Oblivion escrita por Lucca


Capítulo 9
Tentando desfrutar a paz - parte I


Notas iniciais do capítulo

Enfim, nosso team favorito terá alguns momentos de paz num Hotel Fazenda.

Boa leitura.



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A viagem até o hotel fazenda foi curta, pouco mais de duas horas. Dividiram-se em vários carros. Jane, Kurt e as crianças viajaram juntos e bastou rodarem os primeiros quilômetros para que estivessem completamente à vontade entre si. Sentiam-se como uma família no sentido mais pleno e comum dessa união. Cantarolaram com Bethany algumas canções, fizeram brincadeiras, mas logo ela e Ben adormeceram. O casal continuou conversando sobre assuntos banais e rindo das coisas mais bobas.

De repente, Jane fez um breve silêncio olhando fixamente para o porta-luvas. Uma pergunta latejava entre suas preocupações desde que decidiram por essa viagem, entretanto ainda não tinha encontrada espaço ou vontade de colocá-la para o marido. Estava tudo tão perfeito, ela sentia-se tão feliz com aqueles momentos. Mas seu senso de dever e a realidade complexa que viviam a chamavam de volta do seu paraíso. Ela sugou o ar, enchendo os pulmões e tentou colocar tudo da forma mais leve possível:

— Kurt, Nas não questionou que você viajasse sem ela? – perguntou ciente que, além das questões sobre a segurança do grupo, havia também uma necessidade pessoal de saber como andava o relacionamento do marido com a “namorada”.

— Nas não é muito fã de longos passeios em família. É uma pessoa muito prática e se desligar do trabalho por dois dias para viver momentos bucólicos com duas crianças não está entre suas diversões preferidas. O atestado médico sobre a minha conjuntivite também ajudou a afastá-la. Contrair uma doença infecto contagiosa que a mantenha em casa por sete dias é um pesadelo para ela. – e deu um sorriso meio triste por perceber que, apesar de Nas ser uma mulher com a qual ele se identificava e a quem admirava, não tinha o perfil pra ser a mãe que as crianças precisavam. – Eu sabia disso quando propus a viagem. Se ela viesse, só eu e as crianças poderíamos estar aqui. E eu queria que você... que todos vocês pudessem relaxar.

Jane sorriu encabulada e feliz. Esse sorriso se fixou no seu rosto ao ouvi-lo dizer tudo aquilo e parecia impossível deixar de fazê-lo. Isso lhe deu coragem para olhar pra ele:

— Que bom que deu certo. Nem chegamos e já está sendo tão bom.

Dividindo o olhar entre a estrada e rosto dela, Kurt disse:

— Está sendo realmente muito bom. Olha só, você está sorrindo desde que deixamos NYC.

Jane tentou morder o lábio inferior um pouco constrangida, mas ainda assim o sorriso não deixava seu rosto.

— É muito bom estar assim com vocês, como se fossemos uma família comum. E você também está sorrindo.- disse em resposta à ele.

— Pois é, estou. Acho que isso é bom, não é? A propósito, você fica linda sorrindo.

— Obrigada. Eu mal sabia o que era sorrir antes de você entrar na minha vida, sabia?

Ele fixou o olhar por um breve momento nela. Sentia que ela também trouxera o sorriso de forma mais intensa para vida dele. Mas não sabia se era verdade, não se lembrava, apenas sentia. Então achou melhor se calar. Voltou sua atenção para a estrada e mudou de assunto.

 Pouco depois, chegaram. Tasha se aproximou irritada:

— Na volta, vou com a Patterson. Reade e Roman vieram o caminho todo trocando discretas farpas. Os dois não se entendem sequer pra cantar uma canção para Miguel.

Os dois ameaçaram se defender e iniciar uma nova disputa, mas os olhares reprovadores de Jane para Roman e de Kurt para Reade bastaram para os silenciarem.

— O importante é que estamos aqui. Olhem tudo que temos a nossa volta! – Patterson disse com Sophia nos braços tentando acalmar a todos e retomar o real motivo que os trouxe ali

A fazenda tinha grandes áreas planas, perfeitas para as crianças correrem pelo gramado. Montanhas circundavam o lugar, passando a sensação de que estavam protegidos do mundo ali. Na recepção informaram que ofereciam passeios à cavalo, trilhas e que havia um riacho não muito longe dali.

Kurt retirou as chaves dos chalés e informou a todos:

— Reservei dois chalés. Um é bem grande e espaçoso. Tem três quartos. O outro é bem pequeno. Vou ficar lá com as crianças. – e, virando para Jane, disse meio tímido e inseguro – Se você quiser ficar conosco, acho que seria bom ...

— Eu quero! – ela disse rápida e já sorrindo antes que ele terminasse.

— Será bom para as crianças. – Kurt continuou, agora tentando fazer a decisão parecer mais adequada a um homem responsável e diretor do FBI.

Os amigos se entreolharam disfarçando os sorrisos e trataram de ir pegando as crianças e bagagens para se dirigirem aos chalés.

Kurt ficou paralisado por um tempo, olhando pra Jane. Pela primeira vez, um flashback o pegou de assalto. O mesmo diálogo. Ele sugerindo que ela ficasse com ele na mesma casa. Jane sorrindo e dizendo que queria ficar. O cabelo dela estava longo, mas o sorriso e a forma de olhar para ele era a mesma.

— Kurt, está tudo bem?

A voz dela o trouxe de volta. Ele não saberia dizer quando aquela cena que veio a sua memória ocorreu. Ainda abalado, achou melhor não contar a ela:

— Sim, só me perdi nos meus pensamentos. Vamos.

Em poucos minutos se instalaram. O chalé todo em madeira rústica era realmente bem pequeno, mas pareceu tão aconchegante e perfeito para eles. Não havia cozinha. Teriam que se reunir aos amigos para as refeições. A sala tinha uma pequena lareira, um sofá de dois lugares e uma poltrona. O tapete peludo no chão completava o ambiente. Os dois quartos era ainda menores. No primeiro, uma cama de casal com uma mesinha de cabeceira e uma cômoda preenchiam quase todo o espaço. No segundo, só uma cama de solteiro e uma cômoda. As janelas estavam voltadas para a parte de baixo da fazenda e permitiam visualizar o riacho ao longe. Nenhum dos dois ousou tocar no assunto sobre quem ocuparia cada quarto, nem confessariam que o que realmente queriam era deixar as crianças na cama de casal e compartilharem juntos todo o resto do chalé.

Jane pegou a bolsa com lanches que preparou em casa para servir algo para as crianças. Kurt colocou as roupas das malas nas gavetas. No vai e vem entre os cômodos pequenos, acabaram se esbarrando algumas vezes. Num desses esbarrões, a voz de Tasha soou na memória dele:

Desde que cheguei você está sempre pedindo para ela se afastar. E Clem está sempre lá com a mão estendida pedindo pra ela se aproximar. E Jane está sempre não atendendo a nenhum de vocês dois, pelo menos por enquanto. Que sorte a sua!”

Tudo parecia tão no lugar quando estavam juntos. Ficou observando Jane que se sentou no tapete da sala com o filho nos braços e começou a contar para o bebê e Bethany tudo que fariam lá fora. O sorriso se formou no seu rosto. Tasha devia estar certa, o melhor seria não arriscar a sorte. Respirou e disse:

— Jane, estive pensando. Se você quiser sair e dar uma volta hoje à noite...

Imediatamente, ela olhou para ele. Seus olhos estavam brilhando e o sorriso no seu rosto mais radiante que nunca.

— Eu adoraria, Kurt.

Ele sorriu de volta pra ela. Em seguida, deixaram o chalé em busca das aventuras bucólicas do lugar.

Resolveram começar pelo passeio a cavalo. Kurt foi com Bethany e Jane com Ben. Patterson achou melhor guiar Sophia num pônei, não tinha muita experiência na equitação e achou que poderia não garantir a segurança da filha.

Reade montou rapidamente e chamou Miguel que estava nos braços de Tasha e se jogou pra ele, louco de vontade de passear a cavalo. A latina entregou o filho e trocou um sorriso com Reade. Roman, que estava um pouco atrás do casal, não gostou nada daquilo e se retirou.

Quando retornaram, Jane sentiu falta do irmão e Tasha contou o que aconteceu. Isso a deixou preocupada. Assim que retornaram para os chalés para prepararem o almoço, Jane deixou Ben e Bethany com as amigas e saiu em busca de Roman.

Encontrou o irmão coberto de suor. A camiseta de malha de mangas longas preta estava colada ao seu corpo, mostrando seu porte musculoso. Com um machado, Roman descontava na lenha todo o seu descontentamento. Jane se aproximou pela lateral para que o irmão percebesse sua presença muito tempo antes de alcançá-lo. Não era bom surpreendê-lo, muito menos quando estava assim nervoso.

— Olá. Senti sua falta assim que chegamos. Quer falar sobre o que aconteceu?

Ele permaneceu em silêncio. Pegou mais um pedaço grande de madeira e o ajeitou. Em seguida, pegou o machado e deferiu o primeiro golpe.

— Numa família, desentendimentos acontecem. É preciso ter paciência e dialogar sobre o que te incomoda. Se você...

— Minha família é só você, Ben, Sophia e Miguel! – Ele disse irado dando um novo golpe com o machado que partiu violentamente a madeira.

— Sim. Nós somos sua família de sangue. Mas agora temos também uma família muito maior formada por todos que estão aqui. Durante muito tempo fomos só nós dois e a regra era só sobreviver. Isso mudou, Roman. E ser feliz também é um aprendizado que exige tentar compreender as razões que movem aqueles que nos rodeiam.

— Ele me olha como se eu fosse uma aberração, Jane! E tenta afastar Miguel de mim! – disse começando a andar de um lado para o outro.

— Reade conviveu pouco com você. Ainda não te conhece. Com o tempo, verá que você é confiável...

— Eu não tenho que provar nada pra ele! Miguel é meu filho e pronto! Não sei porque insisto em acreditar que tenho alguma importância pra você.

— É claro que me importo com você e com Miguel. Amo vocês dois! Mas formamos uma família fora do convencional e isso exige fazer concessões.

— Do tipo flertar com seu marido num hotel fazenda escondido do mundo enquanto na realidade ele está com a Nas? Esses momentos de contos de fadas podem servir pra você, não pra mim.

Jane respirou fundo. Havia alguma verdade no que Roman dizia, mas isso não a desanimaria:

— No momento, Roman, isso é o melhor que posso ter. Após o antídoto tudo vai voltar a ser como era ou encontrará um novo formato. Mas eu quero ser feliz por hoje, entende? – se aproximando, colocou a mão no ombro do irmão – Vai dar tudo certo. Já temos lenha o bastante. Venha, vamos descansar. Você precisa de um banho. Ficar aqui isolado não vai ajudar.

Enquanto isso, dentro do chalé, Reade e Kurt preparavam a comida.

— Patterson, por favor, consiga esse antídoto o quanto antes. Eu preciso me lembrar quando foi que Kurt Weller, o mais competente e ranzinza diretor do FBI se converteu no nosso cozinheiro assessorado pelo Reade que está sem terno. – Zapata fez questão de demonstrar o quanto aquela situação destoava de suas lembranças enquanto pegava uma maçã na geladeira.

— Quanta graça, Zapata! Mas não fomos nós dois que resolvemos dar uma de herói se infiltrando na HCI Global. – Reade retrucou.

A latina respondeu com uma careta.

— Eu nem me lembro dessa parte, bobão. – e deu um leve empurrão no ombro de Reade. – Caprichem aí! Amanhã, eu e Patterson cozinharemos. Aposto que faremos algo bem melhor que vocês. Ainda bem que depois voltamos pra casa. Eu não queria provar uma comida preparada por Roman e Jane. – e mordeu a maçã saindo da cozinha.

Kurt estava rindo enquanto descascava os legumes. A disputa entre Reade e Tasha era divertida, imaginar Jane e Roman cozinhando era mais divertido ainda.

— Eu sempre gostei de cozinhar. Só não éramos próximos o bastante para convidá-los. – Kurt se justificou.

— Pois é, você afastava todo mundo. Essa é só uma das coisas que Jane mudou em você. – Reade disse rindo e balançou a cabeça enquanto espalhava o tempero na carne.

— Você acha que eu mudei tanto assim depois de Jane?

— Bem, cara, você era meu ídolo. O melhor agente do FBI, com moral inabalável. Ela chegou e logo tudo que eu via era você apresentando uma desculpa para inocentá-la por cada um dos crimes que cometeu. – e salpicou mais temperos na carne - Lá se foi meu herói. E quando você prendeu a Jane e a CIA a levou, imaginei que teríamos o bom e velho Kurt Weller de volta. Mas não foi isso que aconteceu. Você ficou insuportável por aqueles três meses. Falava conosco só os assuntos estritamente necessários no trabalho. Tasha dizia que estava arrependido e acho que estava mesmo.

Kurt parou e olhou diretamente para o amigo:

— Você está dizendo que passei a agir de forma moralmente questionável para encobrir erros da Jane? Mas ela estava do lado certo, não estava? Quer dizer, estava conosco. Somos os mocinhos da história.

— Hmmm Olha, eu não sei como te explicar isso. Claro que você apresentava ótimas justificativas para o que estava fazendo e, no final das contas, tudo deu certo. Paramos a Sandstorm e depois a HCI Global. E aqui estamos nós, mergulhados de problemas até o pescoço novamente, agindo contra as agências de segurança e encontrando justificativas pra isso. Então, Weller, o que quero dizer é que tudo é muito complicado.

— Reade, eles nos ziparam e estão manipulando as agências de segurança em benefício próprio! Já temos provas que estão fazendo experimentos biotecnológicos questionáveis. Não estamos errados. Só fomos obrigados a jogar com novas regras. Isso não é deixar de lado a ética e a moral. É justamente buscá-las numa situação completamente fora do convencional.

— Mas o correto era procurarmos as agências de segurança de cara limpa e nossas acusações serem ouvidas e investigadas. É um direito nosso como cidadãos desse país.

— Você acha realmente que teríamos qualquer outro destino além de acabarmos presos ou mortos?

Reade fez um breve silêncio e, em seguida, seus olhos acompanharam sua voz:

— Acho que não... é por isso que estou aqui com vocês.

Weller assentiu com a cabeça e voltou sua atenção para a comida e para outros assuntos.

Comida pronta. Mesa posta. Roman entrou na cozinha tomado banho e calado. Foi surpreendido com Miguel sendo atirado em seus braços:

— Cuidei até agora. Hora de você assumir. – Tasha disse já entregando um pequeno pote com a comida do bebê que tentava se esgueirar do colo de volta ao chão.

Meio encabulado, Roman disse:

— Acho que não sei alimentá-lo. Nunca fiz isso antes.

A latina colocou a mão na cintura:

— Não é difícil: você pega um pouco de comida, coloca na boca dele e espera até que mastigue e engula antes de oferecer a próxima. Patterson está alimentando a Sophia, sente-se com ela no chão da sala e faça a mesma coisa. Eu estou faminta.

Roman achou melhor não tentar argumentar. Queria estar com o filho e essa era sua chance. Porém, mal deu as costas para Tasha e ela bateu em suas costas, chamando-o de volta.

— Ei, faça melhor que ela. Comida na boca. Não deixe ele passar essa papa por tudo. Você consegue.

Roman, então, olhou com mais atenção para Patterson e percebeu que a loura tinha comida da filha em seus cabelos e Sophia também estava toda lambuzada. Respirou fundo e foi em direção à sala. Ele precisava mostrar a todos que era capaz de ser um bom pai.  

Sentou-se e tentou entreter o filho com brincadeiras enquanto o alimentava. Na terceira colherada sem sujeira, já se sentia um verdadeiro herói. Sophia se aproximou e começou a brincar com eles. Após a colherada de Miguel, abriu a boca exigindo a sua. E assim foi alimentando as duas crianças.

Patterson observou atentamente. Parecia realmente divertido comer daquele jeito. Até ela passou algum tempo entretida com o jeito dele falar e brincar como os pequenos.

— Se você quiser ir se limpar, eu dou conta dos dois. – Roman disse gesticulando mostrando o cabelo de Patterson sujo de papa.

— Eu vou aceitar. Depois eu volto para mais uma aula.

Roman sorriu orgulhoso. Jane observava de longe enquanto tentava ninar Ben que comeu pouco. Dois de seus dentinhos estavam rasgando e a comida devia ter provocado dor na gengiva. Kurt foi até o chalé deles buscar a mamadeira.

Nesse momento, Clem chegou. Até então, estava com Rich e Boston ajudando com Kathy, mas como ela estava se comportando muito melhor do que o esperado, resolveu se juntar ao resto do team no hotel fazenda.

Como Ben não se acalmava, Jane resolveu ir até a varanda com o filho. Clem a seguiu.

— Você precisa de ajuda?

— Não obrigada. São os dentes. Ele está com fome e não consegue comer. Kurt foi buscar a mamadeira.

— Ok. – mas continuou ali parado, olhando pra ela. – Jane, no caminho para cá, parei no vilarejo para abastecer. Disseram que tem um barzinho com música ao vivo ali e karaokê. Achei que seria divertido para relembrarmos os velhos tempos.

Jane respirou fundo e continuou embalando o filho sem responder. Estava cansada desse tipo de atitude de Clem.

Kurt chegou pouco antes do final da conversa. Parou antes de entrar na varanda ao ouvir a voz de Clem. Mesmo que não fosse sua intenção, ouviu a proposta. Não aguardou a resposta, sentia-se mal fazendo aquilo.

— Olá – disse seco e foi até Jane levando mamadeira.

— Ainda bem que você voltou, ele está aflito. Pronto, meu amor, papai já resolveu o problema. – e se sentou na cadeira de madeira para dar a mamadeira ao filho.

— Com licença. – Clem disse se afastando e voltando para o interior da casa.

Kurt ficou incomodado. Será que Jane preferiria ir com Clem até o bar? Andou até a porta. Pensou em entrar e cuidar da filha. A fresta entreaberta mostrou que Bethany tinha se juntado às outras criança no chão da sala que estavam sob os cuidados de Roman e Patterson. Tasha irritava Reade com algum assunto sentados à mesa.

Eu vi o agente de moral inabalável desmoronar.” – a voz de Reade soou na cabeça dele. O amigo não tinha sido zipado. Será que todo o grupo pensava o mesmo sobre a forma como ele mudou após conhecer Jane? Será que estar com ela era mergulhar num caminho que o levaria a uma série de escolhas erradas?

— Kurt, está tudo bem?

A voz de Jane chegou aos seus ouvidos com uma suavidade tentadora de voltar à paz que sentia ao lado dela desconsiderando todo o resto. E esse exatamente o problema: esse poder estranho que ela exercia sobre ele.

— Sim. Tudo bem. – disse sem se aproximar muito dela.

Trocaram palavras triviais e Bethany veio se juntar a eles, ganhando o colo do pai. Ben acabou adormecendo. Então, resolveram descansar.

À tarde, fizeram trilhas até o riacho onde existia um campo de areia e ali brincaram com as crianças. Kurt tentou permanecer mais distante, mas Bethany o puxava para perto. Jane percebeu, mas além de estar muito ocupada dando atenção aos filhos, precisava prestar atenção à Roman. Temia que o irmão tivesse algum descontrole e isso afastasse todos dele. Felizmente, no decorrer das horas, os atritos com Reade pareciam ter diminuído.

Patterson ficou observando a paisagem idílica e a sensação boa que isso lhe passava. Então, deixou suas reflexões escaparem em voz alta:

— Seria tão bom se a vida fosse só isso... Sem conspirações terroristas e sem ZIP.

Ao redor, todos soltaram interjeições concordando. Kurt se aproximou da loura e levou a mão as suas costas em solidariedade.

Roman foi até Jane, cruzou os braços e a olhou pelo canto dos olhos quando disse:

— Traduzindo: sem os problemas que nós trouxemos para suas vidas e, consequentemente, sem a gente também.

— Não acho que foi isso que eles quiseram dizer... – Jane tentou tranquilizá-lo, mas muitas vezes, sentia-se culpada por tudo.

— Você sempre foi ótima em trancar o lado ruim bem lá no fundo e seguir como se nossa vida fosse um jardim florido.

— Sofremos muito, Roman. E eu ainda me sinto mal por muita coisa. Mas não podemos desistir da nossa felicidade. E, pra isso, é preciso aprender a deixar alguns detalhes de lado.

Jane se esforçou para parecer inabalada diante do que Patterson disse, mas também doeu nela. Especialmente porque sabia que os amigos não se lembravam de tudo que passaram juntos e da extensa e dolorida jornada que ela traçou para conquistar o perdão e a confiança deles.  

Voltaram para os chalés e fizeram o jantar ao ar livre, na varanda. Depois disso, Jane e Kurt deram banho nas crianças e os colocaram na cama. Então, Jane tomou banho e foi para o quarto de solteiro para se arrumar enquanto Kurt usava o banheiro. O dia teve alguns momentos ótimos e outros difíceis, mas fechariam com chave de ouro, com um momento só deles. Seria a oportunidade perfeita para conversarem sobre o que estava incomodando Kurt durante a tarde e as coisas entrariam definitivamente nos trilhos.

Embaixo do chuveiro, Kurt também refletia sobre tudo que aquele dia trouxe. Era inegável o que sentia por Jane, assim como esse sentimento o levava a ver o mundo e a vida por novos prismas. Quando ele pensava em tudo que sua mãe, Madeline, estava fazendo, tudo que queria era proteger as pessoas, especialmente seus filhos. As palavras de Reade ressoavam em sua cabeça. O convite de Clem à Jane também. Talvez tudo isso fosse a chance que a vida estava lhe dando pra corrigir seus erros. Talvez devesse se proteger de Jane também.

Saiu do banho, se vestiu e foi até a sala onde encontrou Jane usando uma calça jeans e uma camisa de mangas longas de seda branca. Ela tinha feito uma maquiagem leve. A combinação era tão simples, mas o resultado tão lindo. E o sorriso no rosto dela, então?

Mas o sorriso dela logo se desfez ao vê-lo usando o pijama.

— Pensei que fôssemos sair... – disse procurando não parecer intimidadora com as palavras.

— Eu pensei melhor. Não me sinto seguro em deixar as crianças...

Ela imediatamente assentiu com a cabeça. Compreendia o que ele sentia. Por mais que desejasse tem um momento à sós com ele, qualquer lugar servia, não precisariam sair. Ali no chalé já era perfeito.

— Tudo bem. Estarmos aqui já é muito bom. Posso pegar uma bebida pra gente...

— Não. – ele disse rápido sem olhar pra ela. – Estou cansado e vou dormir com as crianças. Você está disposta e arrumada. Saia e se divirta. Tenho certeza que seu amigo Clem ficará feliz em te acompanhar.

Ouvir isso provocou uma ebulição de tantos sentimentos dentro dela. Tristeza e decepção provocaram a reação que foi treinada para ter a vida toda: seu rosto se fechou numa expressão sombria. E disse da forma mais fria que pode

— Se é assim que você quer... Boa noite, Kurt.

E deu as costas pra ele, saindo do chalé e batendo a porta.


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Notas finais do capítulo

Eu não sei como esse capítulo ficou tão grande. A segunda parte precisa de acertos e finalização. Farei o máximo para postar logo.
Precisei levá-los para o fundo do poço, porque a partir dali só resta escalar de volta à tona. O sofrimento está acabando. Não desistam de mim ou dessa história.
Por favor, compartilhem comigo suas impressão sobre essa história deixando um comentário.



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