Estranha Sensação escrita por Loreh Rodrigues


Capítulo 25
Intimamente




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/781654/chapter/25

***
Heriberto puxou um longo suspiro depois que ele e Victoria fizeram amor e seguiram compartilhando aquele silêncio de intimidade que se fez necessário. Ambos ainda estavam sob o efeito da paixão e do desejo, mas o fato de que se sentissem tão íntimos não tinha a ver com a a ligação sexual que haviam tido, tinha a ver com o amor que os unia à despeito de toda a resistência de ambos àquele sentimento em vários momentos de suas vidas.

Victoria deslizou seus dedos pelo braço de Heriberto. Gostava de ver como os pelos de seu corpo se eriçavam com seu toque, amava a sensação de aconchego dos braços dele e, pela primeira vez, ousava admitir para si mesma. Heriberto, por sua vez, conseguia sentir pela primeira vez que estava vivendo um romance, não um envolvimento puramente carnal. O perfume que se desprendia dos cabelos de Victoria e entranhava em seu corpo inebriava-o como os mais fortes alucinógenos. O amor era uma adição, o amor de Victoria era um vício irresistível.

— No que você está pensando? — Ele interrompeu o silêncio voltando seu olhar apaixonado e colocando-o no rosto dela.

— Na sua cara quando me viu nua ali na sua porta. — Sorriu um pouco vaidosa ao recordar o fogo que havia nos olhos dele enquanto a comia por inteiro. — Você não demorou nem um pouquinho a reagir.

— E você achou que seria diferente? — Heriberto a questionou acariciando seus cabelos. — Depois de tudo o que aconteceu mais cedo, que você tenha vindo até aqui, se mostrado para mim despida quer dizer muito mais do que pode parecer. Victoria, em se tratando de você, isso teve um grande significado e não necessariamente pela questão sexual.

— E você quer que eu acredite nisso com o modo como você me agarrou e me beijou? — Ela duvidou recordando a intensidade daquele momento. — Nem pareceu aquele homem cheio de pudores, que, em outro momento me recriminaria pelo espetáculo no corredor.

— Estava tarde. E, Victoria, eu sei o que significa. Sei o que significa depois do que conversamos à tarde. — Sentir a profundidade das palavras dele a assustava ao mesmo tempo em que lhe fascinava.

— Sim! Significa que eu posso estar fazendo a maior burrada da minha vida. Significa que estou louca! — Baixou o rosto sendo ineficiente em fugir de todo sentimento que via no olhar dele ao se refugiar em seu peito. — Que estou abrindo mão de tudo por você e não sei, não faço ideia de onde tudo isso vai dar, do quanto vai durar. — Admitiu parte de suas inseguranças.

— Victoria, Victoria... — Ele conduziu o rosto dela de novo a olhá-lo. — Eu estou vivendo absolutamente o mesmo dilema que você. Ou se esqueceu que eu abri mão de quase vinte anos de sacerdócio pata me arriscar nessa paixão? Mas, assim é o amor.

O movimento que fez com os olhos e a voz de Heriberto envolveram Victoria em toda aquela sensação que, por mais que se familiarizasse com ela, não deixava de ser estranha dentro de sua personalidade tão auto suficiente. Ao mesmo tempo em que sabia o quanto estava apaixonada por Heriberto, como talvez houvesse estado por toda sua vida, sentia-se frágil, vulnerável e não sabia por quanto tempo seria capaz de lidar com aquilo.

— Eu ainda não sei se quero viver assim. — Titubeou acreditando que talvez jamais deixaria de sentir aquele temor. — Heriberto, entenda que eu não posso viver assim com tantas dúvidas, essa ausência de certezas.

— Mas quando veio decidida até minha porta se despir, você sabia. Sabia que no amor não cabem certezas, seguranças, amanhãs. Você sabe, Victoria! Sabe que ao vir até aqui você fez uma escolha. Você me mostrou um lado seu que sempre fez questão de esconder.

— Sim! É o pior momento... — Ela deu um longo suspiro. — Você é a pior escolha... eu não sei o que vai acontecer amanhã de manhã depois dessa consulta, não sei nem o que vai acontecer daqui a cinco minutos e me aterra essa sensação de falta de controle total, mas, ao mesmo tempo, sinto uma inquestionável certeza de que não quero passar sozinha por tudo isso.

— Não quer passar sozinha ou quer passar comigo? — Ele questionou também sem conseguir se desprender de suas próprias dúvidas.

— Eu não quero passar por tudo isso... sem você. Heriberto... — Fez uma pausa para se ajeitar na cama de Heriberto menor e menos confortável que a sua, mas, ainda assim, o lugar mais aconchegante do mundo. — Eu te amo. Amo você. E, por mais assustador que possa parecer, estou disposta a enfrentar todas as minhas inseguranças e ficar com você.

Heriberto sorriu, desta vez era ele o vaidoso, acariciou o rosto dela, permaneceu olhando-a como se tivesse a capacidade de adivinhar seus pensamentos, como se tivesse o poder de conectar-se à ela sem palavras.

— Victoria, eu também te amo. Eu sei que falhei com você há vinte anos, mas acredite, todos esses anos, tanta reflexão, tanta ausência, eu não sou mais aquele homem fraco, que te falhou, que foi manipulado por minha mãe.

— Eu sei, Heriberto. Pode não parecer, mas eu sei disso. — Ela tinha os olhos marejados, seguia com a alma despida, entregue. — O que acontece é que, para a sua e a minha desgraça, eu também não sou a mesma garota frágil, ingênua de vinte anos atrás. Eu perdi a minha capacidade de confiar nos homens, no amor e em você e será necessário muito mais do que apoio em meu tratamento e noites quentes de sexo para recuperar minha confiança.

— Não se preocupe. Preciso que você me dê uma oportunidade, uma única oportunidade de te apresentar esse novo homem e, essa nova vida. Eu vou te ensinar a desfrutar da maravilhosa sensação de se sentir verdadeiramente acompanhada... sempre.

Os olhos de Victoria se umedeceram pelo brilho daquela declaração tão intensa. Sobretudo porque sentia igual a Heriberto. Vibravam na mesma sintonia. Não só em corpo como em alma. O beijo não só foi desejado como inevitável. O coração disparado, as pupilas dilatadas e a garganta seca também.

Voltaram a enlaçarem se no ardor daquela paixão desarranjando os lençóis, sonorizando aquele ambiente com os sons do desejo, satisfazendo seus corpos e suas vidas. Entregaram-se no completo sentido da palavra encerrando aquela noite tão unidos como jamais haviam estado até então.

Depois da consulta, no início da manhã, Victoria seguiu para a casa de modas, para onde havia convocado a cúpula de sua equipe para explicar-lhes a razão do cancelamento da viagem. Entregar-se ao trabalho, devolvia-lhe um pouco da sensação de que controle que a relação com Heriberto lhe tirava. Por mais que estivesse vivendo um momento de tensão com o problema de sua mão, tinha dificuldade em concentrar-se em seu trabalho, sentia-se flutuar, Heriberto parecia impregnado em seu corpo como uma tatuagem.

Ele, por sua vez, tentou seguir normalmente sua agenda daquele dia. Eram quatro horas da tarde quando ele disse à sua secretária que pedisse à próxima paciente que entrasse. Ele ficou concentrado lendo seu prontuário quando a mulher entrou e levou um susto quando leu o nome dela, levantou os olhos e a estilista estava ali, parada diante dele, elegantemente vestida, mas com um inegável ar sexy.

— Doutor Heriberto Ríos Bernal? — Ele não respondeu, somente assentiu um tanto quanto sem ação. — É um enorme prazer conhecê-lo, eu sou Bernarda de Iturbide.

***


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estranha Sensação" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.