Eternidade escrita por Deusa Nariko


Capítulo 3
Parte III: Que Seja Perpétuo


Notas iniciais do capítulo

Terceira e última parte de Eternidade!
Boa leitura!



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Eternidade

Parte III:

Que Seja Perpétuo

Escrito por Deusa Nariko

 

You take me in your arms

And tell me nothing means a thing

I’m a dying star

You tell me there’s no reason

That I live to burn

Cuz I belong to no world

And I return to nothing

 

Look up at the sky

And tell me you don’t feel a thing.

Ison – Inner-Space

 

✧ ✦ ✧

A PRIMEIRA VEZ EM QUE FIZERAM AMOR foi no alojamento dela. Entregaram-se, por fim, àquele sentimento desesperador que demandava que eles se agarrassem um ao outro e jamais se perdessem de vista de novo, pois haviam sofrido com as despedidas vezes demais e as almas antigas dentro deles gritavam para que não deixassem aquele ciclo se repetir nunca mais.

Os corpos nus se entrelaçaram numa dança que era tão antiga quanto o mundo. O suor porejou as peles que se tocavam, grudou mechas de cabelo às têmporas e testas que se encostavam, suavizou a fricção dos membros uns contra os outros, encharcou os lençóis sobre os quais se amavam.

Sakura apertou os dedos nos cabelos negros e envolveu os quadris dele com as pernas. Apartou os lábios para se permitir gemer o nome dele e lutou contra o reflexo de fechar os olhos quando o prazer se tornou intenso demais; queria olhá-lo nos olhos, queria olhar para o rosto de Sasuke quando o êxtase o arrebatasse.

Atirou a cabeça para trás, contudo, quando as investidas firmes alçaram-na até o orgasmo, estremecendo tudo dentro dela. Agarrou-se aos ombros fortes dele e viu estrelas dançarem nas suas pálpebras cerradas. Um tempo depois, foi a vez de Sasuke de enterrar o rosto na pele suada do pescoço dela e gemer seu nome roucamente, os quadris, por fim, investindo pela última vez.

Naquela noite, dormiu nos braços dele pela primeira vez e o sonho a vir visitá-la deixou um gosto agridoce na sua boca quando despertou, ainda moldada ao corpo forte de Sasuke. Incapaz de pegar no sono outra vez, virou-se no colchão para poder olhar para o rosto adormecido dele. Nada lhe dera mais paz do que vê-lo tão sereno e relaxado.

Em algum momento antes da alvorada, Sakura conseguiu dormir de novo e, quando despertou pela segunda vez, Sasuke já não estava mais na cama com ela. Sentou-se, um pouco desorientada, e agarrou os lençóis contra os seios nus, tentando enxergar através da penumbra do quarto.

Foi quando ele veio até ela, vestido com calça e camiseta, mas com os pés descalços. Sentou-se ao lado dela e buscou pela delicada mão direita, pegando-a entre a sua, maior e mais forte. Sem dizeres, deslizou um anel de prata com engaste de rubi no dedo anelar de Sakura, deixando-a sem fala.

— Queria ter te dado isso já tem algum tempo — ele disse, meio encabulado, evitando olhá-la nos olhos.

Sakura ergueu a mão para apreciar a joia de outro ângulo. A luz pálida da alvorada era filtrada pelos vidros grossos da janela, mas incidia belamente sobre a pedra vermelha como sangue no engaste do anel. Por um momento, a pedra aqueceu no seu dedo, reconhecendo o seu chakra e reagindo a ele com uma quentura agradável contra a sua pele. Uma joia inteligente. Como uma epifania, reconheceu-a como aquela que admirara uma vez numa vitrine, há muito tempo, antes de trombar casualmente com um Sasuke encharcado pela chuva.

Com lágrimas nos cantos dos intensos olhos verdes, percebeu que ele a havia observado tanto quanto ela o fizera. Que prestara atenção em cada mínimo detalhe dela e que o sentimento que os unia já era mútuo havia muito tempo.

— Obrigada. É lindo, Sasuke-kun — agradeceu-o, secando as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

Em resposta, ele tocou sua bochecha, capturando uma lágrima com um dedo. Inclinou-se até que seus lábios estivessem sobre os dela, beijando-a outra vez. Sakura atirou os braços para envolvê-lo pelo pescoço, esforçando-se para arrastá-lo de volta para a sua cama.

Sorriu contra os lábios dele assim que conseguiu o intento.

✧ ✦ ✧

A graduação da quarta turma do Instituto de Konoha por fim chegou, junto à primavera e logo depois de um inverno bastante rigoroso. A partir dali, os estudantes já não seriam mais estudantes e sim jovens recrutas da Força Shinobi. Todos que chegaram até ali tinham se esforçado e dado tudo de si para o processo seletivo derradeiro, que separaria aqueles que se graduariam Shinobis daqueles que não estavam aptos a defender a nação e os seus interesses.

Sakura e Sasuke, não surpreendentemente, se formaram com todas as honras, tendo alcançado desempenhos excelentes durante os testes finais. Ele, como um Uchida, foi instantaneamente alocado para o Primeiro Esquadrão, um esquadrão de elite. Já ela foi disputada por duas seções, mas terminou selecionada pela Divisão de Inteligência devido ao seu intelecto e à sua alta capacidade de percepção.

A cerimônia aconteceu no saguão principal do Instituto, que foi decorado unicamente para a realização da celebração. Como era de praxe, o Primeiro Ministro Maeda compareceu à cerimônia, discursou acerca das glórias do passado e das conquistas do futuro, e parabenizou cada um dos formandos, entregando-lhes pessoalmente a braçadeira com a insígnia de Konoha que os tornava, oficialmente, Shinobis a serviço do seu país.

Ao término, Sasuke e Sakura trocaram olhares; estavam distantes um do outro, cada qual com o seu próprio círculo de amigos e sendo parabenizados e parabenizando outros pela graduação.

Orgulhosa e radiante, Sakura mostrou a ele a braçadeira de placas sintéticas e maleáveis com o símbolo de Konoha presa ao braço esquerdo. Ele sorriu discretamente, então ainda mais quando ela ergueu a mão direita num gesto natural para arrumar o cabelo cor-de-rosa com o intuito de mostrá-lo o rubi faiscante no seu dedo anelar.

Uma etapa de suas vidas estava terminada, mas outra começaria. Esta era a promessa que fizeram um ao outro no dia anterior à formatura, e nada no mundo seria forte o bastante para quebrá-la.

✧ ✦ ✧

O céu da noite estava queimando acima das suas cabeças conforme eles corriam pelas ruas caóticas de Konoha. As labaredas tinham-no pintado de vermelho, suplantando o negro, e o brilho das estrelas estava encoberto pela fumaça dos incêndios. Sakura apressou o passo, seguindo na dianteira dos seus outros dois companheiros. Era a primeira no comando e sabia que as vidas deles eram sua responsabilidade. Estavam assustados também, a julgar pelos olhares que trocavam de tempos em tempos.

Sakura não se permitia sentir o medo, soterrara-o por ora. Havia pessoas inocentes que precisavam que ela fosse corajosa agora, e corajosa ela seria. O comunicador implantado no ouvido esquerdo dela zumbiu com o próximo comando, informando-a das ações que deveria tomar e dos deveres que deveria cumprir.

O mundo estava em chamas, ou pelo menos a parte dele para a qual Sakura se dirigia. Prédios queimavam e pessoas gritavam em pânico, andando desorientadas pelas ruas ou chorando pelos entes desaparecidos. Três bombas de chakra haviam explodido na última hora, na área central de Konoha. Dois edifícios comerciais e um residencial. As vítimas ainda estavam sendo contadas.

A organização terrorista Majin assumiu a autoria dos atentados. Há anos ela ascendera no submundo do crime do país do Rio, forçando o seu caminho até o topo com ataques violentos e exigências de que a Força Shinobi fosse desativada. Aparentemente, as interferências políticas do país do Fogo no país vizinho, e as ações militares para conter uma guerra civil desagradaram alguns grupos dissidentes do atual governo que se uniram para criar a “Majin” e forçar a retirada das tropas estrangeiras do território do país do Rio.

Nada justificava vitimar civis, entretanto. Sakura se forçou a seguir em frente, mordendo o lábio, mesmo quando um pai apareceu no seu campo de visão com o filho desacordado nos braços. Açodou o ritmo dos passos, dobrando numa esquina e saltando para a fachada de um edifício espelhado assim que colocou os olhos no alvo: o quarto prédio, recentemente construído e ainda não inaugurado, onde uma quarta bomba de chakra supostamente estava programada para detonar, de acordo com o trabalho da Divisão de Inteligência. Aquela seria a sua missão: confirmar a veracidade da informação para assim acionar o esquadrão que lidaria com ela.

Seus companheiros a seguiram, e mais tarde a flanquearam quando os três pousaram no terraço do prédio vizinho, abaixados de modo que a penumbra da noite os ocultasse das vistas de vigias. Lá, ela aguardou pelo comando para invadir o prédio. A equipe dela havia sido a primeira a chegar ao local.

O objetivo da sua missão estava claro como o dia. Sakura e seus companheiros deveriam invadir o edifício, relatar se havia a presença de terroristas da Majin e, caso a resposta fosse afirmativa, inventariar a que tipos de armamentos tecnológicos tinham acesso e se haviam mesmo implantado uma bomba de chakra no edifício. Depois, aguardariam pela chegada do Primeiro Esquadrão para que possíveis alvos fossem abatidos e para que a possível bomba fosse desativada.

O companheiro de Sakura, um jovem homem chamado Ryuu, que possuía a habilidade de rastrear assinaturas de chakra com precisão analisou todos os cinquenta andares do prédio por um minuto antes de informar sua líder que não sentira nada, nem mesmo uma atividade suspeita no edifício inteiro.

Sasuke estava a caminho dali também. Sakura mordeu o lábio e rezou a qualquer deidade que pudesse ouvi-la para que o protegesse, que o mantivesse a salvo. No momento posterior a isso, seu comunicador zumbia com as novas ordens; era hora de se infiltrarem no prédio.

Sakura saltou primeiro, um salto perfeito e gracioso. Pousou no vidro das grandiosas janelas do edifício, as solas das botas cobertas por chakra, grudando-a a sua superfície e evitando que a gravidade puxasse seu corpo para baixo. Seus companheiros pousaram depois, ainda a flanqueando. Sakura agiu rápido, sabia que cada segundo contava; um suor frio porejou a sua nuca. Rápida e precisa, ela cortou o vidro com uma kunai imbuída em chakra, um corte circular perfeito que derreteu o vidro e os permitiu se infiltrar tão silenciosamente quanto sombras. Lá dentro, tudo ainda estava escuro.

Sakura liderou a busca pelos terroristas da Majin. Estava tensa. Eles eram sabidamente perigosos e não teriam misericórdia se os encontrassem ali. Por isso, tinha de ser cuidadosa, não podia falhar. Juntos, os três se moveram em sincronia, vasculhando cada cômodo com o silêncio e a discrição como os seus maiores aliados. Até que, no quadragésimo sétimo andar, localizaram a bomba de chakra já armada e com o temporizador correndo, diminuindo a cada segundo.

Depois de verificar que estavam sozinhos no edifício, Sakura relatou a situação aos seus superiores e recebeu ordens de proteger a bomba e de aguardar pela chegada do Primeiro Esquadrão. Tensa, ela assentiu.

Então eles a emboscaram e emboscaram a sua equipe. Vieram como demônios invocados a partir de sombras. Estiveram indetectáveis pelas últimas horas graças a drogas supressoras de chakra, constatou ao observar o suor frio nos seus rostos e o olhar vidrado que possuíam, e por isso Ryuu não tinha sido capaz de detectá-los no edifício mais cedo. Sakura informou os seus superiores pelo comunicador acerca das presenças dos terroristas e gritou para que os seus companheiros se preparassem para a luta.

— É uma emboscada!

Os terroristas que ela enfrentou não eram amadores ou mesmo indivíduos ordinários. Tinham técnicas de luta específicas e abusavam dos elementos para os seus jutsus. Mas Sakura tampouco era uma Shinobi comum. Sua percepção muito acima da média e sua mente brilhante lhe permitiam analisar os estilos de luta do adversário e deduzir suas fraquezas de forma rápida. Também era dotada de uma técnica de luta graciosa e eficiente, que lhe permitia eliminar os opositores com pouco esforço. Ela treinara a vida inteira para estar ali, para ter chegado até aquele ponto. Não seria qualquer um a derrotá-la.

Se ao menos ela estivesse sozinha, contudo. Um dos seus companheiros não demorou a ser encurralado pelo inimigo. Sakura se apressou para resgatá-lo antes que o golpe final do inimigo colocasse tudo a perder.

Sakura o abateu com uma perfuração profunda no pescoço, no ponto onde a armadura de placas sintéticas dele apresentava uma brecha. Mas ao correr para salvar seu companheiro, ela se permitiu afastar-se da bomba de chakra por um momento — um erro fatal.

Enquanto confiava o companheiro ferido ao outro, e dizia a ele para que o tirasse dali, outro terrorista se aproximou da bomba e acionou um dispositivo na sua lateral que a fez compreender imediatamente o que aconteceria. Ela mal teve tempo de virar o corpo e correr na direção da porta antes que a bomba de chakra explodisse, sacudindo o prédio inteiro e provocando uma onda de energia poderosa o suficiente para fazer trincar todos os alicerces.

A mesma onda de energia arremessou o corpo de Sakura com violência, levando-a a atravessar uma parede de concreto com o impacto. Ela cerrou os dentes devido à dor causada pelas costelas quebradas. Mas ainda não havia terminado. Tentou se proteger da melhor forma possível enquanto escombros imensos eram derrubados sobre o seu corpo, soterrando-a numa nuvem de fogo e de pó.

Sakura tentou gritar devido à dor quando a sua perna foi perfurada por uma viga de ferro, mas descobriu que a sua garganta estava em chamas. Seus pulmões foram comprimidos, o que impossibilitou que ela respirasse normalmente. Tinha de sair daquele lugar, não podia morrer ali. Não podia terminar daquela forma. Lutou contra a inconsciência enquanto todo o seu corpo implorava para que ela se rendesse ao sono pacífico que ameaçava abarcá-la.

Manchas escuras tomaram seus olhos, toldando a sua visão já limitada. Seria realmente mais fácil apenas se render à sonolência, desistir de lutar. Não valia a pena permanecer acordada, agarrada àquele fio de consciência, enquanto todo o seu corpo queimava e doía.

Estava a ponto de fechar os olhos quando se lembrou do motivo pelo qual deveria ficar desperta, o motivo pelo qual não poderia morrer — não ainda —: Sasuke. Ela não estava pronta para deixá-lo para trás, não estava preparada para abrir mão dele. Era cedo demais. Não. Decidiu, antes de reunir chakra por todo o seu corpo e concentrá-lo de uma só vez nas palmas das mãos para tirar o entulho de cima de si.

Ao fazê-lo, imediatamente engasgou com toda a fumaça que tomava o local. Os corpos dos terroristas da Majin jaziam todos à sua volta, mortos ou agonizantes. Ela terminaria como eles se não saísse dali. Tentou se erguer, mas a viga de ferro atravessada na sua coxa a impediu. Sakura gemeu de dor, a boca se enchendo de sangue, quase a levando a se engasgar quando o engoliu de volta.

Deitou-se outra vez e tentou pedir ajuda pelo comunicador, mas descobriu que a explosão da bomba o havia danificado. Ninguém a encontraria agora, ela morreria ali. O fogo estava avançando, dançando selvagemente pelas paredes e pelo teto. A fumaça e a escuridão criavam ilusões para a sua mente esgotada.

Assustada, porém resignada, ela fitou o teto outra vez. Olhou para as sombras que se aproximavam dela e percebeu que preferia não olhar para mais nada. Ao cerrar as pálpebras, enclausurou a si própria num mundo feito de escuridão e afundou dentro de sua própria mente, procurando por algum lugar em que pudesse encontrar um pouco que fosse de paz e de alento.

Esqueceu as dores, esqueceu os medos, esqueceu os lamentos. Esqueceu-se de tudo, exceto pelo rosto que a seguia mesmo nos recantos mais sombrios de sua mente. Ali permaneceu até que todo o restante desvanecesse e ela tivesse a certeza de que a escuridão que via diante dela se tratava dos olhos da morte.

Quando as primeiras estrelas surgiram, uma a uma, oferecendo a ela um pouco de sua luz mas não do seu calor, Sakura se sentiu incomensuravelmente grata. Olhou para trás uma única vez, para todo o caminho que percorrera até ali, porém não sentiu arrependimento algum dentro de si. Viu tanto quanto ouviu: uma explosão de luz leitosa, na aurora dos tempos, e centenas de centelhas que a seguiram, despencando do céu negro como estrelas cadentes para pousarem numa terra jovem e inabitada. Ela também despencou, acompanhada de uma única centelha que jamais a abandonava. Aquela presença lhe trazia uma sensação de completude e de paz, um sentimento tão sublime que tinha até mesmo dificuldade de descrever.

Como o universo ditou, as estrelas caídas renasceram em corpos físicos, formas que lhes eram esquisitas e desajeitadas até então. Ela olhou para o rosto que ele adquiriu, um completo estranho, e o reconheceu ainda assim. Estiveram lá, juntos, na primeira alvorada e no primeiro anoitecer.

Viveram e morreram, e viveram e morreram outra vez. Até que, numa existência, ele se corrompeu, perdeu-se dela, criou uma maldição que se perpetuou através dos séculos, e um ciclo que condenou ambos a repetirem a mesma despedida dolorosa. Sakura sentiu uma dor tão visceral, uma angústia tão profunda, ainda assim estendeu a mão para ele em cada uma de suas vidas e lhe ofereceu todo o seu amor e compaixão.

Quando rompeu o ciclo de ódio, iniciou por conta própria uma dura jornada de penitência e redenção, e sacrificou a si mesmo de inúmeras formas a fim de restabelecer a ordem no cosmos que perturbara sem pretender. E quando se libertou das amarras do seu ódio, tornou-se livre para viver ao lado dela outra vez, sem mais obstáculos que pudessem impedi-los de ficar juntos, sem mais barreiras que pudessem separá-los. Viveram uma longa vida ao lado um do outro, e embora a distância tivesse persistido em mantê-los afastados amaram-se até o fim dos seus dias e amaram-se como ninguém jamais amou outrem.

A última lembrança que teve daquela vida foi de tê-lo abraçado enquanto ambos, grisalhos e velhos, olhavam o florescer de uma cerejeira e o último fôlego de vida deixava o corpo dele, pacificamente. Viveram outras vidas depois daquela, existências turbulentas, mas que cujas atribulações já não os apartavam mais devido à escuridão — agora expurgada — da alma dele.

Agora, ela estava ali; chegara ao ponto de partida uma vez mais. Mais sábia do que ontem, menos apaixonada por ele do que provavelmente estaria amanhã. Tudo aconteceu tão depressa então: a escuridão foi dispersada, as estrelas despencaram do céu outra vez e uma luz morna banhou-a, afunilando num túnel pelo qual ela viajava depressa. Do outro lado, não era a morte que a aguardava, e sim a vida.

Sakura só se lembrava de acordar com o céu estrelado sobre a sua cabeça uma vez mais com as mãos de um ninja-médico trabalhando nos ferimentos do seu corpo, fechando-os com uma eficiência absurda enquanto uma mão forte apertava a sua, recusando-se a soltá-la. Perdeu a consciência de novo antes que conseguisse descobrir o que estava acontecendo ou se lembrar de como havia parado ali.

✧ ✦ ✧

Quando acordou outra vez, descobriu em primeiro lugar que estava viva e que, em segundo lugar, estava no grande hospital de Konoha. A luz branca e ofuscante fez com que os seus olhos sensíveis ardessem quando os abriu, mas exceto pela vertigem que a acometeu quando tentou se levantar Sakura percebeu que não sentia mais nenhuma dor. Os milagres da medicina do amanhã.

Alguém havia muito gentilmente colocado um vaso com algumas peônias à cabeceira do seu leito. As janelas estavam cerradas, mas mostravam o dia claro lá fora. Ela esperou por um tempo para ver se alguém apareceria para checá-la; ninguém apareceu. Talvez estivesse a mais tempo ali do que imaginara. Quantos dias desde o atentado deveriam ter se passado?

Sasuke! Sua mente lembrou-a de Sasuke. E da bomba de chakra. E dos seus companheiros. Teriam eles conseguido escapar ilesos da explosão? Sakura os mandara sair dali um momento antes que a bomba fosse detonada. A agitação repentina fez os seus sinais vitais dispararem e uma enfermeira não demorou a aparecer para vir conferir como ela estava.

A mulher, entretanto, frustrou Sakura e se recusou a responder qualquer uma das suas perguntas. Quem o fez foi Ume, que surgiu à porta do seu quarto horas depois com um bonito buquê de peônias frescas nos braços.

— Estou tão contente por te ver desperta de novo! Deixou todos bastante preocupados, e eu já liguei para a sua mãe para avisar que você acordou, não se preocupe. Ela está vindo te ver nesse exato momento. E então? Como está se sentindo? — Ume perguntou ao ocupar a cadeira ao lado da sua cama, desnorteando-a um pouco por haver falado tantas informações de uma vez e num único fôlego.

— Como se tivesse voltado dos mortos — Sakura respondeu com bom-humor, amenizando o clima pesado no recinto. — Quantos dias eu fiquei inconsciente, Ume?

— Três dias — Ume suspirou a resposta. — Disseram que perdeu muito sangue e que os seus pulmões foram perfurados. O Esquadrão Médico chegou até você a tempo, felizmente. Mas o importante é que você está bem agora. É um verdadeiro milagre, sabia? Sasuke-kun não desistiu de tentar te encontrar mesmo quando todos ordenaram que a prioridade seria assegurar um perímetro seguro para procurar por mais bombas e pelos terroristas que conseguiram escapar. Ele se recusou a desistir de você, Sakura, inclusive desobedeceu ordens para te salvar. Ele te ama. Muito. Confesso que tinha as minhas dúvidas sobre o relacionamento de vocês, mas peço desculpas. Eu estava errada.

Lágrimas escorreram pelo rosto de Sakura e Ume prontamente ofereceu alguns lenços a ela. Agradeceu-a com um sorriso doce e conversaram por mais algum tempo antes que Ume se despedisse com um abraço forte e uma promessa de que voltaria para visitá-la de novo.

Por fim, quem entrou no quarto foi Sasuke. Ele se aproximou comedido primeiro, para, só depois de ver as lágrimas no rosto de Sakura, se inclinar sobre o seu corpo para roçar os lábios contra a sua testa e cabelo.

— Desculpa — Sakura disse num sussurro alquebrado.

— Não tem que se desculpar por nada — ele garantiu, os olhos enfim encontrando os dela, marejados.

— Eu te deixei preocupado. Além disso, te forcei a desobedecer ordens dos seus superiores. Ah, Sasuke-kun.

Sasuke balançou a cabeça, a expressão atordoada, afligida.

— Você não me forçou a nada, Sakura. Eu os desobedeci porque quis, porque eu precisava te encontrar.

— Mas isso pode te prejudicar agora... — ela argumentou.

— E eu não dou a mínima para isso.

Sakura envolveu o rosto dele nas suas mãos.

— Mas deveria. É o seu sonho. Sempre foi o seu sonho desde que era um garotinho. Você sempre quis servir na Força Shinobi.

— Não importa mais — ele a cortou, inclinando-se de encontro ao toque de uma das mãos dela. — Não importa, Sakura. Você importa. Eu não posso te perder, não entende? Não consigo... suportar a ideia disso. Sequer consigo me imaginar passar por isso. Eu não quero me sentir assim nunca mais — admitiu relutantemente, os sentimentos ainda à flor da pele. — Jamais pensei que sentiria... Isso. Essa dor, essa raiva. Por um momento, eu não soube quem eu me tornaria se você partisse. Foi aterrorizante, Sakura.

Ele piscou, os olhos negros tornando-se escarlates por um momento, e Sakura imaginou se estava vendo coisas, se estava exausta demais. Então o puxou para um abraço, entendendo a sua dor, a sua angústia e o seu medo. Apertou-o contra o seu corpo, e Sasuke relaxou, inspirando profundamente.

— Você nunca vai me perder — prometeu a ele. — Nada e nem ninguém me separará de você, Sasuke-kun. Eu sei disso. Eu sinto isso. Nós ficaremos juntos, não importa o que aconteça.

Nem mesmo a morte poderia, pensou. Ou o tempo. Nada. Eles estariam juntos por toda a eternidade. Era seu destino, era o destino dele, gravado numa pedra ainda no berço de tudo. Algo a fazia ter certeza disso. Algo a fazia acreditar com veemência nisso quase como uma lembrança distante, uma memória borrada e desbotada. Enquanto carregasse aquela certeza no seu coração, tudo ficaria bem. Eles ficariam bem.

Enquanto se amassem, Sasuke e Sakura encontrariam um ao outro. De novo e de novo. Seus caminhos estavam entrelaçados, suas almas se completavam e o amor que os unia era mais forte do que tudo que tentasse destruí-los.

Jamais houvera maior verdade do que esta em todo o universo e jamais haveria.

✧ ✦ ✧

Fim.


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Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim!

Muito obrigada a todos que leram até o final! Eu vou começar a responder todos os comentários nesse fim de semana.

Escrever Eternidade se mostrou um bom exercício pra tentar recuperar a minha vontade de escrever depois de tudo o que aconteceu. Mais uma vez, obrigada a todos que desejaram melhoras para a minha cachorra! Hoje ela fez novos exames e está curada da infecção, embora deva continuar fazendo o tratamento para os rins dela. Obrigada mesmo, significou muito receber o apoio de todos vocês!

E é isso! Nos veremos agora nas minhas outras Fanfics em andamento (Dark Dawn e Onírico), e eu também pretendo tirar outras que estão no limbo do hiatus há tempo demais. Só peço paciência e compreensão, pois eu escrevo nas minhas horas vagas e às vezes eu estou cansada demais, ou sem inspiração e vontade de escrever, ou quero tirar um tempinho pra mim pra ler um livro ou ver um filme/série. Como sempre digo, eu não vou abandonar nenhuma história e eu pretendo sim terminar todas. Vai demorar pra isso acontecer? Muito provavelmente XD

Mais uma vez, obrigada por ter lido Eternidade e eu me despeço por aqui! o/



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