Cinco Estágios escrita por Miss Angela


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Outra one-shot porque eu não tenho auto controle.



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7 anos.

— Por que você não gosta de mim, Do Contra? – ela pergunta.

Eu achei que estava bem claro', ele pensa. É uma lógica simples, sério. Todos nessa rua a adoram, mesmo sendo capaz de pensar em mil xingamentos para descrevê-la, todos ainda dependem dela para proteção. Se todos a amam e ele é o Do Contra, ele não gosta dela.

Mas, aí vem o truque, Do Contra não pode expressar seu desgosto por ela, o que o deixa muito incomodado. Se todos a amam e agem como se a odiassem, ele deveria odia-la e agir como se a amasse. São os pequenos grandes sacrifícios necessários para se manter fiel a uma filosofia de vida.

— Mônica. – Do Contra diz. – Sabe quando você olha pra uma atriz famosa e pensa: 'Como eu queria ser como ela...’

— Sim. – a garotinha suspira, torcendo as orelhas de seu amado coelho sonhadoramente.

— Então, não tem nada a ver com isso.

— Ah, sim... - uma pausa. - Peraí, não entendi.

— Claro. – ele sorri docemente, continuando antes que ela percebesse o insulto. – Mas porque você está me perguntando isso? Você não deveria estar perseguindo o Cebolinha?

— Ele pode esperar um pouco. – Mônica responde. – Eu preferi vir falar com você.

— Você deixou de correr atrás do Cebolinha para vir falar comigo?

— Sim... Isso, e eu machuquei o pé.

Do Contra se viu surpreso com a garota pela primeira vez. Certo, Mônica não estava nas melhores condições de correr, mas ela preferiu falar com ele. Não com a Magali, não com as outras meninas como era esperado dela, mas com ele. O coração de Do Contra se aquece com a visão de outra pessoa contrariando o status quo, e sorri.

— Então, porque você não gosta de mim?

— Sabe, Mônica, é só parte da minha natureza. Não leve para o lado pessoal, é tudo estritamente profissional. – ele resolve explicar, quase que para recompensá-la.

— Oh. Okay...

Silêncio.

— Eu gostei que você veio falar comigo.

— Mas você não gosta de mim.

— Sim.

—... Você não faz o menor sentido.

— É.

Silêncio, de novo.

— Você é engraçado, Do Contra. – ela ri. – E muito legal também. 

Pela segunda vez, em questão de minutos, Do Contra se vê surpreso por ela. Depois da conversa que eles acabaram de ter, ninguém seria capaz de achá-lo qualquer coisa positiva, principalmente Mônica 'Pavio-Curto' de Sousa. O garoto engole em seco ao sentir seu rosto esquentar por causa do sorriso dela.

(Do Contra, talvez, goste dela um pouquinho.)

•°•°•

12 anos.

— Você me acha bonita, Do Contra?

Ele a encara, estudando suas feições. O formato de seu rosto é arredondado, muito jovem para ter uma definição madura, seu queixo se assentua quando ela sorri. Seu sorriso icônico é um tanto bobo por causa de seus dentes salientes, mas adorável do mesmo jeito. Os olhos dela sempre parecem estar brilhando, fazendo com que ele se sinta prestes a ter um ataque de tão acelerado que seu coração fica.

— Você é muito bonita, Mônica.

— S-sério? – todo seu rosto cora, e ela consegue ficar ainda mais linda.

— Sim.

— Mas e as outras garotas? Tipo a Carmen. – ela cospe o nome de sua 'amiga' amargamente.

Do Contra pausa, e passa por uma mini auto reflexão para entender como ele se sente sobre as outras garotas. A verdade é que ele nunca teve interesse em nenhuma delas. Vendo os outros garotos começando a babar por causa de um vestido curto ou uma camiseta mais apertada, Do Contra ficou contente em descobrir que não se importava. Nenhum traço de atração, por pessoa nenhuma. ‘O que é bem legal e diferente’, ele pensou.

Até Mônica passar perto dele e estragar tudo por ser a garota mais bonita que ele conhece.

(Do Contra sabe que fazem fofocas sobre ele e suas preferências, mas ele não se importa - nem tem a masculinidade tão frágil - o suficiente para se incomodar.)

— Ela é bonita, sem dúvidas. Mas a beleza dela é tão clichê.

— O que isso quer dizer exatamente? – a objetividade de Mônica o faz sorrir.

— Isso significa que, na minha opinião, você é a garota mais bonita daqui. – ele pensa por um segundo. – Não, você é a garota mais bonita de qualquer lugar.

Ao voltar seu olhar para Mônica, Do Contra teme que ela esteja a ponto de explodir, o rosto mais vermelho do que o considerado normal. Estranhamente, vê-la assim o deixa contente, satisfeito. É como completar uma missão.

— O Cebolinha acha que a Carmen é a menina mais bonita da escola. – ela comenta amargamente quando volta à cor normal.

Do Contra só percebe que estava sorrindo quando cai de seu rosto. ‘É claro...’. Tudo sempre volta para aquele idiota. O adolescente não entende o que Mônica vê naquele metido quando há pretendentes melhores como...

...

Como eu.’

...

O mundo não saí de órbita, fogos de artifício não começam a estourar, nem anjos descendem à terra tocando arpa, ou o que quer que anjos tocam. A descoberta acontece em silêncio, como um segredo que só ele sabe. 

Do Contra sempre soube que se sentia atraído por ela, mas isso? Não só gostar dela, gostar dela o suficiente para sentir algo tão clichê quanto ciúme? Para querer fazê-la sorri e ser feliz, corar tão adoravelmente quanto agora? O garoto processa a informação tão rapidamente quanto pode para não alarmar Mônica.

— Você está com ciúmes.

— O-o que? Não! Não mesmo! Eu não me importo com ele ou quem ele acha mais bonita do que eu. – ela range os dentes, claramente 'não se importando'.

— Sei...

Ele considera o que vai fazer sobre seu recém descoberto sentimento. A maioria dos garotos negaria ou levaria muito tempo para admitir, assustados de levar um 'não'. Felizmente, Do Contra não é como os outros garotos, ou as outras pessoas. Então, ele decide que vai aceitar o que sente. Mas isso não quer dizer que vai se sujeitar a coisas clichês como ciúme, não mesmo.

— Quer saber de uma coisa, Mônica?

— O quê?

— Eu gosto muito de você.

(Do Contra gosta dela o suficiente.)

•°•°•

15 anos.

— ... Eu quero dar essa chance pra nós dois. O que você diz, Do Contra?

Ele está tremendo. Tremendo. Por quê? Por que ele está tremendo? Não é o que ele queria a muito tempo? Não é o que ele sonhou? Mônica perguntando se ele queria namorar com ela, como em todas suas fantasias. Uma chance, tudo o que ele quis por mais tempo do que ele consegue lembrar.

— Eu digo que não!

Do Contra observa o rosto dela se contorcer em surpresa, não decepção, surpresa. De repente, ele se sente enjoado. Depois de toda essa semana, de armaduras, atores nem tão ruins e a necessidade de se provar, seria tão fácil dizer sim. Abraçá-la forte e fingir que nada está errado. Como nos filmes de ação, aceitar sua glória e terminar com a mocinha.

"Eu devia gostar de alguém que goste de mim.", ela tinha dito poucos segundos atrás. "... Em vez de alguém que só tenta me impressionar ou enganar."

...

Mônica não está fazendo isso porque o quer, ela está fazendo isso porque Cebola não a quer.

...

Raiva, como nunca antes.

'Como?’, ele se pergunta, 'Como, até quando a história é minha, ele consegue se infiltrar?'

Do Contra pensou que as coisas tinham sido feitas do jeito dele. Pelo amor das Divindades, ele desmascarou uma empresa multimilionária por vender armas e tudo ainda volta a ser sobre o outro. Do Contra não vai mudar de ideia. Se Mônica e ele fossem ficar juntos um dia, seria do jeito dele. Mônica não o aceitaria por causa de uma semana juntos, ou por causa da estupidez de Cebola.

Do Contra vai conquistá-la.

Ele diz tudo isso.

Ela sai gritando em frustração.

...

Ele continua tremendo. Mais do que antes. A respiração falha. Sua visão fica embaçada e seu peito dói tanto que ele acha, por tão clichê que isso pareça, que vai morrer. No entanto, esses são os pequenos grandes sacrifícios por uma filosofia de vida, e ele está determinado a não mudar.

Mas, quando as lágrimas começam a correr de seu rosto, Do Contra quer chamá-la de volta, gritar que aceita ficar com ela até quando ela o quiser. Quer cometer todos os clichês possíveis se isso significa tê-la.

Depois de um tempo (segundos, minutos, horas), ele consegue se recompor. Limpa as trilhas de lágrimas de seu rosto e volta a respirar mais calmamente. A tremedeira ainda não passou por completo, mas está melhor. Sabe que vai estar bem para o dia seguinte.

(Do Contra está apaixonado por ela.)

•°•°•

17 anos.

— Por que você se importa tanto, Do Contra?

Por um segundo, ele tem a devastadora vontade de chacoalhá-la pelos ombros. Ele olha para a rua e passa. Têm muitas coisas que ele quer dizer, quer se declarar mais uma vez, mas ele já disse tudo isso hoje e não quer soar como um disco arranhado. Dá de ombros, se sentindo, de repente, anestesiado.

— Você é uma das melhores pessoas que eu conheço, não quero que se engane.

Mônica parece estar coberta pelo novo corte de cabelo, mesmo que seja mais curto que o antigo. As pontas batem no queixo dela, mas é ele quem sente a vontade de coçar seu próprio queixo até a pele sair. Algo está nela está errado, e não é o cabelo. Pela primeira vez ele não sabe dizer o que é.

Eles estão na frente da casa dela. Ela estava voltando de uma caminhada com Cebola quando o viu de braços cruzados em frente a seu portão. Quase que imediatamente ela foi para o lado de Do Contra, dando um rápido beijo na bochecha de Cebola antes. O ex-cinco fios os encarou chocado por um segundo e se foi, hesitante.

...

— Já está escrito. – ela diz, esfregando o rosto com ambas as mãos. Sua maquiagem fica borrada. – Cebola e eu vamos ficar juntos.

— Eu sei.

— Eu vou apoia-lo em tudo, aceitar o que ele quiser me dar.

— ... Eu sei.

Silêncio.

...

Quando Mônica ficou tão cansada?

Ele lembra da garota que estava disposta a tudo para defender o que é certo, a mudar o errado com socos e chutes se necessário. Agora ela parece perdida, derrotada. Jogando pelas regras de outra pessoa. Do Contra não consegue evitar de sentir como se tivesse falhado. Ele não havia prometido a si mesmo que faria ela feliz? Ele não a aconselhou tão bem quanto podia? Chegou a aconselhar Cebola, porque não queria que ela acabasse presa em um relacionamento construído em mentiras.

Antes do sol se pôr, ambos já haviam aceitado que Cebola está escrito em Mônica.

Não se sabe quem está mais triste com isso.

(Do Contra percebe que está apaixonado por ela mais do que devia.)

•°•°•

18 anos.

— Vamos indo?

Do Contra precisa de um segundo para ter certeza do que escutou, ele foi jogado no topo de uma árvore, afinal. Ela está sorrindo tão brilhantemente que faz o coração dele perder uma batida. Por cima do ombro de Mônica, ele vê Cebola os observando confuso.

Ele espera Mônica olhar para trás, para se afastar de seu toque e correr para os braços do outro. Mas ela fica, continuando a olhar para ele. Ela parece revigorada, como se o peso de todo o mundo tivesse caído de seus ombros. Os olhos dela brilham e Do Contra não consegue deixar de se sentir orgulhoso por vê-la se rebelando.

Mônica solta uma gargalhada e o puxa. Do Contra a segue com um sorriso no rosto. A decisão foi dela, e ele não se importa de não ter sido quem fez o pedido. Ele quase espera que ela cite algo sobre o Cebola, um comentário, qualquer coisa. Ela continua andando ao lado dele despreocupada.

Nada pode estragar esse momento.

(Só quando Mônica o puxa para um beijo, minutos depois, Do Contra percebe o quão incomum o pedido dela foi.)

(Do Contra ama Mônica.)

 


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Notas finais do capítulo

E a edição 94 foi só um sonho ruim, e eles viveram felizes para sempre! Né?
Por favor, comentem, e até a próxima!



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