Internamente Evans escrita por psc07


Capítulo 19
Capítulo Dezoito


Notas iniciais do capítulo

Boa noite e boa sexta-feira a todo mundo!!!!!! Estou bem animada com as postagens semanais, e espero que vocês também!

Curtam, comentem e aproveitem!!! Obrigada por continuarem a ler Internamente Evans!



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O único pensamento que Lily conseguiu organizar foi “ainda bem que não tem ninguém aqui” antes de fechar os olhos e inspirou profundamente.

—Hm… quê? – Remus perguntou. Lily não se mexeu, e Marlene a segurou pelos ombros, sacudindo levemente.

—Eu já lhe disse que–

—Lene! – Lily finalmente interrompeu. Remus estava olhando para ela curiosamente.

Do outro lado da sala, Sirius e James também olhavam para a garota.

—Do que Marlene está falando, Evans? – Sirius perguntou. Ah, maravilha. Tinha sido alto o suficiente. Ele e James agora se aproximavam, o último com as sobrancelhas erguidas.

—Não faço a menor ideia – Lily replicou ao mesmo tempo que Marlene começava a explicar:

Toda vez que Lily transa com alguém novo ela fica com infecção urinária, porque ela fica emocionada e quer ficar na cama fazendo chamego e tal – Lene disse – E ela acabou de pegar uma receita de fosfomicina com Remus. A porta do quarto dela estava trancada na madrugada do bar. Ela estava com um excelente humor ontem. James está com um baita dum chupão e convenientemente deu carona a Lily depois do bar. Como eu demorei tanto pra desconfiar?!

Lily suspirou, sentindo os quatro olhando para ela.

—Você tinha que ser observadora agora, Marlene? – Lily retrucou, fazendo a amiga rir e bater palmas.

—Ah, isso é adorável! James, você poderia ao menos ter dado bom dia! – Marlene ralhou. James sorriu de leve.

—Você estava dormindo – Foi o que ele respondeu, antes de pegar a mão de Lily – Tudo bem?

—Sim, eu já tô acostumada… – Ela respondeu com um pequeno sorriso, que ele imitou enquanto se olhavam nos olhos.

—E deveria estar acostumada a fazer xixi depois de transar também! – Marlene exclamou. Lily revirou os olhos e encarou a amiga, mas James sorriu mais.

—Próxima vez eu chuto ela pra fora da cama e só deixo voltar depois de ouvir a descarga – Ele replicou com um brilho nos olhos que Lily não tinha certeza se era só brincadeira.

—Wow, espera aí – Sirius falou, erguendo a mão – “próxima vez”? Então isso é algo… regular?

Lily sentiu as bochechas esquentando, mas com uma mão impediu James de abraçá-la como ela sabia que o garoto queria fazer. O sorriso dele gritava isso. Ele tomou a mão dela mais uma vez.

—Uh… – Ele disse, aparentemente incerto.

—Lily Evans! – Sirius exclamou – Ele é um residente!

—Ugh, cala a boca – Lily ordenou com um grunhido – Eu não vou falar sobre isso aqui.

—Tudo bem – Marlene aceitou – Todo mundo lá pra casa hoje de noite. Eu faço lasanha, vocês levam doces.

Lily apenas sacudiu a cabeça em negação, retrucando algo sobre “invasão de privacidade” que fez James rir. Ela olhou para o garoto de novo.

—Em minha defesa, se você não tivesse deixado marcas em mim, Marlene nunca teria adivinhado – Ele disse. Lily revirou os olhos e tirou a mão dele, coçando o rosto que se avermelhava novamente.

—Não foi de propósito – Ela murmurou. James soltou uma risada rouca muito parecida com a que ela ouvira na madrugada em questão, e Lily olhou para ele com um esticar de lábios relutante.

—Eu não estou reclamando – James esclareceu rapidamente – Fique à vontade.

Lily soltou uma risada e socou o ombro de James levemente.

—Se você tivesse pedido a receita para mim, Marlene provavelmente não teria visto – Ele acrescentou, a diversão no seu rosto diminuindo levemente. Será que ele ficara chateado por causa disso? Talvez ela realmente devesse ter pedido para ele. Mas…

—Eu sei – Ela concordou – É só que… eu… seria um pouco… estranho para mim. Você estava com Sirius. E Remus estava sozinho na hora.

James meneou a cabeça.

—Hm. 

—Próxima vez eu finjo que você esqueceu de carimbar uma prescrição e forjo sua assinatura – Lily continuou. James sacudiu a cabeça.

—Esquecendo por um momento o crime de falsidade ideológica presente, não vai ter próxima vez – Ele esclareceu, fazendo Lily erguer as sobrancelhas – Você não ouviu? Eu te expulso da cama até você fazer xixi.

Lily mordeu o lábio inferior para diminuir o sorriso.

—Eu acho que consigo lhe distrair nessa situação – Lily argumentou. James soltou uma risada e passou uma mão pelo cabelo.

—Eu me esforçarei pelo seu bem-estar.

Lily estava com a resposta na ponta da língua (bem espirituosa, inclusive), mas foi interrompida quando alguém limpou a garganta. 

Ela e James haviam se esquecido que não estavam sozinhos na sala, e Sirius, Remus e Marlene observavam a cena com expressões extremamente entretidas.

Lily sentiu o rosto corando quando viu que Sirius parecia ter sido o ganhador da loteria.

—Nenhuma palavra! – Ela ordenou para Sirius. O garoto, ainda sorrindo absurdamente, fingiu trancar a boca e jogar a chave por trás do ombro.

—Ele vai se comportar – James garantiu.

Marlene chamou Lily para irem para casa; ela estava com uma expressão mais contida no rosto, mas Lily a conhecia o suficiente para saber que aquilo era apenas fingimento e que por dentro a amiga estava querendo imitar Sirius.

Sendo sincera, Lily estava se sentindo de uma forma muito similar.

Ela pegou a mochila e tirou o jaleco, evitando encontrar o olhar de qualquer um deles. Ela sabia que era besteira, que eles eram seus amigos, mas ela não estava pronta para… bem, admitir tudo para qualquer outra pessoa que não James.

—Então… umas seis da noite a gente passa lá? – James perguntou, fazendo Lily olhar para ele novamente.

—Pode ser – Ela confirmou. James sorriu de novo.

—Não se preocupe, não vai ser o segundo encontro – Ele sussurrou de modo que só Lily escutasse. Ela revirou os olhos.

—Eu escuto muito sobre isso, mas aguardo algo concreto…

James riu e sacudiu a cabeça, mas Lily se afastou antes que ele fizesse alguma loucura como beijá-la, e arrastou Marlene para irem embora.

A amiga estava estranhamente calada – talvez respeitando a vontade de Lily de não falar nada sobre o assunto ainda no hospital.

Mas Marlene também não perguntou nada enquanto Lily dirigia, e permaneceu quieta enquanto almoçavam com Mary.

A única coisa que ela falou foi um aviso sobre a ida dos meninos pela noite. Lily encarou o prato o tempo todo, para evitar até mesmo uma troca de olhar, e fugiu para a cozinha para lavar os pratos assim que possível. 

Lily esperou Mary e Marlene saírem da sala para ir se esconder no quarto, onde ela ficou durante toda a tarde evitando Marlene – uh, estudando. Ela definitivamente estava estudando. 

Obviamente esse também foi o motivo para ter guardado o celular na mochila e não pegar mais. Ela definitivamente não estava evitando as notificações. Apenas precisava se concentrar nos estudos.

E bem, ela conseguiu se concentrar e aproveitou o tempo, até Marlene bater na porta e ordenar que ela fosse ajudar com a o jantar. Segundo Marlene, Lily estava encarregada dos petiscos.

Sem querer contrariar a amiga (ou melhor, sem querer dar chance de Marlene falar muita coisa), Lily apenas assentiu e foi para a cozinha. Não tinha muita coisa que ela pudesse fazer, a não ser um molho para acompanhar as tortilhas já prontas que elas sempre tinham em casa.

Então Lily pegou os fones de ouvido e colocou uma música no celular (sem ver as mensagens) e se pôs a trabalhar, refletindo levemente sobre essa reunião espontânea em plena segunda-feira.

Tão concentrada estava na sua tarefa que quando sentiu alguém puxar um fone e abraçá-la por trás, Lily soltou um gritinho.

—Me ignorando? – James sussurrou em seu ouvido. Lily bufou.

—Que susto, seu palhaço – Ela reclamou, enquanto ele ria e depositava um leve beijo em seu pescoço – Claro que não, eu estava estudando. Sou uma estudante muito empenhada e precisava me concentrar.

—Huh. Estranho. Não lembro de ter aprendido nada com cebola durante a faculdade – James comentou. LIly revirou os olhos.

—Isso aqui foi para não dar chance de Marlene surtar – Ela replicou, colocando o molho pronto numa vasilha e lavando as mãos.

—Ah, esperta… – James elogiou, mordiscando a orelha de Lily. Ela riu e se virou.

—Oi – Ela disse sorrindo. James não pareceu se importar com a mudança de posição. Pelo contrário: depois de abrir um imenso sorriso, ele segurou o rosto de Lily com as duas mãos e a beijou levemente.

—Oi – James respondeu sorrindo – Então você não estava me ignorando?

—Por que eu estaria lhe ignorando?

—Eu não sei. Mas eu dormi umas oito horas ao todo nas últimas 60, então talvez eu tivesse feito alguma coisa sem me lembrar.

Lily revirou os olhos enquanto ele descia as mãos para a cintura dela.

—Eu estava ignorando Sirius— Ela explicou.

James riu e a beijou de novo.

—Ele não mandou nenhuma mensagem – James disse – Eu tomei o celular dele.

Foi a vez de Lily rir e puxar James para mais perto. Lily adorava beijar o sorriso do garoto, e aparentemente, ele também era chegado no hábito. Uma mão de James estava segurando o rosto de Lily quando eles ouviram uma exclamação que os fez se separarem e olharem para a porta da cozinha, onde Mary os encarava com olhos arregalados.

Mary e Lily ficaram se olhando até James soltar uma risadinha.

—Er… surpresa? – Lily disse incerta.

—Você me deve uma baita explicação – Mary replicou.

—É pra isso que eles estão aqui – Lily afirmou.

—É? Eu vim aqui porque era um lugar com fácil acesso a você – James discordou, fazendo uma careta. Lily revirou os olhos, e quando focou em Mary de novo, Marlene também estava na porta, com um sorriso satisfeito.

—Ótimo, só falta Tonks. Terminou com o molho, Lily? – Marlene perguntou – Ou James te atrapalhou?

—Terminei antes dele atrapalhar – Lily replicou.

—Eu jamais atrapalharia ninguém que está fazendo comida pra mim – James disse ao mesmo tempo.

—Não é pra você— Lily retrucou – É pra todo mundo.

Marlene pegou o molho da mão de Lily com um olhar de alerta que a ruiva entendeu claramente: nada de ficar enrolando na cozinha com James pois eles eram esperados na sala. Lily pegou as tortilhas com uma mão e com a outra puxou James para o outro cômodo.

Sirius ocupava a poltrona, enquanto Remus e Tonks sentavam na mesa conversando sobre alguma coisa. Peter estava no sofá com o controle da televisão na mão, zapeando pelos canais com uma cara de cansaço e desinteresse. 

—Sentem e falem – Marlene sugeriu quando Lily e James entraram. A garota depositou as tortillas na mesa de centro ao lado do molho que a amiga deixara enquanto James usava de certa força para forçar Peter a dar espaço no sofá.

—Não tem muita coisa a falar – Lily replicou, dando de ombros – Eu e James estamos juntos. Só isso. Tortilhas, alguém?

Tonks arregalou os olhos em surpresa, mas o olhar de Marlene e Mary foi mais que suficiente para fazer Lily suspirar e aceitar que teria de contar tudo.

—Comece do início – Marlene pediu.

—Acho que o início foi quando Evans pediu ajuda a Pontas com a escala no primeiro dia do internato – Sirius comentou, fazendo todo mundo rir. James revirou os olhos e corou, mas não desmentiu o amigo enquanto continuava a sorrir e segurar a mão de Lily.

—Foi naquele dia que fomos beber na casa de vocês – Lily explicou.

—Nah, foi no dia do aniversário de Tonks, que dançamos juntos – James discordou. Lily ergueu uma sobrancelha, mas depois pareceu aceitar.

—Pensei que tivesse sido no dia da calourada – Mary interrompeu. Lily e James se olharam e deram de ombros.

—Talvez – Lily concedeu – mas realmente começou no aniversário de Tonks.

Tonks bateu as palmas, aparentemente orgulhosa de ter tido alguma participação em tudo. Quando Lily falou do primeiro beijo, Sirius pareceu extremamente presunçoso – ele absorveu como tendo sido sua responsabilidade.

—Bem, foi mais Bellatrix – James replicou, fazendo Sirius encará-lo com raiva.

Lily continuou a falar (resumidamente) até a manhã daquele dia, com poucas interrupções de James. Ele não soltou a mão de Lily em nenhum momento. Ela sentia que ele estava feliz em não mais precisar esconder dos amigos.

O grande sorriso dele era uma pista disso.

—Sabe, McKinnon – Sirius falou num momento – Tonks e Lupin, James e Lily… parece haver um padrão entre minha casa e sua casa…

Marlene ergueu uma sobrancelha para ele, mas sorria também.

—Acho que Peter tá mais perto de seguir esse padrão que você, Black – Ela replicou docemente, e depois, sorrindo ainda mais, acrescentou: – Além do mais, você é meu residente

Marlene conseguiu a reação esperada quando Lily arremessou uma almofada nela – mas a sorridente ruiva não estava tão incomodada assim, e tampouco se importou quando James a puxou para mais perto e depositou um beijo no ângulo de sua mandíbula.

Claro que a noite foi recheada de provocações e gracejos dos amigos, das tortilhas até as sobremesas que os garotos tinham levado, mas Lily levou numa boa. Se aquele era o preço pra estar aconchegada em um sorridente James, ela pagaria sem nem pensar duas vezes.

***

Lily não ficou surpresa em ser mais questionada depois que os garotos saíram quase dez horas da noite. James estava quase caindo de sono, mas se recusou a sair até que Marlene expulsasse os garotos.

Como ela e James tinham explicado o motivo de terem desejado manter em sigilo, nada estava diferente no hospital. James ainda roubava alguns olhares, e Lily admitia que ocasionalmente fazia o mesmo. 

Ela também passou a visitar Philip diariamente. Ele ainda estava extremamente triste – o que era completamente compreensível – mas a presença da esposa amenizava em parte o sentimento dele. Karen era uma senhora baixinha que sempre tinha um sorriso e um abraço reservado para Lily.

Philip se mantinha resistente à traqueostomia, e ela ficou sabendo por James que a equipe de cabeça e pescoço estava preocupada com o caso dele – ainda estavam planejando a cirurgia, mas o jeito que Philip se mostrava em relação a perder a capacidade de cantar como antes era um grande empecilho. 

—Eles disseram que a cirurgia dele pode até ser feita, se associada a quimioterapia e radioterapia depois – James lhe contou – Mas estão vendo o benefício disso. E tem a questão de Philip não parecer muito feliz com o pós-operatório.

Lily entendia Philip. Aquela era a paixão dele. E mesmo que não fosse, a perspectiva de ficar com uma traqueostomia para sempre não agradava ninguém. Mas a outra alternativa que ele tinha era, na opinião dela e de toda a equipe médica, muito pior.

Então só restava uma coisa para Lily fazer: achar alguma forma de fazer Philip se sentir confortável com o pós-operatório.

Ela passou uma parte do domingo fazendo isso. Mary assistia televisão enquanto ela pesquisava no notebook na mesa da sala de jantar. James estava na cadeira ao seu lado, também no notebook, estudando alguma cirurgia que Flitwick, o preceptor de cirurgia pediátrica, comentara no dia anterior.

James chamara Lily para almoçarem naquele domingo, e depois de aceitar, ela sugeriu que fossem para a casa dela assistir a um filme. James concordara rapidamente, mas dissera que precisaria levar o computador pra estudar um pouco.

—Ótimo – Lily dissera – Se eu tiver alguma dúvida é só te perguntar ao invés de pesquisar.

Após revisar o paciente que dividia com Caradoc, Lily focou na missão de ajudar Philip de algum modo. Depois de pouco mais de meia hora, ela finalmente conseguiu e acabou soltando um gritinho de felicidade. 

—O quê? – James perguntou franzindo o cenho e desviando o olhar do notebook para ela. Lily apenas sorriu brilhantemente.

—Você vai ver amanhã, prometo – Ela respondeu. James sorriu também.

—Hum, uma surpresa pra mim? – Ele perguntou.

—Não é para você. Mas você vai ver amanhã. 

Ele fingiu estar chateado pelo segredo fazendo um biquinho, mas Lily sorriu ainda mais e puxou o queixo dele para dar um beijo rápido. Ela se levantou, fechando o computador e levando para o quarto.

—Quer alguma coisa? – Lily ofereceu para James. Ele ergueu uma sobrancelha e sorriu maliciosamente, mas Lily falou antes que ele pudesse expressar exatamente o que ele queria – uma água, um suco…?

—Ah. Não, nada desse tipo.

Lily revirou os olhos sorrindo.

—Vai terminar de estudar Mitrofanoff ou Flitwick não vai deixar você operar – Ela disse – Vou ficar vendo TV com Mary e quando você terminar, se junte a nós.

James assentiu e Lily roubou mais um beijo antes de se jogar no sofá ao lado de Mary.  Ela estava vendo Grey’s Anatomy mais uma vez, um episódio mais antigo, mas Lily não se importava de já ter visto.

Algum tempo depois, James sentou no sofá ao lado dela, e Lily aproveitou para se apoiar nele, um sorriso no canto da boca. Ela sabia que James não era muito fã de Grey’s, mas também sabia que ele não criticaria assim logo de cara por causa de Mary.

Mas ela esperava que alguma hora ele falaria alguma coisa – e foi justamente quando ele viu o caso principal do episódio. Lily suprimiu um sorriso.

—Ah, qual é! – Ele exclamou apontando para a televisão – Isso obviamente é mentira! É impossível duas pessoas serem empaladas no meio do abdome por uma barra de metal desse jeito e sobreviverem por tanto tempo sem nenhuma conduta!

Mary pausou o episódio, se desencostou do sofá e, de olhos semicerrados, se virou para James.

Impossível? Você quer dizer que não existe a menor possibilidade? – Mary vociferou. James arregalou os olhos; ele provavelmente não esperava tamanha veemência na defesa do seriado. Lily se limitou a sorrir.

—Bem, é algo muito irreal, Mary – Ele gaguejou.

—Você conhece Frida Kahlo, James? – Mary continuou na mesma voz.

—Eu… ela é uma… ela é famosa.

—Ela era uma pintora incrível da época do modernismo. Sabe o que aconteceu com ela? Sabe, James?

—Uh, ela pintou quadros incríveis?

—Ela foi empalada por um metal de um ônibus em que ela estava por causa de um acidente com um trem. Ela sobreviveu, pintou quadros se casou e tudo o mais. Você está me dizendo que Frida Kahlo é uma mentira?!

James gaguejou um pouco mais enquanto Lily agora ria abertamente.

—Mas isso é muito, mas muito difícil, Mary – James falou finalmente. – Tipo, extremamente raro desse metal não ter lacerado nenhum vaso importante e ainda estar estancando todos o resto. E eles estarem acordados e conversando desse jeito.

—Mas você pode dizer com toda a certeza, 100% de certeza, que é impossível disso acontecer? – Mary perguntou, erguendo as sobrancelhas.

—Bem, não, não tem como dizer que algo é impossível na medicina.

—Então não diga que é mentira. Aceito dizer que é raro, mas nada além disso – Mary concluiu e deu play, voltando sua atenção para a televisão.

James olhou para Lily aturdido, os olhos levemente arregalados e o queixo um pouco pendente. A ruiva apenas riu e deu de ombros.

—Mary leva Grey’s Anatomy muito a sério, James – Ela justificou num sussurro.

James retrucou alguma coisa, mas Lily se recostou nele de novo e o garoto rapidamente esqueceu, depositando um beijo na cabeça de Lily e a abraçando para que ela ficasse mais aconchegada nele.

No final do episódio, Mary disse que precisava estudar e deixou o controle com os dois ao sair para o quarto. Lily escolheu um filme de comédia que nenhum deles tinha assistido no cinema. Era bom estar nos braços de James, mas ele também era uma grande distração com suas mãos e beijos.

Quando James saiu no final da noite, Lily foi para o quarto de Mary com um sorriso.

—Eu acho que você assustou um pouco James com seu discurso – Lily confessou. Mary sorriu de volta e deu de ombros.

—Ele é forte. Vai superar esse momento – Ela ponderou, e seu sorriso se esticou ainda mais – Mas você, sua safada, está quase num episódio de Grey’s Anatomy!

Lily revirou os olhos; ela sabia que Mary iria dizer isso uma hora ou outra.

—Não faça essa cara! Um romance escondido do resto do hospital ente uma interna e um residente! 

—Mary, não é como em Grey’s.

—Vocês nunca se beijaram dentro do hospital?

Lily ia responder negativamente, mas a imagem deles na escada pulou em sua mente e ela sentiu o rosto corando enquanto Mary ria deleitada.

—Sabia! Imagina, vocês numa cirurgia, um ajudando o outro no momento de tensão, as mãos se tocam e vocês se olham…!

—Não tem nada disso – Lily falou rindo também – Primeiro que na cirurgia eu sou instrumentadora. Eu sou aquela velhinha que passa os materiais pra Derek. Estou longe no momento de tensão. Segundo que durante a cirurgia, nossas mãos… é como se fosse material de trabalho. É como se fosse uma pinça. Não tem espaço pra esse tipo de momento, Mary. Desculpe.

—Vai ter na minha fanfic – Mary retrucou. Lily riu e concordou. Assim como Grey’s Anatomy, algumas coisas podiam ser exageradas em fanfics.

A animação de Lily no dia seguinte era tão aparente que até uma sonolenta Tonks percebeu.

—Isso tudo é só por que vai ver James? – Tonks perguntou num bocejo enquanto elas tomavam café em pé na cozinha – Ele não estava aqui ontem?

—Ha, ha, engraçadinha. Não é por isso – Lily negou – Eu só estou animada porque estava procurando uma informação para um paciente e achei. Acho que vai ajudar bastante.

Marlene apareceu antes que Tonks pudesse responder, enchendo sua garrafa térmica com café.

—Vamos logo antes que James se irrite porque não te viu tempo suficiente – Marlene murmurou, fazendo Tonks rir.

Bem, talvez ver James no hospital também tivesse um pouco a ver com a animação da ruiva. Contudo, ela apenas revirou os olhos e foi para o quarto escovar os dentes e pegar sua mochila para saírem.

O sorriso de James estava acompanhado por uma expressão ansiosa e curiosa quando ele foi cumprimentar Lily. A garota deu de ombros.

—Paciência, jovem gafanhoto. Tudo tem sua hora.

James estreitou os olhos, mas não falou nada – ele sabia que Lily precisava passar os pacientes e ainda discutir o que Caradoc tinha pedido para ela estudar. 

Ela estava ainda mais ansiosa que James, mas botou sua missão de lado para dar atenção completa a seus pacientes. Depois ainda tinha que a discussão, e a visita do dia demorou muito tempo devido a um paciente novo que chegara no final de semana.

A manhã passou de maneira vagarosa para Lily, mas ela finalmente estava livre de suas obrigações. Ela esperou James terminar de explicar alguma coisa para Emmeline, pegando o celular e já separando o celular.

Quando ela desviou o olhar da tela, James estava caminhando em sua direção. 

—Posso saber agora o que é? – Ele perguntou exasperadamente, fazendo Lily sorrir.

—Apressadinho. Vem cá.

James seguiu Lily sem que ela precisasse dizer mais nada. Eles entraram no quarto de Philip e Lily ficou feliz que ele não estivesse dormindo. A mulher dele não estava presente, e Lily ponderou que fosse melhor para o que ela queria fazer.

—Olá, Philip – Ela cumprimentou. Ele acenou com a cabeça para os dois – Já decidiu alguma coisa a respeito da traqueostomia e da cirurgia?

—Ainda pensando – Ele replicou com a voz rouca de sempre. Lily assentiu.

—Bom, eu tenho uma coisa para lhe mostrar, se o senhor quiser ver – Ela informou – Eu acho que sua escolha e sua autonomia são extremamente importantes, então eu queria lhe dar mais uma opção.

Philip e James ergueram as sobrancelhas, e o paciente assentiu, autorizando Lily pegar o celular e se aproximar dele. James estava atrás de Lily, observando a tela por cima da cabeça dela.

O coração da garota estava acelerado; ela estava nervosa, apesar de achar que seu achado poderia ajudar Philip. Ele olhava curiosamente para o teatro mostrado no celular, mas Lily foi percebendo sua feição mudando quando o coral apareceu.

Ela também viu os olhos de Philip começarem a lacrimejar quando ele percebeu que o coral era composto apenas por pessoas com cânulas de traqueostomia – e ainda assim, conseguiam cantar.

—O senhor não precisa perder sua grande paixão, Philip – Lily disse quando o vídeo terminou – Não vai ser a mesma coisa, mas com a traqueostomia e a cirurgia queremos lhe dar a melhor chance de lutar. E ainda assim, o senhor pode conseguir cantar.

Philip virou o rosto e encarou Lily nos olhos. Ela sabia que não estava imune à emoção do momento, mas não se importava muito.

—Eu quero ouvir o senhor cantando ao vivo, Philip. Demora um tempo, com fisioterapia e fonoaudiologia, mas eu sei que se alguém tem força suficiente para chegar lá é o senhor com seu amor pelo canto. Só… considere essa possibilidade de futuro, certo?

Philip assentiu e enxugou o canto dos olhos, mas não falou mais nada. Lily sorriu levemente e apertou a mão dele e se despediu com um aceno. Ela não precisou olhar para saber que James estava lhe seguindo, mesmo que igualmente calado.

Eles entraram na sala de prescrição, onde Marlene estava num canto com Snape, provavelmente discutindo algum paciente (não parecia estar muito agradável pela cara da garota).

—Acha que vai funcionar? – Lily perguntou quando foi arrumar seu material e James a seguiu.

—Acho que tem grandes chances. Como você ficou sabendo desse coral?

—Eu sabia que traqueostomias não impediam a pessoa de falar completamente caso tivesse o acompanhamento adequado – Ela explicou – Então pensei que talvez o mesmo se aplicasse a cantar, já que o processo é bastante similar, e me deparei com esse vídeo. 

James apenas assentiu, sua expressão séria fazendo Lily questionar se havia ultrapassado alguma linha.

—Acha que eu fiz mal? Que foi muito direto? – Ela perguntou franzindo o cenho. James sorriu levemente.

—Na verdade, eu acho que foi uma ideia excelente que algum de nós deveria ter tido antes, e estou apenas me lembrando que você ficaria extremamente chateada se eu te beijasse aqui – Ele murmurou quietamente, de modo que só ela ouvisse.

Lily sentiu o rosto corando completamente. 

—Ficaria. Ambiente de trabalho, James Potter! Se comporte! – Ela ralhou. James sorriu mais.

—Nem na escada?

Lily semicerrou os olhos e James gargalhou, pegando uma mão da garota discretamente.

—Sua ideia só não foi melhor do que ver o seu comprometimento com seu paciente, Lily. Vou falar com o pessoal da cabeça e pescoço vir aqui mais tarde e ver se ele já tem alguma resposta – James replicou, a voz carregada do mesmo sentimento dos olhos castanho-esverdeados. 

Lily sorriu em resposta, sentindo o rosto corando. Dessa vez não era de vergonha, e ela deixou o orgulho aflorar um pouco. Às vezes ela sabia que tinha feito algo certo, e bem… ela era só uma garota, certo? Ela podia se sentir orgulhosa por isso.

O sorriso de resposta de James apoiava esse ponto, então ela permitiu que seus lábios se esticassem mais.

Marlene percebeu a alegria de Lily, e ela contou o que ocorrera enquanto iam para casa. O bom humor da ruiva era contagiante, e quando Lily entrou na garagem as duas estavam cantando a música da rádio com vontade.

Tão animadas estavam que continuaram com a música enquanto faziam o almoço, e conversaram animadamente enquanto comiam com Mary.

A rotina de Lily chegava a ser maçante de tão repetitiva – mais uma tarde que ela passava estudando, ora assuntos dos seus pacientes, ora das futuras provas.

Naquele dia ela estava um pouco mais distraída, ainda com o mesmo sorriso da manhã, pensando se Philip aceitaria a cirurgia. Seu celular mesmo no modo silencioso lhe capturava a atenção, e, claro, James também aparecia em sua mente.

Então foi fácil de entender porque ela foi a primeira da casa a ouvir a campainha tocando, e ainda mais simples compreender Lily ter saído rapidamente para abrir a porta. Ela não fazia a menor ideia de quem era, mas com certeza era mais interessante do que estudar nomes de fungos.

Quando ela viu James pelo olho mágico, um imenso sorriso tomou seu rosto, e ela abriu a porta animadamente.

—Já sentiu saudade? – Lily provocou. James, contudo, nem se deu o trabalho de responder; ele apenas deu dois passos para a frente, tomou o rosto de Lily nas mãos e a beijou, ainda andando para a frente até fechar a porta com o pé.

Quando ele separou seus rostos, ele exibia um sorriso brilhante.

—Philip aceitou a cirurgia, contanto que ele pudesse entrar em contato com fisioterapeuta e fonoaudiólogo assim que possível, para que ele possa cantar de novo – James informou e Lily sentiu seus olhos marejando mais uma vez naquele dia – E foi tudo você, Lily.

Ela não falou nada, apenas puxou James para mais um beijo.

—Eu estou tão feliz que eu poderia dançar agora! – Ela confidenciou, e James riu.

—E deveria! Eu senti o mesmo, e eu tinha que te ver… – Ele disse, beijando sua testa levemente – Mas não vou demorar, sei que você tem muito a estudar.

—Nah, fica – Lily convidou – Não to conseguindo estudar nada hoje. Tô muito aérea.

James sorriu e depositou sua mochila em cima da mesa, se acomodando no sofá junto com Lily.

—Já que eu vou ficar, tenho um convite a lhe fazer – Ele disse, puxando-a para mais perto e beijando o ombro de Lily docemente. Ela adorava como James era carinhoso.

—Convide.

—Esse sábado tem o churrasco dos residentes – Ele começou, e depois hesitou – Podemos levar namoradas e etc. Então eu queria saber se você quer ir.

Lily ficou quieta por um instante.

—No caso, Tonks vai, e diríamos que você está indo pra ela não se sentir sozinha, por ser mais nova e tal. Se preferir, dizemos que Sirius que te convidou e está cuidando da prima – James sugeriu – Vai ser legal. Churrasco, piscina. Você faz companhia a Alice enquanto jogamos o mini campeonato de futebol.

—Hum. Você vai jogar então? – Lily perguntou finalmente. 

—Claro. Eu sou o melhor do hospital.

Lily riu.

—Certo, eu vou. Mas você vai ter que fazer gols para mim – Ela impôs, e sentiu James sorrindo em seu pescoço antes dele beijar a região sensível.

—Com toda a certeza.

—Ah, preciso chegar em casa antes de nove da noite – Ela se lembrou – Vamos fazer provas.

Ela sentiu James se afastando levemente, erguendo uma sobrancelha.

—Seu, hum, grupo de estudos? – Ele perguntou.

—Sim. Eu, Marlene, Emme, Benjy…

—Benjy, se ex-namorado?

Lily estreitou os olhos.

—Bertha também estará nesse churrasco?

Lily percebeu os cantos da boca de James se erguendo levemente. Ele não resistia quando Lily contra-argumentava.

—Benjy, seu ex-namorado que tentou te beijar no bar?

—Bertha, sua ex-namorada que te chamou para sair na minha frente?

James agora fazia um biquinho, e Lily puxou seu rosto para um beijo.

—Benjy faz parte do meu grupo de estudos, Bertha também é residente. Ou melhor, Dra. Jorkins. Teremos que lidar com isso – Lily concluiu. James a abraçou mais perto, e depositou vários beijinhos em sua cabeça.

—Tudo bem, voltamos antes de nove da noite até – James concedeu.

—Não vale você ficar aqui e sair depois de ele chegar, James! – Lily exclamou, e ele riu.

—Não tira minha diversão!

—Você vai ter que ser mais rápido, só isso.

—Ou eu vou ter que aproveitar agora… – Ele sussurrou no ouvido da garota, mordiscando sua orelha enquanto uma das mãos dele passava por debaixo da blusa de Lily.

—Só se você for extremamente silencioso.

Ele soltou uma risada rouca.

—Você tem mais problema que eu com isso.

***

Não era que Lily estivesse evitando Benjy, só não houve nenhuma oportunidade para eles conversarem no hospital sobre os próprios pacientes, quem diria para outras coisas.

Não que Lily achasse que Benjy quisesse de fato conversar sobre o bar no sábado. Ele não dera nenhuma indicação explícita disso (Emmeline dissera que ele queria conversar com ela, mas nunca contou sobre o que exatamente, então…)

A realidade é que o resto da semana realmente fora cheia. Lily voltou no leito de Philip para abraçá-lo, e teve que segurar a emoção de novo quando a mulher dele a abraçou com força. O residente da cabeça e pescoço foi falar com ela que tinha sido uma boa ideia, então o sorriso de Lily tinha uma boa explicação.

Quer dizer, outra boa explicação além do fato de James ser… bem, James. Ele era incrível, e parecia querer estar com Lily ainda mais que ela queria vê-lo. Eles se falavam constantemente pelo celular – exceto quando estava no hospital ou estudando. 

Lily mandava dúvidas para James, e ele respondia com áudios muito mais longos do que era necessário. Mas ela supunha que ele só fazia isso porque ela confessara que não tinha muita paciência para áudios; ainda assim, ouvia todos que James mandava, e ela sabia que ele ficava feliz em saber que ela esquecia um pouco dessa aversão pessoal para ouvir os áudios dele.

Até porque ele sempre misturava alguma coisa pessoal com a explicação, e o coração de Lily acelerava enquanto ela ria das besteiras que James falava.

No início do rodízio, Lily desconfiara que iria se encontrar na rotina do serviço de cirurgia. Ela só não sabia que iria encontrar James.

Tonks tinha ficado extremamente animada quando soube que Lily iria para o churrasco. Ela realmente tinha medo de ficar deslocada, mesmo quando Lily lhe lembrou que Remus não iria nem jogar futebol, nem cair na piscina por muito tempo por causa da anemia falciforme.

—Ainda assim, você pode me apresentar a todo mundo! – Ela dissera animadamente – Eu vou ser a motorista da rodada, e não vou sair de perto de você para manter seu disfarce.

Lily sorrira com essa informação. Realmente seria uma boa pedida.

Elas iriam com o carro de Lily, e passariam na casa dos meninos para pegá-los. Peter só conseguiria chegar depois de 19h pois estaria de plantão, então caberia todo mundo no mesmo carro.

Lily pulou para o banco de trás para deixar Remus sentar na frente com Tonks – e também porque ela achou que os três garotos ficariam apertados no fundo. Depois que todos tinham colocado o cinto de segurança, James puxou Lily para mais perto e deu um beijo em sua testa.

—Sentiu saudades? – Lily perguntou sorrindo e segurando uma mão dele com as suas duas.

—Muitas – James confirmou solenemente.

—Eu me sinto deslocado aqui – Sirius reclamou do outro lado de Lily – Dois casais e eu. 

Lily chutou a perna de Sirius levemente.

—Mas eu sou sua convidada para o churrasco! – Ela exclamou. 

—Verdade. Você não deveria estar se jogando pra mim, então?

James segurou a mão de Lily com mais firmeza, como se ela realmente fosse se mexer do lugar confortável que estava.

—Talvez. Se prepare para quando chegarmos lá. Não vou te deixar em paz.

James resmungou alguma coisa no ouvido de Lily, fazendo a ruiva gargalhar e depositar um beijo no ângulo da mandíbula do garoto.

—Eu falei há um tempão que seu amigo é loucamente apaixonado por mim, James – Lily disse – Você que escolheu achar que era brincadeira.

—O que importa é que eu sou o seu favorito – James replicou, ainda sem sorrir.

—Uh, wow. Isso é estranho – Tonks falou do banco de motorista – Eu sempre ouvi Lily dizer que Remus era o favorito.

A reação de James foi exatamente a esperada: um olhar de ultraje para Lily e a boca despencando em choque. Honestamente, o garoto era fofo demais para o próprio bem.

Lily passou o resto do caminho convencendo James que ele passara a ser o favorito dela, e que os sentimentos ardentes de Sirius nada significava para ela agora que ela e James estavam juntos. Ela já tinha visto os cantos dos lábios dele se erguerem rapidamente, então ela sabia que ele estava fingindo – ela não se importava muito em continuar sussurrando coisas no ouvido dele.

Mas quando eles estavam chegando perto do clube onde seria o churrasco, Lily se separou relutantemente de James, e bravamente resistiu beijar o biquinho que ele fez.

Lily andava ao lado de Tonks, que segurava a mão de Remus do outro lado. Sirius e James iam na frente, rindo e chamando a atenção. 

Eles passaram por alguns residentes conhecidos, que cumprimentaram o grupo com sorrisos. Perguntaram sobre Lily, e eles contaram a desculpa de fazer companhia a Tonks. Ninguém pareceu estranhar muito.

James sorria em satisfação com isso.

Eles sentaram numa mesa junto com Alice e Frank. Já tinha comida e bebida lá, e Sirius rapidamente jogou um pedaço de picanha na boca.

Estava um dia ensolarado e quente, e Lily ficou extremamente feliz por ter escolhido um vestido fresco e pelas bebidas que passavam livremente.

Vários residentes passavam para conversar com Tonks, curiosos para conhecer melhor a jovem namorada de Remus.

Bertha Jorkins, Lily ficou feliz em perceber, não parou na mesa deles em nenhum momento.

Algum tempo depois deles terem chegado, Frank chamou James e os dois se levantaram com sacolas.

—Hora do futebol – Alice explicou, revirando os olhos. Frank sorriu e apertou a bochecha da garota.

—Você não precisa ir assistir, Allie – Ele falou.

—Eu sei disso, eu quero ir assistir. Mas eu sempre fico sozinha lá – Alice reclamou.

—Eu vou com você, Alice – Lily se ofereceu – A gente leva dois pratinhos desses e bebidas. Podemos fazer um ranking dos residentes mais bonitos – Lily sugeriu com uma piscadela.

—Vocês estarão olhando pro lado errado – Sirius disse, passando os braços por trás da cabeça – Eu sou o residente mais bonito.

Lily fez uma careta de discordância, fazendo Sirius semicerrar os olhos.

—Tem algum que vai jogar que você ache mais bonito, Lil? – Tonks perguntou alegremente. Lily apenas revirou os olhos, sentindo sua bochecha esquentar.

—É exatamente isso que eu vou descobrir, Tonks.

—Hum. Boa sorte.

Lily pegou um prato e sua bebida, e Alice fez o mesmo. Elas seguiram os dois garotos até a beira da quadra, onde vários dos residentes estavam dividindo os times.

Lily estava ansiosa para ver James jogando – ela sabia que ele era brilhante – mas ela não podia demonstrar isso para Alice. Já era demais a quantidade de gente que sabia dela e de James. Quanto menos pessoas cientes, mais fácil de manter o segredo.

Ela e Alice conversavam enquanto o jogo rolava, e James realmente se provou acima da média dos colegas. Quando a bola estava com ele, era tudo mais fluido e ele fazia coisas complexas parecerem simples.

Depois que o time de James e Frank ganhou a segunda partida, Lily se voluntariou para pegar refil nas bebidas. A fila estava relativamente grande, então ela ficou um tempinho.

—Eu pensei que você tivesse vindo para me ver jogar.

Lily se virou para o sussurro de James.

—Sim – Ela respondeu no mesmo tom – Mas aí eu percebi que você é melhor que todo mundo e perdeu a graça.

James abriu um sorriso imenso com o elogio, e Lily não teve como não imitá-lo. 

—Tudo bem, talvez minha visão seja enviesada, mas… – Lily continuou.

—Enviesada?

—Sim. Talvez eu goste tanto de você que eu veja as coisas um pouco diferente do que são na realidade.

James sorriu ainda mais e sacudiu a cabeça.

—Você vai me matar, Evans.

Lily riu e finalmente conseguiu pegar a bebida dela e de Alice, voltando ao lado de James para a beira da quadra.

—Perdeu? – Ela perguntou.

—Nah. Temos uma regra que se o time ganhar três vezes seguidas, sai – James explicou, passando a mão pela testa para impedir que o suor escorresse em seus olhos.

—Os óculos não lhe atrapalharam não? – Lily perguntou, indicando o acessório.

—Já acostumei a jogar. Não consigo enxergar praticamente nada sem óculos.

—Você já pensou em usar lente? – Ela olhou para ele curiosamente. James devolveu com um sorriso.

—Não gosta de meus óculos, Evans? 

Lily revirou os olhos.

—Claro que eu gosto, seu palhacinho. Lente me parece ser mais prático, só. Principalmente pra atividades físicas.

—Eu tentei usar, quando era mais novo, mas era um saco. Então simplesmente desisti e prendia o óculos com um esparadrapo e pronto.

Lily riu, imaginando um James de 10 anos com esparadrapos prendendo os óculos.

Quando chegaram na beira da quadra, James deu uma piscadela e voltou para o jogo, enquanto Lily se juntava a Alice mais uma vez, entregando a ela a bebida.

Mais uma vez, o time de James e Frank ganhou, e todos pararam pra redividir os times. Dessa vez, os dois estavam em times diferentes. 

—Então… ainda tem certeza de seguir esses loucos pra cirurgia? – Alice perguntou. Lily sorriu.

—Até o momento, essa loucura é o que tenho em mente.

—Você sabia que eles ficam um dia inteiro sem tomar banho às vezes? – Alice confidenciou, fazendo Lily rir.

—Acho que isso é mais por serem homens do que cirurgiões. Acho difícil ver McGonagall ficando um dia inteiro sem tomar banho.

Alice semicerrou os olhos.

—Olha só, se você não tem todas as respostas!

Lily riu mais uma vez.

—Escuta, você gosta de crianças, certo? – Alice continuou.

—Claro. Quem não gosta de crianças?

—Já é o primeiro passo! Pensa naquelas coisinhas fofas! Pensa em trabalhar com elas o tempo todo!

—Bem, é difícil imaginar isso – Lily ponderou – Porque eu fico com pena das crianças doentes.

Alice franziu o cenho.

—Isso é um problema, mas você vai estar ajudando essas crianças! – Alice exclamou – Você vai conseguir tirar a dor dessas crianças!

Lily hesitou, e foi o tempo necessário para uma risada chegar nas duas. Frank estava sorrindo abertamente, a sacola com a muda de roupa na mão. Olhando para a quadra, Lily percebeu que o time de James ganhara do de Frank.

—Alice, apenas desiste! – Frank falou. Lily olhou para ele com atenção; ele estava sorrindo muito mais do que alguém que havia acabado de perder deveria, os olhos com um brilho peculiar admirando a namorada.

—Eu não vou desistir, Longbottom! – Alice exclamou, cruzando os braços – Minhas crianças merecem alguém que seja tão interessada e apaixonada como Lily, tanto quanto seus pacientes cirúrgicos! E não adianta vir com isso de a batalha está perdida e blá blá blá, porque só estará perdida quando ela fizer a prova!

Alice se virou novamente para Lily enquanto Frank gargalhava. Como Alice estava focada em Lily, ela não viu quando o namorado sacudiu a cabeça em negação, ainda assim extremamente feliz.

—Você ainda vai passar pela alegria das crianças, Lily. Eu te prometo que vai ser encantador! – Alice segurava as duas mãos de Lily, encarando a ruiva, e perdendo Frank abrindo a sacola que carregava – Você só precisa estar de mente aberta. Diz pra mim, 'eu vou passar pela pediatria com a mente aberta para as crianças'.

Lily soltou uma gargalhada.

—Sim, Alice, eu vou passar pela pediatria com a mente aberta para as crianças. Não se preocupe quanto a isso – Lily garantiu.

—Viu, Longbottom! Essa batalha está longe de–

Mas Alice se interrompeu porque ao virar de novo para Frank, ela arfou. Em defesa de Alice, Lily também arfou.

Todo mundo ao redor também parou para observar, inclusive o jogo que estava acontecendo. 

Todos observando Frank com um joelho no chão e um anel estendido na direção de Alice, um sorriso imenso e os olhos ainda brilhando, aparentemente enxergando apenas Alice.

—Se case comigo, Alice. Eu prometo que minha missão vai ser te fazer a mulher mais feliz do mundo para sempre. Você pode convencer Lily. Inferno, você pode ter todos os internos que quiser. Só se case comigo.

Lily ficou agradecida por ter lembrado de pegar o celular, porque conseguiu tirar uma foto da expressão de Frank no exato segundo que Alice disse “sim”, conseguiu pegar o momento em que eles se abraçaram, e ainda a hora que Frank colocou a aliança no dedo de Alice.

E apesar de as fotos terem ficado boas, Lily sabia que não tinham conseguido capturar um terço da alegria do momento.

Mas Alice ficaria feliz em ter essa lembrança.

***

O caminho de volta para casa foi mais silencioso. Tonks não tinha bebido nada para dirigir e Lily bebera pouco porque iria estudar, mas Remus estava silencioso, lançando olhares sorrateiros para Tonks, Sirius estava dormindo com a boca aberta e James abraçava Lily, com o rosto enfiado no pescoço dela.

Quando chegaram no prédio dos garotos, Remus acordou Sirius com uma cutucada firme no peito, fazendo Sirius acordar e sair do carro meio cambaleante. James puxou Lily com ele para fora.

—Não tem nada que lhe convença a ficar aqui, comigo, ao invés de ir para casa com aquele pateta do Fenwick? – Ele perguntou, segurando as duas mãos dela e a puxando para perto. Lily fez um biquinho.

—Eu vou estudar, James – Lily replicou – E não é só Benjy.

James resmungou alguma coisa.

—Estuda comigo.

—Eu fico aqui se você conseguir me dizer todos os critérios diagnósticos de Lúpus – Lily disse, cruzando os braços. James semicerrou os olhos, e Lily riu, beijando ele levemente – Nos vemos amanhã.

—Tá – Ele disse, à contragosto, beijando Lily de novo. 

Ela entrou no banco de trás de novo – Remus iria com eles para voltar de táxi com Tonks para casa. 

Não demoraram muito para chegarem no apartamento das meninas. Lily subiu e foi tomar banho imediatamente, e quando saiu do quarto, Benjy, Emme e Marlene já estavam esperando por ela na mesa. 

Eles fizeram a prova em silêncio como habitual, e terminaram pouco antes de meia-noite. Quando a última pessoa terminou (Lily), eles passaram a corrigir as questões.

Eram meia-noite e meia quando o interfone tocou. Todos fizeram caras de confusão – quem estaria interfonando a esse horário. Lily levantou para atender.

Ah, boa noite. Lily Evans é desse apartamento?— O porteiro perguntou.

—Hum, sou eu.

Tem uma… encomenda para a senhorita aqui. E, uh, tem que ser você a pegar.

Lily obviamente estranhou, mas desceu para ver o que era, depois de garantir que não demoraria. Ela gostaria de achar que tinha sido engano, mas seu nome fora explicitamente dito.

E quando ela chegou na portaria, ela viu o motivo.

—O que você está fazendo aqui, James? – Lily perguntou com um sorriso.

—Rash malar, lesão discoide, fotossensibilidade – James começou a recitar, contando com os dedos – úlceras orais, artrite, serosite, doença renal, envolvimento neurológico, alterações hematológicas, alterações imunológicas e FAN positivo.

Lily sentiu seus lábios se curvarem num sorriso cada vez maior a cada critério que James falava.

—Nós estamos corrigindo a prova – Lily informou – Não tinha questão sobre lúpus. E esses critérios são de 2012. Estão desatualizados.

James semicerrou os olhos.

—Tudo bem. 

—Você só veio para isso? – Ela perguntou, puxando ele mais para perto pela camisa.

—Nah. Você disse que nos veríamos amanhã – Ele disse sorrindo – Já é amanhã.

Lily sorriu e beijou James.

—Eu não vou conseguir lhe esconder no meu quarto com Benjy e Emmeline na sala.

—Tudo bem. Eu… – Ele hesitou e pegou uma sacola ao seu lado – trouxe cookies para vocês.

Lily sorriu ainda mais ao pegar a sacola.

—Olha só. Parece que eu tenho o melhor namorado do mundo – Ela disse, mordendo o lábio inferior. James trocou a expressão hesitante por um imenso sorriso, e puxou Lily para perto pela cintura.

—Hum. Parece que minha namorada fala as coisas certas pra me fazer sorrir.

Lily ficou feliz em beijar James quando ele se inclinou.

Mas ela achava que ficaria feliz com basicamente qualquer coisa que eles fizessem juntos.


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