Justice escrita por shipperavalance


Capítulo 3
CAPÍTULO 03 - camisa amassada




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#SARA

Eu conseguia ouvir o som irritante do meu despertador ao longe. Não era alto o suficiente para me acordar de vez, mas era o suficiente para me irritar. Eu xingava na minha cabeça o maldito celular. Ele deveria estar em algum lugar do quarto ainda dentro da bolsa, mas eu não tinha forças para levantar e atender.

Meus olhos pesavam e eu não conseguia abri-los. Quando eu comecei a sentir ressaca? Eu era boa em beber e era excelente em não sentir nada no dia seguinte. Sempre me gabei disso. Mas hoje estava tudo diferente. Por que tudo está diferente?

— Desliga isso! – ouvi Zari reclamar e logo depois senti o baque de seu travesseiro contra meu corpo.

Resmunguei e levantei tentando abrir os olhos o suficiente para que eu enxergasse onde pisava. Quando finalmente achei a bolsa e encontrei o celular, eu desliguei aquele som chato e já estava decidida a trocar antes de deitar essa noite. Não queria escutar aquele toque nunca mais.

Voltei a deitar na cama. Sempre colocava o despertador com duas horas de antecedência da aula ou estágio. Eu gosto de correr pelas manhãs para começar o dia bem. Então eu tinha um tempo para me recuperar até a hora de ter que me arrumar. Mas algo estava errado. Tinha a sensação de estar esquecendo de alguma coisa importante. Eu deveria estar em algum lugar hoje. Tentei lembrar, mas parecia difícil demais.

O que tinha naquela última tequila?

Ontem foi tudo tão louco. Começamos com cervejas e terminamos em varias doses de tequila que nos fizeram voltar de táxi para o dormitório. Eu podia ouvir facilmente Nate bêbado me pedindo para arrumar um encontro entre ele e minha chefe.

Ava.

Arregalo meus olhos instantaneamente.

Quando o seu nome vem na mente eu lembro automaticamente onde eu deveria estar. “Promotoria às oito horas”. Ela foi autoritária em dizer isso, e conhecendo minha chefe, ela não gosta nada de atrasos. Pulo da cama e confiro as horas.

Quarenta minutos para tomar banho, me arrumar e pegar um táxi até o fórum.

Espero que o trânsito a faça se atrasar, porque certamente eu também vou. Tento fazer tudo bem rápido, visto a primeira roupa que vejo sem ao menos me importar com alguns amassados da blusa. Um blazer disfarçaria bem.

 Passo direto pela barraca de café em frente ao prédio e, por sorte, tinha um táxi ali. Entro rápido e pedi para ele correr. Faltava cafeína para eu conseguir me manter centrada durante a reunião, mas isso eu resolveria depois.

Algo estava ao meu favor hoje, já que o transito não estava um caos total. Desci do táxi e a primeira pessoa que vejo é Ava Sharpe, parada na fila da barraca de café, digitando freneticamente em seu celular.

Merda! Pelo menos a reunião ainda não começou.

Ela estava em um terno azul marinho e uma camisa branca. Aquele conjunto parecia um uniforme para ela, mas lhe caía muito bem. O azul da roupa combinava bem com seus olhos azuis profundos. Mas hoje ela estava diferente. Seus cabelos não estavam presos em um coque como ontem. Hoje eles estavam soltos, mostrando as ondas delicadas ao longo deles. Um pequena mecha atrás da orelha apenas para seu rosto aparecer melhor.

Com certeza ela ficava mais bonita com os cabelos soltos.

Respirei fundo e ajeitei minha roupa antes de me aproximar. Se ela ainda estava aqui fora quer dizer que eu não estou tão atrasada assim. E eu também precisava um café.

— Está atrasada. – ela diz sem tirar os olhos do celular.

Como ela me viu? Ava ainda estava quase de costas para mim.

— Me desculpe, meu carro quebrou e tive que pegar um táxi. – minto. Não deixaria ela saber que estou de ressaca.

Ava me encara e bloqueia o celular. Por dez segundos ela me analisa, e parece me decifrar inteira apenas com aquele olhar.

— Sua camisa está amassada e seu rosto diz que você passou a noite na farra, por isso levantou tarde e nem deu tempo de passar sua roupa. Senhorita Lance, se quiser trabalhar comigo pelo semestre inteiro sugiro que você tente se concentrar mais no trabalho e menos nas farras da universidade. Esse tempo já passou, agora a senhorita é uma profissional. Haja como uma.

— Me desculpe.

A vendedora chama sua atenção e ela pega seu café, entregando mais dinheiro que o necessário.

— Não se desculpe, apenas tente não chegar assim para trabalhar na próxima vez. E pegue um café para você, nos encontramos no escritório. – ela fez sinal para mulher dizendo que meu café seria pago por ela e saiu andando.

Precisei de alguns segundos antes de correr em sua direção, tentando acompanhar seus passos.

— Senhora Sharpe eu ainda posso acompanhar a senhora durante a reunião com o promotor. Eu estou pronta para isso. – falo apressada.

— Você não está. – ela para antes de subir a escadaria e se vira para mim. – vá para o escritório. Na minha sala tem tudo o que precisa para passar sua roupa, então esteja mais apresentável quando eu chegar lá. Temos reuniões importantes, quero que cause boa impressão.

Ela se vira e sai novamente, sem me dar chance para argumentar.

Merda!

Segundo dia e isso me acontece? Se continuasse assim não duraria muito nesse trabalho.

Sinto minha cabeça latejar no momento que a vejo subir as escaras até a porta principal do prédio. Eu deveria estar acompanhando ela, mas fui burra o bastante para beber num dia de semana.

Dou a volta e pego meu café. Agora mais que nunca eu precisava da cafeína para me manter sã durante todo o dia. E como não fiz minha corrida cedo, decido ir andando até o escritório, isso me ajudaria a curar a ressaca e a colocar a cabeça no lugar.

 

#

 

A caminhada foi mais longa do que eu pensei. Demorou uns bons minutos até eu finalmente chegar no escritório, e contando eu a reunião tenha demorado mais que o de costume, a Senhora Sharpe não tinha chegado ainda.

Fui direto para sua sala, pegando tudo o que era necessário para passar minha roupa. Tiro minha roupa rápido, ficando apenas de saia e sutiã. Enquanto passo a roupa, fico imaginando que tipo de pessoa pensa em tudo, até numa roupa amassada durante o trabalho.

Ava Sharpe era o tipo de pessoa que gosta de tudo arrumado e sem bagunças. Ela conseguiu ver minha camisa amassada mesmo com o blazer por cima. Eu conferi antes de sair de casa, não dava para perceber. Mas é claro que a perfeccionista Ava Sharpe perceberia.

Estendi minha camisa numa mesa portátil própria para engomar roupas. É claro que ela teria uma dessas aqui. Ava parecia o tipo de mulher que gostava de se previnir de tudo, incluindo camisas amassadas.

Estava terminando de passar quando ela entrou como um furacão na sala, sem me notar.

— Ana hoje não da, vou ter um dia cheio. – ela não tinha notado minha presença ainda e eu fiquei paralisada. – eu vou comer alguma besteira no trabalho, não vou ter tempo de parar e comer uma refeição digna.

Ela joga a bolsa na cadeira e suspira, ainda falando no celular. Peguei minha camisa devagar e fui vestindo torcendo para ela não me perceber até eu estar devidamente vestida. Ser pega apenas de sutiã pela sua chefe é constrangedor demais.

— Ana... – ela se vira e seus movimentos paralisam quando nossos olhares se cruzam. Fecho os olhos com força e término de vestir a camisa, fechando os botões rapidamente. – eu te espero aqui ao meio dia.

Ava desliga a chamada e se vira.

Eu podia jurar que ela estava com vergonha, que suas bochechas estavam rosadas e ela estava totalmente sem jeito. Isso de alguma forma me fez sorrir satisfeita.

Para, Sara! Me repreendo mentalmente.

— Me desculpe, Senhorita Lance. Entrei tão rápido que não notei que não estava na sua mesa. – ela diz virada de costas para mim.

— Eu que peço desculpas. Demorei a encontrar as coisas e achei que ainda demoraria um pouco. Não queria causar esse constrangimento.

Passo a camisa para dentro da saia e visto o blazer.

— Vou arrumar isso e já vou para minha mesa...

— Pode deixar, eu arrumo. – ela me interrompe, virando para mim. – não se preocupe. Pode cuidar dos seus serviços.

Concordo com a cabeça.

— Se precisar de algo é só chamar.

Não espero pela resposta, apenas saio.

Sento na minha mesa e tento fazer os exercícios de meditação que aprendi para acalmar a respiração. Quer merda foi essa? Porque eu estou tão nervosa? Porque eu estou satisfeita por ter mexido com Ava? Ela é minha chefe!

Preciso me concentrar no trabalho agora. Não poderia estragar essa chance.

E foi isso que fiz durante as próximas horas. Digitei alguns arquivos, fiz alguns pedidos para o juiz assinar, marquei novas reuniões, estudei alguns casos que discutiríamos hoje e separei a papelada que precisava da assinatura da minha chefe. Adiando o máximo possível a última para não encarar ela novamente em tão pouco o tempo.

Era hora do meu intervalo, mas eu decidi não fazer. Chegar atrasada hoje foi um erro e eu queria compensar de alguma forma, então apenas criei coragem e segui para sua sala.

Bati na porta devagar e entrei assim que recebi sua ordem. Não queria fazer nada que pudesse deixá-la chateada comigo depois do atraso de hoje cedo.

— Sim? – pergunta sem tirar os olhos do computador.

— Trouxe os papéis que precisam da sua assinatura. – mostrei o envelope e me aproximei da sua mesa.

— Obrigada. É urgente ou posso assinar depois? – ela me olha rápido.

— Não, sem pressa. – Ava concorda e volta ao trabalho. Eu fico parada, indecisa se pergunto ou não.

— Mais alguma coisa, Senhorita Lance?

— Não. Sim. – digo confusa e ela me encara de novo.

— Sim ou não? – Ava tinha um sorriso pequeno no rosto e, dessa vez, eu fiquei vermelha

— Queria saber como foi a reunião hoje cedo. Deu tudo certo? O acordo foi assinado?

— Sim, Senhorita Lance. Foi tudo como o planejado. O senhor Michael assinou o acordo e depois eu disse que indicaria outro associado para auxilia-lo no futuro.

— Ele aceitou a ideia?

Ava deu de ombros.

— Ficou um pouco irritado, mas isso não importa. Era falta de ética representá-lo depois do que eu fiz. Logo ele vai estar respondendo por um crime e vai ser preso.

— Sinto muito novamente ter me atrasado. Eu queria ter acompanhado tudo.

— Não perdeu muita coisa. A reunião foi rápida e chata. Na próxima vez garanta que chegue na hora e poderá participar.

Concordei com a cabeça. Estava prestes a sair quando Alice entrou na sala com um sorriso enorme no rosto.

— Bom dia. –  ela me cumprimenta com um abraço e logo em seguida abraça Ava, que tinha um sorriso largo para a morena.

Porque elas pareciam tão próximas?

— Pensei que não te veria mais por aqui.

— Dei uma passada rápida para lembrar de hoje. Despedida rápida na Waverider, tomar alguns drinks e dar boas risadas. – ela se vira para mim. – você também deveria ir Sara. O pessoal vai estar lá e é uma ótima oportunidade para conhecer todo mundo.

— Obrigada pelo convite, mas acho que não vai dar.

— Não aceito um não como resposta. Vai ter vários rapazes para você conhecer... – ela brinca com a sobrancelha me fazendo rir.

— Alice, por favor, sem querer dar uma de cupido com minha assistente. – Ava brinca.

— Não, está tudo bem. – sorrio. – mas eu não sou do tipo que fica com rapazes.

Digo e por instinto, olho para minha chefe, que também me encarava. Ela estava vermelha de novo? Porque eu causava isso nela?

— Oh, então nesse caso terá muitas garotas e garotos para fazer novas amizades. – ela sorrir simpática. – mas não deixe de ir.

— Ela está certa, Sara. É uma ótima oportunidade para conhecer o pessoal. Todos aqui adoram um happy hour.

— Vou pensar.

Peço licença e saio, deixando as duas a sós.

Era estranho pensar que Alive estava no meu lugar há alguns dias. Ela era apenas uma assistente e agora parecia amiga de Ava. Elas sorriam e se abraçavam sempre que se viam. Ava era diferente com ela. Ava nunca sorrir ou me cumprimenta daquela forma, e eu não vejo isso acontecendo em futuro próximo.

Alice não demorou a sair da sala. Ela passou sorridente por mim e sussurrou a hora de sua despedida. Oito da noite. Provavelmente minha chefe estaria lá, e ela ficar sabendo que eu estava bebendo duas noites seguidas não era nada bom. Então ir a outro happy hour hoje estava fora de questão.

 

#AVA

Minha cabeça estava começando a doer de tanto que eu estava olhando para esses papéis. Não era fácil ler essas letras minúsculas e ainda mais quando sua cabeça está sempre trazendo de volta aquela cena.

Tudo parecia câmera lenta. Sara terminando de vestir a camisa sem mangas, seu sutiã branco liso a mostra. Seu abdômen marcado totalmente exposto para mim. Seus braços fortes. Deus. Eu não precisava ver aquela cena logo pela manhã.

Aquilo me desconcentrou durante o resto da manhã. Eu não conseguia ler um documento inteiro sem piscar e vê-la novamente na minha frente. Porque diabos isso está acontecendo?

Tive que me concentrar bastante para não imaginar nada improprio para o horário, mas foi quase impossível. E quando ela entrou na minha sala toda indecisa sobre perguntar ou não sobre a reunião que perdeu, eu não pude deixar de sorrir. Merda, porque ela tem que ser tão fofa quanto eu me lembrava?

— Moça, por favor... a Senhora Sharpe está ocupada e...

Ouço a voz de Sara e logo em seguida minha porta é aberta por Ana, minha irmã mais nova. Ela sorrir para mim abertamente.

— Pode deixar, ela está me esperando. –  Ana entra na sala e Sara entra logo atrás dela, com uma cara assustada.

— Me desculpe, Senhora Sharpe, ela foi logo entrando e eu não consegui impedir.

Ana solta uma risada fofa e senta minha frente.

— Como se eu precisasse ser anunciada. Cadê a Alice?

— Alice está indo embora. Agora é Sara quem está no seu lugar. – explico deixando a caneta de lado e sorrindo para minha irmã. Ela sempre tinha que chegar fazendo uma cena. – Senhorita Lance essa é minha irmã, Ana. Ana, essa é Sara minha nova assistente.

— Prazer. – Ana estende a mão para Sara e as duas se cumprimentam.

— Nossa, eu não sabia. Me desculpe Senhora...

— Ah, por favor... – Ana a interrompe. – pode me chamar só de Ana. De Senhora Sharpe já basta essa aí. – ela aponta para mim.

— Bom, como você pode ver ela é bem adorável. – digo irônica encarando Sara que sorrir abertamente. – Obrigada, Sara. Só confirme para mim se a sala de reuniões está pronta, ok?

A loira concorda e sai.

— Você sempre chega fazendo uma cena, não é? Não sabe chegar como uma pessoa normal? – falo levantando e dando a volta na mesa para abraçar minha irmã.

— Bom, como você pode ver ela é bem adorável. Obrigada Sara, pode sair. – sorrio e vejo a loira se retirar. – você não pode chegar como uma pessoa normal, não é?

Ana me encara e rir, jogando sua cabeça para trás. Eu amava a risada dela. Ana era sempre tão leve e tão cheia de vida. Ela fez suas próprias escolhas de vida, ignorando todos os conselhos e ordens dos nossos pais.

Ela é tão loira e alta quanto eu, mas seus olhos são ainda mais azuis e mais expressivos. Eu brinco dizendo que ela seria uma péssima advogada, já que seus olhos revelam todas as verdades de seu coração. Ana é especial demais para mim. Ela sempre será o meu verdadeiro amor, e eu sempre a protegerei de tudo e todos. No momento, Ana é a única pessoa pela qual eu seria capaz de tudo.

— A culpa não foi minha, sua nova assistente que não queria me deixar entrar. Aliás... – ela se aproxima como se fosse falar um segredo. – que assistente gata hein?

— Você acha? Sara é bonita, mas não é para tanto... – minto. Eu acho Sara extremamente linda, mas admitiria isso em voz alta nunca.

— Não é para tanto? Ava, eu com certeza pegaria ela.

Eu a encaro. Onde exatamente ela queria chegar?

— Não estou dizendo que vou pegar e nem que gosto de mulheres. Você sabe, tentei uma ou duas vezes e não gostei. – ela vai até a mesa de bebidas e se serve de um copo de água.

— Eu ainda acho que você não fez certo. – ela rir e se vira para mim.

— Pensa assim, comigo fora desse mercado, sobra mais para você.

Reviro os olhos.

— Como se eu tivesse tempo para isso. – sento na minha cadeira novamente e suspiro. – falar em tempo, que tal a gente comer logo? Tenho muito trabalho...

— Aves, eu venho aqui para ter um tempo com você e você praticamente está me colocando para fora! Eu estou saudade. – ela se joga no meu colo e me abraça. – faz alguns dias que não nos vemos.

— Nós nos falamos todos os dias, Ana. Não precisa ser dramática. – abraço sua cintura.

— Por mensagens. Sinto falta de te ter todos os dias lá em casa. Papai e mamãe estão enchendo o meu saco para fazer uma faculdade. – ela se levanta e senta na ponta da mesa, na minha frente. – você sabe que eu amo fotografar. É isso que eu quero fazer, e eu estou me saindo bem. Tenho cada vez mais clientes.

— Eu sei e acho seu trabalho lindo. Mas nossos pais só querem que você faça uma faculdade, não precisa seguir carreira. Você pode fazer até faculdade arte, fotografia... algo que você goste. Não precisa ser Direito.

Ela suspira cansada.

— Vou pensar... – sorrir um pouco. – mas eu quero falar com você outra coisa, será que a gente pode ir almoçar?

Uma batida na porta nos interrompe e Sara aparece, avisando que a sala de reuniões está pronta.

— Já que você vinha de qualquer maneira e eu sabia que não seria nada rápido, pedi para organizarem um almoço para gente lá na sala de reuniões. Mais privacidade e uma comida de verdade.

— Você é maravilhosa. – Ela me puxa pelo braço e me abraça beijando meu rosto.

Assim que chegamos Ana começa a falar sobre seu trabalho e como o estúdio que montou sem nenhum apoio dos nossos pais está dando certo. Como os clientes estão chegando rápido e ela está conseguindo se manter sozinha sem o dinheiro dos nossos pais.

— E tem mais. A dona de uma galeria viu minhas fotos e está louca para fazer uma exposição. Ela disse que eu consigo capturar bem a essência das pessoas nas fotos. Não é ótimo?

— Isso é maravilhoso, Ana. Você tem meu total apoio, e se precisar de alguma coisa, qualquer coisa mesmo, é só falar.

Estendo minha mão sobre a mesa para segurar a dela.

— Eu sei, e agradeço por isso. Começar essa nova fase, ser independente e não depender dos nossos pais vai ser muito bom. Por isso eu queria sua ajuda.

— Claro, o que é?

— Quero ir morar sozinha. – ela diz rápido.

Houve um silencio entre nós. Aquilo realmente me pegou de surpresa.

Ana tem apenas vinte anos, não tem maturidade suficiente para morar sozinha. Nossos pais nunca permitiriam.

— Você não acha isso precipitado?

— Claro que não, eu tenho um bom dinheiro guardado que dá para alugar um bom apartamento. Eu venho amadurecendo essa ideia a um tempo.

— E o que nossos pais acham disso?

— Ainda não falei com eles. – agora eu entendi tudo.— esperava que você me ajudasse com isso.

— Eles não vão gostar nada dessa ideia.

— Mas eu já sou maior de idade. Posso sair de casa sem precisar da permissão deles, eu só quero que eles me apoiem.

— Ana...

— Aves, por favor. Quando você se formou e quis sair de casa eu te apoiei, mesmo sabendo que sentiria sua falta.

— Quando eu saí de casa eu já era formada e já estava começando a ser conhecida na minha área.

— Aves, por favor... eu quero mesmo isso. Acho que posso crescer muito mais do que se eu ficar sempre com nossos pais me protegendo.

Suspiro pensativa. Ana não saberia morar sozinha, ela não tinha tamanha maturidade e não admitiria isso se precisasse de ajuda.

— Olha só, porque você não vem morar comigo? Só por um tempo, a gente divide as despesas da casa e as responsabilidades. Você vai ter total liberdade e nós só vamos ter algumas regras sobre bagunça, assim nossos pais se acostumam com a ideia e você tem tempo para pensar melhor se quer mesmo morar sozinha.

— Você não vai me vigiar? – ela estreita os olhos na minha direção.

— Claro que não. Nem terá hora para chegar em casa, você terá sua chave e seu quarto.

— Posso levar amigos?

Estreito meus olhos em sua direção.

— Amigos ou namorados?

— Os dois? – ela faz uma carreta e eu rio.

— Desde que seja algo sério, não vejo problemas. Mas se for seus casos rápidos com garotos imaturos, prefiro ser poupada disso.

Ana rir e concorda com a cabeça.

— Você é a melhor, Aves. – ela corre para o meu lado e me abraça.

Ana tinha essa mania de me abraçar e me beijar por tudo. Mas ela é a única que tem essa permissão. Ela é minha irmãzinha e sempre teria total liberdade para me abraçar e beijar quando quiser.

— Agora vamos para o segundo assunto e o que eu mais gosto. Festa de aniversário do nosso pai. – ela senta novamente em sua cadeira.

— O quê?

— Está chegando e nós precisamos comemorar. A mamãe disse que esse ano é por nossa conta. Ela deu total liberdade para fazermos a festa do jeito que quisermos.

— Então vai ser um jantar íntimo, só a família.

— Claro que não! Quero uma festa grande.

— Ana, você sabe que eu não gosto muito dessas coisas. – choramingo.

— Mas eu gosto, você só precisa estar em casa hoje à noite para a gente discutir os detalhes, o resto pode deixar comigo.

— Hoje eu não posso, tenho a despedida da Alice.

— Amanhã então?

— Amanhã.

Ela sorrir satisfeita e isso já basta para compensar toda a chatice de programar uma festa.

 

#

 

Já era noite quando meu celular toca com uma mensagem de Alice me lembrando de não trabalhar demais e perder sua despedida. Ela realmente estava interessa que eu fosse para essa festa, então era certo que ela estava aprontando alguma.

Faltavam exatamente trinta minutos até a hora marcada. Eu precisava terminar um único documento e então poderia ir. Seria apenas uma passada rápida, então a roupa do trabalho estava boa e seria uma ótima desculpa para eu não demorar muito por lá.

Vinte minutos depois eu desliguei meu computador e juntei minhas coisas. Eu sempre levava trabalho para casa, e isso era uma coisa que eu tinha que parar de fazer quando Ana fosse morar lá em casa. Queria ter mais tempo com minha irmã. Ter alguém para conversar em casa ia ser muito bom.

— Sara? O que está fazendo aqui? – pergunto surpresa ao vê-la ainda aqui, já que passou muito tempo do seu horário de trabalho.

— Eu estava adiantando algumas coisas e esperando para saber se ainda precisaria de mim.

— Pensei que você já tivesse saído. Não precisava ficar.

Ela sorrir sem graça e abaixa a cabeça.

— Queria compensar meu atraso de alguma forma.

Eu suspiro e me aproximo de sua mesa, deixando as pastas sobre ela.

— Você não precisa se cobrar tanto só porque levou uma bronca. Eu sou rígida com meus assistentes porque eu quero que eles tenham pelo menos metade do comprometimento que eu tenho. E ficar aqui até tarde não vai mudar o fato de que você perdeu uma reunião.

— Eu sei, mas achei que também me faria sentir bem. Eu vacilei quando saí ontem e bebi um pouco demais. Foi um erro, mas não vai mais acontecer.

— Fico feliz com isso. – sorriso. – agora vamos, temos a despedida da Alice para encerrar a noite.

— Ah, eu não vou. – ela diz sem graça.

— Como assim? O pessoal do trabalho vai estar lá e você precisa conhecer eles. – tento anima-la. – eu não sou muito de socializar, mas você com certeza vai gostar.

— Porque você acha isso? – ela me encara, olhando no fundo dos meus olhos e é como se estivéssemos de volta à cinco anos atrás. Como se ela lembrasse de mim.

Isso é impossível.

— É só um palpite. – ela estreita um pouco os olhos e balança a cabeça. – vamos? Posso te dar uma carona se você quiser... você falou algo sobre seu carro estar quebrado, não é?

— Sim, eu agradeceria.

— Então vamos.

Sara pega sua bolsa e nós andamos lado a lado até o carro. Sem dizer uma palavra.

Quando finalmente chegamos ao local, já podia ver Alice pelas janelas de vidros do local. Ainda não tinham chegado muita gente, o que era perfeito para minha passagem rápida.

Estacionei o carro e nós descemos. Quando dei a volta no carro eu pude ver Sara tirando seu blazer, ficando apenas com a saia apertada e a camisa que deixava seus braços formos à mostra.

Merda.

Merda.

Merda!

Ela tinha os ombros largos e braços definidos de quem treinava pesado na academia. Eu nunca gostei de pegar pesos, mas artes marciais sempre foi o meu forte. Nós tínhamos isso em comum.

Sara colocou o blazer no braço e sorriu para mim.

— Vamos?

Saio do transe quando ela fala.

— Sim, claro.

Deixo ela ir na frente e fico um pouco atrás, tentando pegar um ar antes de entrar naquele bar.

Porque Sara fazia isso comigo?

Merda.

Merda.

Merda!

Isso não pode ser nada bom.


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