Estranha Sensação escrita por Loreh Rodrigues


Capítulo 30
A imprevisibilidade dos problemas


Notas iniciais do capítulo

Vocês são maravilhosas e eu não tenho palavras para agradecer. Quando comecei a escrever essa fic, a pedido da minha amiga Débora nunca imaginei que terminaria tão envolvida com a história e que ela teria uma receptividade tão boa.
Muito obrigada pelas leituras, os comentários e por todas as palavras de estímulo à sequência da história que vocês não cansam de me dar. Quanto mais comentários, mais estimulada eu fico a continuar escrevendo. ✨
Desfrutem de mais um capítulo.



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***

Heriberto se viu novamente no meio de uma disputa que ele já havia presenciado no fim daquele desfile, semanas antes. Victoria tinha um olhar fulminante para Bernarda e ele deduziu que novamente poderia ter que segurá-la para impedir que ela ultrapassasse os limites em seu trabalho. Victoria entendia a situação. Sabia que Heriberto trabalhava há pouco tempo no Continental e o quanto aquele emprego era importante inclusive para a relação deles. Mas, ao mesmo tempo, Bernarda tinha a capacidade de fazê-la descer do salto e mais depois do que lhe dissera naquela visita que terminou sendo tão ingrata.

— Victoria, por favor tenha calma. — Antes de Bernarda terminar a aproximação, Heriberto pediu quase implorando.

— Boa tarde. Olha só que lindo casal eu encontro por aqui. — Cumprimentou Bernarda encarando Victoria e se aproximando do braço de Heriberto insinuando que ia segurá-lo, mas ele se afastou.

— Hum. — Disse Victoria com desprezo medindo Bernarda, sua vontade era voar em cima da megera e terminar o que havia começado em sua casa. — Eu que estou surpresa de ver por aqui, Heriberto me disse que, apesar de sua ousadia, não quis ser seu médico.

— Sim, é verdade. — Bernarda respondeu em tom de deboche. — Ele me encaminhou para um colega dele. Mas ele atende ali, no final do corredor, não estamos tão distantes. — Sorriu provocativa.

— Ah, sim? Que bom, não é mesmo? — Dissimulou verdadeiramente afetada pela informação.

— Mas, eu não lamento que Heri não tenha podido ser meu médico, assim, não existirá nenhum empecilho para que desenvolvamos uma bonita amizade, não é mesmo? — Afirmou ela passando a mão pelo braço dele.

Victoria tragou saliva e mordeu o lábio de ódio suspirando pesadamente. Era sua maneira de demonstrar o quanto estava alterada porque isso ela não tinha o poder de dissimular. Sabia que estava com mãos e pés atadas naquele hospital, mas nada lhe daria mais gosto do que esfolar a cara de Bernarda até que ela perdesse o conhecimento. Mas, se fizesse isso, se arriscaria a que Heriberto jamais a perdoasse, e, com razão. Puxou o namorado pelo braço levemente, mas o suficiente para marcar território e afastá-lo de Bernarda.

— Que eu saiba, ele não tem nenhum interesse em ter uma amizade com você. — Victoria disse com um sorriso no qual ela se esforçava para conter todo o seu ódio.

— Ah, mas isso, ele mesmo pode decidir, Victoria, não seja tão possessiva. — Direcionou seu olhar para Heriberto desafiadora, sem se intimidar pela rival. — Eu tenho certeza que podemos ser muito bons amigos, você não acha, Heri?

— Ca... Claro. — Gaguejou ele. — Vamos, Victoria, nossa reserva, temos um horário... — Precisava fugir dali. Mais do que qualquer coisa. — Até logo, Bernarda, boa sorte no seu tratamento. — Se despediu com gentileza.

— Até logo. É sempre um prazer revê-los. — Bernarda se despediu com um sorriso de satisfação.

Victoria entrou no carro com um olhar extremamente intimidador que fixou na rua à frente do para-brisas e assim permaneceu por todo o caminho até o restaurante. Fez tudo para não quebrar o silêncio porque se conhecia, bem como, à sua incapacidade de se se controlar. Sabia que, possivelmente, terminariam brigando e não queria permitir que mais problemas invadissem a vida do casal. Mas os problemas são assim. Inconvenientes, indômitos, imprevisíveis. Chegam em sua vida sem pedir licença, se instalam ali e se apropriam de sua capacidade de modificar e controlar seu próprio mundo.

***

Heriberto dispensou o serviço do manobrista na porta do restaurante e, assim que estacionou o carro, aproveitou para ouvir a voz de Victoria. Havia dado o tempo que imaginou que ela precisava até ali, mas, naquele momento, era fundamental que ela exprimisse alguma opinião.

— Nós não precisamos jantar aqui. — Assinalou. — Se você preferir, podemos ir para minha casa ou para a sua, jantarmos num lugar mais reservado e, assim, conversar tranquilamente.

— Eu prefiro que jantemos aqui. — Ela respondeu com poucas palavras.

Não precisou explicar para que ficassem claras suas razões. Preferia estar em público para ter um fator mais controlado seus indomáveis impulsos. Nem sempre eles agiam em seu favor e ela sabia que, no amor, eles sempre agiam contra ela. E mais se Bernarda estava no meio dessa história.

Depois que se acomodaram na mesa e fizeram os pedidos, Victoria não demorou muito para tomar completa consciência do lugar. Observou bem tudo à sua volta. A estrutura e a decoração de muito bom gosto do restaurante, a lotação mediana, a privacidade que seria permitida na conversa que não poderiam deixar de ter.

— Precisamos conversar! — Ela exclamou logo que o garçom saiu depois que anotou seus pedidos.

— Eu concordo. — Ele disse suspirando. — Quanto à Bernarda, aquela mulher... Victoria você não precisa se preocupar, ela não vai ser um problema entre nós.

— Heriberto, você sabe por que eu me separei de Osvaldo? — Ela disse sem abandonar aquela rigidez característica quando estava com raiva.

— Eu imagino que porque ele te traiu. — Respondeu ele muito incomodado com a postura de superioridade dela.

— Não! — Ela voltou a exclamar com aquela praticidade irritante. — Eu me separei de Osvaldo porque ele me subestimou. Porque ele não respeitou minha autossuficiência, porque ele foi capaz de ousar insinuar para a periguete com quem ele dormia que eu não aguentaria ser deixada por ele agora que meus filhos foram estudar nos Estados Unidos.

— Vejo que, para você, foi uma falta realmente grave. Eu realmente pensava que as coisas mais importantes em uma relação fossem o amor, a lealdade e a fidelidade. — Rebateu ele sem conseguir mais conter o incômodo pela postura dela.

— Eu não disse o contrário. Acontece que Bernarda... — Ela se defendeu, mostrando-se um pouco mais desarmada. — Heriberto, eu não quero essa mulher perto de você. Ela não tem nenhum caráter, nenhum respeito, é óbvio que ela quer e vai afetar nosso relacionamento.

— Victoria, um relacionamento é à dois. Uma terceira pessoa só o afeta se ele não tiver solidez que vem de dentro. Nosso relacionamento está abalado, mas não é pela aproximação dessa mulher ou pela rivalidade de vocês, senão, pela sua incapacidade de se jogar de cabeça.

— Isso não é verdade! — Ela negou levemente emocionada. — Eu desisti da viagem, eu abri mão de coisas muito importantes para mim, por você, Heriberto, eu estou aqui, lutando por nós dois.

— Eu não consigo te sentir completa, transparente, inteira. — Ele abriu seu coração mais uma vez. — Victoria, estar com você é uma montanha russa ambulante e eu nunca sei quando nossa relação vai seguir o trilho e brecar onde e como tem que ser, ou se vai se descarrilar nas suas incertezas, passar direto pela parada e se espatifar no muro dos seus medos de se mostrar de verdade para mim. Você está sempre na defensiva, se recusa a discutir comigo seus problemas de saúde, do seu trabalho e até mesmo quando sente ciúmes de mim porque me ama. — Ele reclamou ainda sem ter conseguido engolir a reação dela à chegada de Bernarda em sua vida.

— Heriberto, eu estou completa. Não é que eu sinta ciúmes de Bernarda. — Voltou a negar. — Eu só não quero que você me subestime como Osvaldo, que...

— Ah, sim? Então não são ciúmes? — Alterou-se ele ainda que sem levantar o tom. — Victoria, me responda sinceramente uma dúvida que ficou martelando em minha cabeça desde que você mencionou seu ex-marido. O que você procura em mim? Você está em busca do amor ou de um fã?

***


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