiu um item na prescrição, e Lily anotou para não esquecer.

—Bem… é só isso, então – Sirius disse, olhando atentamente para Lily – Quem é seu outro residente?

Lily olhou para Sirius com uma sobrancelha erguida, e ele mordeu um sorriso.

—Ele está ali – Sirius falou, e Lily inspirou profundamente antes de olhar para onde James instruía Emmeline – Já está terminando.

—Obrigada, Sirius.

Ela recolocou os fones de ouvido, e às vezes levantava o olhar para a direção de James, aguardando ele finalizar com Emme. 

Quando ela olhou cinco minutos depois, ele lhe encarou de volta, e Lily foi na direção dos dois.

—Lily – Ele cumprimentou com um leve aceno.

—Dr. Potter. Emme, como foi o seu resto de domingo? – Lily perguntou. Emme revirou os olhos.

—Você fez a coisa certa vindo mais cedo pra sair mais cedo, só digo isso. Teve uma batida aqui perto, e fiquei quase uma hora presa aqui sem conseguir sair – Emme falou e depois sorriu – E você?

—Nada demais, eu e as meninas fizemos faxina e depois maratonamos Lucifer – Lily replicou o sorriso – Sempre bom achar um tempo pra ver, com essa rotina doida fica impossível ver alguma coisa com nós três.

—Entendo – Emme concordou ainda sorrindo, e depois ergueu as sobrancelhas, levantando para dar lugar a Lily – E o namorado misterioso? Não quis ser incluído na maratona? 

Lily sentiu o sorriso desmanchando e engoliu em seco, fazendo um esforço hercúleo para não olhar para James. A expressão de Emmeline também mudou imediatamente.

—Oh, droga. Desculpe. Er… eu já vou – Emme falou, pegando seu material e saindo com uma careta.

Lily sentou na cadeira, colocou os papeis na mesa e tirou os fones. Inspirou profundamente mais uma vez, e finalmente olhou para James.

Ela não sabia muito bem o motivo, mas esperava que algo estivesse diferente em James. A ideia de não olhar muito para ele foi por água abaixo enquanto ela analisava o garoto, e percebeu que estivera certa.

Os óculos eram os mesmos e a cor dos olhos também, mas lhe faltava o que chamara a atenção de Lily desde que ela lhe pedira ajuda com as escalas lá no primeiro dia: o brilho e a felicidade que emanavam e contagiavam definitivamente não estavam mais lá.

Para ser justa, Lily podia apostar que ela estava em um estado similar.

—Oi – Ele disse finalmente. 

—Oi. Uh… 

—Papéis de alta? – James exclamou, olhando para os documentos nas mãos de Lily – Muito bom. Então ele conseguiu comer bem?

—Sábado mesmo evoluímos para pastosa, e ontem para sólida. Já defecou, já está com fome de novo. Sem febre, laboratoriais todos normais – Ela disse voltando o olhar para os papéis que continham as informações que ela falava.

—Respiratório normal também?

—Pulmão limpo, sem dispneia. Tá melhor que eu – Lily brincou, e logo sentiu o rosto corando. Idiota, idiota, idiota! Mas James soltara uma risadinha – Pronto pra ir pra casa.

—Já fez a receita? – Ele perguntou, ignorando a reação da garota.

—Sim – Lily pegou a receita do fundo, junto com outro papel – Eu, hum, tomei a liberdade de fazer um outro relatório com orientações, menos oficiais, porque ele não pareceu entender muito bem algumas coisas que a gente falava. Tem termos mais, digamos, populares.

James pegou o papel que Lily oferecia, e sorriu levemente, para depois olhar para ela.

—Está ótimo, Lily. Isso aqui é excelente. Você percebeu uma possível dificuldade para o paciente e agiu preventivamente. Isso é ser uma boa médica, e não apenas técnica. Tudo em ordem, pelo que vi. Depois da visita você pode dar alta para ele? – James pediu, carimbando e assinando tudo.

Lily assentiu, o rosto corando. James sorriu um pouco mais e se levantou, indo em direção a Remus. Lily mordeu o lábio, observando James tão atentamente que não percebeu Marlene se aproximando até que a amiga tivesse se jogado na cadeira.

—E aí? Foi terrível? – Marlene perguntou.

Lily fez uma careta.

—Sim. Eu fiz uma piada idiota, ele riu de pena, e depois me encheu de elogios e não soube onde enfiar minha cara.

Marlene riu e ergueu uma sobrancelha.

—Pergunta a ele onde você pode enfiar sua cara. Aposto que ele tem uma boa sugestão.

Lily apenas sacudiu a cabeça em negação.

—Vocês conseguiram interagir, não houve gritos nem choro. Eu acho que foi um sucesso – Marlene continuou – Você não esperava realmente que seria igual a antes, né? Então, eu acho que…

Lily, contudo, se distraiu de Marlene ao olhar para a porta abrindo, esperando ser Dra. McGonagall, mas era Snape. Quando ele viu Lily, olhou imediatamente para James, e ao percebê-lo sem fazer piadas ou ser James, abriu um sorriso de escárnio.

Ela era de modo geral contra violência, mas Snape despertava o pior nela.

Dra. McGonagall não demorou muito, tampouco Dr. Weasley. Sobre o paciente que dividia com Sirius, Lily apenas precisara dizer que ele estava pronto para a cirurgia. Quando chegou a hora de falar do outro paciente, ela se demorou um pouco mais, e James insistiu para Lily mostrar as orientações mais acessíveis. Dra. McGonagall sorriu, aparentemente satisfeita, e Lily sentiu o sangue no rosto mais uma vez.

Isso serviu pelo menos para apagar o sorriso de Snape.

Ao sair do hospital, Lily suspirou aliviada – ninguém comentara nada com ela, ela não recebera olhares estranhos, e nenhum boato chegou aos seus ouvidos.

O alívio acabou antes das sete da manhã do dia seguinte.

Lily estava terminando a admissão de um paciente quando Emmeline chegou. Lily supôs que ela fosse querer se desculpar pelo dia anterior.

Ela estava errada.

—Oi, Emme – Lily cumprimentou com um sorriso. O sorriso de resposta de Emmeline não foi exatamente um sorriso; estava mais próximo de uma careta – Aconteceu alguma coisa?

A careta só piorou.

—Eu estava de plantão ontem de tarde – Emmeline começou – E eu… bem, eu ouvi um boato…

Lily gelou.

—Um boato? – Lily perguntou, engolindo em seco.

—Bem… sim… disseram que você estava namorando com Dr. Potter. No caso, James – Emmeline falou rapidamente – E eu sei que é loucura porque você está com um namorado, o que deixou os cookies… – Emme foi se calando à medida que Lily foi ficando mais pálida – Ai meu Deus, Lily, James deixou os cookies.

Lily pediu silêncio para Emmeline, olhando ao redor. Ainda estavam sozinhas na sala de prescrição.

—Então…?

—Sim, Emme, mas por motivos óbvios eu não quis falar pra ninguém – Lily sussurrou – O que estão falando?

—Bem… eu só ouvi isso mesmo, Lily. Que James estava namorando com a interna ruiva.

—Falaram sobre como esse boato começou? – Lily ainda estava curiosa sobre isso, mas Emmeline deu de ombros.

—Não, só que vocês estavam juntos.

Lily suspirou e escondeu o rosto nas mãos.

—Isso significa que vocês não estão mais juntos? – Emme perguntou suavemente. Lily assentiu – É uma pena… não apenas porque vocês formam um belo casal e porque… bem, me desculpe, mas… James é algo a mais— Lily não conseguiu não sorrir – Mas você estava tão feliz, Lily.

Lily engoliu em seco.

—Não é exatamente ético, e coloca nós dois numa posição extremamente difícil. Não deveríamos ter nos relacionado em momento nenhum.

Emme fez uma careta.

—Entendo seu lado. Bem, se precisar de alguma ajuda… – Emme ofereceu com um sorriso. Lily agradeceu e se virou para o computador para esconder sua expressão de pânico.

—Emme! – Lily chamou, e a colega parou na porta – Se você ouvir mais alguma coisa, pode me falar por favor?

Emmeline confirmou e continuou para fora da sala de prescrição.

Lily colocou seu fone mais uma vez e se concentrou na música e no computador. Dessa vez ela resolveu imprimir a evolução de Philip para não ocupar um computador à toa, e ficou num canto com o fone até Sirius ir em sua direção.

—Lily, bom dia – Lily olhou para ele, e pela careta de Sirius ela percebeu que ele já sabia que os boatos já tinham tomado maiores proporções. 

—Nenhuma palavra que não seja relacionada a medicina – Lily alertou. Sirius assentiu e sentou ao lado dela.

E a mente de Lily focou completamente na medicina naquela manhã – e naquela tarde também. Primeiro ela pegou os casos de seus pacientes e pesquisou à fundo. Em seguida, foi estudar o próximo assunto da lista para a prova de residência.

Quando finalizou, Lily foi rapidamente na cozinha e preparou um sanduíche e um copo de leite com achocolatado, levando ambos para o quarto – coisa que ela não tinha o hábito de fazer – para ela ler um pouco mais sobre Philip e seu caso.

Seus pacientes, a prova de residência, seu fone de ouvido com Spotify no celular e o caso de Philip foram as distrações de Lily até o final daquela semana.

Quando ela não estava no hospital – ocupada ouvindo discussão de caso, examinando algum paciente ou em cirurgia – seu computador estava com algum livro ou artigo aberto, questões de provas ao seu lado enquanto ela estudava.

Ela estava evitando basicamente todas as pessoas no hospital, com exceção de Sirius e Remus. A nova admissão tinha ficado com Frank, então não dava para lhe ignorar, mas isso significava pelo menos que ela não teria que dividir mais o paciente com James (por enquanto).

Ela sentia os olhares nela, e sabia que se tirasse o fone de ouvido provavelmente conseguiria ouvir os comentários mal sussurrados sobre seu relacionamento – bem, ex—relacionamento. Se ela olhasse ao redor, conseguiria ver o sorriso de Snape. Ela supôs que se andasse, digamos, mais para perto da enfermaria de ginecologia, talvez conseguisse ver outra pessoa sorrindo. Ela ainda conseguia ver Emmeline conversando com Marlene às vezes, provavelmente passando algum novo boato.

Por isso, Lily fazia questão de sempre estar ocupada no hospital, e Philip estava até ajudando. Ela pedia ajuda a Remus ou Sirius a entender o prontuário dele, mas isso não a deixava mais feliz. A evolução dele não estava muito boa; já tinham trocado o antibiótico duas vezes, acrescentado um antifúngico e ele não estava saindo da ventilação mecânica.

Na sexta-feira pela manhã, Lily estava ansiosa para ver como estava a evolução de Philip. Ela queria chegar mais cedo no hospital para conferir, e quem sabe não dar uma passada na UTI? Ela sabia que a sedação impediria que ele se lembrasse, mas ainda assim queria ir lá.

O dia começou a dar errado quando Marlene acordou atrasada. Ela disse para Lily seguir e que ela pegaria um uber, mas Lily preferiu esperar a amiga e apostar no potencial de Marlene de se arrumar em poucos segundos enquanto Lily preparava um sanduíche para ela.

Quando elas chegaram na enfermaria em cima da hora, mas não exatamente atrasada, Lily foi diretamente ver os pacientes (até eles perguntaram porque Lily estava passando mais tarde), e correu para a sala de prescrição. Claro que todos os computadores estavam sendo usados.

—Não abriu a enfermaria hoje? – Sirius perguntou brincando. Lily tirou o fone e olhou para ele, separando as anotações do paciente dele.

—Marlene brigou com o despertador – Lily respondeu com um pequeno sorriso de volta. Sirius riu, e depois fez uma careta.

—James está te procurando – Ele anunciou – Ele me pediu pra lhe passar o recado de que precisa falar com você.

Lily ergueu as sobrancelhas e engoliu em seco.

—Bem, diga a ele que estou ocupada porque cheguei mais tarde – Lily replicou.

—Parecia importante – Sirius argumentou.

—Ele tem meu número. Eu não mudei nem nada do tipo.

—Eu acho que é o tipo de coisa que é melhor ser dita pessoalmente, entende?

Lily semicerrou os olhos.

—Não é bom para nenhum de nós dois sermos vistos juntos, Sirius. Você sabe disso.

—Ele também – Sirius insistiu – E ainda assim ele está te procurando.

Lily suspirou mas não respondeu porque um computador ficou livre. Ela se sentou rapidamente e recolocou os fones de ouvido, fazendo uma cara de “sinto muito”. Sirius sacudiu a cabeça em negação, mas não podia fazer nada – ela realmente precisava evoluir os pacientes.

Lily soube exatamente o momento que James entrou na sala de prescrição porque sentiu os olhos dele nela imediatamente. Ela, contudo, fingiu que não tinha percebido, e continuou seu trabalho no computador.

Dra. McGonagall chegou pouco depois, deixando Lily sem sequer um segundo entre sair do computador e ir para a visita – também ficou sem tempo de ver novidades sobre Philip, mas ela faria isso assim que terminasse.

James estava sentado no canto oposto a ela, facilitando que ele a visse. Lily ficou olhando para Dra. McGonagall o tempo todo, mesmo que isso resultasse em uma certa dor no pescoço. Ao fim da visita, a preceptora chamou os internos para visitar um paciente que tinha um achado interessante no exame físico, e que concordara em permitir que os alunos o visitassem em maior quantidade.

Nenhum residente os acompanhou.

Quando eles voltaram para a sala de prescrição, estava quase vazia. 

—Evans? – Dra. McGonagall chamou antes de Lily guardar seu material novamente.

—Oi, Dra. Alguma coisa?

—Eu sei que você já terminou tudo, e precisava entregar isso aqui para Longbottom. Ele está na emergência. Já que é caminho, você se importaria de entregar? Eu tenho uma reunião agora – A preceptora pediu. Lily teria feito de qualquer jeito, mas ficou ainda mais tentada quando percebeu sua desculpa perfeita para ficar longe de James.

Não que ela estivesse evitando ele, nada disso.

Ela só sabia que não era bom para nenhum dos dois serem vistos juntos.

Lily avisou a Marlene – que ainda iria discutir com Caradoc – o que faria e que esperaria por ela na emergência. A ruiva desceu as escadas já com seu material, com a sacola para Frank em mãos. Ela não teve que procurar muito pelo residente; ele estava perto dos computadores, digitando alguma coisa.

—Oh, Lily – Ele cumprimentou – Ah, obrigado! – Ele agradeceu quando Lily entregou a sacola.

—Tem alguém nesse computador? – Ela perguntou, apontando para a tela ao lado dele. Frank negou e Lily sentou rapidamente para finalmente ver a evolução de Philip.

Mas quando ela pesquisou pelo nome no sistema, não achou.

Hum. Estranho.

Ela tentou de novo, com cuidado para não ter nenhum erro de digitação.

Nada.

—Hey, Frank – Ela chamou. 

—Oi? – Ele respondeu enquanto olhava atentamente para o computador.

—Sirius me ensinou a procurar pacientes em outras alas no sistema, mas eu nao estou achando. O que pode ser?

—Bem, se não tá indo pelo nome ele deve ter tido alta – Frank disse ainda sem olhar para a tela – Ou isso ou foi a óbito e saiu do sistema. Você pode ver o prontuário completo pelo número de internamento.

—Óbito? – Lily repetiu, sentindo uma angústia no peito. Não, não, não.

Frank finalmente desviou o olhar para a garota, e percebeu que ela estava longe de estar bem.

—Ele estava estável na evolução de ontem da UTI! – Lily exclamou. Frank fez uma careta.

—Merda. Lily…

Mas ele não chegou a falar mais nada; Frank olhou para cima e fez Lily desviar o olhar também. James acabara de chegar, sua respiração dizendo claramente que ele viera correndo. Quando ele olhou para Lily, rapidamente deu a volta no balcão enquanto xingava.

—Ele… ele morreu? – Lily balbuciou. James suspirou e a puxou pela mão, levando a garota para um local escondido na emergência.

—Lily…

—Como… ele estava estável ontem, não estava? – Ela perguntou imediatamente. James soltou a mão dela e enfiou as suas nos bolsos do jaleco, sem conseguir olhar para Lily nos olhos.

—Pela manhã, sim. Parecia que ele ia conseguir sair. Mas… de tarde ele começou a ter piora ventilatória, deu um lactato absurdo na gasometria, a infecção piorou muito, e a gente não conseguia achar um foco. Mas já estava com antibioticoterapia pesada, cobrindo germes multirresistentes, a hemocultura não ajudava…

Lily engoliu em seco.

—Ainda de tarde entraram com droga vasoativa, mas quando a mulher dele foi visitá-lo, conversaram com ela sobre tudo e ela disse para deixá-lo confortável. Hoje de madrugada ele faleceu – James disse, depois exalou pesadamente – Sinto muito mesmo, Lily. Eu sei o quanto você… se apegou a Philip. Eu também fiquei muito triste por saber.

James finalmente olhou para o rosto de Lily e xingou de novo, tirando as mãos do jaleco e a puxando para um abraço.

Mesmo que ela tivesse conseguido pensar com clareza, ela não teria se afastado de James. Não só porque ela conseguia esconder suas lágrimas no jaleco dele; mas ouvir o coração dele batendo tão aceleradamente e a respiração regular lhe acalmavam. O calor dos braços dele lhe enchiam de conforto, e por nenhum boato ela negaria algo tão necessário no momento.

Eles não ficaram por muito tempo ali – James tinha sussurrado seus sentimentos por menos de cinco minutos quando Lily conseguiu se controlar e se afastar, limpando os olhos.

Ela limpou a garganta.

—Era por isso que você estava me procurando? – Ela perguntou com a voz rouca. James assentiu e passou uma mão pelos cabelos. Como ela sentira falta desse hábito!

—Sim. Eu achei que você não devesse saber disso pelo celular ou pelo computador. Mas não consegui.

—Não – Lily disse, sacudindo a cabeça – Eu… eu que estava… bem, você com certeza sabe.

—O quê? Está falando sobre o fato de que você tomou todas as medidas possíveis para ficar a pelo menos cinco metros de distância de mim? – James perguntou, numa voz de fingida inocência. Lily soltou um riso choroso.

—Não seja exagerado. Eram dois metros.

—Ah, desculpe – Ele pediu, rindo. Lily mordeu o lábio inferior.

—Os boatos já ganharam muita força, James – Ela disse.

—Eu sei. Por isso mesmo estou mantendo a distância. Mas eles são piores justamente por isso.

—Por quê?

—Porque você está me evitando como o diabo foge da cruz – Ele replicou. Lily suspirou.

—Eu… talvez você esteja certo.

—Talvez. Mas… sem pressão alguma, Lily. Sério.

Ela deu um leve sorriso.

—Talvez o melhor seja sermos apenas o que somos… residente e interna. Sem fugir, mas sem…

—O mundo poderia ter caído, mas eu nunca deixaria de tentar lhe ajudar num momento como esse, Lily.

Ela sabia.

Era por isso que era tão difícil.

—Obrigada. – Ela disse, com a voz rouca – Eu, hum, te vejo segunda?

—Segunda – Ele concordou, ajeitando os óculos e colocando as mãos nos bolsos de novo.

Lily limpou a garganta e se afastou.

—James… obrigada.

James sorriu levemente, mas sua resposta foi interrompida por uma voz conhecida (e que trazia péssimas memórias a Lily).

—Ah, então os boatos são verdadeiros! 

Lily soltou uma risada. Que cínica.

—Eu tenho que ir. Marlene está me esperando. Se você se encontrar com a mulher de Philip transmite minhas condolências, James, por favor – Ela pediu e começou a sair – Dra. Jorkins, boa tarde.


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