Com amor, Adèle. escrita por Milly Malfoy


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥



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Querida Emma,

       eu sempre soube que estava certa, lá no fundo eu sabia. Bem lá no fundo. Eu me ceguei propositalmente. Eu tinha tanto medo de estar errada, estava tão confortável com a ideia de ter certeza do que eu queria para a minha vida, meu futuro que me neguei o direito de experimentar, de me permitir, sair da zona de conforto. Novamente no caso, afinal eu sai da minha zona de conforto para viver com você, não é mesmo? Uma garota. Quem diria? Acho que todo esse meu problema vem da criação que eu tive, não que eu esteja tentando despejar todas as coisas que fizeram minha vida dar errado nas costas de meus pais, por que isso não seria justo. Eu que fiz minhas escolhas e elas me levaram até a situação que vivo hoje. Eu me afundei sozinha, apenas não posso negar a influência que eles tiveram sobre mim.

      Você sempre quis que eu escrevesse, então cá estou eu. Não é exatamente um livro como queria, mas uma carta já é alguma coisa. Vou aproveitar essa oportunidade para te contar algumas coisas que nunca quis admitir. Confesso que eu sempre senti inveja e desconforto perto de seus amigos. Não que eles sejam pessoas ruins, longe disso, eles são incríveis até demais para falar a verdade. Todos artistas, tão cultos que me faziam me sentir deslocada  perto deles, por não entender nada dos assuntos intelectuais que eles falavam. Para mim o fato de você insistir para me tornar uma escritora era uma tentativa sua de querer que eu entrasse no meio artístico e me igualar ao seus amigos, mas agora eu sei que isso foi uma visão distorcida que tive de suas intenções por causa do meu ciúmes bobo, e que todo esse tempo você só queria que eu tivesse uma profissão que me deixasse feliz. Por que eu estava infeliz. Eu estou infeliz.  Agora mais do que nunca eu percebo que tomei todas as decisões erradas e não posso culpar ninguém além de mim.

      Você estava certa, eu nunca quis ser professora. Eu devia ter esperado mais para ter certeza do que eu queria antes de mergulhar de cabeça em algo só para ter uma profissão. Você estava certa, eu devia ter aos poucos começado a publicar meus textos, ter investido nisso para tentar conseguir uma carreira como escritora, que era o que eu realmente gostaria de fazer. Eu nunca devia ter te traído, mas eu estava infeliz demais naquele dia e como tudo estava sendo uma droga para mim, e me ver triste acabou por te fazer ficar chateada também, acho que foi ai que começamos a nos distanciarmos. Tudo isso junto do meu ciúmes resultou no que você já sabe. Não estou tentando arrumar desculpas para o que fiz e nem estou esperando que me perdoe por isso, só queiro que saiba o que estava sentindo naquele momento. Eu nunca me interessei de verdade por ele. Ele não significava nada pra mim, foi apenas a fragilidade que se instalou em mim naquele momento que acabou falando mais alto que a razão. Sei que você tem alguém agora, e espero que ela consiga fazer tudo aquilo que eu não consegui fazer, que te faça feliz e nunca te machuque como eu machuquei.

     Essa carta está ficando muito longa, então vou resumir tudo que eu queria te dizer. Só quero que saiba que apesar de que talvez você nunca possa me perdoar, eu finalmente pude entender melhor você e tudo que estava fazendo por mim esse tempo todo, e saiba que eu sempre vou te amar, Emma. Eu nunca vou me arrepender de ter me virado para te olhar naquele dia na calçada. Nunca vou me arrepender de ter ido naquele bar na esperança de te encontrar, de ter ido morar com você. Acho que estar com você foi a única escolha certa que tomei em minha vida. Pena que estraguei tudo.

     Você foi a única coisa certa na minha vida cheia de erros.

                                                                                                                                                      Com amor,

                                                                                                                                                               Adèle.

 

PS: Apesar de fazer anos que você não pinta mais o cabelo, azul sempre será a cor mais quente.

 

      A carta, que já estava molhada com as lágrimas de Emma, foi delicadamente dobrada e colocada no fundo da gaveta com carinho. Sentou na beirada da cama, ainda com lágrimas teimosas escorrendo da beirada dos olhos, até que ouviu o barulho de passos no corredor se aproximando, rapidamente enxugou os olhos e abaixou o rosto para que a outra garota não reparasse nos olhos vermelhos.

   — Emma, vamos ver aquele filme que combinamos ontem ? Acabei de preparar algo para comermos assistindo. – Lise falou se encostando no batente da porta, inicialmente não percebendo o estado de sua noiva.

    — Mais tarde pode ser, agora eu vou sair um pouco. ­­– Respondeu se levantando, ainda tomando cuidado para que a outra não repare em seu estado.

    — Você está bem? Pode falar comi..-  Não conseguiu completar o que ia dizer, Emma passou por ela rapidamente, puxando um casaco do armário e já andando a passos largos em direção a porta de entrada.

    — Estou bem, só preciso espairecer um pouco... eu compro algo pro jantar na volta. - Disse e já fechou a porta sem esperar a resposta de Lise.

       As ruas estavam com o movimento normal para um final de tarde, alguns carros e algumas poucas pessoas passeando na rua. Emma estava com as mãos nos bolsos do casaco e com a cabeça levemente abaixada por causa dos olhos que ainda deviam estar vermelhos. Andando lentamente sem nenhum rumo específico, com a cabeça na carta que lerá. Processando cada frase na sua mente, olhou para o céu e percebeu que o pôr do sol estava começando, ficando tingido da mistura das típicas cores de tom roxo, rosa e laranja. Correndo os olhos pela cena fixou o olhar em uma parte do céu que ainda estava completamente azul.

       Assim, encarando aquela imensidão azul, vários flashes de momentos que viveu na época em que seu cabelo partilhava da mesma cor do céu invadiu a sua mente,  mais especificamente de uma certa pessoa que estava do seu lado naquela época, isso fez mais uma solitária lágrima escapar dos olhos de Emma.


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Notas finais do capítulo

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