Marcas de Guerra (Espólios de Guerra 1) escrita por scararmst


Capítulo 1
Culpa


Notas iniciais do capítulo

Olá oláaaa olha eu com história novaaaa
Para quem estiver preocupado com o andamento das minhas outras coisas, não se preocupem, meus capítulos para essa história já estão quase todos prontos. Não vai agarrar com minhas outras coisas não, tá safe
Espero que gostem!



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16 de junho de 1998

 

MINISTÉRIO DA MAGIA EM FUNCIONAMENTO INTEGRAL

 

Desde o final da batalha travada em Hogwarts que causou o fim Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, o Ministério da Magia tem tido muita bagunça para limpar. Depois que os dementadores foram substituídos por aurores, estes têm trabalhado bem mais do que o esperado, tendo que se dividir entre vigiar as celas de Azkaban e caçar os últimos aliados fugitivos.

Conseguimos contatar Percy Weasley, acessor pessoal do Ministro da Magia, para responder algumas perguntas. Ele mesmo estava tão cansado e ocupado que não conseguiu parar mais do que alguns segundos, mas foi o suficiente para que conseguíssemos um depoimento oficial.

Estamos fazendo o melhor para alocar todos os julgamentos nos próximos meses. Ninguém quer que essa loucura acabe mais do que nós, acredite. Os aurores estão cansados, os chefes de departamento também, até os presos preventivos estão cansados de esperar os julgamentos e isso vira uma dor de cabeça pro nosso lado. A situação vai ser regularizada assim que possível, pedimos a todos para que tenham um pouco de paciência.”, disse o Sr. Weasley, correndo pelo corredor atrás do Ministro.

O próprio Kingsley Shacklebolt não deu nenhum depoimento e apenas confirmou com a cabeça, concordando com qualquer coisa que Percy tivesse falado. O Profeta Diário divulgará qualquer nova notícia sobre o caso assim que a receber.

 

Harry suspirou e jogou o jornal na mesa, passando a mão pelo rosto. “Cansado” nem começava a definir seu estado atual. Vinha pegando rondas noturnas em Azkaban com mais frequência do que tinha certeza de que seria saudável, mas ele era o nome que mais assustava os presos, e portanto, o mais propenso a manter as coisas sob controle na prisão quando a noite caia.

Não que ele fosse o único nome que assustaria os presos, mas era o único disponível. Neville Longbottom, agora famoso por decepar a cobra de Voldemort com uma espada, decidira viajar pelo mundo com sua agora namorada Luna Lovegood para estudarem mais sobre plantas e criaturas mágicas. Hermione Granger, famosa por uma série de coisas, como por ser o cérebro por trás do sucesso de Harry, era chefe da nova Divisão de Controle dos Direitos dos Elfos Domésticos, no Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, e portanto tinha se afastado de qualquer trabalho de auror. E Rony Weasley, conhecido por ser tão perigoso em combate quanto Harry, ou mais, uma vez que tinha um pouco menos laços morais que o amigo, estava recluso em casa e não parecia ter se recuperado das perdas ainda.

Harry se sentia isolado. Tinha vivido todas essas coisas com seus amigos e enquanto eles conseguiam seguir em frente para outras aventuras, ou ao menos parar por tempo o bastante para lidar com o dano da guerra, ele estava preso em um loop. Tentara tirar férias, mas tinha bastado a primeira carta de Kingsley chegar que já tinha se alistado.

Talvez, no fim das contas, fosse incapaz de se afastar de tudo. Talvez já fosse tarde demais para si mesmo para tentar levar outro tipo de vida. Mesmo Quadribol deixara de ser um sonho para o futuro, e agora o alcançava mais como um passatempo para as horas vagas que nunca tinha.

— Meu senhor Potter? O chá não está de seu agrado?

— Hã?

Harry olhou surpreso para Monstro, parado ao pé da mesa com uma vassoura, limpando o chão da cozinha. Então percebeu que largara o jornal na mesa e não tinha nem tocado em seu chá, que começara a esfriar.

Era uma vida bem estranha, agora. Tendo sido o único herdeiro do Largo Grimmauld, número 12, e também herdeiro da magia que prendia Monstro aos Black, era agora dono de uma casa e de um elfo doméstico, tudo isso aos dezessete anos de vida. Para alguém que era praticamente usado como um elfo antes, tinha sido uma mudança bem palpável virar o dono de um. Uma boa parte de Harry estava tendo uma dificuldade para se ajustar a ter uma casa e morar sozinho. Mesmo que fosse tratado como se fosse invisível pelos tios ao longo da vida, era bem diferente ter o barulho deles andando pela casa e ter Duda pegando no seu pé para, de repente, ficar só na companhia de Monstro o tempo todo.

Não voltaria em tempos antigos, de forma nenhuma. Monstro gostava dele, o que era impensável que pudesse acontecer anos atrás, e Harry gostava dele também. O elfo era quase como se fosse seu pai às vezes, principalmente quando Harry chegava exausto em casa de tanto fazer rondas em Azkaban e apagava no caminho pro chuveiro, e depois acordava quentinho e acomodado em sua cama.

Harry pegou a xícara e bebeu um gole. Ah, sim, o chá estava perfeito. Monstro aprendera até a quantidade de açúcar que Harry gostava, e o auror nem precisara ensinar isso ao elfo. Ele simplesmente notara sozinho.

— O chá está ótimo, como sempre. Obrigado. É só…

O auror conteve um suspiro. Hermione sempre procurava por ele no Ministério para saber como ele estava, mas vinha trabalhando demais para vir realmente visitá-lo em casa. Juntando isso a Rony se recusando a ver ou falar com qualquer um, Monstro se tornara seu amigo mais próximo. Vinha desabafando tanto com ele que recentemente o elfo sabia mais sobre a sua vida do que os amigos. E não era a mesma coisa. Não era como se Monstro fosse entender ou dar um conselho. Ele só escutava e oferecia ajuda, mas não fazia algo sem que Harry pedisse. Era como se a magia entre os dois impedisse Monstro de ser o amigo de que o bruxo precisava agora.

— Obrigado por me ouvir e fazer tanto por mim, Monstro.

— É meu dever, senhor Potter. — ele respondeu, fazendo uma reverência até a ponta de seu longo nariz tocar o chão. — O senhor vai trabalhar hoje?

— Ah! Não, hoje não. Moveram a minha licença semanal para me realocar com alguns outros julgamentos. Vou sair daqui a pouco, visitar o Teddy. Não vou almoçar em casa, nem nada. Tire o dia de folga também.

— Sim, senhor Potter.

Harry abriu um sorriso meio desajeitado. Essa sua nova relação com Monstro era estranha… E solitária. Muitas vezes, ele não sabia como agir a respeito.

Ele balançou a cabeça, afastando os pensamentos a respeito, e aparatou para a porta da casa de Andromeda Tonks.

Havia ocorrido uma certa cisão de opiniões sobre Teddy depois que a guerra tinha acabado. Embora o consenso geral fosse de que o menino seria melhor criado pela avó, Harry entrou em uma espécie de desespero latente ao ver o bebê sem os pais, sentindo um enjoo na boca do estômago e uma torrente de lembranças de sua infância. De como fora crescer com os Dursley, de como sentira falta tantas vezes de um carinho de pais que nem sequer sabia como era. Ele sabia que era estúpido pensar que Teddy passaria pelo que tinha passado. Andromeda o amava e com dois meses de vida o bebê já a ouvia dizer o quanto seus pais tinham sido heróis.

Ainda assim… Harry se lembrava de Sirius. Se lembrava de como queria que o padrinho tivesse estado com ele uma vez que seus pais não puderam. De como tinha sonhado em inocentá-lo para que pudessem morar juntos. Não tinha tido isso para si, e queria que Teddy tivesse. Visitava Andromeda em todos os seus dias de folga, e mais de uma vez tinha dito à mulher para que viesse morar com ele. Parte porque queria estar presente para Teddy. Parte porque o número 12 do Largo Grimmauld parecia, muitas vezes, grande e vazio demais para estar sozinho. 

E não era como se pudesse simplesmente chamar amigos para visitá-lo. Não com Hermione sempre ocupada, Rony incontactável e Luna e Neville viajando. Harry tinha chamado Dean para alguns voos de vassoura, mas logo percebeu que ele mesmo não estava com ânimo para nada disso, e acabou se fechando também.

Ele bateu na porta e esperou. Não sabia bem por que estava tão… decepcionado com o rumo que sua vida ia levando. O que tinha achado que ia acontecer? Que ia matar Voldemort e então tudo estaria bem? Que isso seria a solução mágica para todos os seus problemas? Que todo mundo ia continuar a vida como se a guerra nunca tivesse acontecido, e que todos os seguidores dele iriam aparecer magicamente em suas celas em Azkaban?

A porta abriu. Harry desejou que conseguisse colocar um sorriso maior no rosto ao ver Andromeda do outro lado, mas o cansaço emocional estava começando a ganhar dele. A mulher abriu um sorriso enorme e Harry achou a animação dela admirável. Teddy recebia visitas o tempo todo, e ela continuava animada em receber todo mundo.

— Harry! Não sabia que vinha hoje, eu teria assado um bolo! Entre, meu filho, entre, por favor!

— Desculpe, moveram minha folga de última hora. Como está Teddy?

— Está muito bem. Ele é um menino muito bonzinho, não dá trabalho nenhum…

Harry ouviu o clique da porta se fechando e Andromeda passou rapidamente ao seu lado. Ele viu a mulher sumir no corredor e se sentou no sofá, olhando em volta. Magia era mesmo uma mão na roda. A louça estava se lavando sozinha, um ferro estava passando algumas roupas e em um momento ele levantou os pés para uma vassoura que passou limpando o chão.

Harry soltou uma risadinha baixa. Se tivesse magia em sua infância sua vida com os Dursley teria sido muito mais fácil.

— Eu acabei de dar banho nele.

E Andromeda veio pelo corredor com o pequeno Teddy em seus braços, embrulhado em uma manta. Como das outras vezes em que estivera ali, Harry sentiu um calor confortável no coração. Não tinha imaginado, quando Remus pedira a ele para ser o padrinho, que a sensação de cuidar de uma vida tão pequena seria assim tão… Mágica.

Ele pegou o bebê no colo. Hoje, Teddy estava com a pele verde clara e os olhos vermelhos.

— Olá, Teddy. — ele brincou, balançando o bebê devagar nos braços.

Teddy ainda era muito pequeno para rir, estender a mão ou reagir de qualquer outra forma a isso, e Harry se sentia estranhamente ansioso para quando acontecesse. Quando Teddy soltasse a primeira risada, ou quando começasse a pegar brinquedos sozinho. Quando falasse seu nome, ou começasse a engatinhar.

Queria estar lá quando essas coisas acontecessem. Não queria que Teddy se sentisse sozinho.

— Quer alguma coisa, querido? Chá, biscoitos… Tem uma torta de maçã…

— Não precisa, obrigado. Eu acabei de tomar café em casa. Monstro não me deixa sair sem comer, imagine só.

Harry reconheceu o sorriso que apareceu no rosto de Andromeda como o mesmo que Molly costumava dar para ele sempre que sentia pena dele em algum nível. Algumas vezes, isso deixava Harry desconfortável. Não gostava de pensar que estava dando trabalho para Molly, e o mesmo se aplicava a Andromeda.

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, Harry vendo o bebê olhando em volta, curioso, virando a cabeça em várias direções. Vinha lendo tanta coisa sobre bebês ultimamente que até isso ele sabia ser um bom sinal para a idade.

Tinha entrado em pânico quando segurara Teddy pela primeira vez, e sentia desde então que quanto mais soubesse sobre bebês melhor. Queria saber como cuidar dele do jeito certo.

— Da última vez ele chorou depois que você foi embora. — Andromeda comentou, recostada contra o encosto do sofá. — Acho que sente sua falta. Acho que ele pensa que nós somos os pais dele.

Harry sentiu algo agarrar em sua garganta. Ainda se sentia muito culpado pelas perdas na guerra. Se tivessem o entregado para Voldemort mais cedo não teria feito diferença nenhuma, afinal, ele mesmo foi de encontro ao bruxo depois, pretendendo ser morto. Se tivessem o entregado quando Voldemort pediu, eles ainda venceriam, e muitas mortes teriam sido evitadas…

Não. Não, não tinha como saber isso. Era hipotético. Não tinha que ficar pensando nisso. Não tinha. Não era sua culpa.

— Vocês deviam ir lá pra casa um pouco. — Harry pediu, desviando o assunto. — A casa é grande. Tenho Monstro lá para ajudar quando eu estiver trabalhando, e quando eu chegar em casa eu posso…

— Harry, nós já falamos sobre isso. Eu agradeço, de verdade, mas não precisa. Eu quero que Teddy cresça na casa onde sua mãe cresceu.

Harry concordou. Já tinham conversado sobre isso, e ele mesmo achava que era uma boa ideia que Teddy ficasse ali onde ainda havia um pouco das lembranças de Tonks para absorver ao longo da vida.

— Ele tem tudo? Roupas, brinquedos… O berço está bom?

— Está tudo muito bem, Harry, de verdade.

— Eu sou padrinho dele. E eu trabalho. Se ele precisar de qualquer coisa…

— Harry.

— Hã?

O garoto levantou o olhar para Andromeda. Ela ajeitou a manta de Teddy, que estava escorregando um pouco.

— Obrigada por estar cuidando tanto de nós, mas eu estou preocupada com você. Quem está cuidando de você?

— Eu já disse. Monstro…

— Não estou falando de comida. Você tem dezessete anos, Harry. Não devia estar trabalhando tanto, se preocupando com um bebê… Está vivendo a vida de um adulto. Onde estão seus amigos? Tem saído com eles?

Harry abaixou o olhar para Teddy.

— Eu não quero que ele fique sozinho.

— Ele não vai ficar. Ele tem a mim, tem você. Molly Weasley vive me visitando. — ela pegou a mão de Harry. — Eu sei que você está preocupado, Harry, mas você precisa voltar a viver sua vida.

Ele não respondeu. Harry balançou Teddy em seus braços mais um pouco, e o breve silêncio da sala foi interrompido por uma coruja que entrou pela janela, largou um envelope aos pés de Harry e saiu.

Ele soltou um muxoxo de desagrado ao ver o selo do Ministério da Magia no lacre. Andromeda pegou Teddy e Harry abriu o envelope.

— Problemas? — ela perguntou.

— Não. Só mais três intimações. Não vejo a hora desses julgamentos acabarem. Estão me chamando para todos. Eu sou testemunha de todo mundo, para defender ou acusar, ao que parece. — Harry guardou o envelope e se levantou. — Acho melhor eu ir embora.

Ele teria os próximos dias cheios. Queria dormir enquanto ainda teria tempo para isso.

— Tudo bem, querido. Não se esforce demais, ok? Depois de tudo que você passou… Você precisa descansar. Você, Rony, Hermione. Vocês eram muito novos para passar por isso tudo.

A resposta de Harry foi um sorriso cansado e um aceno de cabeça. Então ele pegou a varinha e aparatou de volta para casa.


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Notas finais do capítulo

Veja mais histórias aqui! https://www.spiritfanfiction.com/jornais/disneysquad-16915739
Há uma interativa de amigo meus com vagas abertas até o fim da semana, corram para participar :D

Eu também estou com interativa nova, da Marvel!
Jornal principal: https://www.spiritfanfiction.com/jornais/marvel-717--interativas-17034707
Jornal da primeira fic: https://www.spiritfanfiction.com/jornais/homem-de-gelo-e-os-novos-mutantes--interativa-17051135