Como Esquecer ?! escrita por kicaBh


Capítulo 8
Capitulo 8




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Darcy voltou para São Paulo com Elisabeta. Ele ofereceu carona como uma forma de agradecimento, mas a verdade é que a companhia agradava a ambos. Mesmo Elisabeta sabendo que, uma vez as memórias dele retornando, eles teriam conversas sérias. Mas não conseguia ficar longe de Darcy.

Seu pai, ao se despedir dela, falou para que ela não fugisse dos sentimentos. Não seria uma conversa fácil quando a cabeça de Darcy voltasse ao normal, mas Felisberto não duvidava de que a história deles tinha um futuro lindo pela frente.

Eles estavam um pouco para mais da metade do caminho quando Darcy teve outro flashback, eles conversavam animadamente sobre o fato de serem teimosos quando ele ficou zonzo e só não bateu o carro porque Elisabeta conseguiu puxar o freio de mão. Darcy se lembrou deles no carro indo buscar o medico para socorrer Jane, da discussão, dela dizer que nunca havia saído do Vale. Parecia tudo a mil anos atrás, ela respondeu a ele. A vida dela havia mudado para sempre. Ela agora tinha uma profissão, era reconhecida, morava numa cidade grande.

Elisa pensou em dirigir, mas Darcy não permitiu. Ele se lembrou que ela dirigiu por poucos metros. E até a cidade grande era uma responsabilidade que ele não imputaria a ela. Eles esperariam um pouco, para ele melhorar, então seguiriam. O problema é que Darcy teve outros momentos de tonteira, outras lembranças jorrando. Lembrou de alguns momentos dele no Vale, com Camilo e Susana. O baile com ela de calças. Por fim, lembrou-se da briga na alfaiataria. Ele ficou exausto e Elisabeta reconheceu que estavam próximos a uma hospedaria, então dirigiu até lá, mesmo com Darcy se dizendo já recuperado.

O quarto não era grande, ela queria que fossem dois, mas não havia. Muitas pessoas estavam transitando por ali, indo a um casamento na cidade vizinha. Não era um hotel cinco estrelas, mas era uma boa hospedaria. Um tanto quanto suja, mas o suficiente para Darcy descansar e  amanhã bem cedo eles seguirem viagem.

Então você está se lembrando cada vez mais rápido. Ela falou ajeitando as malas dele num cantinho, se certificando de que ele não estava mais cambaleante. Ela estava cansada, dirigir não era fácil. O automóvel era pesado, ela era inexperiente e Darcy, ao seu lado, dava as instruções, mas ainda estava com a cabeça zoada. Ela ficava feliz que a memória dele estivesse voltando como cascata, mas ele precisava se certificar de não estar dirigindo ou na rua, isso poderia colocá-lo em perigo. E nem sempre ela estaria lá para acudi-lo. Ela riu da própria conclusão. Seu pai tinha razão, ela estava sempre “salvando” Darcy. Mas também, sempre o colocava em perigo. Era uma relação estranha, ela gostaria de não sentir a culpa que insistia em viver dentro dela e aproveitar a nova chance deles. Mas não era tão simples, ela havia amadurecido, impulsividade e instinto ainda era importante, mas pensar nos outros agora fazia toda a diferença. Especialmente se como outros podia se entender o homem diante dela. O amor da sua vida, alguém que ela não queria magoar novamente.

Elisa, deite-se aqui comigo. Darcy falou manhoso. Ele notou a surpresa por ele chama-la no diminutivo do nome. Era bonito, todos no Vale a chamavam assim. Ter você por perto me acalma.

Elisabeta negou o quanto pode, disse que dormiria no sofá ao lado da janela, era suficiente para uma pessoa dormir tranquilamente. Já seria estranho o suficiente estar no mesmo quarto que Darcy, sem precisar estar na mesma cama.

Darcy estava deitado na cama que ela via ao fundo do quarto, tinha os olhos fechados, como se fizesse algum esforço. Ela reparou nas mãos agitadas, então chegou mais perto para conferir se ele estava se sentindo mal.

Darcy. Ela falou num sussurro, ele não respondeu. Ela colocou as mãos sobre as dele. Ele as segurou.

Está tudo bem, Elisabeta. Ele manteve os olhos fechados. Eu apenas estou recapitulando tudo que já me lembrei e quem sabe fazendo um esforço para algo mais vir a minha cabeça.

Não se esforce tanto. Agora que as memórias estão voltando, com paciência tudo estará no seu lugar. Ela acariciou as mãos dele, se sentando na beirada da cama. Ele arredou um pouco para o lado. O lembrando para ter sempre alguém por perto, as tonteiras poderiam colocá-lo em perigo.

Deite aqui comigo, Elisa. Me conte uma história para dormir.

Darcy. Ela ralhou, sorrindo para ele, mesmo que ele não visse.

Ei, eu vou me comportar. Ele prometeu, sem saber se poderia cumprir. Tudo que queria era tê-la um pouco perto dele, mas do que ele conseguia no dia a dia. Ele sentia o cheiro dela, o som da sua voz, admirava seu rosto, mas ela estava sempre fora do seu alcance. Agora ele sequer abria os olhos com medo da recusa dela.

O médico não quer que contemos para você o que você já viveu. Ela retrucou, ainda com as mãos firmes dele a segurando.

Então me conte qualquer história. Ele a puxou, suavemente, sentindo ela se deixar ao lado dele, mantendo as mãos unidas. Me fale sobre você, Elisabeta.

Ele não viu, apenas sentiu ela se aconchegando na cama. As mãos unidas enquanto ela devia escolher qual a melhor posição para dormir. Ela pensava no quão errado tudo aquilo soava. A convenção social dizia que estar num quarto de um homem, sozinhos, só se devidamente casados. Ela não ligava a mínima para este tipo de coisa. O que a preocupava era no quanto o homem ao lado dela a atraía. Ela sabia que Darcy não forçaria nada, não era o temperamento dele. Seria mais fácil ele sair daquele quarto e larga-la sozinha do que exigir que ela fizesse algo que não queria.

Elisabeta pensava no que contar a ele. Nos últimos dias eles conversaram absurdamente sobre ela, seus sonhos, sua infância, o Vale, tudo sem mencionar a chegada dele e como tudo mudou em sua vida.

Darcy chegou mostrando um outro mundo, sugerindo que o amor também era importante e ela se viu cedendo a um desejo que desconhecia em si mesma. Cada beijo era como uma descoberta nova, cada briga uma nova disposição para aprendizado. Seria errado admitir que só Darcy aprendera naquele relacionamento. Elisabeta havia entendido que seu jeito muitas vezes era confundido com descaso. No jornal várias vezes Venâncio a advertiu, no bom sentido. Ela entendia o que o editor queria dizer. Não mudou a si mesma, isso nunca e por ninguém, mas aprendeu a se mostrar sem tanto embate. Darcy ficaria orgulhoso em como em menos de um ano ela deixou de ser aquela moça por vezes brigona e cabeça dura para se tornar uma mulher de opinião forte e argumentos irrefutáveis.

Uma história, ela pensava, apenas uma história inédita.

Estou querendo escrever um livro sobre o Vale do Café. Ela começou, com Darcy dizendo que seria maravilhoso. Ele leu algumas colunas dela e achava que a fluidez do seu texto facilitaria bastante a identificação com seus futuros leitores. Cada dia me assusto mais sobre o quanto eu queria deixar o Vale para ganhar o mundo, e mais me reconecto com aquele ambiente. Hoje sei que onde eu estiver, o Vale estará comigo. Então Elisabeta falou sobre o livro que sonhava, a história vista pelo olhar de cinco irmãs, a vida, o início do ciclo do café, as mudanças que a ferrovia proporcionaria ao local e também fechou seus olhos. Continuou falando sobre o livro, organizando as ideias, mesmo quando sentiu que Darcy já dormia. Admirou seu rosto bonito e suas mãos entrelaçadas. Pensou em voltar para o sofá, mas a cama era quentinha e aconchegante. Então se viu virando de lado para dormir, iria fechar os olhos e deixar-se levar pelo sono quando sentiu Darcy se acomodar atrás dela, passando o braço em sua cintura e a trazendo de encontro ao seu corpo. Apesar do arrepio que correu por todo o seu corpo, Elisabeta admitiu que não havia melhor modo de pegar no sono.

O dia amanheceu, Darcy acordou primeiro, mas diante da visão ao seu lado, não fez nada. Manteve-se na cama. Nem em um milhão de anos ele se levantaria e acordaria a mulher que agora dormia com a cabeça no seu peito, os cabelos desarrumados e um perfume que invadia suas narinas. Ela o apertava e ronronava enquanto ainda dormia profundamente. Quanto mais tempo ele conseguiria se segurar para não beijá-la como se fosse a última coisa que faria na vida?

Algum tempo depois Elisabeta se mexeu e ele sabia que a bolha que os envolvia naquela cama iria estourar. Mas antes disso ele não guardou a vontade e apertou junto a si, beijando o topo da cabeça dela e desejando bom dia. Não pareceu a Darcy que ela sentiu vergonha, porque ele sentiu os dedos dela contornando seu rosto, inclusive os lábios, quando ela respondeu um bom dia sonolento.

Não demorou nem 30 segundos para ela sair da cama depois disso, pedindo a ele privacidade para que ela tomasse um banho e eles pudessem seguir o resto da viagem.

Darcy só a encontrou mais tarde, ele também se aprontou. Ela já havia tomado café e observava a movimentação do local. Elisabeta era assim, nada escapava a sua visão. A mistura de coches e automóveis tornava o lugar um ponto de encontro.

Ela não notou a presença dele e num impulso Darcy a abraçou por trás e também passou a admirar a vista, uma linda cachoeira, parecida com a do Vale, onde vários rapazes desciam pela rampa escorregando. Eles faziam uma pequena algazarra enquanto as famílias os chamavam para partir. Elisabeta ria da situação e não se afastou de Darcy, ao contrário, se aconchegou nele, aproveitando a sensação dos braços dele a envolvendo.

Eles estão se divertindo a beça, não é ? Ela contou das vezes que seu pai também as levava para este tipo de diversão. Elas eram crianças, e exceto por Jane, todas as Benedito adoravam escorregar na água.

Darcy balançou, se apoiando nela. O mundo girava rápido e ele achou que fosse cair. Elisa o sentou e esperou que a respiração dele voltasse ao normal. Outra lembrança, ela sabia. Essa cachoeira lembrava a do Vale, onde ela e Ema e Lucino encontraram Darcy e Ernesto depois do acidente da mina. Ela ainda lembrava do desespero que sentiu ao tocar nele, desacordado. E ele abrir os olhos e falar o nome dela. Era por isso que ela olhava fixamente os garotos brincando na cachoeira.

Não foi apenas a explosão na mina, Darcy se lembrou do quase noivado de Camilo, dela perdida na mata, o termino pela mentira dele, o jantar dos horrores onde Julieta conheceu Ofélia, então a procura por ele na ferrovia. A explosão, o resgate, São Paulo.

Darcy sequer conseguiu ficar em pé. A solução foi ficar na hospedaria mais um dia. Ela o manteve deitado, janelas abertas.

Conseguiu telefonar a Venâncio, e a Charlote, que ficou extremamente preocupada e prometeu enviar um motorista para busca-los. Durante o resto da manhã deixou que Darcy dormisse. Depois fez com que ele almoçasse e voltasse a descansar, deixando-o no quarto sozinho enquanto dava uma volta pela hospedaria.

Era final da tarde quando ela entrou no quarto e viu Darcy relaxado, em pé na janela, observando a paisagem. Ele parecia totalmente recuperado.

Acho que falta pouco agora. Para me lembrar. Darcy falava olhando para fora, de costas para ela. Algo o corroendo por dentro. Um namoro cercado por muitas brigas, ele se dizia. Ele aparentemente se lembrava de todas, mas nada de se lembrar de um bom momento, um beijo, um abraço.

Você parece chateado. Não era para ser uma coisa boa ?

Sim, é uma coisa ótima. Mas eu não consigo me lembrar de um momento bom com você, Elisabeta. Não me admira você ter me recusado, nós só brigávamos.

Elisabeta teria sorrido, se o momento permitisse. Que tolo ele estava sendo, acreditando que nada de bom havia acontecido entre eles. Que cada beijo trocado não fazia os ouvidos dela coçarem, que a formalidade dele a ajudara nos últimos tempos, quando ela precisou se mostrar forte sem ser pedante no trabalho, como se a presença dele não fosse importante em sua vida. Mas ela não sorriu, foi até ele e segurou sua mão, querendo dizer algo para reconfortá-lo.

Nós não só brigávamos, Darcy. Tivemos bons momentos também. Ela falou olhando nos olhos dele, a luminosidade do quarto fazendo com ela admirasse ainda mais aqueles olhos bonitos que ele possuía. Um verde diferente de todos que ela conhecia. Ela não fugiu quando sentiu ele enlaça-la, nem fingiu que não sabia que iria ser beijada. Na verdade, esperou por isso.

Darcy a puxou para ele, segurando firmemente. Com medo de que ela fugisse. Cheirou seus cabelos e respirou em suas orelhas. Ele ainda não se lembrava, mas seus dedos pareciam saber o caminho, seu corpo inteiro reagia ao dela, nesse momento tão íntimo compartilhado a luz do final do dia. Seus lábios formigavam e ele viu Elisabeta fechar os olhos e virar o rosto para cima.

A beijou.

Como queria ter feito desde que a viu nervosa naquele porto. Depois no restaurante, no cortiço, no Vale, no carro.

Mas foi agora. E ele aproveitou. Invadiu a boca de Elisabeta sem pedir permissão, surpreso com o desejo que sentia. Os lábios dela em contato com os seus, um cheiro de familiaridade, um calor gostoso o invadindo. Elisabeta correspondia, matando as saudades, se deliciando no abraço que sentia tanta falta.

Ela aprofundou o beijo.

Ele a encostou na parede e ambos naquele quarto, sozinhos, não pensaram em prudência. Darcy puxou uma das pernas de Elisabeta para cima, para se aproximar mais dela, enquanto sentia as mãos dela passearem por seus cabelos. Ele não soube como se controlar, então caminhou com ela para a cama, sem soltá-la. Deitou por cima dela, para beijá-la mais profundamente. Algo em sua mente dizia para terem mais controle, mas Elisabeta não parecia se importar com estes avanços.

Deus sabe até onde chegariam quando batidas na porta os assustou.

Darcy parou de beijá-la mas não saiu de cima dela, sua ereção pressionando as camadas de tecido da roupa dela e um olhar bobo davam a ele um ar de prazer. Elisabeta sorria sem se mexer, ciente do quanto ele estava perto.

Bastante chateado ele se levantou para verificar quem os chamava insistentemente.

Charlote invadiu o quarto como um furacão, sem pensar em nada e um olhar preocupado, dizendo que havia saído imediatamente de São Paulo após a ligação de Elisabeta.

Atrás dela, Archiebald Williamson.

Archiebald entrou pelo quarto mirando a Benedito de cima a baixo. Darcy estava em pé e ela também, seu filho tinha um olhar bobo no rosto enquanto a moça tinha feições tranquilas. O lorde sabia que havia interrompido algo importante naquele quarto. Embora estivessem vestidos, algo dizia a ele que essa mulher teria capacidade para seduzir seu filho.

Ela era uma garota bonita e possuía um olhar desafiante, Archiebald pensava, não se intimidou com sua presença e explicava a Charlote o que havia acontecido. Darcy havia sentido várias tonteiras e uma enxurrada de lembranças o impedia de dirigir no momento. No entanto, apesar de ajudar seu filho, Archiebald pensava, ela não era adequada para ser uma Williamson. Uma lady não deveria trabalhar e sim cuidar da família, gerar vários herdeiros, homens de preferência, e jamais discutir opiniões. Archiebald quase riu de si mesmo, lembrando que Francisca não possuía algumas dessas qualidades, mas sua falecida esposa era bem nascida e com uma vasta fortuna de uma família quatrocentona brasileira. Esta garota diante dele, para completar, era pobre. Aparentemente bem-educada, mas desprovida de finanças, com irmãs tolas, inclusive manchadas pelo Uirapuru.

Elisabeta também fitou Archiebald, o pai de Darcy. Alguém que era importante para o homem que ela amava e que, aparentemente, não a achava adequada para estar ao lado deste filho. Bastava ver o olhar de desdém que ele lhe destinava. E contava pouco eles estarem no mesmo quarto. Se ele soubesse o que estavam fazendo, embora pelo olhar dele é possível que soubesse.

Darcy fez as apresentações e ficou ao lado de Elisabeta, numa posição protetora. Sem saber dizer o que ela era, apresentou Elisa como uma amiga muito especial, não fugindo da vista de Charlote as mãos dele sobre o ombro da amiga. Archiebald apenas acenou, tomando ciência de que a mulher diante dele não parecia se importar com sua opinião e que seu filho também não. Em casa ele conversaria seriamente com Darcy sobre isso, no momento apenas informou que se Darcy estivesse bem, seguiriam viagem imediatamente. O motorista estava disponível para acomodá-los num carro e outro iria levar o veículo de Darcy.

Em casa Archiebald ficou furioso de diversas formas. A construção da ferrovia estava atrasada e custaria mais do que Darcy previra. O Uirapuru continua a solta mesmo depois dele ter pago um detetive para encontrá-lo, ele queria voltar a Inglaterra o quanto antes, mas até Charlote fincara o pé e disse que não sairia do Brasil sem Darcy. Ainda por cima ele encontrara o filho com Elisabeta numa hospedaria de estrada, no mesmo quarto, fazendo Deus sabe o que.

No meio dessa discussão Darcy teve que bater de frente com seu pai, não que ele gostasse, mas realmente o controle de Archiebald sobre ele o irritava bastante. Por isso aceitou o convite de Camilo, ficar longe do pai e de todas aquelas regras rígidas inglesas que ele impunha para si e para os que viviam perto. Darcy queria ver como o país de sua mãe vivia, ela sempre pareceu suave. Seu pai, por outro lado, odiava o país.

Darcy disse firmemente que não iria embora do país naquele momento e quando seu pai cogitou que poderia ser devido a Elisabeta,que ela não era adequada e outras coisas do tipo, Darcy encerrou o assunto.

— É por Elisabeta, meu pai. Satisfeito? . Darcy saiu em direção a consulta com seu médico e depois encontraria Elisa para uma conversa sobre eles, depois daquele beijo não seria apenas amigo dela.

Dr Celso ficou impressionado com Darcy. Os dias no Vale do Café fizeram muito bem a ele. Não só pelas faces coradas, mas pela clareza como ele organizara as memórias que seu cérebro jogou de volta em seu corpo. Ele concatenou o que já sabia com o que passou a se lembrar e fez várias conclusões sobre sua estada no Brasil e seu relacionamento com Elisabeta.

Ele disse ao Dr Celso que ainda não conseguia se lembrar de como ela disse não a ele, mas assim como ele, ela também parecia apaixonada. O médico pediu para ele ter calma, possivelmente era um momento doloroso e por isso sua cabeça resistia e ele precisava entender a mulher diante dele, que podia apenas estar com culpa em relação ao acidente que tirou a memória dele.

Darcy contou ao médico que a beijou, com bastante afeto da parte dela.

O médico recomendou cuidado, uma vez que eles não tiveram um final agradável. E Darcy concordou em ser mais prudente.

No jornal Elisabeta olhava para Venâncio com olhos arregalados. Ela estava feliz de estar de volta e, sendo sincera, feliz também por ter beijado Darcy. Não via a hora de encontrá-lo novamente. As memórias dele estavam quase todas no lugar e quando fosse a hora, ela pediria desculpa pelo que disse a ele. Ela diria que o amava.

Seu editor ficou feliz com seu retorno e quando ele falou que havia uma surpresa para contar a ela, jamais imaginou que se tratasse de algo dessa magnitude.

Então eu pensei em indicar você, Elisabeta. Nossa matriz quer instalar uma sucursal no Rio de Janeiro e me pediu meu melhor profissional. E não disseram não quando disse seu nome. Eu sinto muito, mas você sabe que ser uma mulher trabalhando ainda é algo raro. Mas parece que a capital fluminense tem algumas mulheres em posições de destaque na imprensa. Você sabe tudo sobre o jornal, do maquinário a todas as colunas, eu não teria outra pessoa para indicar. E se fizer diferença, posso indicar Cosme para te acompanhar.

Era maravilhoso. O sonho de sua vida ganhava forma. Abraçar o mundo todo. Morar no Rio de Janeiro, perto do mar. Uma promoção, um reconhecimento, comandar uma sucursal do jornal, tomar decisões, decidir, comandar. Era perfeito.

Ela continuava olhando para Venâncio e não conseguia responder. Se viu pedindo um tempo para pensar e seu editor estranhou.

Ela não era de pensar muito em grandes oportunidades. Ele quis saber o que houve.

Elisabeta apenas afirmou que a vida dela agora possuía outras prioridades, que sair de São Paulo, embora fosse um sonho constante, poderia não ser a melhor escolha.

Deitada em sua cama depois de conversar com Jane, Elisabeta pensava em como a vida era cíclica. Toda vez que ela e Darcy pareciam achar o caminho, algo aparecia para separá-los. Foi assim quando ela se decidiu a trabalhar em São Paulo.

Agora recebera uma proposta para o Rio de Janeiro justo quando eles pareciam que iriam se acertar.

Era uma oportunidade maravilhosa. A chance de sua vida. Ela talvez fizesse até uma faculdade.

Não fosse por Darcy e todas as sensações que o envolviam.

Ele não entenderia e quando se lembrasse da conversa deles, a acusaria novamente de não o priorizar. Ele não deixava de ter certa razão. Darcy parecia sempre disposto a ceder aos seus preconceitos e julgamentos para estar com ela, no entanto ela sempre parecia tão pouco disposta a ceder aos seus sonhos. Como se Darcy atrapalhasse.

Algumas lágrimas insistiam em cair dos olhos dela. Não era justo com Darcy, deixar ele pensar que a atrapalhava. Ao contrário, seus sonhos só faziam sentido com ele ao seu lado.

Quando ouviu batidas na porta ela já sabia que seria ele. Eles se olharam com a porta aberta, Darcy pensando se entraria naquele quarto, se a convidaria para saírem. Ela pensando em como contar a ele a proposta que recebera.

Enquanto esse impasse acontecia eles ficaram ali se olhando, sem coragem de dizer algo e atrapalhar o momento. Prudência, Darcy se lembrava das palavras do Dr Celso. Prudência. Embora a mulher em sua frente não parecesse se importar com os beijos avançados que trocaram, ao contrário, ela sorria genuinamente para ele. Como se ele fosse uma visão muito agradável.

Elisabeta olhou para Darcy sorrindo para ela, ele parecia travar uma batalha interna, se segurando e sem saber o que fazer. Era adorável. Vencida pelo instinto, como a muito tempo não se permitia, Elisabeta não resistiu e pulou nos braços dele, o beijando sem pensar em nada.

Darcy fechou a porta atrás deles e aproveitou o momento, correspondendo ao beijo com todo o entusiasmo que possuía. A abraçando e sentindo seus cabelos entre seus dedos, a segurando firme contra ele. Curtindo o corpo dela tentando se fundir ao dele e do que ele se lembrava, jamais havia sentido algo parecido com o que ele vivia naquele momento. Um desejo tão intenso, um calor e uma vontade de esquecer as regras e amar Elisabeta sem puder algum. No entanto, se controlando, terminaram o beijo.

Era assim que namorávamos? Como pude esquecer?

Elisabeta gargalhou, explicando a ele que não eram bem assim que os beijos dele aconteciam. Diante do olhar de descrédito dele ela explicou que eles estavam se conhecendo. Darcy perguntou se era bom e ela disse que sim, que gostava bastante. Ele resolveu não prolongar o assunto, suas memórias surgiriam no tempo certo.

Precisamos conversar. Elisabeta disse depois de um tempo, saindo do abraço dele. Eles se sentaram na cama dela.

Contar sobre a proposta de Venâncio não foi fácil para Elisabeta. Da última vez que contou para Darcy sobre uma proposta de emprego ele a pediu em casamento, catapultado por uma ideia de Ema, sua amiga maluquinha presa a um sentimento por seu amigo Ernesto enquanto se via noiva de Edmundo. No Vale Ema parecia feliz por fora, mas Elisa sabia que não era bem assim. No entanto, ela respeitava as decisões da amiga estaria disponível para qualquer desfecho que Ema escolhesse.

Entretanto, agora ela tinha Darcy diante dela processando as informações. Ela mencionou dúvida e felicidade diante da proposta, mas ele ouviu apenas felicidade e despedida.

Você está indo embora. Darcy concluiu, sem condições de dizer mais nada. Ele achava que estavam tendo uma segunda chance, mas na verdade ela iria embora de São Paulo, distante dele.

Eu .... Elisabeta ia contar que ainda não havia aceitado, mas ele pôs os dedos em seus lábios, a interrompendo. Sem entender bem porque fazia aquilo.

Darcy iria falar que ele estava feliz por ela, mas não conseguiu. Ele realmente estava feliz por ela, entendia o que a profissão significava para ela. Mas seu coração se apertava com a ideia dela a quilômetros de distância dele. Ele ensaiou algumas palavras, mas nada saiu. Tudo que ele gostaria era de saber como eles ficariam nisso tudo. Ele tinha a intenção de pedí-la em namoro esta noite. Eles pareciam sempre num desencontro.

Então Darcy sentiu a tonteira habitual, aquela onde suas memórias surgiam. Dr Celso havia dito para ele sempre respirar fundo, se sentar com os pés no chão e segurar em algum lugar. E relaxar o corpo, deixar as lembranças surgirem.

Ele se desvencilhou de Elisabeta, ela estava apoiada em seus ombros na cama, e segurou na cabeceira respirando. Sentiu as mãos de Elisa acariciarem seus ombros.

As imagens surgiam como um rio caudaloso, jorrando em sua mente com cores e sentimentos difusos. Um beijo roubado num corredor, o beijo no morro, no estábulo do pedido de namoro, reconciliação, alegria e preocupação de encontrá-la dentro da mina para conversarem, beijo na porta da casa de Jorge, no escritório da casa de Jorge, felicidade em sentir os braços dela ao redor do pescoço dele enquanto ele tentava se segurar para não beijá-la tão profundamente que ambos perderiam o ar.

Ele abriu os olhos um pouco, suava naquele quarto de cortiço e Elisabeta o abraçava, deitando-o em sua cama. Pressionando um pano úmido em sua testa.

O ciúme de Olegário, o medo de Ludmila leva-la para um emprego e para longe dele. A ideia de Ema para pedi-la em casamento. As tentativas frustradas de fazer um pedido enquanto ela falava empolgada do emprego na cidade grande. O medo de não tê-la para si.

O pedido.

O não.

“Você é o último homem com quem eu me casaria”.

Darcy se sentou novamente e abriu os olhos. Foi isso, meses no Brasil para terminar com ele chorando no carro de volta a casa de Julieta e decidindo partir para a Inglaterra. Ele se sentiu humilhado por ela e devido ao orgulho ferido quis ir para longe.

De repente Darcy se sentiu sufocado naquele quarto. Se levantou abruptamente. Não soube o que dizer, não queria pedi-la em namoro e receber um não novamente. Ela havia recebido a melhor proposta profissional de sua vida.

Se despediu de Elisabeta dizendo que estava exausto, precisava pensar, mesmo diante dos pedidos dela para que ele ficasse.

Ela segurou firme na sua mão, antes que ele se fosse, confuso como estava. Elisabeta tentava assegurar que eles precisavam conversar.

Darcy .... ela tentou falar que ainda não havia aceitado, mas Darcy saiu do cortiço em passos rápidos.


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