Fatídicas noites escrita por Biazitha


Capítulo 2
Decisões complexas e muito soju




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[HYUUGA NEJI]

Hoje é o seu aniversário”.

Era uma resposta extremamente tosca para dar, no entanto eu não planejava me estender muito ou me explicar demais para Tenten.

De qualquer forma, optei por sair daquele ambiente sufocante pelos meus próprios sentimentos e pelo nosso silêncio, tropeçando na mesa da cozinha e em alguns chinelos no corredor. Eu parecia um demônio fugindo da cruz.

Cada vez que nossos olhares se encontravam ou passávamos mais de cinco minutos sozinhos eu juro que podia sentir os lábios macios dela novamente em cima dos meus. E era demais para suportar.

A lembrança ainda viva em minha memória depois de um ano completo, não sendo capaz de sumir mesmo enquanto eu tentava flertar com pessoas desconhecidas ou enchia a mente de álcool barato.

Eu não me sentia mais como eu mesmo e nada podia se comparar àquela fatídica noite. A sensação de ser correspondido na mesma intensidade foi inebriante. Meu corpo todo a desejava e eu só era capaz de pensar em Mitsashi Tenten.

— Você tem preferência pelo lugar? — joguei a pergunta tão de repente no colo da morena, quando ela apareceu no pequeno corredor, que eu mesmo me assustei. Tenten diminuiu os passos e parou ao meu lado, carregando o cesto de roupas limpas nos braços. Os cabelos presos no alto da cabeça com grandes presilhas, deixando todo o delicado rosto à mostra. As bochechas um tanto vermelhas pelo frio e os lábios suspensos em uma linha tristemente reta. Eu amava o seu sorriso verdadeiro e gostaria de vê-lo com mais frequência, como via antes.

Reparei que a calça de moletom que ela usava era minha, no entanto eu não seria capaz de fazer qualquer comentário em voz alta sobre o fato. Ficava muito melhor nela, de qualquer forma.

— Não, pode escolher.

— Tudo bem.

Ela abaixou a cabeça quando saiu e me senti mal. De novo.

O nosso constrangimento era culpa minha, eu sabia que era um grande culpado. Eu comecei a evitá-la, então ela começou a me evitar de volta. Nunca fui capaz de colocar em palavras o que eu estava sentindo ou o que aqueles beijos haviam sido para mim.

Eu, com 23 anos, agia como um pré-adolescente descobrindo o amor pela primeira vez. Confuso, nervoso e quieto. Era assim que os meus sentimentos reprimidos por Tenten me faziam sentir.

Naquela fatídica noite em que fui tomado pelo fascínio, nem sequer havia passado por minha mente que ela poderia não corresponder. E o meu impulso do momento misturado com uma recém-chegada insegurança no dia seguinte, me fizeram calar e agir como se nada tivesse acontecido. 

Quero dizer, no começo eu não achava que era algo além de curiosidade. Eu acreditei que a vontade de beijá-la, que havia surgido desde que nos conhecemos com doze anos de idade, era passageira. Aquela curiosidade boba e confusa, afinal passávamos 24 horas por dia juntos. Era uma puta amizade incrível, sem segredos e sem conflitos. 

Bom, eu reprimi o que sentia por onze anos, até ter coragem de me declarar. E foder com tudo por culpa de uma insegurança que eu nem sabia ter.

Ela é um ser humano incrível e eu me vejo vidrado por tudo o que ela faz; é fantástica em tudo, além de toda a beleza divina e a bondade espetacular. Eu sou o seu melhor amigo... Era. Apenas isso. 

A realidade caiu como uma bigorna há um ano. Eu surtei quando comecei a perceber que Mitsashi Tenten conseguia me fazer esquecer que existiam outros homens e outras mulheres no universo. Com apenas alguns beijos, a minha imaginação se tornou realidade e eu não sabia mais dizer se conseguiria sentir algo por qualquer outro ser humano.

Um Tentenssexual assumido. Ou quase isso...

Eu tenho medo de dizer na cara dela o que verdadeiramente sinto, assim como não consigo expor os meus conflitos internos para qualquer outro amigo. Os seus toques, os seus beijos e o meu nome sussurrado saindo de seus lábios rondavam minha mente noite após noite.

Nunca havia sentido um sentimento tão forte por outro ser humano e por motivos egoístas preferia guardar tudo para mim. 

E se Tenten não sente nada por mim e talvez não consiga falar nada por dó? Se eu tocar no assunto, como podemos resolver? Qual seria sua reação se eu contasse que a amo como uma namorada? E se a nossa amizade acabar? E se uma conversa piorar a situação? E se estragar o nosso sonho de estudar na Coreia? E os nossos amigos teriam que conviver com a nossa amizade fracassada para sempre?

Eu a sentia cada vez mais distante e era incapaz de mudar a situação.

Estávamos em um restaurante meio vazio de Hongdae, as três horas da manhã se aproximando e o aniversário de Tenten já havia terminado fazia tempo. Ouso dizer que a comemoração havia acabado antes mesmo de começar, com quatro jovens-adultos desanimados e cansados da universidade sentados em volta de uma mesa na terça-feira à noite. Eu sentia muito por ela, com certeza merecia uma festa com uma companhia mais animada.

— Nunca mais eu bebo. — comentei para ninguém em especial, empurrando a garrafa cheia para o outro lado. Naruto segurou meu ombro, também um pouco alterado, e riu na minha cara.

— Você fala isso toda vez, Neji. Não engana mais ninguém. — depois de me presentear com o seu bafo azedo de álcool e frango frito, virou-se para Tenten. Olhei para o outro lado, temendo encará-la e deixá-la sem graça. O loiro abraçou minha prima Hinata e sinalizou para a porta atrás de nós. — Acho que vamos embora, mas vocês podem ficar aqui e aproveitar um pouco mais.

Eles sabiam muito bem que recusaríamos a oferta. Não conseguíamos mais suportar ficar sozinhos daquela forma, era sufocante. 

— Está tudo bem para vocês? Algum dos dois trouxe a chave da porta da frente? — Hinata indagou um tanto temerosa, parecendo esperar que a surpreendêssemos. Seus olhos atentos pularam de mim para a morena de feição desanimada, e sorri sem graça pronto para sair voando dali também. Nós dois estávamos com as nossas chaves principais do goshiwon, aquelas que não precisaríamos levar em dupla, logo era fácil entender que... — Vocês não vieram juntos de novo, não é?

— Eu tinha umas coisas para fazer antes de voltar para o goshiwon, por isso não vim com ele. — a Mitsashi tentou se justificar, mas antes mesmo de terminar a fala, Uzumaki Naruto já estava praguejando e bufando.

— Vocês são inacreditáveis! Caralho Neji, vocês tiveram aula de coreano juntos e poderia ter a acompanhado, como sempre fazia. E caralho Tenten, o que custava vir junto com ele quando chegou no goshiwon? Por que veio sozinha? — a indignação na voz de Naruto foi tanta que comecei a temer por minha própria segurança. Mesmo alterado pelo álcool, parecia o mais lúcido sobre a situação. — Nós. Moramos. Juntos. Seus. Filhos. Da. Puta. — repetiu lentamente, deixando um silêncio tenso entre uma palavra e outra. — Vocês não cooperam, toda vez que saímos é assim. Eu não posso passar uma tarde diferente com a minha namorada, e longe dos dois, que essas pragas agem como se não fossem amigos há anos.

Ninguém disse mais nada. Minha prima nos encarava com desaprovação e um tanto de pena. Naruto parecia que ia explodir a qualquer segundo. Eu realmente nunca havia o visto tão tenso e incomodado. E nem Tenten tão quieta.

Havíamos tido uma aula rápida de coreano juntos, como sempre, mas cada um foi para um lado depois, pegando um metrô diferente. Chegamos quase no mesmo horário no goshiwon, contudo me arrumei rápido para sair antes da Tenten e evitar a deixar desconfortável durante o caminho, assim como tentava evitar que as lembranças nos afogassem novamente.

Como um acordo silencioso, de algo que fazíamos com frequência, fiquei esperando alguns metros antes do restaurante e quando a vi por perto, corri em sua direção e fingi que estávamos entrando juntos, assim Hinata e Naruto não se irritariam tanto.

Bom, não havia funcionado daquela vez.

— Quer saber? Chega! Eu sei que vocês odeiam que eu toque nesse assunto, mas já deu. Vocês são muito estranhos e eu não sei mais o que fazer, então…

— Ah não, você não vai fazer isso. — reclamou Tenten, enrolando-se minimamente com as palavras por conta do nervosismo. Seu pescoço e suas orelhas estavam começando a ficar vermelhos. Os olhos de Hinata estavam se arregalando aos poucos e ela tocou suavemente no braço do namorado, tentando impedi-lo de algo. Encarei-os confuso, começando a ficar nervoso também. Sobre o que eles estavam falando? O que eles sabiam que eu não sabia?

— Chega Tenten! — rebateu ainda irritado, cruzando os braços. Era raro ver Uzumaki Naruto bravo, então toda a situação de repente se tornou ainda mais séria. — Eu cansei disso. Amanhã vou mandar um e-mail para o programa fingindo ser um de vocês dois.

— Não vai adiantar.

— Óbvio que vai. Eu já te falei sobre a minha professora. O marido dela mudou completamente depois que foram lá.

— Grande coisa. Um caso em um milhão. Quem garante que vai funcionar?

— Se não funcionar, a gente tenta outra coisa. Só não aguento mais viver nessa situação.

— Eu vivo isso todo dia e não estou incomodada. Para de se intrometer!

— Mentirosa. Vocês dois não conversam e acha isso normal? Deixa de ser estranha, Mitsashi. Vocês eram inseparáveis e agora um não consegue esperar o outro para virem a uma porra de restaurante.

As palavras de Naruto e Tenten começavam a se misturar. Um respondia, o outro rebatia. Um comentava, o outro refutava. Eu apenas acompanhava o assunto sem entender nada, começando a me sentir enjoado e frustrado. Independente do que fosse, a bela morena de enfeites no cabelo não gostava, logo eu sentia que também não gostaria.

— O programa é transformador. — a voz de Hinata se sobressaiu na discussão, deixando-os calados. Tenten a encarou surpresa pela fala tão convicta e Naruto sorriu satisfeito, abraçando a namorada de lado, voltando ao estado “bêbado largado” de antes. — Antes de morarmos aqui você era viciada em assistir, amiga.

— Mas agora eu vejo a grande bobagem que é, não têm motivos válidos para nos expor assim. — tentou argumentar por último.

— Está decidido, então. — o loiro falou mole e sorridente, ignorando Tenten.

— O quê? Alguém me explica? — tive coragem de perguntar, agarrando a borda da mesa com força e me inclinando sobre ela. Estava cansado de acompanhar a conversa como um telespectador de uma partida de tênis. Meus neurônios pareciam ferver.

— Amanhã enviarei um e-mail para o programa explicando isso tudo.

— Qual programa? Por quê?

— Hello Counselor. Vocês vão ter que contar o que aconteceu para terem se tornado tão estranhos, seja por bem ou por mal.

Um gemido alto escapou dos lábios de Tenten. Frustração ou raiva, talvez; não saberia dizer com certeza porque sua atenção estava em mim.

Finalmente estava em mim e não no frango frito.

E eu não era capaz nem de respirar direito ou piscar como um ser humano normal. Eu sentia que havia desaprendido tudo com apenas aquele olhar penetrante e a informação recebida.

E aqui estou eu, com Hyuuga Hinata, em um dos camarins do famoso programa Hello Counselor, começando a surtar com toda a exposição que a nossa situação vai ter e temendo que as coisas se explodam de vez.

Desculpa por ser um covarde Tenten, eu queria ter resolvido essa situação mais facilmente.


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