O barulho na porta fazia Harry querer se jogar pela janela. Estava  pensando nisso desde a hora que viu o celular, mas o burburinho só piorava as coisas. Olhou para a vidraça e imaginou se teria coragem de pular. Não, não era assim tão dramático.

Quase todos os amigos já tinham tentado falar com ele. Primeiro Ron e depois Hermione, mas até Ginny já tinha passado por lá; entretanto ela era definitivamente a última pessoa que Harry queria ver.

Ginny tinha terminado com Harry e ficado com Dino logo depois, e agora mais essa. Ele pediu para voltar, claro. Só que depois de tomar um belo toco, na frente da escola inteira, ainda tinha aquele post: Ginny foi vista escapando no meio da noite, para o quarto de uma garota. Uma garota! E agora, nada do que ele vinha ouvindo era minimamente positivo. 

"Harry Corno" e "Harry Fode Mal" estavam entre as provocações mais leves. O que mais incomodava era a ideia de que Ginny teria mentido para ele durante todos aqueles anos e, bom, essa era a única coisa que realmente preocupava Harry. Não importava que ela também gostasse de garotas, importava se ela não gostasse de garotos e tivesse enganado ele. Pior ainda, o que piorava tudo era que Ginny não gostava dele. E agora, depois de sabe-se lá quantas idas e vindas, eles tinham terminado para valer, e nem mesmo o mais otimista dos românticos via alguma perspectiva para voltarem.

O silêncio de repente pesou do lado de fora, graças aos céus, e Harry soltou o ar que nem reparou que prendia. Finalmente.

— Harry? — A voz arrastada do outro lado da porta era inconfundível. Certamente tinham desistido de bancar os bonzinhos. — Sai daí. Ou então, me deixa entrar.

— Me deixa em paz, Malfoy — Harry sibilou, sem sequer se mexer. — Quero ficar sozinho.

— Eu estou com meu computador aqui e vai começar United vs Liverpool, não acho que você vai querer perder. — Foi sua tentativa final, Draco não era tão esforçado assim.

Ah, droga! Estava tão derrotado que tinha até esquecido o jogo! Entretanto, agora nem tinha clima para ir até o salão e assistir junto com todo mundo; e diferente de Malfoy, não tinha um computador decente, para conseguir ver o jogo sozinho, no quarto. Se levantou, com um resmungo, e andou muito lentamente até a porta. Girou a chave e sem soltar o trinco, espiou para ver se Malfoy realmente estava sozinho.

— Anda logo, Potter! O jogo já vai começar. — Ele nem esperou Harry puxar o trinco inteiro, e já estava se esgueirando para dentro do quarto.

Se jogou muito confortavelmente na cama de solteiro no canto direito do quarto, a de Harry, ele bem sabia, chutou os tênis para longe e se arrumou nos travesseiros.

— Pode não ficar tão à vontade assim? — Harry perguntou, ao voltar para a cama, empurrando Draco para o lado da parede.

— Não, não posso. — Malfoy deu de ombros e ligou o computador. — Pode falar porque merdas você está com tanta frescura sobre isso?

— Frescura? — Harry perguntou, irritado. — Não é nenhuma frescura! Minha reputação está morta! Morta e enterrada!

— Ah, claro! Você tem um problema — ele respondeu, cínico. — Sua ex-namorada é bi, grande coisa!

— Claro que é uma grande coisa! — Potter deu um soco no braço do outro garoto. — Ela mentiu para mim, Draco.

— Se ela não te contou, é porque ela não tinha confiança em você para isso — ele argumentou. — Cara, você precisa entender que isso não é sobre você, é sobre ela se descobrindo. Você tem só que apoiar, sabe?

Harry olhou curioso para Malfoy, a testa franzida, as sobrancelhas juntas.

— Desde quando você se importa tanto? 

— Eu também sou bi, Harry — Draco disse, com um dar de ombros desleixado. — Bi pra caralho, mas eu saio mais com garotas, então as pessoas acham que eu sou hétero mesmo 

— Mas… — E Harry percebeu que nunca entenderia nada. Como assim Malfoy era gay? Quer dizer, bi? E por que ninguém ligava para isso, mas estavam falando tanto sobre ele e Ginny?  

— Sem mas, Potter — Draco o cortou e apontou para a tela do computador. — Fica quieto e vamos ver logo a bosta do seu time tomar uma surra.