A Milésima versão de Crepúsculo escrita por TheFemme


Capítulo 5
Jasper Cullen




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Todas as pessoas mentem. Seja em suas palavras ou pensamentos.

Mas o que elas sentem, elas não podem mentir sobre isso. Não para mim.

Eu fui abençoado com o dom da empatia. Sim, verdadeiramente abençoado. Graças á esse dom, eu sobrevivi á milhares de situações de quase morte ao longo dos meus 174 anos. Eu vivi uma vida de guerras, de incerteza, de matar para sobreviver, e nesse ambiente, conhecer os sentimentos de seus inimigos é uma arma poderosa. Mais do que a telepatia.

Eu reconheço que o dom de Edward é excelente. Mas os pensamentos podem ser fingidos – eu aprendi muito cedo como manter Edward fora dos meus pensamentos realmente privados. Alice poderia dar uma “dor de cabeça” á Edward apenas traduzindo musicas. Os pensamentos podem ser produzidos e falsificados. Um enganador excelente poderia confundir um telepata facilmente. Mas o dom da empatia, eu nunca encontrara alguém que conseguisse enganá-lo. Eu sei quando os sentimentos são falsos. Eu sei quando a pessoa finge estar feliz, ou finge estar com medo, ou finge estar assustada, ou apaixonada – qualquer sentimento falso é muito claro para mim. Então sim, o meu dom salvou minha vida mais vezes do que eu possa contar. É claro que eu evitava dizer ás pessoas – vampiros – sobre o dom que eu tinha. O segredo é a melhor estratégia. Os meus inimigos nunca sabiam sobre a minha arma – havia apenas três pessoas á quem eu contara de espontânea vontade: Maria, a vampira que me criara, e meus amigos Charlotte e Peter. A minha família, os Cullen, haviam descoberto porque, bem, eles tinham suas próprias armas formidáveis – Alice podia prever o futuro, e Edward era um telepata – então eu havia sido descoberto antes de descobrir sobre eles.

Os Cullen tinham os sentimentos mais puros quando os conheci – amor, proteção, cuidado, carinho. Eu não teria acreditado que vampiros podiam formar uma família se eu não tivesse sentido em primeira mão tudo que eles sentiam. Eu sabia sobre companheiros – Peter e Charlote eram, e tinham o amor mais forte que eu já sentira – mas vampiros sem ligação se amarem? Pra mim era algo impossível. Mesmo no coven de Maria, ela sendo minha criadora e vivendo juntos por décadas, não havia nenhum amor perdido entre nós. Possessividade, sim, mas amor? Nada que chegasse sequer perto disso.

Eu ainda acho surreal, mas os Cullen são verdadeiramente uma família. Para mim, um vampiro que viveu num coven – nunca pense que um coven é uma família – ou vivi por décadas como nômade, a ideia parecia uma loucura. Eu havia aceitado ficar com eles para observar, eu estava muito curioso para saber se eles realmente podiam ser uma família. E nesses vinte e cinco anos descobri que eles realmente se amavam – Esme e Carlisle se amavam como companheiros que eram, e amavam os outros vampiros como se fossem seus filhos, e os outros se amavam como se fossem irmãos. Por mais louco que pudesse parecer, os sentimentos não mentiam. Eles conseguiam viver pacificamente e cuidavam uns dos outros.

Foi graças ao meu dom que eu decidi permanecer com eles. Eu não estava bem em fingir ser filho de uma vampira mais nova que eu, mas bem, o amor de Esme é muito irresistível. Eu não iria tão longe a ponto de dizer que considerava ela minha mãe, mas eu a amava e respeitava muito; assim como Carlisle, que eu realmente via como um mentor para mim e havia me ensinado muitas coisas.

Os Cullen tinham os sentimentos mais sinceros e puros que eu já sentira entre vampiros. Não foi difícil me apegar com eles, e me tornar parte da família. Mesmo os sacrifícios – largar o sangue humano foi difícil – valeram a pena. Eu amava os Cullen. E eu amava o meu dom. E ás vezes – tipo hoje – eu detestava ambos.

Eles estão todos liberando esses sentimentos de proteção sobre o recém-nascido, de cuidado sobre o recém-nascido, como se tivéssemos trazido um novo animal de estimação para casa. Eu não vou ser afetado – eu prometo a mim mesmo. Os Cullen são amorosos, sinceros, carinhosos, mas exatamente por isso são os vampiros mais ingênuos do mundo. Eles acham que todos os vampiros estão lá para serem resgatados. Eu lidei com mais recém-nascidos do que posso contar durante mais de cem anos e eu sei como eles são – voláteis, descontrolados, violentos, imprevisíveis. Completamente loucos. E não confiáveis. Se você não pode dominá-los, eles vão matá-lo. Usar recém-nascidos na guerra era algo absolutamente inteligente – a força deles era maravilhosa – mas domar um recém-nascido por um longo período de tempo? É impossível. Eles se rebelavam em algum momento, e os que não morriam na guerra, tínhamos que matar depois de um tempo.

Dizer que eu estava irritado por estarmos arriscando nossos pescoços por essa vampira era um eufemismo. E o motivo pelo qual eu havia atacado-a me irritava mais. Ela provavelmente estava usando a roupa que usava quando fora transformada, e havia sangue nisso. Inicialmente, eu pensei que era o sangue de algum humano desafortunado que fora caçado, mas agora eu pensava que provavelmente era o próprio sangue humano de Bree. Por causa do cheiro, eu havia atacado pensando que ela era humana. Então, sim, eu estava com muita raiva, principalmente de mim mesmo – já fazia vinte e cinco anos, como eu ainda podia ser tão afetado pelo sangue?

As únicas coisas que eu conseguia sentir da recém-nascida era sede, e medo, e sede, e pavor, e isso não estava ajudando. Ela estava assustada antes de nos encontrar. Ela estava assustada conosco. Ela estava assustada com os Volturi. Eu queria gritar “ACALME-SE”, porque seus sentimentos estavam me deixando louco, mas isso só tornaria tudo pior.

Os vampiros são capazes de sentir medo, pavor. Não tanto quanto um humano. Quando os humanos estão apavorados, é um sentimento realmente gritante – eu odiava isso quando caçava humanos. Eu sempre os matava antes deles saberem o que estava acontecendo, porque os sentimentos eram muito intensos.

Os sentimentos dos vampiros são mais calmos – até mesmo quando estamos com medo e assustados. Bree, no entanto, tem os sentimentos mais gritantes que eu já senti vindo de um vampiro.

Eu já sei que os dias que estão por vir serão os mais intensos da minha vida – eu preciso mantê-la sob vigilância constante, já que os Cullen confiam de olhos fechados em alguém que pareça inofensivo.

E ela parece extremamente inofensiva. E ingênua. E eu seria idiota de me deixar influenciar por isso.  

Carlisle e Esme estão aliviados quando voltamos para eles. Esme abraça Bree. Eu fico tenso. Eu não confio em recém-nascidos. Menos ainda em uma que foi transformada muito cedo, tem apenas 4 dias de idade e acabou de se alimentar pela primeira vez. Não importa quão adorável ela possa parecer.

Eu estou extremamente aliviado depois da caçada. A dor de Bree era a minha dor, e isso estava me deixando louco – fazia anos que eu não sentia uma sede tão intensa. E mesmo que por pouco, mas os sentimentos de medo diminuíram.

— Eu estou dirigindo. – Alice decide. – Jasper, você e Bree atrás. Edward, você comigo.

Eu apoio a decisão de Alice. É mais confiável a recém-nascida ir conosco, que temos algumas armas extras que ela desconhece. Entre o dom de Alice, o meu e o de Edward, ela não pode nos pegar desprevenidos caso decida atacar ou fugir. Eu realmente espero que ela não tente; Esme, Rosalie e Alice vão ficar muito chateadas se eu tiver que matá-la, eu posso dizer.

Todos estão de acordo, então vamos para o carro – o que Alice conseguiu manter intacto.

 Alguém sumiu com os destroços do carro de Rosalie para evitar chamar atenção de algum humano desavisado passando. Apenas seria um desastre maior se algum humano tivesse parado.

Carlisle está esperando levarmos Bree para eles chamarem um taxi.

Eu abro a porta do carro, por sorte, porque Bree poderia ter arrancado isso – a força esplendida de um recém-nascido. Ela apoiou a mão no carro e amassou isso espetacularmente. Meus braços simpatizaram – ela havia apertado eles quase a quebrar mais cedo.

— Você vai se acostumar com isso. – eu digo. Se ela sobreviver aos primeiros anos de sua vida vampira, ela vai aprender a controlar sua força.

Eu entro e fecho a janela ao meu lado. Edward e Alice fazem o mesmo. Bree olha para mim, ela está com muito medo de tentar mexer na janela. Nós não queremos nenhum acidente, então eu passo por cima dela e fecho a ultima janela.

Eu acho que será uma viagem pior do que a de avião – o cheiro de sangue na roupa de Bree é um martírio.

— Podemos ir? – Alice pergunta.  

— Sim. – eu respondo.  

Bree se move e eu estou imediatamente atento. Ela apenas coloca as pernas sobre o banco. E então fecha os olhos. Eu acho que ninguém contou á ela que ela não pode mais dormir. Da forma como ela mal aprendeu, em quatro dias, que era uma vampira, eu duvido que ela tenha percebido isso e eu não estou indo ser o portador de mais má noticias. É lamentável. Uma garota de 15 anos que perdeu toda sua juventude, é uma vida desperdiçada. Eu espero que Alice esteja muito certa de que Bree irá se adaptar á nossa vida. É triste, mas é o melhor que um recém-nascido pode conseguir, viver numa família como os Cullen. Sozinha, como recém-nascida, ela não duraria muito tempo.

De Seattle até Forks, levamos 3h. Paramos para caçar uma vez, pelo bem de Bree, debaixo de uma chuva que nos fez voltar para o carro molhados. O frio não nos incomoda, mas eu particularmente detesto estar molhado, mas afortunadamente, isso dissipa a maior parte do cheiro de sangue humano na roupa de Bree.

Quanto mais nos aproximamos de Forks, mais as casas são substituídas por arvores. É como Alice previu – verde, chuvoso, silencioso, com montanhas cobertas por névoa. Um lugar ideal para nós.  

Nossa nova casa é longe de outros moradores, mas não tão longe quanto eu gostaria. A casa em si é nada menos que uma obra de arte moderna, claro, porque foi Alice quem escolheu. A maior parte da estrutura é de madeira e vidro – eu já vejo Alice remobiliando essa casa milhares de vezes. Entre Emmett, que sempre destrói algo, e a força insana de Bree, Alice vai estar sempre com muito trabalho nas mãos. Claro que ela vai amar isso.

— Bom trabalho, Alice. – eu digo.

— Obrigado. É perfeita, certo?

— Nós poderíamos usar algumas paredes de titânio. – eu respondo, olhando para Bree. A recém-nascida esta olhando para tudo com curiosidade e seu sentimento é principalmente ansiedade.

— Vou pensar nisso. – Alice ri.

— Em quanto tempo Carlisle estará chegando? – me preocupo.

— Quarenta minutos. Os humanos dirigem devagar. Nós podemos fazer o tour pela casa.

— Você não já viu tudo? – eu provoco.

— É diferente pessoalmente.

Eu saio do carro, e espero por Bree. Subimos as escadas para o primeiro andar da casa, e é como eu imaginei; tudo muito aberto, quase como se as arvores fossem entrar na casa. Há uma evidente falta de moveis na sala, Alice obviamente ainda vai mobiliar tudo.

Eu levo Bree para o ultimo andar. Escolho o primeiro quarto que encontro.

— Há um banheiro ao lado, você pode tomar banho se quiser. – aviso para Bree.

Alice aparece imediatamente na porta.

— Você pode vir ao meu quarto escolher uma roupa. – Ela está muito empolgada com isso. Bree, ao contrario, não está. Mas ela segue Alice obedientemente, porque Alice é uma força da natureza.

Eu aproveito para trocar minha roupa molhada e então saio para olhar ao redor. Edward escolheu o quarto mais próximo ao meu, ao qual eu sou grato. Ele é silencioso. Sua mala já esta quase toda desfeita e ele está arrumando sua pilha de CDs. Nossa velocidade é uma benção nessas horas.

— Bree está bem? – ele pergunta, sem desviar os olhos de sua tarefa.

— Me diga você; você sabe melhor do que eu.

Ele ri.

— Eu tento não escutar. Recém-nascidos confusos e sedentos por sangue não são minha canção favorita.

Eu reviro os olhos.

— Isso resume tudo. Ela está confusa e com sede. Recém-nascido típico.

— Bem, ela é tranquila. – observa Edward.

— Sim, ela é. Não por muito tempo; Alice vai fazê-la falar em breve.

Nós dois ficamos em silencio, e sim, há a tagarelice característica de Alice, mas nenhum som de Bree.

— Eu não acho que Alice seja sua pessoa favorita. – Edward ri. – Ela gosta de você, no entanto.

Eu finjo que não sei o que Edward está insinuando, porque eu valorizo a minha sanidade.

— Todos os recém-nascidos fazem. Maria dizia que eu tenho um dom para recém-nascidos.

— Oh, estou ansioso pra ver isso.

Eu reviro os olhos para Edward e saio para explorar a casa. Há uma grande cozinha no térreo, que eu sinceramente sei que não servirá para nada; quatro banheiros no total, o que é excelente, porque todos sempre parecem querer tomar banho ao mesmo tempo. E mesmo sendo rápidos, eu aprendi que vampiros tomam banhos longos – Alice principalmente. Com todos estudando num mesmo horário, eu só imagino que isso irá se agravar.

Eu observo todas as janelas, portas, entradas e saídas – sim, eu sou paranoico (Edward ri) – e quando eu volto para o quarto Bree está de volta. Alice obviamente não conseguiu mantê-la, ou não tentou mantê-la. Eu prefiro assim – mesmo com seu dom, Alice não tem nenhuma experiência em lidar com recém-nascidos. Ela foi a ultima a ser criada por Carlisle, e ela nunca esteve perto de recém-nascidos.

Há uma cama no quarto, eu percebo. Eu quero perguntar á Alice porque há uma cama nesse quarto – não havia nenhuma no de Edward - então mando uma mensagem para ela, que é a única forma de evitar ser ouvido por Bree. Em uma casa onde todos tem super audição, nós descobrimos que essa é a única forma de se ter conversas privadas: escrevendo mensagens.

“Porque há uma cama só no meu quarto?” eu envio para Alice, então aproveito e mando para Rosalie: “Chegando?”.

Rosálie responde primeiro:

“Comprando roupas. Bree”.

Bem, isso é ótimo. Não realmente. Eu apenas estou louco que Carlisle e Esme cheguem logo e peguem a responsabilidade de conversar com Bree. Alice obviamente não vai, e Edward também não, e eu não me inscrevi para isso. Mas o silencio é estranho.

— Você precisa de algo? – eu pergunto á Bree.

— Não. Eu estou bem, Alice me emprestou roupas. – ela responde. Eu checo apenas por costume; a sede dela está bem por enquanto, mas com certeza ainda teremos que caçar hoje á noite.

— Sua família sabe o que aconteceu com você? – eu pergunto antes que eu possa segurar, e depois quero me chutar. Os sentimentos de tristeza e saudade são resposta suficiente.

— Eu acho que não, eles devem pensar que eu estou desaparecida. Eu... Eu não posso vê-los mais?

Porque eu fui mesmo abrir minha maldita boca?

Eu posso ouvir Edward rindo. Eu vou me assegurar de que ele vai pagar por isso.

— Durante algum tempo não. – eu sou sincero, não adianta tentar embelezar a situação. É uma droga. – Depois... você decide se quer ir vê-los.

— Quanto tempo?

— Depende. Alguns vampiros controlam sua sede mais rápido do que outros.

— Quanto tempo é rápido? – Ela é determinada. Eu suspiro.

— De cinco a dez anos.

Bree apenas suspira. Eu começo a desfazer minha própria mala apenas para ter algo para me concentrar. Seus sentimentos estão completamente bagunçados novamente, e em parte é minha culpa. Eu desejo que Carlisle chegue logo. Esme é a melhor em falar sobre sentimentos.

— Rosalie e Esme estão comprando roupas para você. – eu digo, porque o silencio é estranho.

Bree não responde, mas eu escuto fungar. E então respirar fundo. E fungar novamente.

“EDWARD mande Alice aqui AGORA!” eu grito mentalmente para Edward.

Eu não me inscrevi para cuidar de garotas adolescentes chorando – ou o mais próximo que uma vampira pode chegar de chorar.

“EDWARD é melhor você aparecer aqui ou eu vou quebrar todos seus preciosos discos” eu ameaço, mas é claro que Edward esta fingindo que não esta ouvindo. Bastardo. Eu detesto meus irmãos ás vezes.

Eu quero gritar com Bree: “Você não podia esperar até Esme chegar pra desmoronar?”.

Ela obviamente não, então eu apenas abandono minhas roupas sem guardar e sento ao seu lado na cama. E então lembro, caramba, eu sou um empático. Porque eu to desesperado por alguém estar chorando? Eu posso não saber falar, mas eu posso fazer algo; eu envio os sentimentos mais calmantes para Bree.

— Você vai ficar bem. – eu pego sua mão e seguro.

Ela respira fundo, então olha pra mim e sorri.

— Obrigado. Obrigado por terem me ajudado. Eu só...

— Eu sei, você passou por muitas mudanças rápidas. É normal se sentir assim. Você está indo bem, excelente, de fato. Acho que todos nós já tínhamos matado algumas pessoas nos nossos quatro primeiros dias de vampiros.

Bree arregala os olhos. Bem, eu prefiro que ela esteja chocada do que chorando.

— Sim, por mais louco que sua vida tenha se tornado, você reagiu muito bem. Você é forte, você vai passar por tudo isso.

— Eu não sou forte. Eu só estava com medo.

— Bem, o medo é um sinal de inteligência. Você sobreviveu, quando todos os outros morreram, então isso significa que você é a mais inteligente. – Eu ainda estou curioso pra saber como ela fugiu dos Volturi, com o dom de Alec presente. – Você conseguiu ficar longe do sangue humano e não brigar com outros recém-nascidos por quatro dias, apenas por sua própria força de vontade. Qualquer um teria cedido aos seus instintos, mas sua prioridade era sobreviver, certo? Essa sua vontade de sobreviver é admirável. Isso vai fazer você vencer qualquer obstáculo que essa nova vida trouxer.

Bree está me olhando como se eu tivesse lhe dito “eu sou seu novo deus, me adore”. Então ela sorri, seu primeiro sorriso verdadeiro.

— Você tem razão. – e me dá o abraço de urso mais apertado, quebrando ossos, da vida. Eu derrubo ela em dois segundos.

— Que droga, Bree! – eu gemo. – Você não pode dar abraços antes de fazer um ano.

Ela ri. É claro, não foi ela que quase foi esmagada. Pelo menos seus sentimentos estão aliviados. Eu não sou tão terrível em lidar com adolescentes sentimentais, parece. Mas eu espero que essa tenha sido a primeira e ultima vez que eu tenho que fazer algo assim. Eu sei ensinar recém-nascidos a caçar, sobreviver, lutar; lidar com sentimentos não.

Nós deitamos em silencio. Edward e Alice também estão estranhamente silenciosos. É estranho o quão tranquila Bree realmente está. Se é por causa da conversa, eu não sei, mas estou grato. Eu não sei se posso lidar com mais avalanches de sentimentos hoje.

Bree quebra o silencio.

— Então, todos os vampiros são bonitos?

Eu rio.

— Depende do seu gosto. Eu não acho todos bonitos. Mas desde que você não esta acostumada com nossa aparência, deve parecer assim agora. Em alguns anos você vai ser mais seletiva.

Ela me olha.

— Então, há vampiros feios?

— O que é bonito pra você, nos vampiros?

— A pele. – Claro que é a primeira coisa que ela notou. – E os olhos.

— O seu ou o nosso?

— O seu. O vermelho me assusta. – Ela suspira. – Eu me olhei no espelho. Eu pensei que não teria reflexo.

Eu rio, virando a cabeça para olhar para ela. Bree esta com essa expressão pensativa.

— Os vampiros da ficção e os da realidade são completamente diferentes. – eu informo á ela. – Você não vai queimar no sol, nem ser prejudicada por alho, cruz, ou água benta.

Ela me olha tão chocada que é engraçado.

— Bem, o que nos machuca então?

Eu tenho medo que essa seja uma informação perigosa. Para ela própria – se ela for o tipo de vampiro que tenta se matar – ou para nós – se ela usa essa informação para atacar.

— O fogo nos queima. – eu digo apenas.

— Ah. – ela diz e então continua me olhando. Eu apenas sei que sua mente esta fervilhando. Deve ser aterrador, entrar num mundo onde você não conhece nada. Eu me lembro vagamente da época em que eu era um recém-nascidos, muitos anos atrás. Foi diferente pra mim do que para todos os outros, principalmente por causa do meu dom.

— Quando você foi transformado? – Bree finalmente pergunta.

— Em 1845.

Ela não tem a reação chocada que eu esperava. Ela sorri quase envergonhada.

— Eu sou péssima em matemática. – Eu rio. – Eu quero dizer, quantos anos você tem?

— Eu tenho 174 anos.

— Uau. Caramba. – Sim, ela está chocada. Eu estou satisfeito.

— Sim.

— Você é o mais velho?

Não tão satisfeito.

— Carlisle é.

— Como foi? Sua transformação?

Meu, meu, nós conseguimos uma criança extremamente curiosa.

— Quando tinha quase 17 anos, me aliei ao Exército Confederado, dizendo que tinha 20 anos. Fui transformado em vampiro em algum momento durante a Guerra Civil, quando um grupo de três vampiras mexicanas - Maria, Nettie e Lucy – me encontraram. Maria me transformou, e eu fiquei com ela durante algumas décadas. – eu resumo. Não é como se desse pra contar o que acontecera nos meus primeiros anos em uma noite.

— Você demorou a se acostumar com a dieta animal?

— Cerca de 159 anos.

Bree senta.

— Serio? – ela está duvidando. Eu sorrio. Ela não é tão completamente ingênua; ela duvida de muitas coisas que falamos.

— Sim. Eu só descobri sobre a dieta quando conheci os Cullen. – explico. – Isso foi há vinte e cinco anos atrás. Antes disso, eu vivi do sangue humano, pois foi como fui ensinado pela minha criadora.

— Oh. – Bree deita novamente. Há surpresa em seus sentimentos, confusão novamente, mas nenhuma repulsão que eu esperava que ela sentisse quando descobrisse que nós também somos assassinos. Também não há nenhum remorso, felizmente, porque ela ainda não tirou nenhuma vida. Eu desejo que ela consiga permanecer assim – sem remorsos, sem vidas pesando em seus ombros, mas eu sei que é impossível. Ela vai cometer deslizes, como todos nós, e isso vai pesar sobre ela eternamente, assim como para todos nós. É um sentimento que nunca nos deixa completamente, a dor de saber que matamos alguém – no meu caso, milhares.

Eu espero mais duzentas perguntas, mas ela obviamente esta refletindo.

— Eu nunca vi um vampiro que resistiu ao sangue humano por vontade própria como você. – eu digo.

— Não faça parecer que eu era genial, eu apenas era muito medrosa.

Eu sorrio. Eu estou relaxado e olhando para o teto, então quando Bree tenta tocar meu pescoço, eu reajo por instinto. Eu seguro sua mão.

— O que é isso? – Ela pergunta. Ela está olhando para o meu pescoço, então eu sei o que ela esta vendo.

— Cicatrizes de mordidas de vampiros.

— Oh. Dói?

— Arde quando é feita.

O silencio volta a reinar. Eu deixo ela divagar. Ela com certeza tem muito para absorver. Estou esperando a próxima pergunta quando ouço o som de carro se aproximando. Eu consigo sentir a preocupação de Rosalie e Esme antes delas saírem do carro. Eu acho que Bree conseguiu duas mães em vez de uma.

Bree me olha com ansiedade, também ouvindo. Eu não sei porquê ela tem medo dos outros; eu imaginava que eu seria o que ela iria mais temer, devido ás circunstancias.  

— Olá, filho. – ouço Carlisle falar com Edward.

— Bree está com Jasper. – Edward deve estar respondendo aos pensamentos de Carlisle. Eu já estou acostumado com essas conversas unilaterais.

— Ela está bem? – Carlisle pergunta.

— Sim.

— Jasper?

Eu suspiro. Eu realmente queria adiar essa conversa.

— Sim? – respondo.

— Podemos conversar com Bree agora?

Eu olho pra ela. Pelos sentimentos dela, eu sei que ela preferia não sair do quarto.

— Tudo bem? – pergunto.

— Sim.

Nos levantamos, então eu percebo que ainda estamos segurando a mão. Eu aperto antes de soltar.

— Você pode relaxar, eles só querem conhecer você. – eu digo, antes que seus sentimentos tomem proporções imensas.

Bree assente, mas eu acho que ela realmente não entende que Carlisle e Esme são inofensivos; ela ainda está se escondendo atrás de mim quando descemos as escadas. É engraçado; eu imaginei que eu seria a pessoa que ela mais estaria assustada, levando em conta como nos conhecemos.

Todos estão na sala. Tempo para reunião de família.

— Olá filho. – Carlisle me cumprimenta. – Olá, Bree.

— Olá.

Eu sento apenas porque todos estão sentados, e isso da a chance de todos olharem para Bree sem ela estar escondida em mim. Ela senta do meu lado.

— Eu sinto pela forma como nos conhecemos, mas quero que saiba que você é muito bem-vinda á nossa família, Bree. – Carlisle começa.

— Obrigado. – ela responde.

— Acredito que meus filhos já lhe tiraram algumas duvidas?

— Sim.

— Há alguma coisa que você ainda queira saber, agora?

Ela balança a cabeça. Eu apenas sei que ela está mentindo, mas deixo quieto. Ela obviamente não esta confortável com todas as pessoas olhando-a.

— Bem, eu vou lhe contar um pouco da nossa historia. – Carlisle continua. – Nós moramos no Alaska pelos últimos vinte e cinco anos, para que Jasper se adaptasse com a nossa dieta diferente. Nós decidimos nos mudar para Forks por algum tempo. Quando vivemos na cidade, perto dos humanos, fingimos ser humanos, para evitar sermos descobertos. Como você sabe, as pessoas pensam que vampiros não existem, então é primordial para nós mantermos um disfarce. Nós desejamos que você permaneça conosco, então gostaria que você entendesse que vamos fazer o maximo possível para que você se sinta bem conosco, okay?

Bree assente.

— Como parte do nosso disfarce, Edward, Alice, Rosalie, Emmett e Jasper são nossos filhos adotivos, e eles precisarão ir á escola. – Carlisle fala e eu apenas sei onde isso está indo. – Eu sou médico e estou assumindo no hospital geral de Forks em breve, então Esme será sua companhia mais constante, porque por enquanto, você não poderá aparecer na cidade. Achamos melhor ninguém saber sobre você, ainda, para não haver perguntas.

Eu acho que deixar uma recém-nascida apenas com Esme é arriscado, mas eu confio no dom de Alice. Ela vai saber se algo for dar errado. Acredito que Carlisle tomou essa decisão confiando nisso também.

— Eu vou estar presa em casa? – Bree finalmente questiona.

— É claro que não, nós sempre podemos correr até o Alaska para um passeio. – Emmett brinca.

— Nós não iremos manter você presa, querida. – Esme fala. – Apenas longe dos humanos, enquanto seu auto controle for frágil. Haverá muitos lugares onde você poderá ir conosco.  

— Sim, há um lugar muito bom para jogarmos basebol. E para caçar. – contribui Alice.

— Jasper tem muita experiência ensinando recém-nascidos, tenho certeza que ele poderá lhe ensinar muito. Todos nós estamos aqui para lhe ajudar a se adaptar á sua nova vida. – Carlisle diz. – Nós queríamos saber um pouco como você foi transformada, se você estiver bem em falar sobre isso.

Bree olha para mim, como se eu tivesse a resposta pra isso.

— Você pode nos contar depois, se quiser. – Esme fala gentilmente.

— Tudo bem. – Bree cede. – Eu não lembro muito. Eu estava voltando da escola na terça-feira, quando fui atacada por um garoto, Riley. Ele me mordeu, e eu acordei na sexta-feira assim...

— Você acordou sozinha? – Esme pergunta.

— Não. Havia essa vampira Victoria, que liderava todos os vampiros. Havia vários.

Eu estou mais curioso sobre algo.

— Quando os Volturi chegaram, como você escapou? – eu pergunto. Bree me olha estranhamente.

— Quem? – ela pergunta.

— Os três vampiros que nos encontraram. Você já havia visto-os antes?

— Sim. Eles atacaram os vampiros de Victoria.

— Então, como você escapou?

— Eu corri.

— Apenas você correu?

— Jasper. – Carlisle diz, e eu sei que ele esta me dizendo para recuar.

— Eu não sei se outros também fugiram. Eu estava longe dos outros, eu estava escondida. Eu senti o cheiro deles antes deles aparecerem. Mas eu vi quando eles começaram a matar os vampiros. Então eu corri.

Eu assinto, isso faz sentido. Porque, pela lógica, ninguém poderia fugir de um vampiro como Alec, quando ele usa seu dom. Junto com Jane, e Félix, seria impossível escapar.

— Desculpe. – eu digo, olhando de Bree para Carlisle. – Eu apenas pensei que ela poderia ter escapado por outros meios.

Carlisle assente, ele entende o meu pensamento – que ela poderia ter um dom suficientemente bom para escapar dos Volturi. Eu estava meio esperançoso de que ela poderia ser um escudo, mas bem, eu acho que foi sorte.

— É incomum alguém criar tantos recém-nascidos assim. – Carlisle observa. – Você não saberia o motivo de Victoria estar reunindo tantos vampiros?

— Não. – Bree se empurra mais ao meu lado. Ela acha que estamos desconfiando dela.

— Bem, isso não importa agora. – Carlisle sorri. – Só queremos que saiba que nós somos uma família e cuidamos uns dos outros. Se você precisar de qualquer coisa, tiver qualquer duvida, você pode falar com qualquer um de nós.  

— Certo.

— Alguém mais quer falar algo? – Carlisle pergunta.

— Eu. – Bree é a primeira a se manifestar. Eu estou surpresa. – Eu só queria agradecer. A todos. Por ter me trazido com vocês. Obrigado.

— De nada. Estamos felizes de termos você conosco. – Esme sorri. Eu sei que ela apenas não vai tentar abraçar Bree porque ela percebe que a garota não esta confortável ainda com contato físico.

Rosalie é a primeira a levantar.

— Eu vou arrumar minhas coisas. – ela desaparece no andar de cima.

Eu levanto e olho para Bree. A sensação de desconforto dela está me deixando cada vez inquieto, e eu sei que não tem nada a ver com a reunião ou as pessoas.

— Caçar? – pergunto.

Ela levanta num pulo. Eu sorrio. Vamos ver o quanto eu posso ensinar á ela hoje.

— Edward, você vem? – eu pergunto, já indo para a porta.

— Não. Emmett pode ir.

— Oh, isso vai ser divertido. – Emmett se levanta mais rápido que Bree. Ele está animado. Ele está sempre animado.

— Até parece que o recém-nascido é você. – eu provoco.

— Cale-se Jasper. – Ele tenta me prender debaixo do braço e eu empurro-o. Ele mal toca o chão antes de levantar num pulo.

Eu me escondo atrás de Bree. Mesmo que ela esteja assustada demais pra bater em Emmett, ele não vai tentar passar por ela.

— Covarde. – Emmett resmunga. Eu rio.

— Estratégia, irmão, estratégia.

Bree sorri quando percebe que não estamos realmente brigando. Ela não parece ser o tipo que gosta de brigar, mas bem, eu sempre posso pedir á ela para abraçar Emmett com força. E Edward e Alice, eu não vou esquecer que eles me deixaram sozinho para lidar com Bree mais cedo.

Eu sou um vampiro muito vingativo, afinal, e ludibriar os dons de Edward e Alice é sempre uma diversão.


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Notas finais do capítulo

É isso! Amei escrever esse capitulo, por isso demorei tanto pra entregá-lo, porque eu estava me divertindo com ele kkk.
Não tenho dias certos para postar, mas não demorarei mais do que 3 dias.
Obrigado á Daiana que recomendou essa fanfic, assim logo de início rs.
Até a próxima.