Reita's POV:

Seus olhos estavam fixos no chão. Há décadas.

O infeliz parecia em outra dimensão ou coisa parecia durante todo o meu falatório atípico. Já estava achando que meu discurso havia surtido reação apenas nas paredes quando finalmente ele deu sinal de vida, trazendo parte de sua franja para trás da orelha.

“Eu te entendo.” – Pareceu convicto. Estranhei.

Entendia?! O que fizeram com o meu Takanori que sempre tinha um contra-argumento prontamente preparado para cada frase que eu dissesse? Deixei piadinha apenas em minha mente, até porque não tinha muita graça, e com certeza aquele não era o momento exato para isso.

Nós estávamos rompendo.

Talvez com a maior parcela de vontade vinda de mim, porém não deixava de ser um sentimento mútuo. Estava mais do que claro que não estávamos mais bem há tempos, e bom, ele disse que entendia.

Era uma merda de momento difícil. Mais difícil ainda para mim que tive de tomar toda a iniciativa. Mas sempre fora assim. Desde nosso primeiro encontro até hoje, tudo havia partido de mim. No fundo talvez esse fosse o real problema de nosso relacionamento.

Eu havia amado sozinho todo esse tempo? Por mais introspectivas que fossem suas formas de demonstrar afeto, eu sentia falta de algumas palavras mais cheias de sentimentos, ou até alguma briga que fosse. E porque aquilo soava tão triste para mim?

A questão é que eu havia aprendido a gostar dele, por mais distante que ele fosse.

“A gente tem que ficar bem.” continuei, colocando minhas mãos em seus ombros (piedoso demais talvez?) e finalmente ele me olhou nos olhos. E que grande merda. Seus orbes estavam marejados, prestes a dar início a um dilúvio lacrimal!  Aquilo há um tempo seria uma espécie de tortura mortífera para mim. Hoje, só me deixava com mais culpa do que antes.

“Como... amigos?” – Ok, aquilo me pareceu mais uma constatação incrédula do que uma pergunta.

“Eu não sei.” – sorri sinceramente sem jeito, mas surtindo efeito nenhum em sua expressão melancólica.

“Eu não conseguiria ser amigo de ninguém que já tenha me visto nu.”

Bem, aquele era um ponto de vista interessante.  Ridiculamente tímido, fofo, ainda sim interessante.

Indiscutivelmente eu também não saberia ser amigo do Taka, por inúmeros e incontáveis motivos. Ou nós estaríamos dividindo a mesma cama todas as noites ou estaríamos separados por continentes. Simples.

Nós tínhamos muitos interesses em comum, mas não o suficiente para sustentar uma amizade, essa era a verdade. Eu diria que seria uma missão impossível. Ele não era flexível quando se tratava de amizades, então eu automaticamente já havia excluído essa possibilidade entre nós.

Mas então, o que restaria?

Em outras palavras, que merda ele quis dizer com aquilo? Que nós seriamos inimigos jurados de morte pelo resto de nossas vidas?! Eu não saberia viver assim, de modo algum.

“Talvez seja muito cedo para exigir a sua amizade, mas eu gostaria de não deixar mágoas entre nós.” – Aquela era a minha primeira e última jogada de conciliação. “Então, sem mágoas?” – estendi a mão, para formalizar a coisa, e ele continuou me encarando.  Seus olhos voltaram a ficar lívidos faiscantes. Era um péssimo sinal, devida as circunstâncias.

“Vá se foder, Akira.”

Isso pareceu ser um não legítimo. Uma batida de martelo decretando o final da audiência. Desceram as cortinas, enfim.

... E eu já estava mais do que fodido, Ruki, não se preocupe a toa koi.

Asseada, maldita e cruel realidade 1. Akira Suzuki 0.

Não me movi um centímetro enquanto ele corria a passos largos para fora da minha casa. Eu só não estava a fim de um olho roxo ou um nariz quebrado, oras. Sabia o quão forte era a ‘direita’ daquele baixinho, e não iria testá-la hoje em hipótese alguma.

Apenas fechei a porta cautelosamente, em seguida recorri à geladeira atrás de uma - ou talvez quinze cervejas, e subi as escadas até minha suíte, com três por cento do meu ânimo habitual para atos como esse.