Metanoia escrita por Bibelo


Capítulo 1
Amor Volúvel


Notas iniciais do capítulo

Amores da minha vida!

Vim no último dia do desafio de Agosto, pq como é uma fic com um casal que nunca escrevi bate a insegurança né? Mas criei coragem a cá estou eu ♥

Espero que gostem, ta meio longa, mas foi feita com amor!

Tenho que agradecer à Sasah por ler essa one imensa e me ajudar em alguns detalhes que ficou falho. Obrigada anjo ♥

Casal novo ai pra mim, então espero ter feito do jeito que vocês gostam deles.

Boa leitura!



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~ Amor Volúvel ~

— 1 —

O sol se punha no horizonte pintando o céu em seus belos tons quentes de laranja e vermelho. A visão era estonteante para quem parasse sua árdua rotina para admirar o céu, mas era ainda mais bela do observatório acima do monumento dos Hokages. Era bem singela, adicionada ali durante a reforma da cidade após as Guerras. 

Naruto adorava ir até lá observar a cidade banhada na luz do poente. Todas as vezes, sem exceção, se apoiava no parapeito passando por debaixo de seus estrados de madeira e se sentava na beirada, as pernas pensas no grande despenhadeiro logo acima do rosto de pedra do Yondaime. 

Sem ter muita escolha, Sasuke o acompanhava nos dias mais tranquilos para aproveitar da calmaria da paisagem, mas muitas vezes eram em dias difíceis que Naruto se isolava no topo, longe de todos, analisando e processando informações por horas sentado na beira. 

Sasuke se sentou ao seu lado, ombros se tocando levemente, seus dedos entrelaçados firmes aos de Naruto enquanto este acariciava sua pele carinhosamente. Só ficavam ali, os cabelos ao vento, o silêncio pairando entre eles, a certeza da calmaria e plenitude que a visão lhes proporcionava.

Só quando as aves desapareciam de vista e o céu escurecia à suas costas é que Naruto finalmente falava aquilo que lhe consumia a mente. 

— Eu sempre fui muito impulsivo desde criança, mas acho que passei dos limites desta vez. — murmurou para o horizonte, evitando o olhar de Sasuke que o analisava com cautela: — Tsk. Sei que você sabe se defender sozinho, mas não consigo evitar, ‘ttebayo!

Sasuke respirou fundo, seus dedos calejados acariciando a mão enfaixada e firme de Naruto. Seu braço possuía as mesmas faixas — como uma promessa silenciosa, Naruto havia lhe dito —, e às vezes se pegava odiando-as mais que tudo. Voltou a encará-lo no rosto, seus olhos azuis firmes em seu colo.

— Não precisa atacar as pessoas para me defender, posso fazer isso sozinho. — admitiu o Uchiha convicto. Naruto estremeceu levemente: — Eu não estou irritado. — confirmou por fim. 

— Eu sei. — falou baixo: — Eu sei. — repetiu deixando a conversa se encerrar naquilo. 

Sasuke não era muito bom com palavras, muito menos as de conforto. Eles realmente tiveram um contratempo em uma de suas visitas às outras Vilas. Já estava acostumado com os olhares raivosos, cheios de apreensão e desconfiança. Era de se esperar depois de tudo que fez, as histórias que correm pelas Vilas carregando seu nome. 

Ter dois Uchihas como responsáveis pela Quarta Guerra Ninja, além de sua batalha com Naruto — o herói de todos os heróis — manchava ainda mais o nome de sua família o levando para o chão junto deles. Sabia o que o aguardava quando resolveu seguir Naruto em suas visitas como porta-voz de Kakashi. 

Apesar disso, para Naruto, ele aceitar ou não a forma como era visto pelas pessoas não mudava em nada a ira que emanava em seus olhos quando ouvia os sussurros ou flagrava os olhares venenosos. 

Ele, o Herói de Guerra, aquele que é recebido com sorrisos e admiração; flores e presentes de crianças e mulheres de bom coração; apertos de mão e conversas sobre seus feitos e bravuras; seus brados e contos. Ele, o parceiro de Sasuke Uchiha. 

Sasuke se questionava até onde Naruto realmente se sentia bem com toda aquela atenção, enquanto ele se contentava com a sombra que sua luz criava. 

Aquela visita não foi diferente, os mesmos olhares raivosos, o desprezo e a censura. Tudo como sempre foi, nada além daquilo, mas teve um deles que falou o que não deveria na frente de alguém considerado um Herói, salvador dos oprimidos. 

Não se considerava um oprimido, mas ter Naruto ficando entre ele e seu suposto agressor esquentou algo dentro dele que jurava não ser capaz de arder tão intenso. Não se lembrava das palavras do homem em questão, mas as palavras de Naruto eram pesadas e caíram como blocos nos ombros daqueles que ouviam. 

“Ele é tão "herói de guerra" quanto eu ou todos que lutaram nela! Só que eu também não sou nenhum santo. Qualquer um que disser algo sobre ele na minha presença vai entender o porquê de eu não gostar de ser chamado de herói.”

A multidão se calou, mas Naruto foi convidado a deixar a Vila depois disso. Os dois retornaram com relatórios negativos e um Kakashi decepcionado na mesa. 

Desde então Naruto se mantinha pensativo, e vez ou outra lançava olhares nublados em sua direção. 

Sasuke suspirou se inclinando delicadamente contra Naruto, o beijando nos lábios de forma calma e melodiosa. Naruto suspirou contra seus lábios se deixando embalar pelo calor de suas bocas na brisa fria do poente já distante. 

Naruto o puxou para perto pelos cabelos longos e Sasuke chiou lançando um olhar para a queda longa abaixo deles. Naruto riu o beijando no rosto, confiante:

— Como se eu fosse te deixar cair, idiota. — zombou risonho. Sasuke rolou os olhos.

— Calado. — e então voltou a beijá-lo. 

Sasuke não era bom em consolo, principalmente usando de palavras, mas esperava que os sentimentos naquele beijo fossem o bastante pra Naruto entender como ele se sentia. 

E que no final não importava o que Naruto fizesse, ainda o consideraria um Herói, pois se estava andando livre pelas Vilas era por seus pedidos incessantes de absolvição. 

Devia tanto ao namorado que não conseguia explicar. 

E por isso preferia os beijos às palavras.

— Sasuke-kun! — Sakura chamou seu nome do outro lado da praça onde seria realizado o evento anual em comemoração ao fim da Guerra. As barracas já estavam armadas, e outras precisando de mais alguns toques. 

Dali alguns dias, no final de semana, Konoha reuniria centenas de pessoas para a festividade, e todos os ninjas com missões entre C e D foram selecionados para o cargo. Sasuke ainda estava sob forte vigilância, e portanto não tinha permissão para missões de níveis maiores, ou que deixasse a aldeia por mais de alguns dias desacompanhado. 

Era uma liberdade falsa a sua. 

— Diga. — respondeu se aproximando da garota. Ela estava com roupas casuais ao invés da vestimenta ninja. As roupas em tom rosa e bege a deixavam bem mais feminina, Sasuke notou. A amiga ficava mais radiante daquele jeito. 

— Preciso confirmar sobre as patrulhas durante o evento, mas pediram minha ajuda para levantar uma das últimas barracas. Poderia ir ver pra mim? — pediu lhe entregando sua prancheta com os horários dos possíveis plantões. 

— Certo. 

Ela sorriu contente seguindo caminho até as outras barracas. Sasuke a observou se afastar, o cabelo curto esvoaçante e sutil na brisa da tarde. A observou por um longo tempo, talvez mais do que deveria antes de seguir caminho. 

Não gostava de multidões, e pensou que isso fosse algo simples de explicar, mas mesmo depois de todo aquele tempo de volta à Konoha ainda não conseguia expor seus medo. Ficou isolado em sua própria bolha por tantos anos que ao sair dela se encontrou perdido em meio à tantas pessoas e eventos sociais. 

Aquele festival acontecia desde o primeiro ano de paz após Quarta Grande Guerra Ninja, onde foi sediada em Sunagakure. 

A cada ano uma das Aldeias da aliança era responsável pelo festival e Konoha havia ficado com o último ano do ciclo antes deste se repetir. As pessoas da Vila estavam animadas com a ideia de receber tantas pessoas no final de semana que os comércios locais pareciam brilhar com tantas luzes.

A Guerra deixou muitas sequelas, e aos poucos a festividade os fazia entender que o que viria em seguida seria paz e sossego sob a proteção dos Kages. Para os civis distantes do mundo ninja o evento era uma comemoração. 

Para aqueles interligados aos heróis de guerra era só uma lembrança anual do que perderam pelo caminho. Sasuke era um deles, que sonhava com a guerra em dias mais nebulosos. Via o exército avançar e os gritos das pessoas ecoar em sua cabeça. 

Houve um tempo depois dela que teve sossego, um pouco de paz, mas já fazia dois anos que não possuía tanta tranquilidade quanto antes. 

Os sonhos apareciam de novo e de novo, o assombrando por onde passava. Sasuke suspirou irritado entrando no mercado movimentado. Tanto na Praça quanto ali as pessoas arrumavam suas lojas para que reluzissem como árvores de Natal, chamativas e cativantes. Algumas delas já erguiam placas de promoções para o festival. 

Se antes o mercado já era seu lugar menos favorito, agora estava na lista de lugares à evitar. Deu meia volta na intenção de ir pelos telhados — afinal, estava sempre sendo vigiado, não faria diferença —, quando viu uma cabeleira loira entre os trabalhadores da floricultura, parado, observando-os erguer alguns cartazes.

Seus olhares se cruzaram momentaneamente e Sasuke parou no lugar, congelado. Oh, como não esperava por aquilo. Os últimos dois anos desde sua briga foram preenchidos com fugas e desencontros por sua parte. 

Sasuke não queria encará-lo depois de tanto tempo, mas sempre que deixava de pensar em Naruto ele aparecia como uma praga, assombrando-o como um lembrete do que havia perdido dois anos atrás. 

Naruto sorriu para ele, fraco e triste, mas que amoleceu suas pernas inexplicavelmente. 

Sasuke entrou no beco mais próximo sem se importar em checar ou não a patrulha. Dali seguiu caminho direto para seu apartamento.

Poderia ser cômico sua fuga para casa, mas Sasuke já havia desistido há muito tempo em tentar ser a imagem que as pessoas tinham dele. Estava desconfortável, e o único lugar onde se sentia menos perturbado era sua casa. 

Antes mesmo de entrar já sentia sua pulsação retumbando horrores. Se jogou no sofá na sala respirando profundamente. 

Às vezes se sentia patético por agir tão emotivo com coisas mínimas. Este tópico foi um dos motivos das brigas entre os dois quando ainda estavam juntos. 

Sempre foi lembrado que sentir não era errado, fragilidade não era ruim. Sasuke sempre ouvia, mas nunca realmente escutava.

Não era fácil, com tudo que tinha na cabeça, se deixar fraquejar. Ainda tinha inimigos demais pra se permitir tamanha falha. 

Mas Naruto era seu porto seguro, e infelizmente ter uma pessoa como âncora pode deixá-lo à deriva se o cabo que os segura se romper. 

Sasuke estava sem rumo, e por consequência aceitava seus momentos de fraqueza. 

Passou o resto da tarde na área de treino arremessando kunais.

E ao cair da noite foi agraciado pelo rosto decepcionado de Sakura na porta de seu apartamento.

Sakura terminou seu Ramen antes de finalmente se virar para Sasuke.

Os dois resolveram jantar no Ichiraku e Sasuke não viu como recusar a amiga, visto que havia esquecido de checar a patrulha. 

Deixou que ela formulasse a conversa antes de falar, não tinham pressa. 

— Você parece abalado. — comentou finalmente, preocupada. Sasuke somente a encarou. Sakura era boa observadora quando parava de agir com infantilidade. E isso bem antes de se tornar médica. 

Talvez fosse realmente uma vocação, afinal. 

— Não precisa responder, Sasuke-kun, mas não precisa se isolar. Estamos todos preocupados com você. — garantiu Sakura gentilmente. 

Sasuke inspirou forte, consternado. Não tinha tanta certeza sobre isso, levando em conta a forma como seus "amigos" lidavam com sua presença diária. 

Sakura era uma exceção, assim como Kakashi e Naruto. Todos os outros aceitaram relutantes, e mesmo que já tenha se passado cinco anos tem coisas que não mudam da água pro vinho. 

— Pense o que quiser. — respondeu direto: — Eu só não estava a fim de ir checar a patrulha. Muitos Jounin por perto satura. 

Sakura sorriu ladina: — Eu sou uma Jounin, Sasuke-kun. 

— Você é uma exceção pra muitas coisas. — rebateu de imediato.

Ela riu divertida, mas depois suspirou cansada. Dali conseguia ver as bolsas sob seus olhos das noites sem dormir. 

— Por que está ajudando na festividade? — Sasuke questionou. Sakura pareceu surpresa pela pergunta, ou simplesmente por ele estender a conversa. 

— Oh, bem eu sou de boa ajuda quando a gente fala de força física. — disse simplesmente: — E as pessoas obedecem quando eu dou ordens. — ressaltou dando de ombros. 

Ah, isso Sasuke não duvidava.

— Você está exausta. — apontou. 

Sakura concordou: — Um pouco, sim. Faz parte. Não tem tantos pacientes em estado severo no Hospital que precise de mim lá o tempo todo, então não estou saturada.

— Mas passa noites em claro.

Ela sorriu pra ele: — Você também. 

Os cantos dos lábios de Sasuke repuxaram de leve, mas longe de formar um sorriso genuíno. Sakura era uma companhia confortável, principalmente depois que começou um relacionamento com o Kazekage e deixou de idolatrá-lo.

Era uma amiga leal.

— Me ajuda amanhã? De verdade desta vez? — pediu Sakura delicadamente. 

Sasuke concordou.

O que tinha à perder?

— Oe, Sasuke, você viu onde coloquei minha bandana? — perguntou Naruto do quarto. 

Sasuke estava escrevendo seu último relatório antes de irem se apresentar para Kakashi. Já estava vestido e tomava de seu café na cozinha.

— Olhou debaixo da cama? — sugeriu sem tirar os olhos das páginas.

Naruto estalou a língua: — Não sou idiota. 

Ainda assim, Sasuke o ouviu se abaixar no quarto e exclamando feliz ao achá-la. Sasuke abriu um meio sorriso tomando do café. 

Naruto entrou na cozinha amarrando sua bandana. Depositou um beijo em sua têmpora sentando do outro lado da mesa e enchendo sua tigela com cereal doce e colorido.

— Ainda está escrevendo isso? — questionou Naruto enfiando uma colherada de cereal na boca, sua mão livre brincando com o colar em seu pescoço levianamente. 

— Evidente. 

— Já estava bom quando escreveu ontem. — ressaltou.

Sasuke suspirou: — Eu sei.

Naruto franziu o cenho curioso. Se inclinou para frente segurando sua mão, parando a caneta de continuar a escrever. 

— Então por que está mexendo no relatório?

Sasuke crispou os lábios: — Kakashi não é o único que lê os relatórios, Naruto. Se não estiver perfeito é mais um motivo pra me barrarem de sair da Vila. 

Naruto endureceu o olhar: — Quero ver eles tentarem! Você tem a permissão do Kakashi-sensei, ninguém tem que dizer nada.

A risada de Sasuke emanava escárnio: — Se fosse tão fácil.

— Quem liga se não é, 'ttebayo! — exclamou Naruto irritado: — O Kakashi-sensei não lê de verdade, e mais ninguém tem acesso aos relatórios! Eu sei que fica preocupado, mas vai dar tudo certo. 

Sasuke suspirou pensando em mil e uma formas de rebater seu argumento, mas Naruto se levantou da mesa sentando prontamente em seu colo, cereal esquecido do outro lado da mesa.

Segurou o rosto de Sasuke delicadamente colando seus lábios de forma breve. O Uchiha relaxou contra Naruto o segurando firme pela cintura. 

— Quero que me escute direito, idiota. — começou debochado, recebendo um rolar de olhos dramático: — Não importa o que as pessoas falam de você ou como você escreve um relatório que é infinitamente melhor que os meus que nunca entreguei. — ele riu, forçando um sorriso em Sasuke: — Eu conheço você, eu sei o quão dedicado você é nas missões e ninguém pode questionar isso, entendeu bem?

Sasuke sorriu finalmente, juntando seus lábios em um beijo um pouco mais demorado, sorvendo o açúcar e a risada de Naruto com suavidade.

O Uzumaki apertou os braços em torno de seu pescoço aprofundando o beijo da forma como queria, e Sasuke entregou o comando daquele momento nas mãos quentes e ágeis do namorado. 

— Vamos nos atrasar. — relembrou Sasuke ofegante. Naruto murmurou baixo mordendo seu lábio inferior causando um arrepio em seu corpo. 

Naruto riu satisfeito selando seus lábios outra vez.

— Sempre nos atrasamos, amor, mais um dia é rotina. 

Sasuke grunhiu: — Sem apelidos. 

Naruto gargalhou divertido: 

— Amooooor. — gemeu em seu ouvido suspirando baixo. Sasuke estremeceu: — Não gosta que te chame de amor? Que tal paixão? Anjo? 

— Nenhum. — rebateu respirando forte. Naruto soltou um murmuro sugestivo mordendo o nódulo de sua orelha forçando Sasuke a prensar os lábios com força.

— Sempre te chamo de amor, tem tipo uns três anos. — comentou ainda em tom rouco: — Você nunca ligou, na verdade você gosta. — relembrou mexendo seu quadril de leve contra a semi-ereção de Sasuke.

Ele suspirou repuxando a jaqueta laranja em seus punhos fechados. 

— Não temos tempo pra isso. — admitiu lânguido: — Pare de me provocar, imbecil.

Naruto riu o beijando outra vez, agora mais calmo.

— Essa ereção não vai sumir sozinha. 

— E você não está ajudando. — falou Sasuke.

— Certo, vamos terminar o café então. — desistiu por fim se levantando.

Sasuke quis puxá-lo de volta, mas realmente estavam atrasados. 

Finalizaram o café e Sasuke seguiu para o banheiro terminar de se arrumar. Ao retornar Naruto o esperava na porta com seu relatório em mãos, o antigo, já que o novo ainda estava na mesa.

Naruto lhe estendeu a mão:

— Vamos? 

Sasuke sorriu e a pegou, firmando um beijo em seus lábios sorridentes. 

— Eu te amo. — sussurrou encarando seus olhos azuis reluzentes. 

O rosto de Naruto se iluminou num sorriso largo o suficiente para cegá-lo. Abraçou Sasuke com força lhe tirando o equilíbrio. 

— E eu te amo mais, amor. — falou sincero: — Com neura de perseguição e tudo. 

Sasuke ignorou a última parte o segurando em seus braços por um tempo antes de saírem para entregar os relatórios. 

E Sasuke fez questão de segurar sua mão o caminho todo. 

Sasuke anotou as últimas informações sobre a patrulha antes de voltar para a Praça. Naquele dia Sakura teria a ajuda de Ino para alguma das organizações gerais do festival, mas ainda parecia tão cansada quanto na noite anterior. Provavelmente não dormiu direito como sempre. 

Para ele já estava tudo bem encaminhado, a maioria das barracas estavam prontas, a patrulha com novas rondas, guias e pontos de informações já a postos nas avenidas principais. Tudo parecia estar nos conformes, mas a feição exasperada das meninas lhe dizia o contrário. 

Se aproximou delas entregando os horários para Sakura.

— Aqui.

— Obrigada, Sasuke-kun. — agradeceu Sakura lendo as informações. Ino o encarou curiosa, mas o sorriso sempre em seu rosto.

— Está ajudando também, Sasuke-kun?

— Kakashi-sensei insistiu. — ressaltou Sakura respondendo por ele: — E é bom ele ficar com pessoas de verdade de vez em quando. 

Sasuke arqueou a sobrancelha, mas não disse nada. 

— Ah, é compreensível. — disse Ino menos animada: — Pretende ir visitar o Naruto durante o festival?

Sasuke estremeceu com a menção de Naruto, ainda que imperceptível. E por breves momentos jurava ter visto o rapaz do outro lado da praça o observando. 

Sakura bateu em Ino com a caderneta. 

— Não é da sua conta, deixe ele. — repreendeu Sakura severa. A amiga gemeu indignada. 

— Super força, testa de marfim! — resmungou massageando o braço.

— Merecido. — disse por fim encarando Sasuke com olhos tristes: — Sasuke-kun? Já viu a barraca de morangos? Estão dando algumas porções para quem está ajudando. Vamos pegar um pouco?

Sasuke respirou fundo. Não era fã de doces, mas seguiu a amiga que começou a andar em direção a barraca. 

Por que ele veria o Naruto no festival? O que tinha de especial se ele o via a todo momento? Estava surpreso por não o ver entre as barracas, ainda que sentisse sua presença por perto, sempre sondando, sempre presente. Sasuke imaginava se Sakura conseguia senti-lo ou vê-lo. 

Provavelmente não. 

Sakura o segurou pelo braço, os olhos ágeis analisando seu rosto. Sasuke franziu o cenho.

— O que?

— Você parou de andar e de responder. — respondeu ainda o examinando. Sasuke se afastou dela, desconfortável.

— Não é nada. 

— Claro que é! — exclamou um tanto exaltada. Sakura respirou fundo controlando a voz: — Você sabe que pode conversar comigo sobre isso, certo?

— Não sei como isso ajudaria. — insistiu desviando o olhar da amiga. Não queria falar sobre o assunto.

— Ajuda muito, Sasuke-kun. — enfatizou alisando seu braço carinhosamente: — Talvez a Ino esteja certa, vá até ele no festival e converse. Coloque pra fora o que está te sufocando.

Sasuke crispou os lábios. 

 — Ele não vai me ouvir. — murmurou em baixo tom, sem convicção alguma. 

— Claro que vai, estamos falando do Naruto. — Sakura sorriu amorosa ficando na ponta dos pés o beijando no rosto: — Conte pra ele o que você está guardando aqui. — apontou para seu coração se afastando: — Ele vai ouvir, mesmo que não te responda. 

Sasuke inspirou conflitante. Queria acreditar nisso, queria muito, mas sabia que não seria fácil pra nenhum dos dois a conversa que veio adiando por dois anos. 

Principalmente para ele que arcaria com as consequências da conversa.  

— Vou pensar nisso. 

Sakura concordou satisfeita com a resposta. O segurou pelo pulso continuando o caminho até a banca. Os dois comeram dos morangos repletos de chocolate antes de voltarem para a rotina. 

Logo acima da praça, na área de observação sobre o monumento dos Hokages, Naruto assistia Sasuke se aproximar de Sakura lendo o relatório sobre as patrulhas por cima de seus ombros. A amiga riu de algo que fez Sasuke suavizar a feição rija de mais cedo.

Naruto abriu um sorriso triste enquanto observava o sol à pino iluminar a cidade que tanto amou. Se afastou da beirada e desapareceu pelas sombras.

Torcia para que Sasuke criasse coragem para ir atrás dele. Não era mais a obrigação de Naruto, afinal. 

— Por que eu tenho que ir com você nesses encontros? — resmungou Sasuke seguindo Naruto pelas ruas de Konoha. 

O sol estava se pondo e as folhas das árvores eram carregadas pelo vento do outono. Momento ideal para ficar em casa imerso em seus livros favoritos e uma boa xícara de café.

— Porque você estudou com todos eles, Sasuke! — relembrou Naruto ao seu lado, o semblante animado e radiante. 

Estavam a caminho do Ichiraku para a reunião semanal entre amigos, basicamente entre as equipes sete, oito, nove e dez, fora os agregados como Temari e Sai que apareciam em algumas ocasiões. 

Sasuke sempre fugia dessas confraternizações, mas desta vez lhe faltou desculpas mais concretas. 

Naruto o segurou pela mão, sorriso largo no rosto. 

— Somos todos amigos, sempre fomos! E além disso estamos juntos, não podem negar você lá. — deu de ombros com a vitória já sua. 

Esse era seu argumento para tudo. Se Sasuke fizesse algo errado, ou ligeiramente suspeito, Naruto tirava seu passe livre "Estou namorando Sasuke Uchiha, otário" e as pessoas recuavam.

Sasuke não tinha mais uma identidade, era somente o namorado do grande herói de guerra, e isso o incomodava sempre que pensava muito à fundo.

Naruto tinha a melhor das intenções, isso era fato, mas de boas intenções o inferno está cheio, afinal.

Apertou a mão dele não externando seus pensamentos, não valia à pena a discussão que se sucederia entre os dois já que Naruto não veria as coisas pelo seu ponto de vista. 

Entraram no restaurante e foram cumprimentados por Kiba que acenou para eles do fundo do Ichiraku. Quase todos já estavam lá, incluindo Gaara que estava em visita não-oficial na Vila. Sasuke sabia bem o porquê do Kazekage estar aqui, e ver Sakura toda vergonhosa perto dele era confirmação o bastante. 

— Hey Galera! Gaara! Bom te ver! — Naruto praticamente berrou envolvendo o amigo em um abraço apertado. O Kazekage devolveu ele meio sem jeito, se afastando um tempo depois: — Não sabia que estava por aqui! Teria te recebido no portão, dattebayo!

— Não precisou, tive minha própria recepção. — respondeu suave, e a forma como Sakura corou fez Sasuke sorrir satisfeito.

Naruto fez bico, mas relevou. Se sentou ao lado de Sakura, e Sasuke ocupou o espaço vago do seu outro lado no canto da grande mesa.

— Cadê a Hinata e a Ino? — questionou Naruto curioso. 

— Passaram na loja de armas pra comprar alguma coisa, não lembro agora. — comentou Kiba coçando a cabeça despreocupado: — Já já elas aparecem.

Naruto concordou e começou a puxar assunto com Gaara e Sakura, fazendo questão de incluir Sasuke em alguns deles. Sakura mantinha a expressão suave, mas Gaara não parecia tão à vontade com ele ali. 

Sasuke já queria ir embora. 

Hinata e Ino chegaram junto dos pedidos e Ino logo sorriu largo para Sasuke acenando escandalosamente. 

— Sasuke-kun! Você veio! — exasperou a garota toda animada.

— Óbvio que ele veio. — comentou Shikamaru dando de ombros: — Os dois não se desgrudam.

Todos riram concordando. Naruto corou forte xingando baixo. Sasuke sorriu de leve. 

— Boa noite Naruto-kun, Sasuke-kun. — cumprimentou Hinata educada, ainda vermelha. Naruto sorriu brilhante pra amiga.

— Hey Hinata! — falou de volta. Sasuke acenou comedido. 

As duas sentaram de frente para Naruto e Sasuke. A conversa na mesa continuou como sempre e com a comida na mesa começaram a discutir sobre quanto cada um pode pegar porque o Chouji com certeza faria a limpa nas chapas antes que conseguissem comer sua porção de direito. 

O assunto mudou de comida para missões e de missões para relacionamentos e as várias indiretas para Sakura e Gaara que fingiam não entender o que acontecia naquela mesa cheia de adolescentes à flor da pele. 

Naruto começou então a falar de algumas memórias antigas, e algumas delas com Neji como parte das histórias. Todos ficaram nostálgicos com a menção do falecido amigo, principalmente Hinata. Naruto segurou sua mão por cima da mesa, lhe passando conforto. A garota ruborizou instantaneamente abaixando o olhar para o colo. 

Sasuke travou a mandíbula, mas ficou quieto. 

Ino o chutou por baixo da mesa quase o fazendo pular no lugar. Ela tinha um sorriso sapeca no rosto, provavelmente sentindo sua aura irritada. Lhe jogou uma piscadela cruzando as pernas provocante. 

Sasuke franziu o cenho sem entender, mas Naruto se remexeu ao seu lado pegando sua mão que estava debaixo da mesa apertando-a com certa força. 

Oh! 

Ino soltou uma risada vangloriando-se antes de retornar para a conversa na mesa. Naruto se inclinou para ele:

— Você está tenso, quer ir embora? — perguntou preocupado. 

Sasuke ponderou, afinal não gostava mesmo de estar rodeado de pessoas que só o aturavam por decoro. Ainda assim, Naruto gostava daquilo e poderia aturar um pouco de seus amigos para ver aquele sorriso em seu rosto. 

É, ele estava realmente apaixonado, não?

— Tudo bem, podemos ficar mais um pouco. — falou por fim firmando o aperto em sua mão. Naruto sorriu roubando um beijo rápido de seus lábios antes de voltar a atenção para o grupo, mas suas mãos ainda juntas. 

O jantar terminou e cada um seguiu seu caminho. Gaara se ofereceu para escoltar Sakura até em casa e os dois foram um dos primeiros a sair de vista. Logo depois Shikamaru e Ino enquanto discutiam alguma trivialidade. 

Os outros desapareceram sem que Sasuke percebesse ficando somente Naruto, ele e Hinata. Sasuke inspirou desconfortável. Ele não a detestava, longe disso, mas ele não era cego, nunca foi. 

Hinata ainda era apaixonada por Naruto. Nos pequenos gestos, na forma de falar ou mexer as mãos nervosa. Era óbvio e Sasuke às vezes se pergunta como realmente estava com Naruto há três anos, já que ele levou quase dez anos para descobrir da paixão de Hinata, e isso porque ela lhe contou. 

Talvez sua sorte tenha sido ele se confessar ao invés de Sasuke. Lhe poupou trabalho com flertes que ele nunca compreenderia. 

— A gente te deixa em casa, Hinata! — ofereceu Naruto. 

Hinata arregalou os olhos pronta para negar, mas Naruto insistiu.

— Sério, não é problema, é caminho nosso. — respondeu convicto. 

— Vo-Vocês moram do outro lado da Vila. — rebateu a amiga. Sasuke sorriu divertido.

— Vamos, Hinata. Não é problema nenhum. Não vamos deixar você andar sozinha por aí à noite. — continuou Naruto a empurrando pela lombar em direção ao Clã Hyuuga. 

Sasuke respirou fundo, bem fundo, e seguiu os dois. 

Naruto continuou com a conversa bem próximo dela, seu braço agora em seus ombros pequenos. Sasuke ficou para trás ouvindo Naruto falar e falar e falar. Quase ficou com dó de Hinata, mas estava com ciúmes demais para sentir qualquer coisa além de raiva. 

Chegaram em frente ao portão e Naruto se despediu de Hinata com um beijo no rosto. Ela acenou de longe para Sasuke antes de entrar. Naruto suspirou girando nos calcanhares e se jogando de braços abertos contra Sasuke. 

Ele o pegou, claro, não era nenhum animal, ainda que enciumado. Naruto riu infantil, apertando os braços em sua cintura, a cabeça contra seu ombro. 

— Vamos pra casa? Quero sentar no sofá e ficar enrolado em uma coberta observando você ler um de seus livros chatos e enormes. — Naruto sugeriu. Sasuke rolou os olhos, mas acariciou seus cabelos mesmo assim. 

— Já está tarde de qualquer forma. 

Naruto concordou o puxando pela mão e o guiando de volta para seu apartamento compartilhado. 

Sasuke ainda estava chateado, e muito. 

Ela ainda gostava dele, era tão óbvio. Aquele tipo de amor não desaparece só porque a pessoa que você ama está com outra. Ele sabia bem disso, e aquilo ainda era difícil de engolir. Ele a tratava como se tivessem alguma coisa. Naruto a tratava da mesma forma que fazia com ele.

E Sasuke decidiu que não gostava disso. 

Nem um pouco. 

Sakura, Sasuke e Ino estavam à caminho para falar com Kakashi sobre o festival. Estava tudo pronto para o dia seguinte, e Sakura não parava de sorrir e comentar da visita do Gaara ser não-oficial e poder passear com ela pelas barracas. 

Ino estava no mesmo barco, sonhando em arrastar Sai por todo o final de semana. Sasuke sabia que Gaara gostava disso, mas Sai parecia difícil gostar de algo além de desenhos. 

Ele não queria ir. 

Suas lembranças dos festivais sempre tinham o Naruto nelas, e a última coisa que ele queria era ter que relembrar algo que ele não poderia mais ter. 

— E se chamarmos a Hinata pra ir com a gente? — sugeriu Ino. 

O humor de Sasuke mudou na hora. Bem, certas feridas nunca fecham, afinal. 

— Ela disse que vai vir com a Hanabi, mas posso perguntar se ela quer ficar com a gente. — concordou Sakura ajeitando a orelha do papel na caderneta: — Amanhã vai ser muito lindo, fico feliz de não ser responsável pelo evento todo, só a arrumação. 

— Deus abençoado! — Ino agradeceu alto rindo satisfeita. 

Sasuke sentia o mesmo, não teria motivos para aparecer por ali no final das contas. Sakura rolou os olhos. 

— Para de escândalo, Ino. — repreendeu enquanto entravam no prédio do Hokage: — Kakashi-sensei pode te ouvir e nos passar algum trabalho amanhã. 

— Ele não seria tão cruel. — exasperou Ino. 

— Seria. — Sasuke e Sakura responderam em uníssono trocando olhares rápidos. 

— Oh, meu lorde. — resmungou Ino já decepcionada. 

Entraram na sala sem serem anunciados — privilégio de ex-estudantes do atual Hokage — e Kakashi já parecia estar os esperando. 

— Yo! — ele cumprimentou com um aceno. Sakura lhe entregou os papéis os quais ele deu uma breve olhada e deixou de canto. Sakura suspirou, mas ficou quieta: — Tudo certo para amanhã?

— Sim, está tudo no relatório. — reforçou Sakura.

— Sim, sim, claro. Mas vocês podem me contar pessoalmente, sabe. — comentou dando de ombros. 

Sasuke rolous os olhos enquanto Ino escondia a risada.

— Certo, Kakashi-sensei, não vai acontecer. — Sakura falou por fim cruzando os braços: — Levei boa parte do dia pra escrever isso, não falhe comigo agora. 

Kakashi ergueu as mãos em rendição. 

— Certo, certo. Você venceu. — admitiu se inclinando para frente: — Vocês tem o dia livre amanhã por terem ajudado na arrumação. Escolhi a equipe que vai monitorar a organização do evento, então podem curtir ou sei lá o quê. 

— Isso! — Ino exclamou animada: — Vou começar a me aprontar. Até amanhã, Kakashi-sensei. 

Ela saiu saltitante da sala e Kakashi somente balançou a cabeça nada impressionado. Nenhum dos seus alunos ou colegas o tratavam como Hokage com honoríficos ou muita educação, e ele acharia estranho se eles de repente começassem a fazer. 

— Vocês já podem ir também. — respondeu o sexto e ambos seus alunos se curvaram brevemente e viraram para a porta: — Sasuke, espere. Fique um pouco mais. 

Sasuke parou no lugar. Trocou um rápido olhar com Sakura que lhe sorriu encorajador, e então a amiga deixou a sala. Sasuke se virou para ele com curiosidade, ainda que não obviamente externada. 

— Você vai aparecer na Festividade? — questionou Kakashi direto. Sasuke negou, não tinha pra que mentir afinal. Kakashi suspirou: — Ok, você quem decide, mas quero que entenda que nenhum de nós escolheu um lado dois anos atrás, e que você não está sozinho, Sasuke. 

O Uchiha inflou o peito com as palavras cravadas diretas na ferida aberta, mas ele somente concordou. Kakashi o analisou com cautela, e Sasuke se sentiu vulnerável sob o olhar afiado de seu mentor. Kakashi se levantou por fim dando a volta na mesa e parando de frente para Sasuke. 

Depositou ambas mãos em seus ombros, um peso reconfortante sobre as peças de roupa. Kakashi sorriu por trás da máscara retirando de seu bolso um colar de cristal tão familiar para Sasuke que sentiu o ar congelar em seus pulmões. 

Kakashi colocou o colar em sua mão a fechando em seguida. Com um último tapinha no ombro o Hokage o dispensou de sua sala e Sasuke caminhou letárgico de volta para casa, não tendo noção de quando ou como chegou, todo o caminho passou como um blur por seus olhos, como neblina densa. 

Assim que a porta se fechou atrás de si sentiu as primeiras lágrimas descerem por seu rosto. 

Escorregou até o chão segurando o colar entre seus dedos, a dor se tornando física, perfurando seu dedos, correndo por suas veias como fogo em brasa. Sasuke estava em estado de negação, e para ele aquilo era, nada mais, do que simplesmente os dois anos em que se recusou a dizer ou fazer qualquer coisa, atirando de volta contra ele. 

Sasuke se deixou chorar tudo o que precisava. 

O cristal ainda estava perfurando sua palma quando decidiu subir para o quarto e terminar aquele dia na cama, longe de tudo e qualquer coisa que o fizesse lembrar daquilo que desejava esquecer. 

Mas não tinha como, agora via. Depois que o fogo começa a arder, só o que sobra são brasas ao vento.

Sasuke já estava saturado. 

Ele quase nunca ia nas reuniões semanais, e normalmente cuidava de suas próprias coisas enquanto Naruto zanzava por Konoha conversando com todos que passavam na rua. 

Porém, depois daquele jantar decidiu dar uma sondada. Parecia ridículo, mas Sasuke estava repentinamente tão inseguro que não sabia como resolver isso além de ver as coisas com seus próprios olhos. 

Naruto e Hinata eram bem mais próximos do que Sasuke se lembrava. Antes dele deixar Konoha no impulso, ou mesmo quando voltou junto de Naruto da Quarta Guerra Ninja, os dois nunca foram próximos. Sempre aquela mesma distância dolorosa, ela o observando de longe e ele alheio à tudo. 

Agora trocavam sorrisos, conversas — não longas, mas ainda assim eram cara-a-cara —, e Naruto agia com gentileza, a tocava com gentileza, a mesma gentileza que ele, e somente ele, vinha recebendo nos últimos três anos, e isso fez a cabeça de Sasuke girar. 

Isso não aconteceu uma ou duas vezes. Sempre que Hinata estava perto Naruto fazia questão de manter contato físico, de estar próximo, e nisso sempre acabava se afastando de Sasuke, como se ele nem estivesse por perto. Ela ria, corava, se divertia com as conversas e Naruto não parecia ver nada de errado. 

Só que para Sasuke não estava normal, aquela aproximação era estranha. Ele percebeu, nesse meio tempo, Ino notar seu desconforto. Ela mesma não parecia gostar muito daquele cenário, mas não era de sua conta e mais ninguém além deles dois parecia realmente se importar.

Meses. Meses nesse processo, meses vendo os dois juntos e se sentindo cada vez mais inseguro, perdendo a confiança. Descontando sua frustração em brigas na casa, nas missões de paz ao se envolver em lutas por seu temperamento já no limite. 

Eles quase nunca brigavam sério, mas as discussões começaram a se tornar preocupantes quando deixavam de se falar por um dia inteiro, mas era sempre Naruto quem vinha atrás, se desculpando. 

Sasuke não aguentava mais aquela situação toda. 

Estavam desta vez no parque, e enquanto todos estavam rindo, se divertindo e falando alto, Sasuke saiu para comprar água e ficou de longe observando. Hinata arrumava a mesa que haviam ocupado com vários comes e bebes, e Naruto chegou por detrás, abraçando-a. Um sorriso no rosto. 

Ela pulou no lugar, mas logo corou sem jeito e Naruto sequer se afastou, rindo divertido. Sasuke prendeu a respiração angustiado. 

O que se faz numa situação dessas? Ele não queria parecer lunático, mas aquilo estava o machucando, ele não aguentava mais. 

Aquele era seu limite. 

Sasuke se afastou do grupo no parque e na primeira oportunidade desapareceu de vista.

Voltou para casa rapidamente entrando pela janela do quarto. Se sentou na cama, a cabeça entre suas mãos trêmulas. Se sentia tão patético. Estavam há três anos juntos, e ainda assim havia uma parte — grande e insistente —, que dizia coisas desagradáveis em seus ouvidos, sussurrava mentiras que queria ouvir para sentir-se menos paranóico. 

Sasuke suspirou pesado, o ciúmes borbulhando sob sua pele. O medo e a raiva misturados na sua mente confusa. 

— Sasuke?! — chamou Naruto da sala, a voz preocupada e nervosa ecoando pelos cômodos vazios. 

Sasuke não se mexeu, somente o deixou se aproximar do quarto, abrir a porta e correr para seu lado. Suas mãos quentes tocaram as suas, também trêmulas com o que seria aflição. Puxou suas mãos para o lado, enquanto com sua outra acariciou seus cabelos com cautela. 

— Sasuke? Amor? Fala comigo, o que aconteceu? Por que está aqui? — questionou gentil, seus dedos acariciando suas maçãs do rosto: — Alguém falou algo pra você?

Ele negou de leve, os olhos ainda vidrados no chão. Seu Rinnegan ardia em seu globo, queimando chakra pelo sua falta de controle emocional. As mãos de Naruto seguraram seu rosto com carinho abraçando-o contra seu peito, deixando Sasuke usar de seu ombro como bem entendesse.

Sasuke respirou fundo, seu corpo tremendo em pequenos espasmos, se agarrou às costas de Naruto com tudo que tinha e deixou seu momento de fraqueza fluir para fora de si, enquanto sentia o calor das mãos de Naruto em suas costas, em movimentos circulares, o acalmando e tranquilizando. 

Fechou os olhos para aquela sensação, mas a raiva ainda estava ali. Ainda gritando contra seus ouvidos. 

Confronte!

Era tudo que ouvia, que sentia. Por que veio atrás dele? Por que se importar? Ele deixou de ser tão importante que Naruto foi correndo atrás da outra única pessoa no grupo que o amava profundamente. 

É sempre bom ter uma reserva, no final das contas. 

Se afastou de Naruto rapidamente, colidindo as costas na parede do outro lado do quarto, a respiração pesada em seus pulmões. Naruto o encarou com olhos arregalados, esticando a mão em direção à ele, mas Sasuke o negou. 

Naruto parou no lugar, o choque em seu rosto continuava ali, se intensificando a cada instante. Sasuke franziu o cenho, mas então percebeu o sharingan ativado no seu olho direito. Soltou uma risada amarga.

— Se divertindo?

— Sa… Sasuke? — chamou Naruto se aproximando novamente: — O que aconteceu? — seu tom era desesperado, ele percebeu, enquanto se aproximava outra vez. 

— Eu não entendo, eu não te entendo, Naruto! — respondeu por fim, colocando pra fora o que sentia. Naruto congelou: — Por que você começou a fazer essas coisas do nada? Já cansou da minha companhia? Acha engraçado ter duas opções pra jogar? Quando se cansar de um tem outro logo ali te esperando de braços abertos? Está se divertindo, Naruto?!

O Uzumaki não respondeu, perplexo com aquela explosão repentina. 

— Três anos, e mesmo assim eu não consigo acreditar totalmente nisso. — falou Sasuke, a raiva mais amena depois do ataque: — Três anos e eu ainda sinto que isso não é real. 

— Isso? — Naruto questionou, mais sério e menos em choque, como se começasse a assimilar as informações dadas. 

— Nós. — disse por fim, negando com a cabeça: — Nós não somos reais de verdade, somos? Isso aqui é realmente o que a gente quer, ou só uma brincadeira pra você?

Naruto estremeceu, puxando o ar entre seus dentes com força. 

— Da onde veio isso, Sasuke?! É claro que é real, Dattebayo! — exclamou em horror: — Somos sim, claro que somos, mas me explica porque eu não estou entendendo nada! 

Sasuke ralhou, debochado. 

— Novidade?

— Sasuke! — o Uzumaki o pegou pelos braços, firmando-o contra a parede. Ele conseguia sair do aperto, mas não queria se afastar de novo, aquilo estava sendo torturante o bastante: — Fala comigo.

— Estou falando!

— Não! Está só gritando e irritado e isso não vai levar a lugar nenhum! Nunca levou! — Naruto o sacudiu de leve pelos braços, tentando forçá-lo de volta ao bom senso: — Fala comigo. 

Sasuke inspirou fundo, repentinamente assustado em dizer o que precisava. Não queria dizer, não queria aquela briga, não queria nada daquilo. Só queria a paz que eles tinham meses atrás. Era pedir demais?

— Sasuke. — o chamou gentilmente, sentindo seu polegar acariciando seu braço sobre a manga. 

— Para.

— Anda, me conta, amor. — suplicou Naruto dolorosamente. 

Não faz isso. 

— Me deixe te ajudar, por favor. — implorou mais forte, mais pesado, e Sasuke estremeceu forte.

Já havia perdido aquela discussão antes mesmo de começar. Ele sempre perdia. 

— Por que começou a tratar a Hinata da mesma forma que me trata? — disse por fim, suas forças finalmente deixando seu corpo tenso para trás. 

Naruto travou no lugar, como se não compreendesse a pergunta. 

— A Hinata?

— Quando começou a cuidar dela, e serem tão próximos depois de anos sem nunca terem trocado nenhuma conversa inteira? — explicou: — Por que faz com que eu me sinta a segunda opção de novo?

Sempre segundo, sempre deixado de lado. 

Nunca era escolhido para nada, não de verdade. Desde criança sempre foi a segunda opção. Sempre acostumado a andar pela sombra de seu irmão — antes e depois do massacre —, do seu clã, do seu colega de equipe. 

Sasuke deveria estar acostumado, mas pela primeira vez pensou que Naruto o havia escolhido. Que era seu primeiro e único.

Agora não tinha mais essa certeza. 

Naruto arfou pesado sem responder suas perguntas. Sasuke se permitiu descer para o chão, tão esgotado como se tivesse travado uma guerra. Seus olhos queimavam, e sentiu seu rinnegan latejar desconfortável.

Sentou no chão e Naruto o seguiu, o impedindo de despencar para o piso. Naruto soltou seus braços tomando suas mãos para si em um aperto doloroso. Sasuke chiou, mas Naruto o encarava com tristeza e ao mesmo tempo resoluto. 

— Eu não estou te traindo, Sasuke. — disse palavra por palavra, sílaba por sílaba com tanta força que Sasuke prendeu a respiração,  pego de surpresa: — Eu sei que ela gosta de mim, droga, não sou tão imbecil assim, e é exatamente por isso que a trato com carinho, como um amigo. Eu não posso lhe dar o que ela quer, então ao menos posso lhe dar meu melhor lado, minha melhor amizade. Sasuke, eu não amo ela. Eu não amo a Hinata. 

O Uchiha crispou os lábios trêmulos, suas mãos doloridas do aperto. 

— Eu sei. — respondeu então, e Naruto pareceu ter compreendido algo que Sasuke ainda estava tentando entender. 

Seu olhar suavizou, seus olhos encheram d’água tão rápido que Sasuke suspeitava que já estivessem úmidos há um bom tempo. 

― Você tem medo de que eu vá embora. ― concluiu Naruto calmamente, seus dedos calejados segurando as mãos de Sasuke contra seu peito: ― Teme que eu vá embora, mas eu não irei Sasuke. Não por conta própria, não com minhas próprias pernas.

Sasuke estremeceu puxando o ar entre seus dentes tentando se soltar de Naruto, mas foi segurado no lugar, firme. Naruto se aproximou de seu rosto, olhos azuis brilhando com as lágrimas ainda para cair, uma convicção que roubou o ar de seus pulmões no mesmo instante.

― Foi por você. ― afirmou grave e resoluto, sem desviar o olhar: ― Tudo o que fiz desde que deixou a Vila; a guerra, os sacrifícios no meio do caminho. Sasuke, foi tudo por você. Pra você. Não foi pela Hinata, não foi por mais ninguém. Eu só queria você de volta! Não ouse decidir pelo meu coração. Ele é meu para amar quem eu quiser, e ele sempre foi seu. Sempre. 

Sasuke engoliu em seco. Ele queria acreditar, como queria. Aquelas palavras tão doces ditas com tanto esmero. 

Ah, como teria dado tudo para sentir a mesma convicção de três anos atrás quando começaram a namorar. Algo dentro dele mudou de lá para cá, algo que já estava quase curado se quebrou novamente. 

Sasuke negou uma última vez e com isso usou de seu Rinnegan desaparecendo do quarto, com Naruto gritando seu nome à distância.

A festividade começou ao amanhecer com pessoas aparecendo de todos os cantos dos cinco países aliados. A praça se encheu de pessoas, às ruas do mercado repletas de vida e vozes alegres. 

As músicas invadiam o espaço com tanta força que os instigava a dançar e se movimentar com a música alta. 

Sakura estava toda nervosa perto da entrada do Mercado. Seu cabelo estava solto com somente um pequeno enfeite em sua lateral. Usava um kimono rosa e branco delicado em seu corpo pequeno, observando os transeuntes com ansiedade. 

Mexia suas mãos frente à seu corpo aguardando. 

As pessoas continuavam a ir e vir e Sakura se encontrou suspirando a cada esperança frustrada. Talvez ele se atrasasse, tinha compromissos como Kazekage, afinal. Sakura murchou um pouco, mas se manteve no mesmo lugar. 

― Você está radiante, Sakura. 

A garota abriu um sorriso largo se virando na direção de Gaara. Ele estava em um kimono também, em tons de vinho. Ela o abraçou confortável sentindo um beijo no topo de sua cabeça. 

― Estou atrasado. 

― Tudo bem, temos muito do festival para curtir. ― rebateu o beijando nos lábios. 

Os dois sorriram um para o outro, naquele amor ainda tão novo e ardente. 

Sasuke os observava do telhado, a feição tranquila assistindo a amiga radiante caminhar com Gaara pelas ruelas do mercado. Não foi o único casal de amigos que ele viu no festival, mas era o único que importava pra ele. Sakura parecia finalmente feliz e uma parte de Sasuke se aquecia com isso.

Suspirou pesado saindo da beirada do telhado. Ainda estava cedo, poderia aproveitar um pouco da festividade como sempre fazia com Naruto há dois anos. Era empolgante chegar perto dos eventos da vila, de poder realmente relaxar e sentir os braços dele em volta do seu, firmes, enquanto o puxava para algum lugar. 

Abaixou a cabeça esfregando os olhos cansados. Passou a noite em claro pensando no que faria naquele festival. No fundo queria manter as coisas como estavam, ele fingindo estar bem e as pessoas fingindo acreditar. 

Contudo, Kakashi não pode ter tirado o colar do nada e decidido, justo um dia antes do festival, que iria entregá-lo. Talvez ele não fosse tão convincente quando achava ser; ou seu professor tinha bons instintos.

Qualquer que fosse a justificativa deixou Sasuke revirando na cama, o colar entre seus dedos, as memórias pintando suas pálpebras fechadas. 

Era como afundar em um lago gelado, ele percebeu, seu corpo treme com o frio, sua boca racha e sangra, seu peito exprime e contrai; mas você se sente vivo. 

Sente seu sangue correr, seu coração bombear forte em adrenalina; todo o seu corpo reage, lhe provando estar vivo. As memórias fizeram isso, depois de dois anos as vendo como feridas abertas, Sasuke conseguiu por uma noite relembrá-las sem sangrar. 

E decidiu então que desta vez iria falar com Naruto. Iria finalmente colocar pra fora o que precisava soltar, libertá-lo da culpa

— Ah, vocês não podem me pegar. Eu sou o maior ninja de todos! — falou uma das crianças do mercado chamando a atenção de Sasuke. O garoto estava vestido com a mesma roupa laranja que Naruto costumava usar quando criança. Ele corria junto de outras, os braços abertos: — Eu sou Naruto Uzumaki, e serei o próximo Hokage!!

Sasuke soltou uma risada triste, observando elas se afastarem. 

— Oh? Essa foi uma boa imitação, Dattebayo! 

Sasuke paralisou olhando para o outro lado da rua. Naruto estava encostado no muro ao lado de uma das bancas, sorrindo aberto para as crianças já distantes. Levantou o olhar para Sasuke sustentando-o com leveza. 

O Uchiha engoliu em seco, sem reação alguma. Naruto riu apontando com a cabeça para o monumento dos Kages. Em seguida, com um floreio exagerado, desapareceu pelo beco escuro acenando de costas para ele, passando pelas pessoas sem ser visto ou exaltado.

Não mais. 

Seu peito contraiu com a falta de ar o obrigando a dar dois passos para trás, resfolegando pesado. Não havia mais fuga, não para ele. 

Umedeceu os lábios, encheu os pulmões de ar fresco e desapareceu do telhado. 

Andou um bom tempo por cima das casas, observando a festividade, as crianças, as danças e músicas. Comprou dangos e parou na praça assistindo uma peça sobre o florescer das Cerejeiras na Primavera.

Se manteve nas sombras, longe das pessoas, seu olho esquerdo coberto para evitar assustá-las pelo Rinnegan que trazia memórias tão ruins de uma época de trevas. Encostou no tronco da árvore, a perna pendendo para baixo no galho alto. 

Observou vários de seus ex-colegas de turma entrando na praça. Sakura e Gaara rindo enquanto observavam uma apresentação de rua; Ino e Sai conversando enquanto se abraçavam um pouco distantes; Shikamaru e Temari falando alto sobre algum desafio chamando a atenção das pessoas ao lado; Chouji pedia comida nas bancas enquanto Karui terminava seu algodão doce distraída. 

Kiba e Shino chegaram mais pro final, um pouco antes do pôr-do-sol, de mãos dadas falando em baixo tom com Akamaru logo atrás, alegre e contente com um brinquedo na boca. 

Todos estavam ali aguardando o discurso de Kakashi, e algumas palavras que seriam dadas por Tsunade antes dela deixar a Vila definitivamente. 

Nessa deixa, Sasuke se levantou de onde estava e partiu em direção ao monumento. Andou nas ruas pelos cantos das paredes, desviando das multidões. Suspirou baixo, suas emoções começando a fervilhar. 

— Sasuke-kun?

Ele parou, a voz doce e melodiosa de Hinata o puxou de volta para o Mercado. Olhou para o lado. Ela estava vestida com um kimono roxo, o cabelo preso em um pequeno coque. Sua presilha um pouco solta pelo vento. 

— Hn?

— A-Ah, você parecia um pouco distraído. — confessou a garota, desviando o olhar para o lado, envergonhada. Sasuke arqueou a sobrancelha. Afinal, o que ela queria?

Hinata se atrapalhou um pouco nas palavras, e Sasuke decidiu que seria rude sair andando e deixar ela para trás. Já fizera muito disso no passado, não precisava repetir seus erros de quando era criança. Agora, ao menos, não teria desculpa para sua rebeldia. 

— Hm… Bem… Eu só queria saber se está bem. Sei que essa data é difícil pra você, por isso eu fiquei preocupada quando o vi pelos cantos. — admitiu, corada. 

Sasuke foi pego de surpresa, não esperava que ela realmente se preocupasse com ele. Não merecia isso dela. 

— Se quiser, po-pode ficar comigo e com a Hanabi para a queima de fogos. — ofereceu cortês: — Va-vamos gostar da sua companhia.

Sasuke ponderou um pouco. Ele não merecia aquele tratamento delicado dela, nem suas palavras de conforto. Ele quem causou toda dor que os dois sentiam agora, era tudo ele; sua culpa e somente sua. 

Mas lá estava ela, lhe oferecendo de bom grado passar a queima de fogos com ele, os dois corações em pedaços. 

Ele sorriu pequeno, um sorriso longe de ser honesto, mas era o que ele conseguia esboçar. Andou até ela retirando sua presilha de seu cabelo. Hinata chiou, em choque.

— S-S-Sa-Sasu-Sasuke-kun? — falou ela em pane. Sasuke ajeitou seu cabelo recolocando a presilha firme nas mechas roxas e sedosas. 

— Obrigado. — falou por fim, e desta vez se afastou de vez sem ficar para ver a feição chocada de Hinata, e o sorriso que desenhou seu rosto logo em seguida. 

Resolveu sair das ruas para evitar qualquer outro encontro não planejado. Foi pelos telhados, subindo para o monumento com agilidade. Aterrisou no observatório pintado pelo laranja do poente. 

Respirou profundo se virando para o horizonte. A vila cheia de vida; o céu limpo de nuvens; a brisa leve e fresca agitando seus cabelos. E ali, sentado na beirada cantarolando alguma música do festival estava a pessoa quem tem evitado há dois anos. 

Seus cabelos brilhavam na luz do poente, pigmentado com o laranja do céu e de suas roupas. Seus dedos tamborilavam na superfície de pedra no ritmo dos tambores na praça. Sasuke o admirou com nostalgia e pesar. 

Como queria poder abraçá-lo mais uma vez. 

Será que poderia?

 Naruto parou de cantar se virando para ele. Seus olhos azuis radiantes como sempre, sorrindo de orelha à orelha. 

— Finalmente veio me ver, idiota. 

Sasuke assistia a cidade do observatório, os olhos queimando das lágrimas derramadas há poucas horas. Havia fugindo de Naruto e agora não sabia mais para onde ir. 

Não era culpa dele, Sasuke tinha plena noção disso. Era sua, somente sua. 

Ainda assim, era difícil acreditar naquilo quando suas memórias mentiam para ele, lhe contando falsas verdades, mostrando eventos em sua mente de forma distorcida e adulterada. Seu medo estava criando raízes, e Sasuke não sabia como cortá-las. 

Ele estava cansado. Talvez, quando o dia passasse teria coragem para falar com Naruto, mas até lá se sentia traído, trocado, substituído. Sendo ou não verdade, seu coração estava partido demais para ser colado com palavras fracas. 

Só queria voltar para antes daquele encontro de amigos. Antes de ver os dois juntos, do mesmo jeito que eles ficavam. Aquilo não era somente amizade, Sasuke não era tão idiota assim. 

— Sasuke!!

Ele estremeceu, prendendo a respiração de súbito. 

Naruto apareceu no observatório ofegante, sua voz transbordando desespero e cansaço. 

— Eu te procurei em todos os lugares, ‘ttebayo! — falou tomando fôlego: — Vamos conversar. 

— Não temos o que falar. — cuspiu Sasuke. 

— Ah temos sim, e você vai me ouvir direitinho! — Naruto falou, alterado:  — Eu sei que você é inseguro, Sasuke, eu sei disso muito bem! Mas eu pensei que depois desses anos juntos você acreditasse mais em mim. 

Havia dor na sua voz, uma amargura que Sasuke não estava acostumado a ouvir. Decepção.

Sasuke não respondeu, sequer se virou para ele. “Acredite nele, acredite!”, sua mente gritava, mas ele não conseguia mais fiar-se tão facilmente. Precisava de um tempo. Só isso, Naruto não conseguia entender?!

— Por favor, olha pra mim, Sasuke. — pediu Naruto mais calmo se aproximando. Sasuke se levantou, finalmente encarando-o olho no olho. 

Naruto o analisou com preocupação clara em seu rosto. 

— Vai embora. 

— Não. — negou Naruto firme. 

— Vai.Embora. — Sasuke pontuou, perdendo a linha. 

— Não importa o tom que use, não vou deixar a conversa acabar assim! — bradou se aproximando, Sasuke se afastou dois passos: — Vamos pra casa, Sasuke. Por favor. 

— Vai embora. 

Naruto negou, sua confiança se quebrando. 

Por favor!

— Vai embora, Naruto. — continuou Sasuke, sentindo seu peito se contrair, gritar, revoltar-se. 

Naruto soltou o ar trêmulo, e então Sasuke o viu — com horror tomando conta de si — chorar bem na sua frente, implorando. 

— Sasuke, por favor! — suplicou em prantos: — Não me deixe sozinho. 

Sasuke arregalou os olhos, em choque. Oh… 

Ele nunca fora o único a ser segunda opção de ninguém; era a mesma coisa com Naruto desde sempre. Por isso eles sempre corriam um para o outro; se entendiam. 

Os dois eram os restos que as pessoas não queriam. 

Naruto também ficaria sozinho.

Não. Ele tinha a Hinata, não tinha? E a Sakura, e o Kakashi, e a Tsunade, e todos os seus outros amigos. Não, ele não ficaria sozinho, era Sasuke quem seria deixado para trás quando Naruto se cansasse dele. 

Não era a mesma coisa. 

Não era. 

Não era?

— Você nunca esteve sozinho. — rebateu Sasuke, chorando as últimas lágrimas que podia em frente ao Naruto. O Uzumaki negou, incrédulo: — Você não precisa de mim. 

— Eu preciso sim! Pare de decidir por mim! — exasperou-se, aflito.

Sasuke sorriu para ele, um sorriso triste e conformado. Se virou de costas e sumiu de vista. Naruto o chamou outra vez, sua voz quebrantada, em pânico. 

Despencou ao chão, escondendo o rosto em suas mãos, perdido, confuso e machucado.

Seu desespero sendo carregado longe pela noite que finalmente envolveu a cidade. Para ele fria como nunca a sentiu antes.

Sasuke engoliu em seco antes de finalmente se aproximar de Naruto. Se sentou ao seu lado, um pouco distante. O Uzumaki franziu o cenho, mas não comentou nada sobre o assunto. 

Kakashi finalmente apareceu na Praça sendo recebido com aplausos e reverências. Gaara o cumprimentou educadamente, mas se manteve distante. Não estava ali como Kazekage. Kakashi subiu no palco montado ali no centro e com o microfone em mãos começou a falar. 

— Essa festividade acontece há cinco anos, desde que o fim da Guerra foi anunciado. — começou, o silêncio da plateia atenta o incentivando a continuar: — Nos reconstruímos, nos reerguemos não independentes, mas como aliados. A guerra foi de todos, e as pernas pertencem a todos nós igualmente. 

— Para boa parte de vocês, a festividade é uma forma de comemorar a paz, mas eu como Ninja sei que para muitos é uma festividade para homenagear aqueles que nos deixaram. — sua voz suavizou, e Sasuke viu dali muitas pessoas abaixarem o olhar, pensativas e ainda no luto: — E por isso, esse evento é em homenagem àqueles que se perderam na Guerra, e mesmo para aqueles que vieram a falecer durante o tempo de paz. Homenagearemos a todos, e por isso espero que possam se sentir acolhidos nessa festividade. Sejam bem-vindos à Konoha.

Os aplausos foram altos, e Naruto o aplaudiu ruidosamente de onde estavam, assobiando e rindo alegre. Sasuke não pode evitar de encarar. Ele suspirou por fim se virando para Sasuke, curioso. 

— O que te fez mudar de ideia?

Sasuke sustentou o olhar um tempo antes de desviar. Enfiou a mão no bolso retirando dele o colar com o cristal amarrado na ponta. Naruto ofegou, surpreso em ver aquilo em sua posse. 

— Meu colar! Onde você achou? — questionou Naruto curioso. 

— Kakashi me deu. — falou por fim entregando de volta à ele que o pegou com todo o carinho que podia: — Ontem. 

Naruto aquiesceu, acariciando o cristal com o polegar, um sorriso nostálgico se formando em seu rosto. Fechou a mão levando o pingente até seu peito, o mantendo lá. Sasuke assistiu com tristeza. Aquilo era tão importante pra ele, talvez devesse ter entregue antes. Por que Kakashi guardou aquilo por tanto tempo?

— Como você tem passado? — questionou Naruto, se virando totalmente pra Sasuke. Ele deu de ombros. 

— O de sempre. 

— Que seria?

Sasuke não respondeu. 

Naruto suspirou se aproximando segurando sua mão entre seus dedos enfaixados. Sasuke arfou, surpreso. 

— Tem se escondido das pessoas. — pontuou Naruto angustiado. Acariciou sua mão com o polegar, delicado: — Eu o vejo caminhar pela vila sem rumo, as vezes para pra conversar com a Sakura-chan, mas é raro. 

Sasuke continuou a encarar suas mãos com dúvida. 

— Não se afunde por minha causa, Sasuke. — pediu Naruto suave. Com sua mão livre segurou o rosto de Sasuke o forçando a encará-lo: — Eu nunca te culpei por nada. No fim, eu sei que eu estava errado.

— Não. — rebateu o Uchiha na mesma hora. Naruto o encarou espantado: — Não estava. Eu… Eu que não consigo mais me achar. Não depois de tudo.

— Eu sei.  — concordou Naruto: — E eu deveria ter percebido isso antes, mas achei que estivesse bem, que as coisas do passado não te afetavam mais. Só percebi que não estava bem quando acreditou que eu não te amava. Que iria ser trocado pela Hinata. 

Sasuke fechou os olhos com força. Como queria ter escutado ele quando teve a chance. Aquilo doía demais, era tão horrível saber que nada do que fizesse agora mudaria alguma coisa. 

— Sasuke. — chamou carinhoso, acariciando seu rosto com ternura: — Eu amo você, e isso nunca mudou. Está me ouvindo? 

Sasuke prensou os lábios, segurando o choro que se formava no fundo de sua garganta. Naruto sorriu delicado. Se inclinou para ele colando seus lábios mais uma vez. Sasuke suspirou, sentindo seu peito se partir em dois. 

— Não chore. — pediu Naruto limpando suas lágrimas que sequer percebeu descerem por seu rosto: — Odeio isso, odeio te ver chorar. 

Sasuke balançou a cabeça em negação. 

— Me desculpe. — pediu Sasuke cheio de remorso: — Me desculpe. Me desculpe...

Naruto o abraçou com força, acariciando suas costas com leveza, acalmando-o como sempre fazia. 

— Não foi sua culpa. Nada do que aconteceu foi. Nem a briga, nem o término e nem depois. Preciso que entenda isso, para que a gente consiga continuar nossos caminhos inteiros. — pediu Naruto beijando seus cabelos negros: — Não posso partir com você em pedaços. 

— Naruto…

— Shiii. 

Tsunade subiu no palco, sendo aplaudida tão grandiosamente quanto Kakashi foi. Ela pigarreou e começou parte do seu discurso. Naruto sorriu para ela, mas não prestou atenção, muito menos Sasuke ainda com o rosto em seu ombro, mais calmo. 

— Eu amo você. Guarde isso no seu coração, Sasuke Uchiha. Eu amo você. Nunca parei desde adolescente, talvez o amasse antes disso. — confessou afastando Sasuke de seu abraço: — Entende agora?

Sasuke segurou suas mãos em seu rosto, concordando. 

Ele acreditava. Desta vez ele conseguia escutar. As lágrimas continuaram a descer livres por seu rosto, mas agora ele estava mais leve, ainda que em luto eterno. 

— Eu também te amo, Naruto. — admitiu fraco, mas Naruto sorriu brilhante, irradiando o calor do poente. 

Sasuke suspirou encantado. Sim, ele ainda o amava mesmo depois desses dois anos. Nunca estaria realmente pronto para seguir em frente ou deixá-lo partir, mas naquele momento sentiu que conseguiria suportar. 

Naruto pegou o colar o colocando no pescoço de Sasuke, acariciando o pingente no lugar, repousando sua mão quente contra o peito de Sasuke. Um sorriso honesto ainda em seu rosto. 

— Você acredita em mim? — questionou Naruto uma última vez. 

Sasuke sorriu para ele unindo suas testas em um gesto doce. 

— … E é em homenagem aos que partiram que deixo aqui meus préstimos ao nosso herói de guerra. — a voz forte de Tsunade ressoou pelos quatro cantos da vila, poderosa e autoritária: — Aquele que fez ser possível a vitória, e que nos deixou tão cedo e de forma tão inesperada. 

Sasuke engoliu em seco, o beijando uma última vez, envolvendo aquele calor em seus braços por mais uns instantes. O poente acabava, o céu se tornava negro e Naruto aguardava sua resposta, ávido. 

— Sim, acredito. — disse por fim, fechando os olhos: — Acredito.

Naruto soltou uma risada chorosa, triste e esperançosa. Abraçou Sasuke pelo pescoço com força, sem querer deixá-lo, tremendo em angústia. Sasuke o segurou firme, sentindo o mesmo medo que ele. 

— Me perdoa? — perguntou novamente, sua voz embargada pelas lágrimas: — Sasuke? Me perdoa? 

Sasuke trincou os dentes, engolindo soluços antes que chegassem em seus lábios. Apertou o abraço, ouvindo ao fundo a voz de Tsunade se tornar fraca e distante. 

— Nosso herói que morreu protegendo Konoha de um ataque interno, dois anos atrás. Que deixará saudades e marcas em nossos corações. — emendou a Quinta Hokage, longe, tão longe. 

Sasuke fechou os olhos. 

Eu o perdoo. 

Naruto concordou com a cabeça, satisfeito. Sasuke sentiu seu corpo esfriar, e quando deu por si abraçava o ar gélido de final de inverno, Naruto finalmente liberto para seguir para o outro lado. 

— Homenageamos aqueles que se foram, e principalmente, por Naruto Uzumaki. Que ele seja sempre lembrado por seus feitos, e pelo espírito juvenil. — concluiu sendo aplaudida, e muitos daqueles que eram próximos a Naruto derramaram lágrimas do luto. 

Sasuke se encolheu no monte, seu choro alto sendo engolido pelo vento, carregado para longe. 

Estavam ambos finalmente libertos, de culpa e mágoa. Sasuke permaneceu ali até o final do festival; até os fogos explodirem no céu escuro cheio de estrelas; mesmo depois que todos partiram e o sol raiou mais uma vez. 

Ele continuou sentado no observatório, agarrado ao pingente, olhos vidrados no horizonte e uma leveza em seu coração que não sentia há dois anos. 

Sasuke riu e gargalhou, regozijou-se daquele sentimento de alforria. Estava enfim liberto daquela penitência autoinfligida. 

Observou o céu tingido de laranja, e seguiu de volta para a Vila, o pingente firme em seu peito, e o calor do poente lhe guiando para casa. 

Finalmente em paz. 

 


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Notas finais do capítulo

É, tava meio angstizinho né? ruehruehruehrue

Foi do agrado? Pq olha escrever sentimentos e de pessoas fechadas como o Sasuke toma tempo e paciência, mas saiu algo ruehruehrue

Naruto morto, Sasuke sad, GaaSaku de quebra, a gente resolve né? reuhreurhuerheure

Enfim, foi minha volta pra categoria, e pretendo postar mais algumas coisas aqui, quem sabe mais NaruSasu? Se vocês curtiram, claro.

Me digam se gostaram ou não ok?

Aceitando críticas ♥

Até uma próxima!

Beijinhos~



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