Estranha Sensação escrita por Loreh Rodrigues


Capítulo 22
Além do Desejo


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas pela demora. Não se esqueçam de se cuidar sempre, amo vocês. 



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***

Victoria saiu da banheira visivelmente incomodada. Imediatamente. Heriberto já havia entendido que ele tinha a capacidade e a habilidade de vencer aquela dureza que ela carregava e a deixava rígida como uma rocha o tempo todo. Como se relaxar e fraquejar fossem sinônimos. Porque no dicionário de Victoria, de verdade eram. Mas quando ele ameaçava chegar perto demais, sua reação era sempre fugir. Literal e inexoravelmente.

— Eu acho melhor você ir embora. — Ela disse com una dureza que beirou a crueldade.

— Nem adianta tentar fugir. Eu já pedi à Antonieta que desmarcasse todos os seus compromissos hoje de manhã. E, talvez, os da tarde também. — Ele respondeu sem se afetar. 

— E com que direito você fez isso? — Ela indagou com um olhar acusador. — Eu não gosto que tomem decisões por mim.

— Sou seu namorado! — Ele exclamou dando por certo que seria assim. — E depois desse banho delicioso você e eu temos uma consulta no hospital. Você vai fazer alguns exames e vamos passar todo o dia juntos.

— Eu prefiro que isso... o que existe entre nós, não seja... não precisa ter um nome, Heriberto. E, quanto ao hospital... eu prefiro ir sozinha. 

— Mas eu não. — Ele negou-se aproximando-se dela por trás e beijando seu pescoço. — Victoria, eu estive por muitos anos solitário na África, com a companhia unicamente de meus pacientes. Você não vai me convencer a não estar do seu lado hoje... e nem nunca. — Ele estava tão decidido que Victoria chegava a sentir culpa pelo que pretendia lhe fazer.

— Heriberto, você não entende que assim está me sufocando? — Queixou-se ela entrando no quarto seguida por ele. — Eu não estou acostumada a tanta proximidade. 

— Não. Não porque isso não é verdade. Não é verdade que eu te sufoco, não é isso que seus olhos me dizem. — Ele se aproximou dela e ajeitou seus cabelos molhados atrás da orelha. — Seus olhos me dizem que você quer que eu fique, que desfruta da minha companhia, dos meus cuidados e, inclusive que você quer que eu vá atrás de você quando foge de mim. 

Ouvir essas palavras com os olhos de Heriberto tão fixos nos dela inexplicavelmente emocionaram a Victoria, deixando-na completamente sem jeito. Sem jeito e dividida. Aqueles expressivos olhos verdes de Heriberto tinham um magnetismo tão grande que fazia com que ao mesmo tempo em que ela queria fugir deles desesperadamente, ser beijada por ele se tornava uma necessidade imprescindível, ela sentia seu corpo e sua alma vibrando para estar nos braços de Heriberto. Não havia nenhuma dúvida, estava perdidamente apaixonada por ele e não podia evitar. 

O beijo que trocaram no meio daquela suíte estava bem longe de ser o último, seus corpos atraíam-se independente do tempo e do espaço e suas almas se buscavam e se necessitavam. Depois dos exames Heriberto levou Victoria para almoçar em seu flat, preparou um peixe grelhado e uma salada para ela, tomaram vinho, amaram-se, sem hora para parar, passaram um dia perigosamente perfeito, como se nada no mundo pudesse atingi-los. 

***

Já era manhã do dia seguinte quando os belíssimos olhos verdes de Victoria se abriram e se encontraram aos de Heriberto encarando-a apaixonado. Ele estava com a cabeça sobre a mão, um ar de encanto que fez-lhe sentir estranhamente aconchegada e abriu um acolhedor sorriso ao vê-la acordar.

— Bom dia, meu amor. — Ele disse beijando-a.

— Há quanto tempo você está aí... me olhando? — Ela indagou sem jeito. 

— Não faço ideia. Mas passaria todo o meu dia aqui. Sentindo sua respiração, seu calor, te vendo dormir nua na minha cama, entregue, sem armas. — Declarou-se ele. 

— Eu estou horrível. — Ela disse instintivamente ajeitando os cabelos. 

— Você está linda! Para mim, aqui na minha cama, sem maquiagem, sem suas roupas e acessórios sofisticados, sem aquela pose de dona do mundo é que você está mais linda porque você é completamente... minha. 

— Nem tente porque hoje sua lábia, perfeita, diga-se de passagem, não vai me convencer a ficar mais um dia fora do meu trabalho. Eu estou preparando um desfile super importante e...

— Shiu. — Ele colocou o dedo sobre seu lábio. — Você pode ir para o seu trabalho, mas com a certeza de que, ao fim do dia, eu estarei lá para te buscar e você vai passar toda a noite comigo como ontem, hoje e... toda nossa vida. 

Victoria suspirou e sentiu um arrepio ao entender a referência de suas palavras. Não precisava dizer eu te amo para que Heriberto sentisse que ela o amava, não precisava pedir que ele lhe fizesse sua para que ele entendesse que ela o desejava de uma maneira inexplicável e avassaladora como estava sendo aquela paixão. Terminaram fazendo amor no banho uma vez mais, apesar da inicial negativa de Victoria.

Depois do orgasmo e do relaxamento que ela deixa no corpo, Victoria tomou consciência de que suas pernas bambeavam e que ela suspirava enquanto terminava de se vestir. Na sua vida inteira não se lembrava de ter feito sexo tantas vezes em dois dias. Aliás, a intensidade que sentiu em todas as vezes em que se viu nos braços de Heriberto, em que o sentiu duro dentro dela, não se lembrava de jamais ter sentido em toda sua vida sexual. Era como se aqueles dois dias valessem por todos os dezoito anos que passou casada com Osvaldo, ou melhor, valessem mais. O único problema se se sentir tanto prazer e tanta paixão é que, às vezes, dois dias não são suficientes. Na verdade, dois dias jamais seriam suficientes para todo aquele fulgor que Victoria possuía dentro de si. 

Heriberto se ofereceu para levar Victoria à casa de modas, já que ela havia saído de casa no carro dele, mas ela preferiu ir de táxi. Tinha medo de não conseguir entrar na casa de modas e trabalhar se o tinha a seu lado como opção. Jamais havia tirado um dia de folga em sua vida, nem mesmo quando se divorciou de Osvaldo ou quando Fernanda e Max adoeciam na infância. 

Ele desceu com ela até a porta do prédio e os dois se beijaram na calçada, cheios de desejo e paixão antes de que ela entrasse no táxi. Heriberto ficou com um sorriso bobo enquanto via o táxi se afastar e não resistiu à tentação de levar sua mão à boca e fechar os olhos para desfrutar da sensação de ter o cheiro de Victoria impregnado nele. Logo ele se virou e voltou-se para dentro do prédio observado por Ana Joaquina que estava dentro de um táxi parado do outro lado da rua. O olhar da mulher queimava de ódio.

— Para onde vamos, senhora? — O taxista indagou. 

— Para a Casa de Modas Bernarda. — Respondeu a beata. Antes do táxi se afastar, encarando o prédio de Heriberto ela completou entre os dentes. — Vou fazer uma aliança e tirar tudo dessa tarântula venenosa. Victoria Sandoval vai perder sua casa de modas e meu filho para a mesma mulher – Bernarda de Iturbide!

***


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