Tsukishima tinha ficado surpreendentemente popular com as garotas.  

Claro que o primeiro a notar foi Yamaguchi, até mesmo no primeiro ano deles houve uma garota linda que falou com ele só para perguntar sobre o seu melhor amigo e o interesse dela estava claro. No começo, ele ficou chocado. A ideia de alguém gostando de Tsukishima era hilária. Tsukki não era o tipo de pessoa cuidadosa ou protetora. 

Porém mais e mais garotas pareciam estar interessadas nele, ainda que nem todas fossem falar com Yamaguchi. Ele tinha rido por dentro quando uma delas foi - corajosamente - pedir para sair com o amigo, mas infelizmente ele a recusou. 

Yachi foi a segunda a perceber, ficando surpresa com a quantidade de atenção que ele estava ganhando das colegas dela. Ela murmurou algo sobre isso fazer sentido, porque ele era o cara frio, inteligente e atlético. Ninguém entendeu o que ela estava falando. 

Aos poucos, os outros também viram coisas que deixaram inegável que Tsukishima era, de fato, desejado pelas garotas. Como risadinhas enquanto o observavam ou as confissões que ele recebia continuamente. 

Chegou no nível que ele tinha um mini fã clube assistindo enquanto ele treinava com o resto do time. Alguns, feito Tanaka e Nishinoya gostaram da atenção, fazendo tudo que podiam para saírem bem na frente das garotas, para a irritação de Ennoshita. Hinata achou que era uma distração, mas depois se acostumou e até mesmo fez amizade com algumas das garotas. Yamaguchi tinha ficado nervoso no começo. Kageyama não se importava se elas estavam ali ou não.

Kei odiava elas. Ele achava que elas eram barulhentas e ridículas. Elas realmente acreditavam que ele ia se apaixonar por uma delas só porque elas estavam ali? Elas nem o conheciam. Ele não gostava de ter que treinar com tanta gente sem fazer nada perto (ainda que elas ficassem nas arquibancadas). 

Então, como sempre, ele as ignorou o treinamento todo.

— Ei, você. Pare de agir como se fosse boa demais para elas. Qual é o problema? Você é gay? — Tanaka perguntou, irritado. Ele mataria para ter todas aquelas garotas afim dele e não conseguia entender porque Tsukishima nem olhava para elas. 

Pelo olhar no rosto de Tsukishima, Yamaguchi sabia que ele tinha dito a coisa errada. Tanaka iria sofrer agora. 

— Por favor, não é todo mundo que está desesperado para ter uma namorada — ele falou. — Faz meses que Shizimu-senpai foi embora e você ainda não desistiu dela, é assustador o jeito que você a persegue. Nem acredito que ela ainda te atura — ele respondeu.  

Tanaka o encarou, chocado. Sim, ele sempre soube que Tsukishima era um idiota e não era como se ele tivesse mudado nos últimos meses, mas ainda assim, ele tinha esquecido o quão ruim ele podia ser. A pior parte era que ele estava certo, no fundo, ele sabia que as coisas que fazia não iam fazer Shizimu se apaixonar por ele, mas ele não conseguia evitar. Ela era tão perfeita. 

Ainda assim, ele não precisava ser tão rude sobre isso, Tanaka ficaria feliz em batê-lo até ele parar de agir assim. Mas como não podia, ele só falou o que pensava dele e saiu irritado.

— Tsukki, por que você fez isso? - Yamaguchi perguntou de maneira reprovadora. 

Tsukishima deu de ombros. Ele não estava afim de compartilhar que tinha se assustado um pouco com o comentário sobre ser gay.

— Você é horrível - Hinata, que estava perto e tinha escuado tudo, falou.

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Tsukishima não aguentava mais isso. Ele tinha ficado feliz quando escutou a primeira garota se confessado para ele. Mas isso tinha se repetido tanto que ele não sentia mais nada enquanto ouvia outra falar de como gostava dele, como queria conhecê-lo.

— Não posso sair com você — ele falou, sem paciência.

— Por quê? — ela respondeu. 

Tsukishima começou a pensar se ela não era como a outra garota que tinha chorado quando ele tinha respondido que ela não era o tipo dele. Yamaguchi sempre disse para dispensar elas gentilmente, mas como fazia isso?

— Já estou saindo com alguém — ele disse finalmente. Talvez isso fosse fazer com que todas essas meninas parassem de ir atrás dele e ele pudesse voltar a viver em paz. 

— Quem é ela?

E lá estava. Ela. Mesmo com todo o progresso que a sociedade tinha supostamente feito, as pessoas não pareciam considerar realmente como opção que alguém estivesse saindo com uma pessoa do mesmo sexo. Isso, por alguma razão, enfureceu Tsukishima o suficiente para fazê-lo dizer:

— Ele. É um namorado - falou friamente. 

Os olhos da garota se arregalaram. 

— Desculpe… eu não sabia — ela disse. — Mas quem é ele?

Tsukishima tentou descobrir se ela realmente estava desconfiada dele ou se só precisava dessa informação para curar o ego quebrado dela. De qualquer jeito, ele não tinha uma resposta. Então, ele simplesmente saiu andando. 

Ele tinha conseguido dar alguns passos antes de notar que Hinata estava ali, assistindo, parecendo se divertir. 

— Vamos — ele falou. Era hora de ir pro treino mesmo.  

— Espere! É ele? — a menina gritou, apontando para Hinata. 

Tsukishima estava prestes a dizer que não, de jeito nenhum eles estavam namorando, quando percebeu que ele teria que procurar outra pessoa como falso namorado se fizesse isso. E ele estava tão irritado com tudo isso, ele só queria poder andar pela escola em paz. 

— Sim - Tsukishima falou apenas isso antes de puxar a mão de Hinata (não era macia) e deixar a garota para trás.

— O que você está fazendo, Tsukishima? — perguntou Hinata, assim que eles chegaram na metade do caminho do ginásio. Ele estava totalmente confuso.

— Você precisa me ajudar. Eu não aguento mais — Tsukishima falou e então contou sobre quão irritante ele achava que as garotas eram, sempre o procurando, e fazendo com que ele perdesse as coisas que ele realmente queria fazer ou ver. — Eu sempre rejeito elas, mas não sei o que fazer mais — ele confessou, frustrado. Quão no fundo do poço ele tinha chegado se precisava da ajuda de Hinata?

— Mas você não gosta de nenhuma delas? — ele parecia curioso.

Tsukishima negou. Ele não se sentia nem um pouco atraído por elas. Ele gostava de passar um tempo com as meninas, feito Yachi, como amigo, mas algo mais o fazia se sentir desconfortável. Ele nunca conseguiu entender o desejo que seus amigos sentiam por elas.

Ele já tinha percebido que ele era gay, mas não tinha se sentido pronto para admitir até agora. Ele quis guardar isso para ele mesmo por um tempo. Ele sabia que tudo seria mais simples se ele tivesse contado as meninas a verdade antes, mas não conseguia e não estava planejado em fazer isso agora, porém o comentário sobre quem ele estava saindo o irritou. Agora a escola ia saber e não tinha sentido negar que era, só para admitir a verdade mais tarde. 

— Eu queria ter os seus problemas, com garotas vindo se confessarem para mim o tempo todo — Hinata falou.

Tsukishima revirou os olhos. Hinata realmente não era tão perseguido quanto ele, entretanto, ele não podia reclamar, porque ele sabia que havia várias garotas que gostavam dele. 

— Então por que você rejeitou Akane-san? - ele perguntou. 

Hinata corou, não esperava que o outro soubesse sobre a última garota que tinha confessado para ele.

— Não era justo com ela, eu, argh, tenho uma queda por outra pessoa - ele disse, evitando os olhos dele. 

Essa era uma descoberta interessante, Tsukishima pensou. Ele só esperava que essa pessoa não fosse Kageyama, porque se eles virassem um casal ia ser ainda mais irritante. Mas pelo que ele sabia, Hinata era hétero. 

— Então… eu sei que é isso é péssimo, mas você pode fingir ser meu namorado? — Tsukishima pediu, odiando que tivesse que se expôs tanto. 

— Ótimo. Eu vou te ajudar. Mas eu tenho uma condição — Hinata disse. 

— O que é? — perguntou Tsukishima hesitante.

— Você precisa pedir desculpas a Tanaka-senpai — ele falou.

— Não vou. 

— Boa sorte explicando para aquela garota que nós terminamos. Vou ficar ansioso para contar o meu lado da história, com certeza — ele tinha um sorriso malicioso, diferente de tudo que Tsukishima já tinha visto nele antes. Não era parecido com a expressão séria dele nem com a animada.

— Certo. Vou pedir — ele respondeu, o amaldiçoando mentalmente. 

— Ok - ele falou antes de irem para o ginásio.

Respirando fundo, Tsukishima se aproximou de Tanaka.

— Sinto muito — ele disse, as palavras o deixando enjoado. 

— O quê? — o menino o olhou surpreso.

— Por me irritar com você, quero dizer. Você agiu feito um idiota… mas eu não devia ter dito aquelas coisas sobre Shizimu-senpai — isso era o melhor que ele podia fazer. 

— Sem problemas — Tanaka sorriu. — Você está meio que certo. Sobre esquecê-la — ele disse. 

Tsukishima só balançou a cabeça e então eles fingiram que essa conversa nunca tinha acontecido. 

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Hinata tinha quase esquecido sobre a coisa toda de fingir namorar até o momento que ele estava conversando com um amigo no intervalo e notou que a turma estava mais quieta que o usual. Ele olhou para o lado e viu Tsukishima parado desajeitadamente na porta da sala dele.

Se ele fosse um namorado de verdade, Hinata se levantaria e o salvaria da vergonha. Mas como era apenas o sarcástico companheiro de equipe, ele se divertiu o observando andar nervoso até parar na frente dele.

— Quer… comer comigo? — Tsukishima falou, as palavras baixas. Ele devia estar odiando cada segundo disso, mas esse era um problema que ele criou para si mesmo.

— Claro, amor — Hinata respondeu, quase incapaz de parar de rir. Ele mal percebeu os sussurros em volta deles. — Claro que eu quero comer com meu namorado! — ele falou empolgado. — Te vejo depois! — ele informou ao amigo chocado que estava conversando antes, que somente assentiu enquanto os dois saíam. 

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A notícia se espalhou rápido.

O time sabia que tinha algo estranho nessa história, Hinata e Tsukishima nunca tinham agido como namorados (na verdade, a rivalidade deles estava chegando a um ponto amigável agora). Não tinha como eles realmente estarem juntos. Yamaguchi sabia a verdade, mas Kageyama não conseguiu fazer Hinata falar nada sobre isso.

— Tsukishima — chamou Tanaka, parecendo estranhamente tímido. — Eu percebi que eu também te devo desculpas, só agora notei que talvez tenha parecido que eu tenha algum problema com você ser gay — ele falou. — Eu não tenho, tá? Você não ia ser o primeiro gay que é meu amigo, nem mesmo o primeiro amigo gay que joga vôlei.

Tsukishima acenou com a cabeça, aceitando o pedido de desculpas, e até mesmo sorriu um pouco. Isso era bom, ele tinha ficado com medo que o time não iria aceitá-lo, mas pelo menos um deles tinha. 

— Vamos trocar de roupa — ele disse e Tanaka o seguiu, satisfeito.

Tsukishima já estava se alongando, feliz que ninguém mais tinha falado sobre o (falso) relacionamento com Hinata, quando ouviu Nishinoya fazer exatamente isso quando o treino estava prestes a começar. Ele congelou. 

— Que rumor esquisito é esse que você e Tsukishima estão juntos? — Nishinoya perguntou alto para Hinata. 

— Mas estamos — ele respondeu naturalmente, não vendo como o seu falso namorado ficou vermelho. — Tsukki e eu estamos namorando.

Isso fez que todos o encarassem estranhamente. 

— Hinata… — Tsukishima protestou. — Aqui?

Shōyō deu de ombros.

— Eles iam descobrir de qualquer jeito, Kei-chan — ele falou, gostando do olhar de surpresa no rosto de Tsukishima.

Yamaguchi queria rir, mas ele não podia. Ele tinha que fingir que era verdade, afinal.

— Sim, Hinata está certo. Não precisa mais esconder do time, Tsukki — ele falou. — Vamos treinar. 

Isso encerrou o assunto por hora. O Torneio da Primavera estava perto demais.

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 — Por que você mentiu para o time também? — Kei perguntou assim que deixou a escola com Hinata.

— Alguém do time ia deixar vazar a verdade, você sabe. Não é como se Nishinoya e Tanaka conseguissem resistir a garotas bonitas — ele falou.

Tsukishima ficou surpreso, isso era muito mais bem pensado do que ele esperaria de Hinata, não achou que ele fosse pensar tanto nisso. 

— É, verdade — ele falou simplesmente.

— Além disso, vai ser divertido vê-los tentando entender — Hinata riu.

Tsukishima sorriu um pouco. Sim, o Rei provavelmente ia perder a cabeça tentando entender como o melhor amigo tinha se apaixonado logo por ele.

— Você vai fazer o quê quando chegar em casa? — perguntou Hinata de repente.

— Nada demais — Tsukishima deu de ombro. — Só assistir Black Sails. 

— Nunca ouvi falar. É sobre o quê? — ele soava interessado. 

Kei respondeu e eles passaram o resto do caminho para a casa dele conversando, ele só percebeu que tinha chegado quando Hinata se despediu antes seguir o caminho para onde quer que estivesse indo.

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No dia seguinte, Hinata foi quem foi até a sala dele para buscá-lo. Ele tinha dito oi para Yamaguchi antes de pedir para Tsukishima segui-lo. O seu melhor amigo tinha levantado uma sobrancelha, mas não comentou.  

Tsukishima tentou não mostrar a surpresa que sentiu quando Hinata pegou sua mão e ficou a segurando. Ele não se importava com o toque, ainda que se perguntasse por que ele tinha feito isso. Ele não precisava ir tão longe para ajudá-lo.

— Preciso te mostrar algo — disse Hinata — No celular.

— Ok — Tsukishima respondeu.

Ele imaginou que tinha algo a ver com vôlei e foi o que aconteceu. Quando eles chegaram no terraço, Hinata falou para ele sentar e ele mesmo também sentou, dando play em um vídeo.

— Kenma me mandou isso — ele explicou. — Você acha que podemos fazer isso?

Tsukishima tentou focar no vídeo, mas era difícil quando Shōyō estava tão perto. Ele conseguia sentir o calor do corpo do outro e tudo parecia estranhamente íntimo. Ele gostou.

Mas foi quando cruzou o olhar com Shōyō, que estava esperando uma resposta, que tenha certeza que estava ferrado. Ele nunca devia ter fingido namorar com uma pessoa que o atraía.

— Sim, eu acho que podemos — ele disse, embora estivesse falando de algo totalmente diferente. 

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Depois de duas semanas passando seus intervalos com Hinata, ele sabia que ia sentir falta dele quando eles falsamente terminassem. Ele nunca tinha planejado manter essa mentira para sempre, só tempo o suficiente para as pessoas acreditarem e ele poder fingir que estava de coração partido depois. Agora, entretanto, ele estava pensando que ele iria ficar de coração partido de verdade.

Shōyō  estava agindo de forma diferente com ele agora, menos intenso e mais razoável. Para a surpresa dele, ambos gostavam das mesmas séries e eles acabaram fazendo uma maratona de Game of Thrones (certo, eles só conseguiram rever alguns episódios da terceira temporada, mas era a melhor).

— Você está vindo, amor? — Hinata falou, sorrindo amplamente para ele, quando mais uma vez Tsukishima veio buscá-lo na sala.

Os apelidos. Porque eles não queriam fazer nada muito físico, eles tinham que se esforçar em dobro para mostrar o relacionamento deles através de palavras. Tsukishima achou ridículo no começo, mas agora ele sentia algo estranho toda vez que Hinata usava um dos apelidos.

Ele balançou a cabeça, o coração pesado, sabendo que essa seria a última vez que ele ficaria com Hinata desse jeito. Eles voltariam a ser só companheiros de time, sem noites de filmes ou toques. Ou um sentimento que estava no lugar certo.

— Acho que está na hora de terminarmos — ele forçou as palavras a saírem, quando eles estavam sozinhos no terraço.

— Como assim? Por quê? — Hinata parecia irritado. Talvez ele achasse arrogante que Tsukishima tivesse decido sozinho.

Ele suspirou. Ele queria poder ficar com Shōyō para sempre. 

— Eu sei que deve ser difícil para você. Fico feliz pela sua ajuda. Graças a você, eu consegui a paz que eu queria — e tantas outras coisas, ele pensou, mas não disse. — Foi muito divertido. Obrigado.

— Não faça isso — Hinata implorou. Tsukishima o olhou confuso. — Você está fazendo isso por que quer isso pare ou por mim?

Tsukishima se perguntou qual era o ponto de admitir a verdade. Sim, Hinata Shōyō tinha sido um namorado muito além do esperado. Ele não queria que isso acabasse de jeito nenhum, ele queria fazer tantas outras coisas com ele. Mas não tinha como Shōyō se sentir do mesmo jeito, ele devia estar feliz que ele podia parar de fingir. 

Entretanto Hinata não merecia a verdade depois de tudo que fez por ele?

— Por você —  ele admitiu. 

Shōyō sorriu, como se isso fosse o que ele queria ouvir.

— Então vamos continuar? — ele sugeriu, como se fosse algo simples e não mudasse completamente o mundo de Kei. — Eu me diverti tanto com você, eu queria continuar assim - Shōyō falou.

— Espere. Você não quer acabar as coisas? — Tsukishima perguntou confuso. Ele sabia que gostava de Hinata, mas não esperava que fosse recíproco. 

— Por que você acha que eu concordei em te ajudar? Eu tenho um crush em você, Tsukishima Kei — Shōyō falou com um olhar desafiador. — Então o que você vai fazer sobre isso? — ele parecia quase tão confiante quanto quando ele jogava vôlei. Tsukishima gostava de vê-lo assim, mas não podia deixar o garoto ganhar.

— Isso — ele falou quando finalmente o beijou.