Rising Sun escrita por Jor Trindade


Capítulo 2
Prólogo (por Jacob Black)




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O tecido das minhas roupas dançava aos frangalhos através da brisa suave. Minhas patas lançavam lascas de terra enquanto eu disparava sem rumo, extraindo a máximo impulso que conseguiam. O grande lobo castanho-avermelhado tomava forma. As árvores não passavam de espectros escuros ao meu redor. Eu sentia o sangue fervilhar nas veias. Uma viagem ao Brasil sem previsão de volta? Qual era a desses sanguessugas?

Ei, Jacob. Minha corrida silenciosa havia sido interrompida por Leah, que avançava em meu encalço. O que deu em você? Simplesmente se mandou depois que recebeu o telefonema dos Cullen. Deixou Billy preocupado.

Não é da sua conta, Leah, rosnei, apertando o passo.

Qual é, Jacob, deixe de ser tão orgulhoso. Não precisa ter de lidar com as suas merdas sozinho, argumentou ela.

Senti o tom de condescendência e preocupação genuína em seus pensamentos, mas não queria deixar me abater. Permaneci em silêncio, mas Leah era insistente. Pude contemplá-la pelo canto dos olhos, o grande lobo acinzentado cada vez mais próximo.

Eles estão indo ao Brasil, soltei de supetão enquanto diminuía o ritmo.

Quem? Os Cullen?

Sim.

E qual o problema?

Bella me disse que é temporário, mas sem previsão de volta. Eles vão passar algum tempo com as Amazonas. Querem extrair mais informações de Nahuel, o híbrido, e saber melhor como lidar com as necessidades de Renesmee. Mas não é só isso. As pessoas do hospital começaram a perceber que Carlisle é estranhamente bem conservado. Não é mais seguro para os sanguessugas em Forks.

Então, todos vão? Será tipo... um recomeço? Leah indaga, hesitante.

É. Algo assim. Eles irão embora amanhã. No primeiro voo. E não há nada que eu possa fazer para impedi-los. E eu obviamente não estou incluso em seus planos. De qualquer forma, eu não poderia deixar a matilha para trás.

Parei no que parecia uma clareira. O cheiro de orvalho invadia meus sentidos, e o sol da alvorada despontava no horizonte. Leah diminuiu o passo e sentou-se sobre as patas traseiras, descansando ao meu lado.

Sinto muito, Jacob. 

Há também um lance com o Chalie. Foi por isso que Bella me ligou. Acho que os sanguessugas estão tentando protegê-lo. Ele está cada vez mais próximo da verdade desde que... bem, desde que eu me revelei. Eles temem que isso acabe despertando a ira dos Volturi. Você conhece as regras. Bella me pediu que eu ficasse de olho nele enquanto ela e os Cullen não estiverem por perto.

E o que pensa em fazer agora?   

O focinho úmido de Leah roça os pelos do meu pescoço. Minha dor era a sua dor. Essa era a conexão natural da matilha. Mas me senti alarmado com a manifestação repentina de intimidade e me afastei.

Eu não sei. Os sanguessugas sequer me consultaram antes de tomar a decisão. Abafei o rosnar que surgia em minha garganta. Não sei se serei capaz de ficar longe de Nessie. Ela é a única parte de mim que realmente importa.

Jake. Leah me repreendeu com o olhar. Sei o que está pensando. Você não pode fazer isso. Não agora. Ela é apenas uma criança, não entenderia.

Não era a minha intenção. Ela vai ter que saber sobre o imprinting em algum momento, de qualquer forma. Isso pode segurar os Cullen por algum tempo. Amanhã? Eu sabia que os Cullen inevitavelmente teriam de ir embora, mas não assim. Não tão repentinamente.

Leah bufou, arreganhando os dentes. Se ela estivesse em sua forma humana, certamente estaria caminhando em minha direção com os punhos cerrados e uma típica expressão de poucos amigos.

É sério, Jacob? Esse é o seu grande plano? Você pode simplesmente deixá-la ir, ao invés de garantir que Renesmee saiba que vocês estão eternamente amarrados um ao outro e impedir que ela siga em frente. Talvez seja melhor assim.

Rosnei para ela, avançando a passos largos em sua direção. Considerei por um instante acuá-la, mas permaneci impassível, com o peito estufado. Leah pareceu infinitamente pequena diante da minha imponência.

O que você sabe sobre isso? Nunca sequer sofreu um imprinting, eu disse com desdém, recuando.

Não preciso ter sofrido um para saber que ninguém merece se sentir preso, ela respondeu, amargurada. Você está raciocinando de cabeça quente. Não é o fim do mundo, Jacob. Vocês dois ficarão longe, não incomunicáveis. Podem trocar correspondência.

Seria ótimo se eu ao menos soubesse o seu novo endereço. Talvez os sanguessugas não tivessem dado maiores explicações por receio de que eu fizesse alguma coisa impensada. Não os condeno por isso. Eles têm razão.

Mas Renesmee sabe o seu, Leah se apressou em dizer, os olhos fixos nos meus. Se ela realmente se importa, tenho certeza de que vai querer mantê-lo por perto, seja como for.         

Suspirei, rendido. Desviei o olhar, tentando não deixar transparecer a expressão de dor que tomava forma em meus traços lupinos.

Eu... preciso vê-la uma última vez, sentenciei enquanto disparava para longe dali em uma explosão de velocidade, rumo ao chalé de Bella e Edward.

Só me prometa não fazer nada estúpido, pediu Leah, os pensamentos não passando de um murmúrio nos confins da minha mente, já muito distantes dos meus.  

...

Quando me aproximei do chalé, meus pés de lobo produzindo um farfalhar ao pisotear a grama, pude vislumbrar Renesmee em seu quarto, o corpo pequeno se esticando para apanhar alguns vestidos de cetim de dentro do guarda-roupas. Na penumbra do quarto, sua pele alva parecia se destacar ainda mais.

Por um momento, apenas permaneci ali, observando seus movimentos graciosos e o modo como suas sobrancelhas se vincavam quando ela se concentrava o suficiente, incapaz de desviar o olhar. Respirei fundo, tentando filtrar sua fragrância sutil em meio ao cheiro úmido do orvalho. Meu coração se apertou, uma nota de frustração se assomando em meus pensamentos. Na verdade, estava me sentindo um pouco traído. Uma vez que Nessie fosse embora, o que restaria de mim? Ela era o meu centro de gravidade, e eu não poderia imaginar minha vida se o laço que existia entre nós fosse enfraquecido. Tentei afastar os pensamentos inquietantes e, silenciosamente, dei a volta pelo perímetro, me mantendo escondido na parte densa da floresta. Avançar ou recuar?

Porém, antes que eu pudesse tomar a decisão mais sensata e desse meia-volta, Renesmee contemplou a floresta através da janela como se sentisse a minha presença, os olhos expectantes varrendo os arredores. Quando ela me enxergou camuflado entre os abetos, seu rosto pareceu se iluminar.

— Jake! – ela exclamou efusiva enquanto abria a janela.

Me aproximei, hesitante. Os cachos acobreados caíam impecavelmente sobre os seus ombros. Repreendi o impulso de pegá-la do colo e correr para longe.

— Eu meio que estava esperando que você viesse – admitiu ela. – Sinto muito. Queria ter me despedido adequadamente, mas foi tudo tão rápido. Uma decisão de última hora.

Maneei sutilmente a cabeça em concordância. Renesmee se esticou, projetando o tronco para fora da janela, e seus dedos roçaram meu focinho. Senti a maciez de suas mãos cálidas e os seus pensamentos indo de encontro aos meus. A maneira particular de Nessie se comunicar sempre conseguia me fascinar.

Eu... não queria deixar Forks. Mas mamãe disse que é necessário. Para o nosso bem-estar. Vou sentir sua falta, Jake. Você é o meu melhor amigo.

Também vou sentir sua falta, Nessie. Você não imagina o quanto, disse para mim mesmo. Por um momento, desejei estar em minha forma humana para que Renesmee pudesse ouvir dos meus próprios lábios o quanto eu me importava. Porém, me restringi a fechar os olhos e acariciar sua mão macia com o topo da cabeça. Nessie riu com as cócegas que o atrito dos meus pelos causava.

Prometo manter contato. Preciso de você como o meu melhor amigo para sempre, continuou ela. De repente, a híbrida suspirou e seu semblante pareceu suavizar um pouco. Mas, apesar de tudo, acho que pode ser divertido. Nunca viajei para tão longe. Pelo que vi através das ilusões de Zafrina, o Brasil parece ser um lugar incrível.

O estampido distante de um ronco de motor nos interrompeu. Dirigi minhas atenções para a origem do som e pude vislumbrar Charlie saindo de dentro de sua viatura, trajando uma farda policial impecavelmente ajustava ao corpo. Ele apanhou um engradado de cerveja do banco do carona e caminhou em seu ritmo humano até a entrada do chalé, batendo à porta.

Em meio segundo, Bella estava do lado de fora e jogou-se em um abraço apertado, mas contido, consciente de que sua força poderia fraturar um osso do velho Charlie. Ele retribuiu, amistoso.

Quando meus olhos foram novamente de encontro ao interior do quarto, tive um sobressalto ao fitar Edward parado como uma estátua de mármore logo atrás de nós, uma expressão de poucos amigos emoldurando o rosto pétreo. O olhar dele conseguia ser ameaçador e suplicante ao mesmo tempo. Instintivamente, me afastei.

— Renesmee, Charlie está aqui. Venha se despedir do seu avô – anunciou ele, a voz em tom monocórdio enquanto ele me fuzilava com os olhos.

— Jake, preciso ir – Nessie murmurou, uma nota de desapontamento formando uma ruga em sua testa. – Diga à matilha que sentirei saudades. Especialmente ao Billy. Lamento que eu não tenha mais tempo para vê-lo. Ficarei lhe devendo uma visita para quando eu voltar do Brasil.

Assenti. Edward tamborilava os dedos sobre o antebraço, impaciente.

— Adeus, Jake. Eu te amo. Prometo voltar em breve.

Vi Renesmee se afastar, aninhando-se sob o abraço de Edward. Aquilo parecia irreal. De repente, tudo ao meu redor pareceu perder a cor. Quando ela se virou uma última vez e acenou em minha direção, tive a certeza de que o chão se abria sob meus pés.

E, assim, Renesmee foi embora.  

     

 


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