Estranha Sensação escrita por Loreh Rodrigues


Capítulo 48
Rir por último




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 ***

A conversa com Fernanda no escritório não foi muito mais agradável que o início dela no quarto. A jovem estava irredutível, extremamente afetada pelos dramas de Osvaldo e não se esforçou nem um pouco em entender o lado de Victoria. A estilista insistia em tentar tocar seu coração. 

— Filha, você sabe que seu pai me traiu incontáveis vezes. Nos últimos tempos ele nem se preocupava mais em disfarçar. Me separar dele foi uma libertação e tenho certeza que será o mesmo para ele se ele abrir seu coração para entender. 

— Como ele vai entender isso se você está com outro homem? Se não quer lhe dar um centavo? — Indagou acusadora. 

— Minha relação com Heriberto não tem nada a ver com o fim do casamento com seu pai. Não é justo que ele queira me tirar todo aquele dinheiro e colocar em risco a Casa Victoria se minha empresa só existe graças a meu trabalho e sacrifício, Fernanda, entenda! Osvaldo está cobrando um preço muito alto pela minha liberdade e me dói que você, sendo minha filha e sendo uma mulher fique contra mim.

— Entenda você a mim, mamãe! — Ela gritou comovida. — Ele está sofrendo, está deprimido e não tem sequer onde viver! Se você deixar meu pai na miséria para ser feliz com seu novo namorado, eu não vou te perdoar e não vou querer voltar a te ver. E aí você vai me dizer se o dinheiro que meu pai quer realmente é um preço muito alto a se pagar por sua... liberdade. 

Aquelas palavras cínicas foram as últimas antes de que ela saísse dali e deixasse Victoria desolada sentada naquela sofisticada cadeira de seu escritório. Do alto da escada Heriberto viu Fernanda sair alterada e imaginou que o estado de Victoria não seria muito melhor e se apressou em ir até o escritório brindar-lhe seu apoio.

— Victoria, porque você não dá o dinheiro que Osvaldo está pedindo? — Indagou Heriberto depois daquele longo e necessário abraço. 

— Porque ele não vai parar por aí. Ele vai querer mais e mais, além disso... — Ela fez uma pausa voltando à sua cadeira. — Eu não me preparei para um divórcio esse ano, investi alto na nova coleção, estamos implantando uma nova filial, eu não tenho todo o dinheiro que ele quer. — Suspirou. 

— Você não tem nenhuma propriedade? — Questionou. — Eu também poderia...

— Não, de nenhuma maneira! — Ela se negou orgulhosa. — Eu sei que você não tem dinheiro, que o dinheiro é de sua mãe e eu jamais aceitaria. Quanto às propriedades, tenho esta casa aqui. Vale muito dinheiro e eu tenho mais dois apartamentos aqui em Miami além do que Fernanda mora. Eu só tenho medo de que a chantagem nunca termine...

— Peça ao advogado para documentar tudo. — Heriberto trouxe a solução. — Faça um documento de separação no qual os termos financeiros fiquem claros. Ele deve espernear, mas, se realmente está com tantos problemas financeiros, aceitará o dinheiro. 

— Você está certo. — Ela sorriu muito confiante em si mesma. — Eu posso levar um tempo, mas consigo equilibrar minha empresa de novo. E, todo o dinheiro do mundo não vale tanto quanto a felicidade de saber que estaremos juntos, sem nenhuma interferência. 

— E eu estou muito orgulhoso do modo como você está levando essa situação mesmo com tanta pressão. — Ele voltou a abraçá-la e beijá-la muito apaixonado. 

— Isso eu devo a você. — Suspirou entre selinhos. — Eu não me orgulho, Heriberto, mas em outro momento, eu faria algo à margem da lei para me livrar das chantagens de Osvaldo, jamais aceitaria perder esse dinheiro pra ele. Só com você eu pude me reencontrar com o que havia de bom em mim. Graças a você e a seu amor. 

***

Depois daquela manhã tão movimentada, o resto do dia foi dedicado à preparação para a abertura do Miami Fashion Week. Victoria sabia que sua filha ficaria mais tranquila depois que soubesse que o advogado procuraria Osvaldo na segunda-feira seguinte com os termos do acerto financeiro para o divórcio e, finalmente, poderia marcar seu casamento em paz. 

Entretanto, ela sabia que essa mesma paz não poderia acompanhá-la durante aquele evento de moda sabendo que Bernarda tinha trânsito livre pelos corredores e ainda não sabia que ela e Heriberto haviam feito as pazes e tinham planos que lhes brindariam uma felicidade que com certeza afetaria a megera. 

Victoria e sua equipe organizaram um forte esquema de segurança para impedir que ela pudesse sabotar o desfile da Casa Victoria e, até o momento do evento, nada aconteceu. As peças apresentadas por Victoria arrancaram aplausos e ela foi efusivamente ovacionada quando surgiu no palco elegantíssima trajando um vestido vermelho exalando sensualidade. 

Bernarda bufou quando a viu tão bonita e tão feliz. Mais do que isso, sua carreira como estilista estava no auge, seus modelos eram disputados por grandes personalidades além de estamparem inúmeras revistas como sinônimo de elegância e bom gosto. Além disso, cercada por vários repórteres, ela estava acompanhada por Heriberto a quem apresentava feliz e realizada como seu noivo, a Miami Fashion Week estava sendo toda de Victoria Sandoval.

O desfile de Bernarda, por sua vez, foi um fiasco. Enquanto as modelos apresentavam suas criações nas passarelas, críticos e repórteres cochichavam, estavam abismado de que algo tão pouco criativo tivesse ganhado espaço em um evento como aquele. Bernarda chegou à grande semana de moda amargando o ostracismo e tudo o que conseguiu foi afundar-se mais na lama da falta de talento e incompetência.

Quando se despediram de Miami, ficou aquela sensação de nostalgia por tudo de tão bonito que haviam vivido ali. Aquele era o lugar onde haviam fabricado tão lindas lembranças e era o mesmo onde haviam deixado para trás todos os medos, mágoas e desconfianças. Além disso, a marca de Victoria saía daquele evento intensamente valorizada, não podiam querer nada melhor.

No aeroporto, Victoria e Heriberto chegaram de mãos dadas, felizes e sorridentes, boa parte de sua bagagem tinha sido despachada no dia anterior juntamente com sua equipe. Ela havia decidido mudar seu voo de volta quando soube que Heriberto viajaria um dia depois dela, não queria passar nenhum minuto longe dele. Eles estavam se preparando para ir para a sala de embarque, quando Victoria se esbarrou em Bernarda que a encarou sorrindo cheia de deboche. 

— Que bonitinho o casalzinho apaixonado. — Exclamou com clara intenção de atacar. — Uma pena que vão ter que se separar dentro do avião, já que Heriberto vai viajar na poltrona ao meu lado.

— Ah, você não sabe? — Victoria perguntou altaneira, mas com uma calma que assustava. — Heriberto acabou de mudar a passagem dele. Eu comprei a passagem e ele não teve problemas em ir na primeira classe, ao meu lado. Mas, não se preocupe em viajar sozinha, a companhia aérea com certeza já alocou algum outro passageiro para ir a seu lado. 

Ela bufou de ódio, estava perplexa com a confiança que viu em Victoria, a estilista parecia imune às suas mentiras e armações, depois de tudo, não deixava nenhuma dúvida que acreditara em Heriberto e que aquela relação se manteria mesmo com todo o assédio que ela empreendera em Miami.

— E, Bernarda! — Heriberto chamou muito decidido. — Diga à sua cúmplice, minha mãe, que o plano dela, digo, de vocês, não deu certo e que Victoria e eu estamos mais unidos do que nunca e que vamos nos casar muito em breve. Agora... que nem ela e nem você esperem o convite porque queremos vocês muito distantes de nós e de nossa felicidade. Vá procurar uma vida própria, Bernarda, esqueça a vida da Victoria que está muito bem, obrigada. Boa viagem!

Victoria segurou a mão de Heriberto e saiu sorrindo rumo à sala VIP, de onde embarcariam na primeira classe do voo de volta para a Cidade do México. Bernarda ficou ali no meio do aeroporto, remoendo aquela humilhação até que embarcou no avião com as palavras de Victoria e, principalmente as de Heriberto, atravessadas em sua garganta.

— Ana Joaquina não vai aceitar essa derrota e nem eu. — Disse para si mesma com um olhar matador já na poltrona onde acreditou que viajaria ao lado de Heriberto.

— O que foi, minha fia? Eu não escuto muito bem. — Indagou um homem de uns 90 anos que se acomodava a seu lado com muita dificuldade.

— Nada! — Exclamou ríspida. — Eu preciso pensar em algo para acabar com a alegria desses dois. — Voltou a seu monólogo despeitado. — Você não vai rir por último Victoria! Eu juro por minha própria vida que não vai! 

***


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