A canção de Sakura e Tomoyo: melhor chamar Sakura escrita por Braunjakga
Capítulo 23
Um caçador e sua caça
Barcelona, Espanha
14 de dezembro de 2010
Em frente à igreja de Sant Andreu de Palomar
Agarrando-se com o corpo desfalecido de Tomoyo, David Bel sorria. Ele lambeu mais uma vez os lábios da moça, que ficavam mais e mais roxos a cada segundo por causa do soco que Naldo deu nela sem querer. Nu da cintura para cima, o Guardia civil mostrava sua boa forma e se punha em posição de ataque, os punhos na altura dos olhos, os pés um na frente do outro. O soldado da Ordem sorria.
— Você pensa mesmo que pode me matar na porrada? — disse David.
— Essa é a única coisa que você vai entender! Quando eu meter a porrada nessa tua fuça, você vai virar homem! — disse Naldo.
— Homem? Eu quero virar homem? Eu quero mais que essa raça miserável de macacos se exploda! Eu sou um mago puro sangue e dentro de mim não tem sangue de chimpanzé não! — respondeu o soldado da Ordem
Naldo nem sequer quis continuar a conversa e correu para cima dele. David se defendeu com os braços antes do agente atingir um soco na cara dele, soltando o corpo de Tomoyo na calçada.
— Eu pensei que não tivesse medo de acertar na sua colega chimpanzé! — disse David.
— E você queria sentar a chibata pra cima dessa chimpanzé, né? — disse Naldo, desferindo um soco e mais outro contra o soldado da Ordem. Acelerado por causa da magia “haste”, David se protegia de todos eles com as mãos ou se esquivando com o corpo.
— Uma coisa é tratar animal como animal, outra coisa é viver com os outros animais e virar um! Não vê o seu amigo Natanael Calvet? Ele tinha potencial para se tornar um mago talentoso, mas num porco ele se tornou! — disse David, sorrindo. Dessa vez, Naldo conseguiu acertar um soco na cara dele. Os lábios de David sangraram e ele cuspiu os três dentes da frente. — Acertou, é? Não faz mal! gente que perdeu a fé na magia ilimitada nunca vai entender a nossa disposição ao sacrifício para a nossa causa maior! — disse Naldo.
— Cê é que nunca vai entender o que é lutar pra impedir gente como você de espalhar essas ideias de louco por aí! — respondeu Naldo.
— Eu sou o caçador da Ordem, meu camarada! David Bel, subinterventor de Barcelona! É o meu dever abrir caminho para o bem maior! — disse David. Ele tomou distância, sacou a besta e soltou uma flecha de prata contra o ombro de Naldo. O guardia civil tremeu de dor, mas arrancou a arma prateada do seu corpo como se fosse um simples ferrão de abelha. David arregalou os olhos com a surpresa e nem teve tempo de se defender do chute forte que Naldo deu na boca do estômago dele. Ele ficou sem ar na hora, e o agente começou a dar uma sequência de joelhadas e socos nele. Por fim, Naldo pegou o homem pela armadura e jogou-o nas paredes da igreja com tudo. Uma rachadura enorme apareceu no lugar do choque do corpo contra a parede e Daivid caiu no chão, inconsciente. Naldo respirava ofegante, cansado. Tocava a mão na ferida e sentia que aquela flecha tinha alguma coisa a mais. Chegou perto de Tomoyo e tocou em sua bochechas. Estavam quentes, só que um pouco inchadas. Ele sorriu e tentou despertar a moça.
— Doutora? Doutora? — disse Naldo. Enquanto chamava Tomoyo, uma outra flecha de prata atingiu a barriga de Naldo. Ele fechou os olhos de dor, sentindo uma agonia profunda cortando seu corpo. David Bel sorria, sentado na calçada. O rosto dele estava muito desfigurado por causa das porradas que levou de Naldo.
— Eu tenho que confessar que eu me enganei quando eu te chamei de chimpanzé… Você até que é um mago mais resistente que o seu amigo gordão aqui… Você devia estar morto agora… Por conta da magia das minhas flechas… — disse David, com dificuldade. A dor que Naldo sentia parecia que desapareceu nas linhas de ódio que surgiram no seu rosto. Ele arrancou mais uma vez a flecha de prata da barriga e viu que um fluxo de sangue jorrava da dos gomos do abdômen tanquinho que tanto tempo levou para cultivar. A flecha pegou numa artéria, não sobreviveria por muito tempo. Não fazia mal. Sem nem mesmo sentir o peso daquele ferimento, Naldo levantou-se e andou lentamente até aquele homem sádico sentado na calçada.
— Hey, Naldo, se você se juntar a Ordem… Talvez tenha um jeito de lidar com esses macacos… Veja bem, a carne e o sangue deles até que é mais nutritivo que dos outros animais, sabe? — disse David. Naldo pegou a cabeça dele e apertou os dois olhos dele com o polegar até estourar o crânio dele. Sentiu o sangue e a medula dele escorrer entre seus dedos e viu que ele não respondia mais. Deu alguns passos até o corpo de Natanael e deu um leve chute nas pernas dele.
— Hey, Natanael! Ensinei esse corno a virar homem! — disse Naldo, cansado e sorrindo. Ele andou até Tomoyo e tentou dar um leve tapa no rosto dela para que acordasse. Não teve resposta. — Desculpa aí, Doutora! Acho que o Natan tava certo, eu que pedi pra ele te convencer a ficar aqui… A Senhorita podia ter ajudado a gente nessa batalha… — finalizou Naldo. Cansado da batalha, ajoelhou-se e tombou no chão.
II
Tomoyo abriu lentamente os olhos e o primeiro rosto que viu foi de Marcela, tão idêntico ao rosto de Sakura que nem tinha se tocado que estava preocupada com a amiga antes mesmo de tentar entrar na igreja. Pegou o celular da bolsa e viu que havia uma série de mensagens não lidas do whatsapp. Era a sua parceira querida respondendo. Respirou fundo e se acalmou.
— Ela tá bem! Ela tá bem! — disse a amiga.
— Onde é que eu estou? — perguntou a moça. Despertando devagar, Tomoyo sentiu uma forte dor na sua bochecha direita e entendeu a situação. Estava numa maca. Ainda estava na frente da igreja de Sant Andreu de Palomar e sentia que seu rosto estava manchado de sangue. Levantou-se ligeiramente da maca e viu três grandes manchas de sangue na calçada. O corpo de David Bel ainda estava lá, sendo fotografado por uma dezena de policiais. Olhou para o lado e viu, embalado em cobertores térmicos prateados, duas macas transportando dois corpos. Ela logo entendeu o que aconteceu.
— A coisa aqui deve ter sido feia, não é? Não acredito que o Naldo e o Natan tiveram que se sacrificar…
— Eles se sacrificaram por você! Eles se sacrificaram pra que você e as cartas ficassem bem… — disse Marcela, segurando as mãos dela. Tomoyo olhava triste para aquilo tudo, com um sorriso pessimista e melancólico, sem saber como responder para Marcela.
— Eu só não queria ter sido deixada para trás mais uma vez, só filmando essa cena toda… — disse Tomoyo. Marcela ficou surpresa e assustada.
Continua…
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