Como Esquecer ?! escrita por kicaBh


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Apenas mais uma brincadeira Darlisa.
divirtam-se e comentem.



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Ela me disse não. Darcy gritou para o vento enquanto enxugava suas lágrimas.  Ele ainda não podia acreditar. Ele era um bom partido para qualquer mulher. Qualquer. - Porque ela disse não? Ele falava consigo mesmo ao dirigir para casa, um pouco mais rápido que o normal.

Após conversar com Elisabeta ele saiu sem sequer se despedir das pessoas que o olhavam. A família Benedito, Camilo, Januário e Ludmila. 

Eles foram duros um com o outro, ambos ouviram e disseram coisas que agora ele pensava desnecessárias. E ele não entendia como haviam chegado a este ponto.

Parecia tudo bem entre eles em São Paulo, Elisabeta parecia empolgada com o namoro. E todos os problemas ocorridos eles conseguiram resolver conversando, a confusão no baile de máscaras, o cinema. Eles pareciam em sintonia e da parte dele, nunca na vida havia sido tão apaixonado. Nenhuma mulher despertara nele o que ela fazia, uma urgência, um coração disparado, um medo de perde-la que era assustador. E esse era o problema. Elisabeta parecia sempre pronta a voar, falava em independência e trabalho. Ele conheceu muitas mulheres europeias com os mesmos anseios, não era algo que o preocupava. Ele já havia dito a Camilo que não gostava da ideia de escolher uma esposa numa prateleira, ele queria uma companheira. E pensou que havia encontrado em Elisabeta. Ele pensava que estaria ao lado dela em sua independência, mas estava enganado. A vida de Elisabeta não o incluía, ele não fazia parte dos sonhos dela.

Ela não prioriza um relacionamento, ela quer ser independente. Ele continuava falando ao volante enquanto as lágrimas não paravam de rolar.

Ele havia dito a Elisabeta que ela era inferior. E era verdade, em questões financeiras a família dela tinha pouco, ou quase nada, se a dele fosse o parâmetro. Ele era um marido esperado por qualquer família. No entanto, para ela, isso não fazia diferença. Foi cruel da parte dele usar seu dinheiro e educação, ele sabia, mas quem poderia culpa-lo? Ele foi rejeitado diante de todas as pessoas, ela o humilhou. E o que mais ele poderia fazer?

O que a cartilha dos Williamson dizia nestes casos? Que eles não se rebaixavam, que eram superiores e deveriam ser sempre queridos e admirados. E Elisabeta não dava valor a nada disso, não dava valor a ele e o que ele era.

Darcy praticamente invadiu a mansão de Julieta no Vale. Algo em seu peito não cabia, nada fazia sentido. E ele que havia programado um fim de noite de comemorações, todos os Beneditos festejando ao enlace do membro mais turrão da família. Eles morariam no Vale até ele concluir a ferrovia, depois talvez São Paulo, já que Elisabeta queria trabalhar. E depois Europa. No entanto, ela simplesmente disse não. O descartando da vida dela, dizendo que ele seria o último homem com quem se casaria.

Ele andou pelo quarto de um lado para outro e resolveu tomar um banho. Era tarde, mas ele precisa tentar dormir um pouco. Esquecer o dia, pensar no que iria fazer.

Não foi suficiente e ele não conseguiu relaxar. A banheira o incomodava, a água ficou fria rapidamente. Ele se levantou rápido, pegou a toalha e foi para a cama. Os lençóis o pinicavam e as lagrimas não paravam. Do lado de fora não era possível ver estrelas, o céu do Vale do Café estava como ele, sombrio, nebuloso, pronto a desabar.

Ele poderia dizer que se sentia humilhado, mas não era isso que maltratava o seu coração. Ela não o queria. Isso sim doía. Ela queria outras coisas. Enquanto ele só se via com ela ao seu lado, Elisabeta não o tinha como prioridade, ao contrário, ele era o último item de uma lista imaginária do que ela queria para a sua vida. O coração dele cheio de amor por ela, como nunca antes. E o coração dela, que ele imaginava compartilhar do mesmo sentimento, queria outras coisas.

Eles estavam vivendo em expectativas diferentes, e por isso ele não sabia se daria conta de estar no mesmo lugar que Elisabeta. Não por enquanto.

Pensando em como viver próximo a ela, já que Camilo e Jane se casariam, ele não conseguiu vislumbrar como seria possível que eles se vissem. De repetente ela se interessaria por outro homem, alguém em pé de igualdade com ela, que as vezes a estimulasse profissionalmente. E ele, Darcy, não conseguiria sequer imaginar a cena de vê-la num jantar com outro ao seu lado.

Não aguentando tamanha visão, Darcy pôs de pé e arrumou a mala. Escreveu um pequeno bilhete para Camilo dizendo que estava de partida para a Inglaterra.

Ele iria ao encontro de sua família.

Não era possível, no momento, viver no mesmo país que Elisabeta.

O Vale do Café amanheceu nublado. Do seu quarto Elisabeta observava as nuvens no céu, pensando nos momentos surreais que viveu ontem. Ela chorou no colo de suas irmãs, que a protegeram da ira de sua mãe.

Mesmo assim não foi capaz de dormir.

Ela jamais poderia imaginar que Darcy a pediria em casamento. Jamais. Eles estavam bem, namorando, ela estava apaixonada por ele. Mas parecia pouco para ele, no momento. Ele parecia afoito por prendê-la a um compromisso para o qual ela não se via pronta. Agora que a vida dela estava deslanchando, ela iria para São Paulo, trabalharia com Ludmila, tudo daria certo. Eles poderiam ficar juntos, namorarem, não era necessário casar. Ou era?

Ela sabia que era o esperado para os casais. Mas não com ela. Ele sabia disso.

Após a recusa ele havia dito que ela era inferior. Quase como se dissesse que se casar com ela era um fardo. E ela se enfureceu, isso não era algo honrado como ele dizia ser. Acusa-la de ser pobre e por isso não ter sequer o direito de dizer não a ele.

Tudo isso deveria ser motivo para fazer com que ela o odiasse, mas não era. Nada disso arrancava a sensação de dentro do peito dela, de que o que eles sentiam um pelo outro era maior do que qualquer diferença. De que ela poderia conquistar o mundo todo, mas se a presença reconfortante e protetora dele não estivesse ao seu lado, não seria avassalador. Ele fazia o coração dela bater mais forte, mais rápido, um calor diferente a invadia quando os lábios dele encostavam nos dela.

Desde que ela o conhecera, todos os seus sonhos o envolviam. Ela se via independente e com uma profissão reconhecida, mas com ele ao seu lado. Ele mostrando a ela seus lugares favoritos no mundo, ela descobrindo o que a fazia feliz, profissionalmente, e ele a apoiando. Mas agora ele havia mostrado a verdadeira face, um homem como tantos outros, que apenas quer uma mulher para exibir e manter sob sua vigilância. 

Elisa, está tudo bem? Ela ouviu a voz de Jane perguntando. Doce como sempre, sem ser invasiva, sem forçar a barra, apenas querendo saber como ela se sentia. Ela sequer havia fechado os olhos. Pensou em Darcy, no que disseram um ao outro, no que ambos pareciam entender e esperar de um relacionamento.

Vou sobreviver. Elisabeta respondeu com os olhos marejados, mas disposta a seguir em frente. Com ela era assim. E Darcy não poderia ser o amor da sua vida. Ele era o primeiro homem que cruzou a sua vida e ela se interessou, era isso. De agora para frente ela teria mais cuidado com quem se envolvesse, para evitar mal-entendidos.

Você o ama? Mesmo não querendo se casar com ele? Só mesmo Jane para entende-la tão completamente. Não era preciso que ela dissesse, sua irmã sabia.

Eu não sei. Ela disse na defensiva, assustada de admitir que sim, o amava tão ardentemente que nem as duras palavras que trocaram foram capazes de fazer ela odiá-lo. Eu....eu... a minha vida ainda tem tanta coisa para acontecer, não acho que amor seja prioridade. Foi o que ela conseguiu dizer a irmã.

E porque o amor não pode andar junto com suas prioridades? Jane falou, mas diante da cara de choro da irmã resolveu recuar. Elisabeta não era de dar o braço a torcer, então Jane resolveu tentar outra tática. -Sabe, Elisa, eu não acho que Darcy vai esquecê-la tão facilmente. Camilo disse que nunca viu o amigo tão envolvido.

Jane saiu do quarto e deixou Elisabeta olhando para o teto. Será que Jane tinha razão? Será que haveria outra chance para ela e Darcy?

Ela duvidava muito. Ele era um homem orgulhoso, que se achava sempre certo. Diante do que falaram não havia redenção para eles. Estava tudo perdido para sempre.

Foi uma história de amor que terminou de forma trágica. Mais uma para os poetas romantizarem, ela pensava enquanto chorava abraçada ao travesseiro.

— Três semanas depois -

Darcy observava o mar pela janela do seu quarto no navio. Seguia rumo a Inglaterra, embora sem a convicção da partida. Ele sequer havia mandado um recado a seu pai e Charlote, dizendo que estava a caminho.

As nuvens pretas deveriam amedronta-lo, mas parecia que elas apenas reforçavam o que havia dentro dele. Revolta, assombro, medo e desespero.

Além de todos esses sentimentos complexos, ele pensava nas palavras que diria a sua família. “Pai, eu deixei nossas ferrovias a cargo de um funcionário porque meu coração está partido”. Não, não era a melhor frase. Ele pensaria em algo para dizer ao pai e uma outra frase para dizer a irmã.

Mesmo sendo confidentes, falar de uma desilusão com Charlote era algo complicado. O embuste do Diogo Uirapuru havia manchado não apenas seu corpo, mas sua alma. Ele sentia que ela ainda o amava e pela primeira vez na vida não podia culpa-la.

Três semanas e não havia um dia sequer em que ele não pensasse em Elisabeta.

Ele estava arrependido de ter ido embora. Havia sido um impulso, orgulho ferido. Outro impulso depois de aceitar o conselho de Ema e pedir a Benedito em casamento.

Ele fez tudo errado, como sempre, quando o assunto era ela. Elisabeta fazia isso a ele, não conseguia pensar direito em nada que dissesse respeito a ela. Ele era adulto, um homem de negócios, mas se via reduzido a um menino medroso diante da mulher que ele queria para si. Deus, será que ele queria toma-la a força? Por isso cedeu a maluquice de pedi-la em casamento?

Quantas coisas estupidas ele poderia fazer em nome desse amor por Elisabeta?

No entanto, esta viagem às pressas era de longe a pior estupidez que ele havia feito por amor. Ele deveria ter ficado e refletido sobre as palavras de Elisabeta, e sobre as suas também. Talvez até conversarem e quem sabe, nos melhores pressentimentos, eles reatassem o relacionamento sem um compromisso de casamento imediato. Ele era capaz disso, namora-la sem pressão para se casarem, apenas ficarem lado a lado e sendo felizes enquanto ela se encontrava. Seria fácil para ele, que possuía a vida estabilizada. Ela é que estava em processo de descoberta.

Se fosse possível ele teria voltado do meio da viagem, mas não havia como. Mais alguns dias e ele desceria em Londres. Seu pai e sua irmã o encontrariam e estranhariam completamente a ideia de ele retornar ao Brasil no mesmo dia.

Darcy sentiu um solavanco. Chovia bastante lá fora agora. Ele já havia pego tempestades em navios, a Inglaterra era um país bastante chuvoso. Eles deveriam estar chegando.

Outro solavanco e ele não conseguiu se manter em pé. Achou melhor sentar-se na cama e esperar a turbulência passar.

O navio balançava completamente, ele ouviu passos agitados no corredor. Um membro da tripulação gritava para todos se protegerem, que as ondas estavam muito altas e o navio estava desgovernado.

Darcy mal podia acreditar. Será que tudo acabaria para ele ali no meio do oceano? Ele morreria e não poderia pedir perdão a Elisabeta, dizer que havia sido precipitado, mas que seu sentimento não havia mudado, ele ainda a amava.

Desesperado ele agarrou a cabeceira de sua cama e começou a redigir uma carta. Os balanços do navio o impediam de escrever com boa caligrafia, mas o importante estava ali naquele parágrafo que ele conseguiu escrever. Ele dizia a Elisabeta que a amava e todos os pensamentos naquele momento eram para ela, ele gostaria de voltar a vê-la, mas se não fosse possível, que ela soubesse que ele partiu desta vida amando-a totalmente.

Darcy pegou sua mala e deixou a carta embalada no fundo falso. Estaria protegida da água, pelo menos. Mas se iria chegar ao seu destino, era uma incógnita. Deus o ajudasse que sim.

Então ele olhou pela janela e viu.

Um tornado imenso em direção ao navio.

Darcy guardou a mala. Ele pensava nas possibilidades. Se houvesse um naufrágio o melhor seria estar no convés, talvez nadar, apanhar um bote. Ele iria para cima ver o que poderia ser feito, mas ao abrir a porta de sua cabine foi surpreendido por um armário que deslizava pelo corredor em alta velocidade. E tudo se apagou.


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