Hermanos escrita por Leh Linhares


Capítulo 2
Capítulo 2 – Uma carta nunca enviada




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Valerio,

Não sei por que estou me dando o trabalho de escrever isso tudo se nunca vou ter coragem para enviar. Por mais que eu te ame mais do que tudo, acho que amo mais meu orgulho, prefiro que você continue acreditando que sou essa megera sem coração. Mas ainda que eu não fale não consigo mais conter os pensamentos.

Sinto que estou diante de uma grande ladeira e prestes a cair. As coisas têm sido ainda mais complicadas no colégio, Guzman e Nadia começaram a namorar a pouco tempo e me colocar por cima dessa situação tem sido ainda mais difícil. No início eu fazia piadas, eu atacava a Nadia e ele em todas as oportunidades, até perceber o quão ridículo isso parecia.

Carla e todos eles têm estado preocupados demais em encontrar um modo de prender Polo, e eu os ajudo com o que posso, mas estar no mesmo cômodo com a Nadia e Guzman é doloroso. Tudo tem sido, a escola é solitária, falo com algumas pessoas, mas não tenho mais amigos. Eu e Carla quase não nos falamos, e honestamente nem com as minhas notas eu me importo mais.

Enquanto estou sentada naquela carteira eu só penso em me levantar e ir embora, mas honestamente não é como se eu tivesse um lugar melhor para estar. Estar em casa sem você é tão difícil quanto, me lembrar do que você fez e perceber que meu pai já não se importa mais comigo. Meus pais têm brigado o tempo todo e me obrigaram a ir numa psicóloga pra curar a nossa perversão, queria ter coragem de fugir igual você fez.

A psicóloga é outro inferno, ela diz muitas coisas que eu não gosto de ouvir, a nova dela é que estou depressiva. Logo eu, Valerio, logo eu, doutora Jane pensa que eu preciso de medicação, estou quebrada. E o pior é que mesmo nunca dizendo sei que ela está certa.

Minhas atitudes mudaram de uns tempos para cá, comecei a fumar, sabe, no início era só nas festas, mas não sei se consigo mais parar. Tenho bebido e usado drogas também, é o que ajuda a suportar tudo, sabe? Eu te entendo agora, de verdade, tenho me sentido muito, muito sozinha e as drogas me tiram dessa inércia, quase me fazem acreditar que sou feliz ou que pelo menos já fui algum dia.

Eu dormi com alguns caras aleatórios, sabe e foi divertido, mas eu sempre espero que ele se torne você em algum momento. Mesmo eu te odiando pelo o que fez a maior parte do tempo, nessas horas eu sempre me lembro de como você me tocava, de como eu nunca me sentia sozinha quando estava com você. Você me fazia sentir extraordinária, mas eu não sou, certo?

Sou só uma garota mimada, má e cruel, agora entendo porque sempre me traem. Não acho que eu mereça um dia ser amada, entendo o Guzmán, compreendo porque todos se afastam de mim e mais do que tudo sei agora porque você teve que fazer aquilo.

Mas isso não faz que eu sinta menos raiva de você, a única coisa que mudou é que cansei de expressá-la. Prefiro ficar em silêncio e deixar as horas passarem, esperar que algum dia a raiva passe ou que simplesmente tudo acabe. Eu disse isso a psicóloga e ela insistiu que eu procurasse um psiquiatra, ela acha que estou pensando em me matar.

Você sabe que eu nunca faria isso, certo? Porque eu não sei mais, Valerio, tenho procurado algo para me segurar aqui..., mas nada faz mais sentido.

Tenho crises de choro constantes quando ninguém está vendo. A única coisa que importa são as minhas notas e mesmo nelas não consigo mais ser como antes. Toda vez que me sento para estudar ou tento prestar atenção nas aulas, minha mente não me deixa parar de sentir tudo isso.

Não me reconheço mais, não sei mais se consigo continuar...

Quando estou sozinha no meu quarto gosto de fingir que você ainda está aqui, me tocando, a psicóloga me perguntou se eu fazia isso e eu disse que não, não tive coragem de dizer que faço isso todos os dias.

Queria você de volta, mas não sei se adiantaria agora que você não gosta mais de mim. Sinto que preciso de você e queria te pedir para voltar, eu seria capaz de perdoar o que você fez e fingir que nada aconteceu, só pra me sentir de novo como você fazia eu me sentir.

Mas é tarde demais para isso, você me superou. Aprendeu a me enxergar como sempre deveria ter feito e eu, por outro lado, continuo te amando do jeito errado, ainda que não pareça, ainda que eu não saiba como agir.

E eu te peço desculpas por tudo que eu te fiz passar, por tudo que eu não te defendi. Eu gostaria de ser uma pessoa melhor, porém não acho que sou capaz de ser.

Se eu não estiver mais aqui quando você voltar me desculpa.

Lucrecia, sua irmã


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