Marcas de Guerra (Espólios de Guerra 1) escrita por scararmst


Capítulo 4
Arrependimento


Notas iniciais do capítulo

Cheguei gente :D
Vou tentar deixar o dia de postar aqui como sendo domingo
Para quem lia antes, vai reconhecer esse capítulo como um dos meus que já estavam prontos. Vai ter vários assim então bastante coisa repetida -q Mas é a vida
Espero que gostem ♥



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02 de julho de 1998

 

Vários dos conceitos envolvidos no processo prisional eram familiares para Draco. Horas de visitação, banho de sol, refeições… Afinal de contas, seu pai estivera preso uma vez, e o rapaz viera o visitar repetidas vezes. O que Draco não imaginava era que fosse eventualmente acabar do outro lado da equação.

Era só agora, sentado em uma mesa, esperando sua visita chegar, que ele percebia como tinha sido estúpido. Se Você-Sabe-Quem tivesse vencido a guerra, era óbvio o que teria acontecido depois. Glória restaurada aos Malfoys, dinheiro, fama, poder… Tudo que ele e os pais tinham esperado alcançar. O que o deixava tão embasbacado consigo mesmo era que tivesse ignorado o que aconteceria caso Potter fosse o vencedor da guerra.

Mesmo enquanto tudo começou a se aproximar do fim, e a certeza de que Você-Sabe-Quem seria perdedor se tornava mais frequente, Draco não tinha parado para pensar no que isso significaria para ele. Tudo havia sido um pouco confuso naquela época. Ele mesmo, e também seus pais embora não tivesse mencionado em voz alta, queriam que Potter acabasse vencendo naquele ponto. Você-Sabe-Quem tinha pisado mais em sua família do que o lado de Potter iria. Toda a glória que pensaram que iriam ter caso saíssem vitoriosos era claramente uma mentira, de forma que a mudança de lealdade dos Malfoys bem no final de tudo fora mais estratégia do que ideológica. 

Ainda assim, ele percebeu, estava longe de ser o suficiente. Mesmo que tivesse ajudado Potter uma vez ou outra, ou ao menos que não tivesse o atrapalhado; mesmo que sua mãe tivesse salvado a vida de Potter no fim, embora apenas com a intenção de encontrá-lo. Mesmo apesar de tudo isso, dois dias depois da guerra, dois aurores tinham batido na porta da mansão e levado Draco e Lúcio presos. Prisão preventiva para todos os comensais, eles disseram. E com o resquício da marca negra ainda em seus braços, eles não puderam simplesmente mentir para escapar disso.

Não que não tivessem tentado. Oh, não. Entre mentiras, manipulações e até tentativas de suborno Lúcio tinha feito de tudo para que ele e o filho não ficassem na cadeia. Sem sucesso. Eventualmente, Draco fora obrigado a aceitar que teria que ficar naquela espelunca de lugar, comendo grude e recebendo olhares tortos de vários comensais que seu pai já tinha delatado em épocas passadas na vida.

Ele sabia que as únicas coisas que impediram esses antigos comensais de o surrarem em algum canto da prisão haviam sido as medidas extremas de segurança da nova Azkaban e o resquício de respeito que a presença de seu pai impunha. Apesar disso, esse resquício estava cada vez menor. Cada dia que ele e o pai passavam presos era mais uma prova para quem estava preso com eles de que sua influência estava se esvaindo, e aos poucos isso acabaria quebrando o último muro de proteção que ele tinha ali dentro.

Draco sabia o que eles estavam esperando. O julgamento. Se depois do julgamento os dois não conseguissem se safar, a prisão seria terra de ninguém para eles, e todos os comensais em quem Lúcio já tinha pisado de alguma forma iam aproveitar a presença dele e de seu adorado filho ali para descontarem a raiva. Muitos deles estavam condenados perpetuamente. Não tinham nada a perder. Para muitos, a vingança valeria à pena.

O sonserino respirou fundo, passando a mão pelos cabelos. Precisava pensar. Tinha que ter alguma coisa que eles pudessem fazer, as coisas não podiam estar tão perdidas assim. Enquanto ele pensava nisso, a porta da sala se abriu, e ele viu sua mãe entrar com uma pequena bolsinha de itens para ele.

— Draco, você está esquelético. Isso não é jeito de um Malfoy se apresentar.

Se não amasse tanto sua mãe, ele teria rido. Estava esquelético desde o sexto ano, sabia que os pais tinham notado. Não era como se a ansiedade daquela época tivesse o deixado comer muita coisa. Na época, porém, era melhor para eles fingir que não percebiam o que a vida que o garoto ia levando estava fazendo com ele, uma vez que ele precisava cumprir seu papel direitinho.

Agora, que o interessante era ele mostrar força na maior adversidade possível, era esperado que ele se mostrasse inteiro, firme, saudável. Até parece. Se já não estava bem antes, não seria agora, preso em Azkaban, que iria ficar.

— Experimente viver da gororoba porca que eles servem aqui. Qualquer um ia ficar esquelético.

Narcisa suspirou, entregando a bolsinha para Draco e se sentando na frente dele. Ele abriu a bolsinha e encontrou alguns sabonetes, uma escova de dentes nova, pasta de dentes e uma lâmina de barbear. Baboseira trouxa. Ter que ficar escovando os dentes porque não se podia limpar a boca com um feitiço.

Ele resmungou, colocando a bolsinha de lado. Aquilo ia acabar o matando. Não havia castigo pior do que viver como um trouxa. Seja lá o que quisessem o ensinar com isso, ele certamente estava aprendendo a lição.

— Conversei com seu pai.

— É, eu também. Todos os dias. É incrível o que dividir a cadeia não pode fazer por uma relação paternal.

Narcisa levantou a sobrancelha. Geralmente Draco não respondia os pais, os temia o bastante para isso, mas algo estava mudando na balança do destino. Ali dentro Lúcio era ainda mais odiado do que Draco era. De alguma forma, ele estava acima do pai nesse aspecto. Tinha ganhado um pouco mais de audácia com isso.

— Vocês tiveram alguma ideia?

— Não exatamente. — ela respondeu, cruzando os braços. — Shacklebolt é uma rocha no posto de Ministro da Magia. Ele e qualquer um que trabalha com ele são incorruptíveis, ao menos por agora. Você vai ter que passar pelo julgamento.

— Puta que pariu!

O auror que guardava a sala se virou para eles, mas Narcisa levantou a mão, indicando que estava tudo bem. Ela continuou.

— E vai ter que fazer o possível para que a punição seja diminuta. Seu pai tem uma série de crimes e uma reincidência nas costas. Você ainda pode se safar, de certa forma. — ela suspirou. — Andei conversando com seu advogado. Ele acha que devemos tocar a linha “garoto jovem na influência do pai que não sabia o que estava fazendo”.

Inacreditável. A saída incrível de sua mãe para não afundar a família de vez era colocar tudo em cima de Lúcio para que ao menos a linhagem estivesse a salvo com o filho.

— Ah, tá certo… E meu pai deve muito ter concordado com isso.

Narcisa apenas levantou a sobrancelha.

Não. Sem chance.

— Ele concordou?!

— Draco, se você conseguir uma pena curta, podemos corrigir algumas coisas e honrar o nome da família. Podemos sair da lama. Basta você sair da cadeia a tempo para corrigirmos as coisas, e agirmos com cuidado depois disso.

— Meu pai está aceitando que a gente manche o nome dele na história para que o sobrenome sobreviva? Ele deve estar louco…

Mas de certa forma, Draco sentia que não estava. Conseguia entender. Lúcio não era ninguém. Lúcio Malfoy, sim, ele era. Estragar a reputação dos Malfoy estragaria para os três. Mas se Draco e Narcisa pudessem levantar a família do chão, talvez, num futuro distante, mesmo Lúcio poderia encontrar uma rendição. Seria apenas o caso de encontrar os repórteres certos.

Draco suspirou. Isso tudo… Era demais.

Estava cansado.

— Por enquanto, tente passar o mais despercebido que puder. — Narcisa aconselhou, se levantando. — Não vou mentir, não vai ser fácil, mas nós vamos dar um jeito. Nós somos Malfoys, Draco. Um Malfoy sempre sai por cima.

Impossível. Dessa vez, seria impossível. Ele tinha certeza.

O guarda abriu a porta para Narcisa sair, e outro foi até Draco, enfeitiçando uma algema nos pulsos dele e o empurrando para fora pelo pescoço

Draco aproveitou para olhar para o relógio no pulso erguido do guarda. Era hora do almoço. Ah, aquela gororoba nojenta… Ia ficar mais uma dia sem almoçar. Não estava com tanta fome mesmo, e o esforço não valia à pena. Além do mais, se sua mãe queria mesmo construir uma imagem de “coitado abusado” para ele, aparecer no julgamento com cara de quem estava definhando certamente ia ajudar.

Ele foi guiado direto para o refeitório. Os presos todos falavam baixos, cautelosos o suficiente com os olhares atentos dos guardas sobre eles. Com Draco não seria diferente. Ele pulou a fila do almoço e foi se sentar diretamente na frente do pai, que até se servira com um pouco do purê de abóbora, mas não tinha muito mais vontade de comer do que o filho.

— Qual é a sua, hã? — Draco perguntou, mantendo a voz baixa, mas firme o bastante para mostrar que não estava para brincadeiras. — Não me venha com baboseiras amorosas, você nunca ia se sacrificar desse jeito pra me tirar daqui. Desembucha.

Lúcio levantou a sobrancelha de forma idêntica ao que Narcisa fizera mais cedo. Sempre que um dos pais fazia isso, Draco se perguntava se um teria aprendido o gesto com o outro, ou se fora apenas coincidência que os fizera serem igualmente antipáticos.

Bem, ele era antipático também, então talvez fosse sim por conviviência.

— Apesar do que você pode pensar de mim — Lúcio respondeu em seu tom calmo e suave, mas sempre com uma nota de ameaça. — eu me preocupo sim com você. Se eu e sua mãe não quiséssemos ser pais, teríamos te jogado em Durmstrang para crescer em um internato longe o bastante de nós para não ser um problema.

Se seu pai tivesse dito qualquer coisa diferente disso, talvez Draco não acreditasse. Mas a frieza de sugerir que teriam se livrado dele de forma tão elegante e ainda respeitosa ao nome da família era o bastante para que Draco acreditasse ao menos naquela parte da história.

— Qual é o plano? — ele voltou a perguntar.

— Sua mãe tinha a função de colocar a parte dele. Ela não o fez de forma satisfatória?

Lúcio cutucou o purê de abóbora, mas não parecia mesmo disposto a comer. Draco sentiu vontade de arrancar o garfo da mão do pai, mas se controlou. Não ganharia nada com uma demonstração impulsiva de infantilidade.

— O que você vai ganhar com isso? O que você ganha me tirando da cadeia desse jeito?

E antes que Lúcio respondesse, Draco já sabia a resposta.

Redenção. Da mesma forma que Draco deveria fazer o papel de “garoto mal influenciado”, o papel de Lúcio era o de “pai arrependido”, de forma que pudesse reconstruir a reputação dele de dentro da própria cadeia.

Lúcio não achava que fosse ter chances de ser solto. Então estava contando ao menos com uma morte piedosa, ali dentro, baseado no que Draco fizesse depois que saísse.

— Você quer que eu reconstrua a minha reputação, para depois consertar a sua para você? — Draco riu, sarcástico. — Não vai funcionar. No momento em que seu nome sair da minha boca, qualquer coisa que eu tiver construído vai por água abaixo.

— Eu te criei para ser um Malfoy digno, Draco. E um Malfoy digno sabe contornar tabloides a seu favor e a favor de seus interesses. Se você falhar nisso, não merece o nome que tem.

E Lúcio se levantou, pegando a bandeja intocada de comida e levando para o lixo.

Draco deitou a cabeça na mesa, vendo de relance o borrão preto em seu braço que fora a Marca Negra um dia. Só de pensar em todo o estresse da cadeia, depois do julgamento, depois de mais cadeia caso não conseguisse se safar, e depois ainda de passar o resto da vida pagando pelos erros dos pais e tentando corrigir tudo, sozinho…

Bem, sua mãe estaria com ele. Mas ainda assim, seria demais.

Draco ficou deitado na mesa até o horário do almoço acabar. Depois voltou para sua cela e, mesmo estando cedo, se deitou na cama e fechou os olhos. Se desse sorte, não acordaria mais depois de dormir.


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Notas finais do capítulo

Não deixem de comentar, faz muita MUITA diferença para mim, de formas que não sei nem dizer -q

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