O nome do fogo escrita por Queen


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, esse é o meu retorno e eu espero não decepcionar. Estou aberta a sugestões para melhorar e me desenvolver enquanto escritora. Espero que gostem dessa pequena introdução ao mundo fantástico de Syrena Auburn.



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Era uma noite escura, envolta em nevoeiro e cerração. Intenso sobre a terra, caía o inverno. O vento gélido soprou ligeiro, fazendo um arrepio correr pelo meu corpo. Eu encarava o horizonte através da janela da cozinha, um olhar perdido, além de qualquer que fosse a coisa que estava lá fora. Por um instante, perdi meus sentidos, inerte e tomada pelo medo. Meus olhos não captavam nada, apenas a vasta escuridão que pairava sob Cotswolds. Gritos. Gritos. E mais gritos.

— Syrena! — chamou Forrest, o toque áspero de sua mão calejada em meu cotovelo me arrancou do transe. Eu encarei os olhos do homem que amava através da luz fraca que o candelabro de velas emitia, estavam assustados e mais escuros do que eu lembrava que eram. — O que está fazendo? Entregará todos nós. — Os fios acastanhados caíam bagunçados na altura dos ombros, emoldurando o rosto bronzeado e rústico.

Então passei meus olhos para um canto da cozinha, meu pai envolvia Aubryn com o corpo, a menina usava as mãos para impedir que os clamores infelizes não chegassem aos seus ouvidos. Senti meu corpo pender quando Forrest me afastou da janela e jogou-se no chão comigo, um movimento rápido, silencioso. O único som que ouvi foi um grunhido ferino, cada vez mais próximo e alto. Forrest se desvencilhou de meu corpo com uma destreza surpreendente e rastejou até a lança ungida em prata junto aos corpos trêmulos de Lucius e minha irmã mais nova. Ele se agachou próximo a porta da cozinha, atento e cauteloso, e esperou. Meu sangue latejava; minha respiração estava tão descontrolada quando me recostei na parede fria que tive que usar uma das mãos para abafar os sons que atrairiam a besta para dentro da minha casa.

Provavelmente, a aldeia já tivera sido dizimada e a destruição feita. Agradeci aos deuses por meu pequeno chalé se encontrar no topo da colina, um pouco mais afastado do aglomerado de casebres logo abaixo, contudo não o suficiente, não para um Garou. Se a fera quisesse alcançaria o chalé em poucos segundos e esse pensamento fez meu sangue congelar novamente. Eu nunca acreditei, de fato, nas histórias que meu pai me contara na infância sobre os exércitos bestiais que tomaram a Terra e conduziram massacres terríveis a humanos até sumirem sem uma explicação plausível, talvez esquecida pelo tempo. Alguns povos ainda cultuavam os seres — metade homem, metade lobo — como criaturas divinas, necessárias. Outros relatavam atrocidades acometidas pela raça em povoados menores e mais deslembrados que o meu. E foi no exato momento em que afastei os pensamentos para me concentrar no que devia ser feito que um estrondo ecoou da sala, a porta estava em frangalhos.

Eu saltei com o grito esganiçado de Aubryn e corri para frente de meu pai e da criança. Forrest manteve sua posição, ansioso para ver a sua lança atravessar a medonha criatura. Mas ela não veio. O guerreiro ousou se inclinar, queria manter a fera em seu campo de visão. Foi inútil.

— Forrest, em cima! — gritei quando meu olhar chegou ao teto e o vi. Era enorme, tinha o dobro do meu tamanho. Dentes afiados e letais despontavam de sua boca, que estava coberta de sangue e pele. Ele se esgueirava como um predador analisando suas presas, apreciava com divertimento os últimos minutos de suas vítimas, entretanto foi ágil quando desviou do golpe de Forrest, fazendo a lança cair próximo a mesa velha da cozinha.

Lucius suplicava uma oração aos deuses, era velho e cansado, tudo o que fez foi me puxar para mais perto de si. O garou saltou sobre Forrest, usando uma das patas para empurrá-lo contra a parede da sala. Ódio puro correu por minhas veias, imediato e voraz. Eu não deixaria o homem que amava com todo o meu ser morrer como um cervo sendo caçado por um lobo maldito e, acima de tudo, não permitiria que aquele mal alcançasse Aubryn e Lucius. Se fosse rápida o bastante conseguiria alcançar a lança e então o fiz. Enquanto a criatura submergia as garras nas pernas de Forrest, atei a lança em minhas mãos, a segurei com tanta força que os nós de meus dedos estavam brancos e, num ensejo de descuido da besta, cravei o objeto em seu dorso. Ele urrou, um som carregado de dor e lamentação, e então cedeu. Algo muito parecido com alívio me preencheu. Não deveria ser tão fácil abater o licantropo, algo estava errado e eu não queria descobrir.

Então num piscar de olhos a fera havia se transformado em homem. Ele estava despido e caído ao lado de Forrest, que também parecia desvanecido. Minhas mãos estavam trêmulas, todo o meu corpo implorava para que eu me afastasse quando me agachei para tocar o rosto pálido de meu amado. Ainda estava quente e ele era tão bonito.

— Por favor, por favor, acorde — inclinei o meu corpo, encostando a minha testa na dele. — Não me deixe sozinha, por favor. — A minha voz estava embargada, carregada de emoção; as lágrimas corriam pelo meu rosto.

Uma poça de sangue se formava em volta de nós. Meu pai se aproximava para ajudar quando o homem que antes era besta começou a se erguer, um amontoado de músculos definidos. Meu corpo se enrijeceu, empurrei meu pai para trás e agarrei a lança ao meu lado, me erguendo junto ao homem. Ele era bonito, sem dúvidas, o homem mais lindo que eu já vira. Uma beleza mortal e etérea. A pele extremamente branca estava coberta por sangue e terra, os fios curtos e escuros como a noite. Em um movimento lento e cuidadoso, ele se aproximou, encarando-me. Parecia perplexo e assustado, perdido. Soergui a lança, colocando-a entre ele e nós, evitando ao máximo descer meus olhos por seu corpo nu. Olhei por cima do ombro rapidamente, notando que meu pai parecia não entender o que estava acontecendo, piscou algumas vezes, deu uns passos para trás e começou a sussurrar algo como se estivesse delirando. Como era possível?

— Consegue me ver? — ele franziu a testa. A voz grosseira e tão calma ao mesmo tempo. O monstro era como uma noite de verão, me fazia ansiar para recebê-lo em meus braços mesmo que fosse a personificação do próprio mal.

— Eu quero que vá embora agora ou essa lança vai estar cravada em seu peito antes mesmo que perceba — grunhi mostrando os dentes. — Aceite a minha compaixão pela sua desgraça de bom grado ou morra. — Ele sorriu, apenas sorriu. Senti vontade de xingá-lo, infeliz!

— Corajosa, de fato, mas atrevida. Muito atrevida. — Eu não desviei quando ele agarrou meu cotovelo, um movimento tão ágil e inesperado que soltei a lança, engolindo um grito.

Olhei para trás, meu pai continuava balbuciando palavras sem sentido, as mãos dele estavam na cabeça, pálido como a morte quando se afastou para amparar Aubryn. Encarei os olhos ferinos cor de âmbar da besta, um lar mortal. Parecia existir um universo inteiro ali dentro. Ele sorriu de novo, um sorriso amargo, carregado de angústia talvez.

— Seu verme maldito, me solte! — vociferei, tentando me desvencilhar da pressão que sua mão exercia em meu braço.

Ouvi meu pai chamar meu nome algumas vezes, pedi para que ele ficasse onde estava.

— Diga-me, humana, que tipo de feitiço usa para conseguir me ver? — ele apertou ainda mais o meu braço, puxando-me para mais perto.

Não respondi, não só porque eu não queria, mas porque eu não sabia a resposta. Estava óbvio que eu não deveria vê-lo, meu pai não o via. Por que diabos eu podia ver aquela criatura amaldiçoada em sua forma humana?

A respiração dele estava irregular, fúria preenchia seu corpo, pingando ódio. Ele era uma montanha de emoções, mas havia algo mais em seus olhos que eu não podia entender. Convencido que não teria sua resposta, o homem me jogou por cima do ombro. Me debati em seus braços, gritei em protesto; não sairia dali. Descansei meus olhos uma última vez sobre o corpo desvanecido de Forrest, implorei para que ele estivesse vivo.

Uma luz forte e amarelada tremeluziu antes que eu sentisse uma vibração quente percorrer o meu corpo. Conforme o brilho se expandia, senti meu corpo ficar leve, tinha a sensação de estar flutuando. O grito esganiçado de Aubryn e os clamores de meu pai pedindo para que eu voltasse preencheram meus ouvidos, estavam distantes. Distantes até sumirem completamente.

— Você quebrou o véu e deve pagar com a sua alma. — Foi a última coisa que ouvi antes de apagar.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por serem tão pacientes e chegarem até aqui. Até mais, beijos!



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