Mort. escrita por Siaht


Capítulo 1
Mort.


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!! ;D

Tudo bem com vocês?
Espero que gostem! ♥

ALERTA DE GATILHO: essa é uma one-shot que fala muito sobre a morte e sobre desejá-la, não acredito que seja recomendável para todos os públicos. Especialmente para quem já possuí esse tipo de pensamento, se esse for o caso peço que não leia e procure ajuda.



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{mort.}

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Há certa beleza no modo como vermelho, laranja e amarelo se misturam na noite escura, fazendo o mundo brilhar. A garotinha assiste hipnotizada, porque sempre gostou de coisas belas. Mas a beleza dura pouco e logo as chamas mostram seu poder, consumindo em labaredas todo o mundo da menina. Transformando tudo em poeira e cinzas.

Ela tenta gritar, tenta se mover, tenta correr até a casa da qual foi resgatada, até os pais que ainda estão lá dentro, mas está paralisada. A garota assiste estática, enquanto seu mundo inteiro rui. Em algum ponto as lágrimas começam a rolar por seu rosto. A verdade se materializando em sua mente. Sua casa não existe mais. Seus pais estão mortos. Ela não tem mais ninguém. Está sozinha no mundo.

Pela primeira vez, Jessamine Lovelace deseja morrer.

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Ela está sufocando. Sentindo o oxigênio se transformar em algo sólido e tóxico em seus pulmões. Sentindo as paredes do Instituto se fecharem a sua volta. A menina odeia aquele lugar. Odeia viver entre os Nephilim, odeia que insistam em colocar espadas em suas mãos, odeia que desejem fazer dela uma guerreira, odeia passar seus dias ouvindo sobre monstros, demônios e horrores.

A garota não foi feita para ser uma Caçadora de Sombras. Não é a vida que imaginava para si. Não é a vida que seus pais sonharam para ela.  Então, passa seus dias planejando fugas e sonhando acordada com uma existência mundana. Sonhando com bailes e vestidos e cavalheiros. Sonhando com casamento e filhos e belas casas que não sejam destruídas pelo fogo.

Passa seus dias, buscando modos de correr para longe, porque cada instante como uma Caçadora de Sombras faz com que Jessamine Lovelace deseje morrer.

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A garota não sabe dizer se ama o rapaz ou a ideia dele. Se ama a pessoa que ele é ou o fato de sua simples existência significar uma ponte para longe de um mundo que abominava. Não acha que faça diferença. De um modo ou de outro, ela ama Nate e faz tudo por ele. Faz tudo o que ele lhe pede, porque sabe que esse é seu único plano de fuga. Sua única chance de escapar. E Jessamine precisa escapar da vida que leva, ou sente que irá sufocar até a morte.   

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Gritos e sussurros e ecos. A menina já não é capaz de distingui-los. Eles se confundem em sua mente agitada e ela não sabe se o que escuta são os seus próprios gritos de dor ou o sussurro dos mortos. O grito dos mortos ou seus próprios sussurros. O eco do próprio desespero. Em meio a todo esse caos está a voz deles. Os Irmãos do Silêncio a invadem por inteira. Penetram a mente da moça com suas vozes, enquanto suas mãos ferem o corpo dela. Eles a torturam, violam suas lembranças, vasculham cada centímetro de seu cérebro.

Eles a humilham. Tiram seu vestido fino, suas joias, lhe cortam os cabelos. E lhe tocam. Tocam, tocam, tocam. E cada vez que sente as mãos deles em seu corpo ou as vozes deles em sua mente, a garota sente uma parte de si ser destruída.

Jessamine Lovelace deseja morrer.

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A garota aceita o golpe da lâmina com toda a dignidade que lhe resta. Não é muita, é verdade, mas parece suficiente. Há um certo alívio na certeza do fim. Do fim da dor, do fim da agonia, do fim do sofrimento, do fim de uma série de escolhas erradas. Principalmente do fim de toda uma existência da qual tão pouco resta.

Jessamine está destruída de qualquer modo. Já não é nada além de um espectro. A sombra da menina cheia de sonhos que foi um dia. A sombra da mulher que nunca será. Will quer salvá-la, mas ela não deseja ser salva. Está muito além de qualquer salvação. Jessamine Lovelace está morrendo e está feliz por isso.

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É irônico que na morte ela tenha se encontrado. Mas foi o que aconteceu. Jessamine quis fugir do Instituto de Londres durante a sua vida inteira e em sua morte se viu presa a ele. A parte estranha é que isso não lhe parece ruim. Há um certo conforto em sua sina, na verdade.

A moça sorri quando pensa nisso. É engraçado ser melhor como fantasma do que como ser humano. É engraçado que a morte seja tão mais fácil e doce que a vida.


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Notas finais do capítulo

Eu realmente acho a Jessamine uma personagem extremamente interessante.
Espero que tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís



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