Destiny escrita por Themis Magalhães


Capítulo 1
Capítulo Único - Destiny




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Mônica segurou firmemente o copo que tinha em mãos, com os olhos fixos no líquido colorido à sua frente. O mundo ao seu redor era agitado e festivo, mas ela estava perdida em si mesma, tão profundamente que todos os sons estavam abafados. Mesmo as pessoas que às vezes trombavam com ela, desajeitadas pelo álcool, não pareciam estar realmente ali.  

Ela suspirou de maneira cansada e foi em direção à uma das mesas de canto, escondida das luzes vibrantes e loucas. Quando se viu sozinha, com a certeza de que seus amigos já estavam loucos demais para notar o quão destruída estava, ela desmanchou por completo a expressão de neutralidade que vinha apresentando desde o início da noite. Como uma máscara que caía, o vazio deu lugar à tristeza profunda e fria. Seus olhos ficaram nublados e ela sentiu os lábios tremerem violentamente. 

Mônica não queria chorar em público, mas talvez não fosse tão ruim fazer isso sob o escuro. Eles não a veriam, de qualquer maneira, e ela duvidava bastante que notassem seus olhos inchados depois. Mesmo se o fizessem, ela culparia o copo à sua frente, agora sobre a mesa, ainda cheio. 

Soltou uma curta risada, sem qualquer vontade de rir. Era tão inútil que nem mesmo conseguia se forçar a beber até ficar bêbada. Era incapaz de alcançar seu objetivo, que a motivara a aceitar o convite para ir dançar: beber tanto quanto pudesse para que seus problemas se dissolvessem e ela apenas se importasse em dançar até os pés doerem. Repetira isso mentalmente em todo o caminho, sentada no fundo do táxi, entre amigos muito agitados. Por que agora era tão difícil levar o copo aos lábios?

Aquela não era a primeira vez que sofria por amor, mas era a primeira vez que se sentia tão paralisada pela perda. Nunca, jamais, estivera tão submersa em lembranças como naquela noite. Ela nem mesmo conseguia forçar um sorriso e simplesmente beber. Quem diria que ela ficaria tão acabada assim por alguém que rejeitara tantas vezes. 

Mônica se ajeitou na cadeira alta e balançou os pés. Ela não diria. Jamais. Sempre tivera tanta certeza de que estava destinada a outro homem. Todos diziam isso com convicção e insistiam para que tentassem. Se conheciam desde a infância, era o relacionamento perfeito. Mesmo suas brigas poderiam compor o mais belo clichê romântico. Tentaram e falharam, e tentaram de novo e falharam mais uma vez. E toda vez que acabavam, ela sofria e se recuperava. 

Mas daquela vez? Ela sofria por outro, alguém que sempre a amara. Alguém que ela rejeitara desde cedo. Alguém com quem não tivera nada. E não se recuperava. 

Por que tinha sido tão difícil assisti-lo beijar outra pessoa? Ela não negou aquele beijo mais de uma vez? Por que foi tão difícil  vê-lo abraçar aquela garota? Não tinha ela mesma se afastado de seus braços?

Ele a segurara com tanta delicadeza, trazendo-a para perto com carinho. Com o dedo indicador, tinha erguido o rosto dela para que pudesse beijá-la, e o fez sem ao menos notar Mônica paralisada perto deles. Não a viram perder o controle de lágrimas que ela até aquele momento não sabia justificar. Ela não conhecia a garota, mas o dois pareciam tão íntimos. Feitos um para o outro. 

Mônica balançou a cabeça, desejando estar embriagada. Com certeza seria melhor que ficar ali, para baixo e sozinha, perdida em pensamentos enquanto deslizava os dedos pela superfície suada do copo. 

Franziu o cenho e fechou mais os dedos sobre o copo. Com um movimento determinado, o levou aos lábios e engoliu um pouco da bebida doce. Era saborosa e estava deliciosamente gelada, mas ela fez uma careta e a afastou. Se sentiu ridícula quando o gosto se espalhou por sua boca porque sabia que a sensação não iria embora tão fácil assim. Poderia beber até cair, mas acordaria com o mesmo vazio. Talvez até mesmo o sentisse em meio a agitação. A recompensa era muito pouca quando se imaginava passando por aquilo somado à ressaca. 

Percorreu os olhos pela pista de dança e avistou seus amigos. Magali dançava colada ao Cascão, ambos arrasados com seus próprios términos. Presos num mundo onde só os dois existiam. Pela maneira como estavam a noite inteira, lançando olhares intensos um para o outro, Mônica sabia que algo florescia ali. Um sentimento que ela desconfiava que existia há muito mais tempo, um que esperara muito para crescer e se manifestar. Tinham vindo juntos, os três, mas ela não sentia que fazia parte do que acontecia ali. 

Então ela sentiu que alguém a encarava. Varreu o local até o encontrar, parado num canto, olhando-a fixamente. Cebola tinha em mãos seu próprio copo, quase vazio, enquanto Carmem dançava ao seu lado. Ele mal parecia notá-la enquanto olhava para Mônica, e por sua expressão sabia que Cebola percebia que algo estava errado. Seu olhar inteligente procurava em seu rosto indícios de tristeza e os encontrava com facilidade. Pareceu querer se aproximar, mas a loira já havia envolvido seu pescoço com os braços e começado a beijá-lo.

Erguendo uma sobrancelha, Mônica percebeu que ele achava que estava triste por causa dele. Pensava que ela o queria de volta e que cederia, como todas as outras vezes. Mônica teria revirado os olhos se não estivesse cansada demais para lidar com o idiota que a traíra mais de uma vez. Então apenas o ignorou, até que ele se tornasse mais um borrão no mundo desfocado ao seu redor. 

Voltou a olhar para o copo que tinha em mãos e seus pensamentos ficaram cheios de novo. Não por Cebola, ou por Carmem - que agora o arrastava para o centro da pista de dança. Ela não se importava mais. Mas sim por aqueles olhos doces que a sustentaram mais de uma vez, quando passava por problemas. Por aquele sorriso hesitante e brilhante que ele dava quando ficava nervoso, enquanto passava os dedos pelo cabelo escuro. Como não percebeu antes o efeito que ele tinha sobre ela? Como pôde ser tão idiota ao ponto de esperar até o último instante, quando não havia mais volta, para perceber como se sentia?

Uma lágrima solitária escapou e escorreu por sua bochecha. Ela a afastou com a ponta dos dedos. Então outras vieram e ela perdeu o controle. Decidiu que precisava escondê-las, então juntou os braços sobre a mesa e refugiou-se ali. O mundo ficou escuro e ela chorou, onde ninguém mais poderia vê-la. Não emitia som algum, ou qualquer movimento mais brusco. Apenas chorava em silêncio.

— Então, não vai tomar essa bebida? - disse uma voz tranquila, atrás dela. Ela a reconheceu imediatamente e se levantou de supetão, com uma agitação crescendo no peito. 

Estava vestido como sempre: com uma camiseta lisa preta, calça jeans velha e a mesma corrente prateada no pescoço. Mesmo um pouco distante, Mônica sentiu o cheiro do sabonete que ele sempre usava.

Do Contra a encarou por alguns segundos de maneira tranquila, com as mãos nos bolsos da calça jeans. Quando notou as lágrimas em seus olhos, no entanto, franziu as sobrancelhas e se aproximou rapidamente. Ele se sentou na cadeira em frente a ela e se inclinou em sua direção, muito próximo.

— Ei - sua vez soava preocupada. - O que aconteceu?

Mônica balançou o rosto e tentou erguer um sorriso. Seus lábios se contorceram de maneira torta; aquilo não era um sorriso. 

— Não é nada - disse ela, mas a voz embargada denunciava a mentira. Do Contra estreitou os olhos e a analisou, deixando bem claro que não acreditava naquilo que ela dizia. Mônica suspirou e cruzou os braços. - Só não quero falar sobre isso.

— É por causa daqueles dois ali? - respondeu ele, ignorando seu último comentário. Enquanto apontava para Cebola e Carmem dançando juntos, Mônica viu um brilho estranho nos olhos dele. 

Ela balançou a cabeça e soltou uma risada irônica. 

— Eu não me importo mais - falou, sinceramente. - Por muito tempo me importei, mas isso é passado. 

Do Contra fez que sim com a cabeça, procurando mentalmente hipóteses que pudessem justificar as lágrimas de sua amiga. Seja lá quais fossem, não pareciam ser corretas porque ele pareceu frustrado. 

— Então - continuou ela, tentando desesperadamente mudar de assunto. - O que o traz aqui? Até onde sei, você odeia lugares como esse. 

Ele a olhou nos olhos e um sorriso divertido se espalhou por seus lábios. Ele piscou para ela.

— Mas é por isso mesmo que estou aqui. 

Mônica soltou uma risada leve e então ela se lembrou do riso que aquela garota dera para ele ao se separarem do beijo. Logo antes de Mônica virar as costas e correr para longe. Seu riso morreu tão rapidamente quanto havia surgido. 

Ela virou o rosto para o lado para que ele não notasse a tristeza que o manchava. 

— Então... não vai beber? 

— O quê...? - Mônica viu que ele apontava para o copo a sua frente. - Ah, não. Hoje não estou com vontade. Pode ficar, se quiser. 

Do Contra aceitou sem mais comentários. Mônica percebeu, com certa melancolia, que sem querer pediu a bebida preferida dele. Nas raras vezes que tinha conseguido arrastá-lo para festas, ele acabava pedindo aquela bebida. Observou Do Contra tomar um longo gole e então soltar uma exclamação satisfeita. 

— Nunca perde a graça - murmurou ele, mais para si mesmo. Então voltou os olhos para Mônica. - E então, diga, o que está acontecendo?

— Eu realmente não quero falar sobre isso - disse ela. - Por favor. 

— Está bem, mas saiba que estou aqui se quiser conversar, certo?

Mônica assentiu. Ele sempre estivera. 

— Então, falando sério, por que está aqui? Lembro que precisei implorar para que viesse da última vez. 

Do Contra abaixou os olhos para o copo, os dedos deslizando pela lateral suada. As bochechas ficaram levemente coradas. 

— Eu... hm... vim encontrar alguém. 

Uma sensação gelada se espalhou pelo peito de Mônica. Lembranças daquela tarde, quando testemunhou o beijo entre Do Contra e aquela menina, estavam frescas em sua mente. Quando a ouviu dar uma leve risada para ele, sentiu como se estivesse levando uma facada.

Forçou-se ao máximo para sorrir e pôde jurar que viu um ligeiro desapontamento brilhar nos olhos dele. 

— Ela deve ser muito especial mesmo se consegue te convencer a vir aqui. 

— Acho que sim - disse Do Contra, ainda encarando o copo à sua frente. - Ainda estamos vendo como as coisas vão funcionar. Eu só... 

— O quê? - falou Mônica, secamente. Não queria ouvi-lo falar sobre outra. 

— Não, nada. Acho que estava esperando esclarecer algumas coisas esta noite antes de tomar uma decisão. 

— Não demore muito, incerteza prolongada traz consequências bem difíceis de lidar - soltou ela, e vendo que suas palavras poderiam revelar demais, logo acrescentou: - quer dizer, não pense muito. Vá ser feliz. 

Do Contra abriu os lábios e pareceu querer dizer algo, mas nesse momento algo vibrou em seu bolso. Ele pegou o celular e conferiu a tela. 

— Ela chegou - disse ele. - Vou buscá-la na portaria. 

Com o coração duro, Mônica assentiu. 

— Então, já esclareceu as coisas?

— Eu acho que sim - a voz dele soou distante. - É que às vezes eu sou teimoso demais para entender o óbvio. Insisto em tentar encontrar explicações que não existem. Mas agora eu vejo que as coisas são como são. Bem, vou nessa. Obrigado pela bebida.

Mônica o viu se afastar em silêncio. Um leve formigamento se agitou em seu peito e fez com que quisesse gritar apenas uma única palavra, fazer com que voltasse para ela, mas Do Contra claramente tinha seguido em frente. Ela precisava fazer o mesmo. Tentou se convencer de que era uma boa solução quando as lágrimas ameaçaram cair e ela se sentiu impotente. Ele já havia sumido entre a multidão de jovens dançando, caminhando para longe dela. Não havia como voltar atrás. 

Tateou a mesa, álcool poderia ser muito útil agora. Quando seus dedos apenas encontraram o vazio, lembrou-se que a bebida estava com Do Contra. Naquele momento, as lágrimas caíram sem cerimônia. 

— Mônica? - disse uma voz atrás dela. Mônica virou esperançosa, mas deu de cara com Cebola. Estava com a mesma expressão de todas as vezes em que estavam prestes a fazer as pazes. - Acho que a gente tem que conversar. 

E ali estavam os dois de novo. Mas agora, Mônica tinha o peito vazio enquanto o encarava. Aquela aproximação repentina não causava mais nenhuma aceleração no seu coração. Mas e daí? O que poderia ela fazer se eles estavam, claramente, destinados um ao outro? Não era o que sempre ouviam?

Do Contra era seu desvio, o caminho que ninguém esperava que um dia escolhesse. Talvez estivessem certos, afinal. Seu lugar era ao lado de Cebola, mesmo que seu coração naquele momento gritasse desesperadamente que fosse ao encontro do incerto. Um dia ela entenderia, era o que diziam. 

— É, acho que sim - disse, enxugando as lágrimas. 

Ele estendeu a mão e ela a pegou. Juntos, saíram pela porta da frente em busca de um lugar mais tranquilo. Com a mente cheia, tentando se convencer de que agia certo, Mônica não viu Do Contra a observar ao longe. Se por um segundo tivesse capturado seu olhar, veria uma tristeza profunda e entenderia que, somente naquele momento, ele havia esclarecido o que pensava ser a verdade. 

 


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Notas finais do capítulo

Olá =)

Obrigada a quem deu uma chance para a one e leu até aqui! Que tal deixar um comentário? Adoraria saber sua opinião sobre ela.

Desculpem por qualquer erro =)



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