Contos de Magia escrita por NineLunaCath


Capítulo 1
A garota do vestido florido


Notas iniciais do capítulo

Sejam bem-vindos ao primeiro capítulo de "Histórias de magia"!
Espero que gostem!



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Todas as manhãs, no caminho para meu trabalho, ela estava lá. Sentada debaixo de uma árvore, todos os dias, com um livro nas mãos, perdida nas histórias que lia.

Nunca trocamos uma palavra. Porém, sempre que eu passava, ela levantava seus olhos brilhantes e me agraciava com um belo sorriso.

Da janela do escritório, eu podia vê-la, lá em baixo, no parque. Quando cansava de ler, se levantava, seu belo vestido florido mexendo com o vento. Ela andava pelo local, brincando com as crianças que passavam, agradando cachorros, sempre sorrindo. Era jovial, bela, seus longos cabelos castanho-avermelhados caiam como uma cascata, complementando seus olhos azuis.

Eu nunca a vi com ninguém. Mãe, pai, irmãos, amigos, namorado. Eles pareciam não existir. Era sempre ela, sozinha, todas as manhãs naquele parque. Um pouco antes do almoço, ela se levantava e adentrava o bosque do parque, e eu não conseguia mais vê-la.

Mas sempre que saia do trabalho, lá estava ela novamente com seu livro. Sempre com o mesmo vestido, sentada no mesmo lugar.

Alguns raros dias, no entanto, ela não vinha. Dias de Sol muito forte ou de chuva muito intensa. Dias esses que poucas pessoas sairiam para visitar o parque, então era normal.

Porém, um certo dia de manhã, eu reparei que ela não parecia feliz. Quando me olhou com seus olhos brilhantes, como sempre, seu sorriso mostrava dor. E então, decidi me aproximar.

"Olá, moça", eu falei. "Acho que nunca tive a chance de me apresentar. Meu nome é Ana.". Estendi minha mão a ela, que a pegou e se levantou. "Muito prazer, Ana. Sou Victoria. É bom ouvir alguém, faz tempo que não falo com aqueles que não são crianças." Essa foi minha resposta. Então, a garota do vestido florido tinha um nome, Victoria. De perto, pude notar que seus olhos não eram azuis como eu pensava, mas violeta. "Seus olhos são muito bonitos, Victoria. Mas parecia meio triste hoje. Todos os dias parece sorrir..." Foi minha fala, e ela respondeu: "hoje não é um bom dia para mim... Não deveria nem estar aqui. Creio que deveria voltar a meu lar, inclusive".

Eu perguntei o porquê de não ser um bom dia, mas ela desviou o assunto e voltou pelo caminho que eu a via fazer do escritório.

Nos dias que se seguiram, Victoria não voltou a aparecer. Preocupada, decidi procurá-la, seguindo o caminho do bosque. Passei por muitas árvores, caminhando por um longo tempo, até atravessar um portão.

Andei mais um pouco, sempre curiosa com o local, mas me choquei ao chegar no destino.

O fim do caminho era numa pequena clareira cheia de flores, onde o sol passava calmamente pelas folhas das árvores, dando uma bela iluminação ao local.

No meio, havia apenas uma única lápide.

"Victoria Grace

1955-1976"

A foto dela, extremamente bem conservada, mostrava a menina em seu último dia de vida, como mostrava a data. Ela sorria, de mãos dadas com uma garota extremamente parecida comigo, em seu belo vestido florido. A data da morte marcava o dia de hoje.

"Algumas horas depois, eles vieram atrás de nós, sabe? Iam atirar em você, Ana. Mas eu entrei na frente". Olhei para trás, e lá estava ela. Seu vestido, agora estava manchado de sangue, e mostrava os lugares dos tiros. "E... Eu?" Perguntei, me virando para ela, com medo. Dei um passo para trás, me encostando na lápide. "Sim. Bem, seu nome era Maria, e você era um pouco mais alta. Mas era você". Ela se aproximou, e colocou as mãos em meu rosto. As lágrimas escorriam pelas bochechas dela, e desapareciam antes de chegar ao chão. Eu não conseguia temê-la. Era um espírito no mundo dos vivos, falando comigo, mas eu coloquei minhas mãos em cima das da dela. Eram geladas.

"Eu... Sobrevivi?" Perguntei novamente, a olhando. "Sim. Eles acharam que você estava morta, mas sobreviveu. Acabou se casando com um cara, e teve uma filha. Morreu de câncer em 1993. Não chegou a ver a neta nascer". "Minha... Minha avó morreu neste ano. E eu nasci." Ela me olhou. Quase tudo fazia sentido, agora. Mas faltava uma coisa, e então perguntei pela última vez: "Mas por que você não reencarnou também?" e, se afastando, Victoria respondeu "eu dei minha vida por você. E então, só poderei renascer quando... Quando você der a sua por mim. Mas jamais lhe pediria isso. Você... é muito importante pra mim".

Eu a olhei nos olhos. Quando percebi que havia me apaixonado? No primeiro dia, quando nossos olhares se encontraram? Ou quando senti sua falta a primeira vez? A garota me fitava, as lágrimas escorrendo desde mais cedo. Valeria a pena largar tudo por um amor?

—-dias depois--

"Ficaremos juntas na próxima vida, sim?"

"Não iremos nos esquecer jamais"

Olhei para trás, Victoria esperando. Seu vestido agora limpo. Ela tentara me convencer do contrário, mas minha decisão já estava feita.

Um passo dado, para fora do telhado. O vento contra meu corpo e às mãos geladas de Victoria me abraçando.

Um passo dado para o resto da eternidade com meu amor de todas as vidas, a garota do vestido florido.


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