Oblivion escrita por Lucca


Capítulo 19
Detalhes...


Notas iniciais do capítulo

Pedir perdão por tantas semanas sem atualização me parece hipócrita já que não tenho argumentos que justifiquem minha ausência além do rotineiro: atarefada e sem inspiração...
Mas vou levar essa história até o final custe o que custar.
Espremi tudo que podia de mim mesma tentando dar continuidade porque julho é aniversário de uma pessoa muito especial que sempre me apoiou nessa vida de fanfiqueira. Então, Bruna Larissa, esse capítulo é todinho seu. Muito obrigada por tudo, amiga, cada palavra de incentivo, cada comentário após uma atualização. Você é um dos presentes que Blindspot trouxe para minha vida.

Para aqueles que acompanham essa história, como já sabem, o pior já passou. Faltava apenas acertar alguns detalhes pra tudo ficar perfeito. E essas pessoas merecem, não é mesmo.

Vamos lá?

Boa leitura!



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Uma semana depois

                Ainda eram 6h28 da manhã quando Weller conseguiu definir os números no relógio de cabeceira após ter estendido a mão disposto a puxar Jane para mais perto e ser surpreendido pelo vazio ao seu lado. Frequentemente ficavam na cama até as 7 horas agora. Levantando-se nesse horário, tinham tempo suficiente para preparar os pequenos pra escola. Sem a rotina pesada do FBI, isso era possível.

E tudo estava em ordem, os preparativos para os acontecimentos de hoje e de amanhã. Foram cautelosos em antecipar tudo. Mas é claro que Jane já estava acordada mesmo assim.

Ele deixou as pernas escorregarem para fora da cama e se sentou, se espreguiçando e bocejando.

“Será que ela dormiu pelo menos um pouco?” se questionou preocupado. Banheiro. Acordar embaixo do chuveiro era a melhor opção para quando seu corpo insiste no sono como agora.

Seu banho foi rápido.  Assim como não tardou na escolha da roupa. A velocidade com que desceu as escadas em busca da esposa também estava bem mais acelerada que o normal.

Encontrou Jane na cozinha, já vestida, concentrada nos ovos com bacon que preparava no fogão. A mamadeira de Ben já esperava pronta sobre a mesa, assim como o leite com cereal de Bethany. No final do balcão, o lanche das crianças já aguardava embalado. Ela resmungou algo insatisfeita e balançou a frigideira com uma certa agressividade enquanto mordia o lábio superior e franzia a testa.

Kurt observou cada detalhe sentindo seu coração se rasgar por ela. Sabia o que a incomodava. Reconhecia o quanto tudo foi injusto com ela até aqui. Mas também sabia que Jane superaria mais esse momento de forma bem peculiar. Talvez pouco depois do almoço tudo já navegassem por águas bem mais calmas. Até lá, ou melhor, até as 9 horas da manhã quando alcançariam o ponto de ebulição e ele teria que se afastar, faria como sempre fez: deixa-la ter a certeza de que não estava sozinha.

— Bom dia! – disse com tom suave e acolhedor. – Tudo em ordem por aqui?

— Bom dia! – ela respondeu rápido, olhos ainda fixos nos ovos que ajeitava no prato. – Já são 7 horas?! Acho que me esqueci do sal... – lamentou e finalmente olhou para ele apertando os lábios.

— Estamos bem perto das 7 horas agora. – ele disse se aproximando e a puxando pela cintura – Você dormiu pelo menos um pouco essa noite? – questionou mantendo a presa em seu olhar.

O coração de Jane se aqueceu, encontrando alguma paz pela primeira vez desde que despertara aquela manhã. Aquele olhar e a preocupação de Kurt a faziam levitar sobre as tempestuosas ondas de insegurança que varriam sua alma. Ela estendeu os braços ao redor do pescoço do marido e deixou seus lábios se encontrarem no selinho matinal que trocavam todos os dias:

— Eu dormi. Juro! Acordei às 5 horas e foi inútil tentar ficar na cama. Precisava me ocupar.

— Ovos com bacon pra mim, cereal com leite para Bethany, mamadeira para o Ben. E o que você comeu?

Jane revirou os olhos fingindo insatisfação, mas o sorriso no canto dos seus lábios entregava o quanto a preocupação do marido era bem vinda. Apontou para dentro da pia onde o resto de uma maçã.

— Comi uma maçã. – e puxou o guardanapo que cobria algo sobre a pia mostrando uma tigela com frutas picadas. – Vou bater uma vitamina de frutas. Só estava esperando você acordarem por causa do barulho do liquidificador. Pensei que talvez você pudesse fazer um daqueles seus famosos sanduíches de geleia com manteiga de amendoim também. Seus filhos estão me fazendo comer além da conta. Nem a minha tensão consegue dispersar essa fome.

— São meus garotos! Todo dia, depois que você adormece, eu sussurro bem próximo da sua barriga: “Meninas, me ajudem a cuidar dela. Façam a mamãe ter fome. Ela precisa comer.”

Jane abriu um largo sorriso, numa felicidade quase infantil.

— Meus conspiradores favoritos!

— Sempre! – Kurt respondeu piscando pra ela.

Mas a felicidade no rosto dela logo se dissipou e ela puxou o ar tentando se acalmar.

— Janie... – ele se compadeceu e a puxou para um abraço que ela recebeu prontamente se jogando contra o peito dele. – Vai ficar tudo bem, você vai ver.

— Eu sei que vai... – ela disse relutante. – Já resolvemos a parte mais difícil, não foi?

— Exatamente. Há dias tínhamos problemas bem maiores. Você vai dar conta, tenho certeza. E eu vou estar aqui por você, sempre. – e estreitou o abraço ao redor dela.

Ficaram por algum tempo assim até que seus celulares dispararam o alarme ao mesmo tempo. Era hora de acordar e arrumar as crianças. Quando se separaram, Kurt foi direto aos ovos com bacon preparados por Jane.

— Hmmm, melhor sem sal do que salgado demais. – disse após prová-los arqueando as sobrancelhas enquanto aguardava a reação dela.

— Aff. Eu sou péssima cozinhando...

— Você não é péssima, só não é tão boa quanto eu! – Kurt disse orgulhoso.

Casa de Patterson...

Christofer andava de um lado para o outro, impaciente:

— Pra mim isso é algum tipo de moda natureba. Você tem certeza que confia nessa mulher.

— Absoluta, ok? Tenho uma confiança que ultrapassa 99,7% em todas as orientações que ela dá. – a loura respondeu quase sussurrando, mas com firmeza enquanto embalava a filha resmungando em seu ombro.

— Kiddo, suas decisões a respeito de nossa Sophia sempre foram muito sensatas e confiamos em você. Mas é tão difícil vê-la assim. – Bill desabafou.

— Filha, ela sequer quis a mamadeira... – a mãe de Patterson argumentou.

— Não adianta insistirem! Sophia não vai para um hospital. Isso será pior pra ela. Vai ficar assustada lá.  A febre é baixa. Viroses podem persistir por até três dias. Quanto mais medicarmos, menos imunidade ela cria. Vai passar. Foi o que a médica disse ontem. Só temos que ter paciência.

— Dodi...dodi... – Sophia murmurou deitada no ombro da mãe.

— Ela pede por isso toda hora. O que é? Um brinquedo? Um cão? – Chris perguntou aflito.

Patterson respirou fundo se sentindo acuada. Mas o desejo da filha doente era mais importante pra ela do que qualquer outra coisa.

— Dodi é seu irmão. É assim que ela chama Roman. Precisamos dele aqui.

Meia hora depois, Roman chegou preocupado. Mal passou pela porta e Sophia já estendeu os bracinhos do colo da mãe. Ele pegou a pequena com cuidado, a abraçou e acariciou suas costinhas.

— Então, meu raio de sol, está tendo um dia difícil, não é? Mas vai ficar tudo bem. Isso logo vai passar.

E a garotinha concordou com a cabecinha se aconchegando nos seus braços. Encostando o rosto contra o dela, constatou que a temperatura ainda estava alta.

— Ela está bem quentinha. Acho melhor darmos um banho. – disse olhando pra Patterson.

— Dei um banho no meio da madrugada. Ai, mas ela chorou tanto...

— Eu resolvo isso. – disse com segurança. – Sophia, vamos brincar de sereia e pirata numa aventura no mar! Quando a sereia volta para a água e recebe sua calda de volta, não é confortável, a água parece gelada, mas logo ela se acostuma e volta a nadar. Precisamos aproveitar o navio pirata que Miguel esqueceu aqui antes que ele retorne para buscá-lo.

— Xim... – a garotinha concordou ainda desanimada.

Assim fizeram. Roman e Patterson disseram muitas frases de incentivo sobre a transformação em sereia antes de colocá-la na água morna. Sophia foi corajosa o tempo todo e logo se acostumou com a água. Brincaram de mil aventuras naquele navio pirata. Roman disse que o pirata tinha uma enorme cicatriz no rosto. Isso levou Sophia a fazer um beicinho compadecida por ele. Patterson embarcou na brincadeira se esforçando em manter seu lado racional fora daquilo. Os três se divertiram e terminaram completamente molhados.

Quando retiraram a pequena da banheira, a febre tinha passado. Ela mamou e ainda pediu uvas. Pelo resto do dia, a febre não voltou mais. Ao final da tarde, quando percebeu que Roman partiria, Sophia ficou inconformada.

— Não, não, não. Fica, Dodi. Fica.

Negar aquele pedido com certeza quebraria o coração de Roman em mil pedaços. Mas, como sempre, a vida era dura com ele.

Mas, para sua surpresa, ao observar os adultos ao seu redor, todos imploravam com os olhos por seu sim. Todos queriam que ele ficasse e assentiam com a cabeça incentivando-o a responder. E ele ficou, feliz não só por se sentir acolhido por aquela família, mas também por poder cuidar um pouco mais de Sophia.

Na hora de ir para a cama, Sophia deu boa noite aos avós e ao pai com um beijo acompanhado de um abraço apertado. Então, pegou na mão de Patterson e também na mão de Roman. Inseguro, ele olhou para o irmão. Christofer se aproximou, deu um leve tapa no ombro do irmão e disse:

— Cuide bem delas. – e sorriu demonstrando que compreendia o que estava acontecendo e não tinha nada contra o romance do irmão com a mãe de sua filha. Inclusive, ele se sentia bem melhor em saber que Patterson encontrou alguém que a amava de verdade. Sua admiração por ela era genuína, mas fingiu sentimentos para enganá-la seguindo as orientações de Madeline.

O casal subiu as escadas mais seguros a cada degrau. As mãozinhas de Sophia os guiando para o quarto principal. Foi uma jornada bizarra, mas se tornaram uma família e ninguém poderia tirar isso deles.

Apartamento de Reade

O espaço era pequeno. Sempre foi. Um apartamento de um homem solteiro. Mas agora, com os brinquedos espalhados por toda parte, parecia ainda menor. Era impossível dar dois passos sem ter que saltar por cima de algo colorido no chão.

Há alguns anos atrás, antes de Jane, antes de tudo, pensar tamanha bagunça no apartamento de Reade seria inimaginável para Tasha. O “senhor certinho” gostava de tudo em ordem, organização a nível hard, um tipo de padrão de cobrança que ele tinha consigo mesmo: sempre seguir as regras.

Ela o compreendia. Sua origem latina a ajudava nisso. O racismo estrutural que permeia a sociedade exige mais daqueles que são suas vítimas. Até a mais banal falha humana será usada contra você no tribunal do julgamento social. Brancos podem falhar e terão cometido apenas um erro superficial. Mas quando um negro ou uma mulher latina falham, carregam o peso de ter seu erro estendido à toda etnia: “Tinha que ser negro! Tinha que ler latina!” Não era fácil. E nem basta ser bom no que faz. Você tem que ser melhor ainda.

Cada um lida com isso de forma singular. Reade se tornou muito exigente consigo mesmo e com os outros. Impecável nas roupas e na conduta.

Então Jane saiu daquela bolsa na Times Square. A branquela tatuada que reviraria suas vidas de cabeça pra baixo. E claro que Jane tinha um irmão, Roman, ainda mais complicado que ela. Muito mais complicado. Mas arrastados pelo furação, sua vidas pessoais giraram e mudaram. Deixou de ser que apenas um caso para eles.

Decepção, angústia, medo, determinação, confiança. Foram tantos sentimentos e tantas experiências que ferveram nesse caldo. Descobriram que uma pessoa pode mudar. Viveram e aprenderam da melhor e da pior forma possível que pessoas fazem coisas certas pelos motivos errados e coisas erradas pelos motivos certos.

E aqui estão eles: um apartamento completamente bagunçado e Reade só sabe sorrir enquanto rola no chão com Miguel.

As lágrimas subiram rápido demais. Não deu pra contê-las. Tasha preciso se virar para secá-las. Tudo parecia tão perfeito apesar de tão fora dos padrões. Ela não duvidava do amor de Reade por Miguel. Tinha certeza que ele daria a vida pelo menino se fosse preciso.

— Vem, Mamã, vem! – a voz de Miguel a tirou de suas reflexões.

Mi amor que quieres? – ela perguntou em espanhol.

— Bincá! – o menino disse animado.

— Você está sendo oficialmente convidada a se juntar a nós aqui no chão.

Impossível negar isso aos seus meninos. Tasha se juntou a eles e brincaram, deixando a inocência da infância retornar após tanto tempo de sofrimento. Os blocos de madeira se organizaram numa linda cidade habitada por porco, ets e dinossauros. Eles riram e se encantaram.

Exausto, Miguel adormeceu antes mesmo de terminar a mamadeira. Reade se levantou devagar e caminhou até a cama, colocando o menino ali com todo cuidado possível. Tasha observava tentando sem sucesso conter as batidas desenfreadas do seu coração.

Pouco depois ele voltou e se sentou no chão ao lado dela.

— Sabe, Tash, precisamos brincar mais. – Reade disse baixinho, tentando introduzir o assunto que queria.

— Mais? Vocês brincaram o dia todo! – ela respondeu também sussurrando e já puxando o namorado para um beijo que durou menos que ela queria.

— Precisamos de terra – ele voltou a insistir enquanto dava selinhos nela -  de um balanço – outro selinho - e uma casa na árvore.

— Ok. – ela disse rindo. – assim que Miguel acordar, levo vocês dois ao parque.

Reade ficou sério, olhando direto nos olhos dela, acariciou seu rosto com as costas dos dedos da mão e continuou:

— Não quero um parque, Tash. Quero uma casa. A nossa cosa. Eu, você,  Miguel e todas as brincadeiras que pudermos imaginar. Posso pagar por isso agora.

O coração de Tasha acelerou. Havia uma parte significativa dela que estava explodindo de felicidade. Mas também havia um lado assustado, receando a forma como tudo acontecia. Foi esse lado que ganhou voz:

— Tenho medo de estarmos indo rápido demais...

— Já perdemos tanto tempo, Tash... Não quero viver mais nenhum minuto sem isso. Preciso de você comigo. Preciso ter um arsenal de lembranças guardadas no meu coração caso alguém resolva zipar um de nós de novo.

— Temos o antídoto. Patterson sempre tem o antídoto.

— Tash, você e Miguel é todo o antídoto que preciso. Olhe ao nosso redor. Esse apartamento está um caos e eu nunca fui tão feliz em toda a minha vida.

— Ok. – ela disse sem conseguir conter as lágrimas. – Afinal o risco de acidente aqui dentro tá ficando enorme. Escorregar num desses brinquedos pode custar um osso quebrado pra um de nós. E... eu amo tudo o que estamos vivendo, Edie. Também nunca fui tão feliz em toda a minha vida.

Os dois voltaram a se beijar escorregando entre os brinquedos espalhados sem se soltarem até atravessarem a sala e ganharem a privacidade atrás do balcão da cozinha. Ali decidiram brincar um pouco mais, mas não como crianças, apesar do sentimento que compartilhavam carregar essa inocência infantil.

Aeroporto internacional John F. Kennedy

O voo pousou há dez minutos. Jane já tinha castigado as unhas e os nós dos dedos. Kurt já desistira de tentar distrai-la. Seus olhares estavam presos ao portão de desembarque à espera.  Ansioso pelo que estava por vir.

O salto que Jane deu da poltrona colocando-se sem pé o surpreendeu antes que ele pudesse reconhecer Avery na silhueta que avançava ao fundo.

“Finalmente” Kurt pensou. Logo as duas se entenderiam e Jane voltaria ao normal.

Ainda a alguns passos de distância, Jane acenou um “oi” discreto. Avery respondeu com um aceno de cabeça. Quando se encontraram, a garota se lançou sobre Kurt, dando um beijo no rosto do padrasto. Depois olhou para Jane que, como sempre acontecia quando se tratava de Avery, estava estática em frente a filha, sem reação alguma.

— Oi, Jane. – a garota disse de forma enfática com quem tenta estimular uma reação.

— Oi... – Jane disse num suspiro enquanto apertava os dedos. – é muito bom te ver de novo.

Avery olhou para o Kurt já manifestando no olhar a insatisfação com aquilo. Em seguida, olhou de volta para Jane e ficou parada, esperando.

Jane tinha uma dificuldade enorme para ler as reações da filha. Suas emoções estavam sempre em ebulição quando se tratava de Avery e ela não agir da mesma forma como fazia com as outras pessoas, mesmo porque ela não queria ser com a garota o que era com todos os outros. Sabendo que devia dizer algo, ainda com a respiração sobressaltada transparecendo na voz mais do que desejava, arriscou:

— Então, vamos?

— Não. – a resposta da garota veio seca fazendo o estômago de Jane revirar.

— Não? Você precisa de alguma coisa? Banheiro ou comer algo?

Avery balançou a cabeça negativamente de forma lenta, olhos fixos em Jane.

— Nada disso, Jane. Eu estou só esperando um abraço. Tô com saudade, sabia?

A expressão de Jane se transfigurou em completa alegria. Ainda sem jeito, se aproximou da filha:

— Eu também senti muita saudade, Avery. Muita... – e envolveu a filha em seus braços.

Kurt observou satisfeito principalmente ao ver a forma como as duas se entregaram ao momento. O abraço foi longo e sincero. As duas fecharam seus olhos e se permitiram curtir a presença da outra. Quando finalmente se separaram, ele pegou as malas e começaram a caminhar para o carro, deixando a conversa trivial das duas sobre a viagem orbitar ao seu redor.

— Cadê os pirralhos?

— Estão na escola. – Jane se apressou em dizer. – Achei que você precisaria descansar e... bem, assim nós duas teríamos algum tempo só nosso.

Avery assentiu com a cabeça demonstrando que aprovava a decisão.

Já na saída, Jane pediu para os dois irem para o carro enquanto pagava o estacionamento. A garota aproveitou a oportunidade para conversar com Kurt:

— Deus, acho que ela vai ser esquisita assim pela vida todo. Eu sempre tenho que ensiná-la como mãe faz as coisas.

— Ela te ama demais, Avery, só não quer ser invasiva. Acordou as 5 horas da manhã, castigou a louça da cozinha, preparou o café da manhã da família toda e meus ovos ficaram sem sal. Por favor, salve-me facilitando as coisas pra ela.

O caminho até em casa foi fazendo a conversa fluir cada vez com mais naturalidade. Assim que chegaram, prepararam um pequeno café e continuaram conversando.

De repente, em uma das pausas espontâneas do diálogo, Jane criou coragem pra introduzir o assunto mais delicado daquela visita.

— Avery, tem algo que precisamos te contar.

— Desde que não seja outra missão maluca que vai durar quase um ano, podem contar, eu aguento.

Apoiando o cotovelo na mesa para que sua mão ajudasse o pescoço a sustentar a própria cabeça, Jane disse:

— Eu... eu estou grávida.

— Uou! – a garota disse e ficou um pouco em silêncio. – Nossa, eu dei uma casa grande, mas não achava que vocês iam querer ter filhos tão rápido assim. Acho que devia ter pensado numa TV bem grande pra distrair os dois um pouco. Vocês não estão pensando em usar meu quarto, não é?

— Não, não. O seu quarto sempre será seu e estará aqui te esperando sempre que quiser nos visitar.

— Assim é melhor. Hmmm por que será que a cara de vocês diz que tem algo mais que estão querendo me contar?

— Na verdade tem mais uma coisa sim.

— Por favor, digam logo, isso tá me matando.

— São gêmeos. – Jane disse e ficou observando a reação da filha que não pareceu boa. Avery aspirou o ar e mordeu o lábio.

Após um breve silencio, disse:

— Então é isso, você são bem férteis. Parabéns. – mas sua voz não transparecia felicidade. – Quem sabe até venha outra menininha, né. Com dois, as chances são maiores...

— São dois meninos. – Kurt disse também já incomodado com a reação da garota e pensando sobre como contornar aquilo.

— Sério? Isso é ótimo! – Avery disse agora bem animada. – Então, ainda tenho lugar cativo na sua vida. – finalizou tocando com o dedo indicador o nariz de Jane.

Jane aproveitou para segurar a mão da filha e a colocou sobre seu peito, para que ela sentisse seu coração batendo.

— Avery, sempre existirá um lugar aqui que é só seu. Todo o tempo que ficamos separadas não muda o amor que sinto por você. Não é só minha primeira filha, você é única pra mim. Mesmo que eu tivesse outras dez filhas, esse lugar aqui ainda seria só seu.

Foi a vez da garota se emocionar. Lutando contra as lágrimas, ela arriscou continuar:

— E eu sempre vou ser parte dessa família, não é? Às vezes é difícil se sentir sozinha lá fora. Eu tenho dinheiro, mas...

— Ah, Avery... – Jane disse a puxando para um abraço. – Você não está sozinha. Não vamos desaparecer de novo. Pode nos procurar sempre que precisar. Mesmo que seja preciso voar até você, eu farei isso, prometo.

Kurt se aproximou e acariciou as costas da enteada:

— Você é uma parte importante dessa família, Avery. Sempre.

As duas passaram o dia todo juntas, tagarelando enlouquecidamente sobre tudo que viveram enquanto estiveram separadas. Ao final da tarde, as crianças chegaram e disputaram a irmã mais velha como se ela fosse a única pessoa na casa. Foi ela quem contou aos irmãos sobre os gêmeos.

O dia seguinte começou em total clima de festa. Todos se reuniram para despertar Ben já com um pequeno bolo e cantando “parabéns a você”. Ele completava seu primeiro aninho e aquela família estava muito feliz em poder comemorar a data juntos.

À tarde fizeram uma festinha, reunindo todos os amigos que agora eram uma extensa família. A alegria ali não podia ser maior.

Chegou o momento tão sonhado do “parabéns”. Jane ficou com Ben nos braços para Kurt segurar Bethany. Avery foi chamada para também ficar atrás da mesa. Celebravam não só o primeiro ano de vida do filho, mas o completo renascimento daquela família. A medida que a canção foi avançando, Jane se emocionou. Enquanto suas lágrimas vertiam, o pranto foi contaminando todos aos seu redor. Não era tristeza, era a felicidade alcançada de forma tão sofrida que os fazia chorar. Ao final da canção, todos se reuniram para um abraço coletivo tornando ainda mais forte a certeza de que o pior ficou para trás e que o caminho a frente guardava o melhor da vida para todos eles.


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Notas finais do capítulo

Ufa, detalhes ajustados.
Sei que não sou boa com momentos fofos. Então, todo e qualquer comentário é bem vindo, mesmo se você quiser apresentar uma crítica construtiva sobre essa história. Estamos na reta final, mas sugestões são bem vindas e ficarei feliz em poder acrescentar detalhes de acordo com os sonhos mais loucos de vocês. É só deixar aqui.

Muito obrigada por seguirem comigo, especialmente nesse momento tão difícil que coloca a pandemia da covid 19 e o final de Blindspot bem à minha porta. Gratidão eterna a todos.



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