O Sol e A Lua escrita por Luana de Mello


Capítulo 28
Prelúdios


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, tudo bem por aqui?
Espero que todos estejam bem e saudáveis!
Aqui mais um capítulo desta fic (que não foi abandonada, prometo).
Espero que gostem, e desculpem o tempo que levo para atualizar, eu bem que gostaria de poder fazer Kage Bushin pra poder dar conta de tudo.
Obrigada a todos pelo carinho de sempre!



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Surpresa, incompreensão, curiosidade; todos esses sentimentos ficaram estampados no rosto de Naruto, ao abrir a porta de casa e verificar de quem se tratava seu visitante. Atrás dele, Hinata esconde rapidamente seus Tessen’s e se aproxima constrangida, fazendo o possível para disfarçar que há alguns segundos, estavam prontos para atacar a garota implacavelmente; desde o dia em que foram emboscados em casa pelos Shinobis de Suna, se tornaram um pouco paranoicos com respeito às visitas não previstas, inclusive solicitaram a seus amigos, que sempre avisassem com antecedência quando fossem vê-los, principalmente quando Konohamaru e Hanabi voltassem para casa. A experiência de ter que proteger os pequenos, sem deixar que a violência infligida os afetasse ou traumatizasse mais do que já eram, foi algo que nem Naruto e nem Hinata gostariam de repetir, e nesses dias de incertezas, essa má recordação, voltava a atormentá-los; mas mesmo visivelmente desconfortáveis e ainda sem conseguir pronunciar uma palavra, eles sinalizam para que a Haruno entrasse, e tentam sorrir o melhor que podem, ao ver como ela estava nervosa.

— Desculpe... vir assim. — Sakura balbucia, parada incomodamente em meio a sala.

— Tudo bem. — Hinata tenta sorrir, se perguntando o motivo por trás de sua chegada — Sente-se.

Sakura sabia que seria assim, na verdade imaginara que seria mais complicado, dada suas ações passadas, era possível que nem quisessem recebê-la, quanto mais estender assim sua hospitalidade; e não poderia culpá-los por isso. Tinha total certeza que só poderia falar com Naruto e Hinata assim, devido à sua infinita bondade, que apesar de tudo que descobrira que ambos passaram, os impedia de serem mesquinhos e orgulhosos, mesmo quando tinham todo direito de sê-lo; agora que entendia tudo muito bem, não conseguia pensar em nenhuma outra palavra para se auto de nomear, do que alguém sem escrúpulos, que se utilizaria dessa bondade, sem merecer nem que eles sequer lhe dirigissem a palavra.

— Bem, o que podemos fazer por você, Sakura? — Naruto pergunta, vendo que garota parecia não conseguir falar.

— Eu queria perguntar uma coisa. — Ela começa nervosa, morde os lábios com força e respira fundo, tomando coragem — Na verdade, eu queria te pedir uma coisa, Hinata!

— A mim?! — a Hyuuga se espanta.

— Sim... são favores... — Sakura explica, o coração parecendo um tambor gigante, as orelhas a ponto de cair de vergonha — Sei que não tenho direito de te pedir nada, e se a resposta for não, eu vou enten...

— Calma, Sakura. — Hinata a interrompe — Respire primeiro, e então me conte sobre o que se trata.

A Hyuuga, mais que qualquer outra pessoa, podia entender o nervosismo e insegurança que estavam afligindo aquela garota nesse momento, sabia como podia ser duro, querer mudar, querer ser melhor, e não ter apoio, não ter onde segurar quando se está afundando; já havia passado por tudo isso, e graças a providência divina, Naruto entrara em sua vida, para ser todo apoio e segurança que ela necessitara, para ser sua motivação constante. Quando viu a garota tremendo inteira, com os olhos cheios de lágrimas, e mesmo assim segurando o choro, tentando ir adiante, lembrou-se dela mesma, naufragando pelos mares da vida, sem forças para um fôlego ao menos; sentiu que deveria ouvir o que ela diria, assim como tinham feito por tantos desconhecidos antes, Hinata sabia que deveria estender a mão e puxar Sakura daquelas águas escuras e turbulentas.

— Eu vou falar com o Hokage. — Naruto decide, quando sente a compaixão com que Hinata fitava a outra, sabia que as duas precisavam de um tempo — Faz tempo que você não tem um tempo de meninas, Hime.

Dito isto, o Uzumaki a abraça apertado e então a beija rapidamente, fazendo Sakura baixar os olhos impactada, e Hinata corar a nível estratosférico, simultaneamente; mesmo com os constantes tumultos dos últimos dias e o acúmulo gigantesco de trabalho, a relação deles vinha progredindo lenta e satisfatoriamente, e a mais nova descoberta de Naruto com respeito a isso, foi que era incrivelmente satisfatório fazer Hinata corar, pelo motivo que fosse, ele se deleitava ao ver seus olhos agitados e suas bochechas rosadas.

— Até outra hora, Sakura! —  Naruto se despede, fingindo não ter feito nada.

Vendo-o sair tranquilamente pela mesma porta que entrara, a Haruno fica em dúvida sobre o que dizer ou fazer, e para com sua mão erguida a meio caminho, sem saber se acena e se poderia fazer isso; sua pequena indecisão, e a atenção que momentaneamente se fixara no Uzumaki, dera tempo para que a Hyuuga, alvoroçada e constrangida ao seu lado, se recompusesse e ocultasse suas emoções perfeitamente.

— Então, o que queria me pedir? — Hinata pergunta, assim que recupera a voz.

— Sei que estão todos ocupados, tudo que tem acontecido deve deixar vocês sobrecarregados ao extremo. — Sakura responde, indicando que não estava alheia aos assuntos da Vila — Mesmo assim, estou sendo egoísta e estou aqui para te pedir ajuda, peço desculpas por isso!

— Ajuda com o que, exatamente? — a Hyuuga pede, desconfiada de algum problema sério, visto que Sakura fora até ela — Se estiver a meu alcance, farei o que puder.

— É um pouco difícil, por isso se não puder, tudo bem. — Ela explica nervosa — Estou treinando com Sakumo nii-chan, para me preparar melhor para as batalhas, acho que consigo passar na primeira etapa, dependendo do meu oponente, mas se eu não melhorar...

— Você quer ajuda no seu treinamento? — Hinata questiona surpresa e vê Sakura assentir vermelhíssima — O que é difícil para você?

A calma e gentileza com que Hinata conversa com ela, pega Sakura desprevenida, havia esperado que a Hyuuga lhe gritasse e jogasse em sua cara que estava sendo muito descarada, que não desperdiçaria seu tempo com ela, seria a reação que esperaria de qualquer pessoa que já tinha feito mal; mas o que ocorrera fora o total oposto, e estava recebendo muito mais consideração do que ela mesma julgava que merecia.

— Meu controle de chakra, nii-chan disse que ainda não está bom, por isso sempre me machuco. — Sakura conta e mostra a mão lesionada — Ele disse que você tem um controle de chakra perfeito e o melhor Ninjutsu médico que já viu, e que conhece algumas técnicas que eu poderia tentar, para desenvolver minhas habilidades.

— Seu irmão exagerou um pouco. — Hinata contesta, sendo modesta — Mas sim, meu Doujutsu requer um aperfeiçoamento do controle de chakra, caso contrário, eu não poderia usá-lo por longos períodos e realizar outros Jutsus ao mesmo tempo.

— Demora muito? Para conseguir controlar satisfatoriamente? — Sakura pergunta, com medo de não poder melhorar até as finais.

— Não, quando você tem uma noção do que está fazendo, o processo fica mais simples. — Hinata explica e busca em sua estante, um livro grosso e de aspecto antigo — Shikamaru tinha o mesmo problema, não conseguia manter sua Possessão das Sombras por muito tempo e se esgotava facilmente, mas com o treinamento correto, conseguimos evoluir sua habilidade, mas acho que para você, teria que tentar algo diferente.

— Por quê? — a Haruno pede confusa.

— Você não possui um Kekkei Genkai. — Hinata responde e abre o livro mais ou menos pela metade — Se você tivesse uma habilidade provinda de herança sanguínea, poderíamos forçar o aperfeiçoamento com essa habilidade; mas no seu caso, teríamos que encontrar algo que se adapte a você e sua forma de luta.

— Ah... — Sakura murmura um pouco desanimada, não tinha nenhum Jutsu ou técnica especial como os outros.

— Felizmente para você, existe uma técnica antiga que venho estudando há muitos anos. — Hinata fala sorrindo.

Independentemente de suas desavenças passadas, Sakura era uma Kunoichi de Konoha e se mostrara genuinamente arrependida, além de ter provado em diversas ocasiões que estava empenhada em melhorar.

— Então vai me ajudar?! — A Haruno pede abismada, os olhos quase saltando das órbitas.

— Sim, eu vou. — Hinata afirma fitando Sakura seriamente — Se você se comprometer e se empenhar verdadeiramente, e jamais colocar outros assuntos acima disso, e jamais usar o que vou te ensinar, para machucar os outros.

— Eu prometo! Prometo! — Sakura grita, se pondo em pé e segurando as mãos de Hinata, num ato de extrema alegria — Posso até fazer um juramento, eu prometo por tudo que há de mais sagrado!

— Não precisa de juramento, basta que faça tudo que prometeu, ou deixarei de te ensinar. — Hinata sentencia, e aperta os lábios, para não rir da reação da outra — Agora, me diga o que era a outra coisa?

— O que? — A Haruno fica confusa, sem entender a pergunta.

— Você disse “favores” quando chegou, o que é o outro favor? — a Hyuuga menciona a conversa inicial que tiveram.

— Isso... há-há... Sabe, nem precisa tanto assim... há-há... — Sakura fica imediatamente envergonhada e vira o rosto antes de falar — Eu queria saber se você pode cortar meus cabelos? Não tenho mais para quem pedir... e nii-chan não sabe fazer essas coisas... comprido assim atrapalha nos treinos...

A Haruno deixa as palavras no ar e baixa a cabeça, não tinha qualquer interação com as outras garotas da turma, até mesmo a Ino, que uma vez estivera ao seu lado, ela conseguira afastar; agora, sentia pela primeira vez, como uma amiga de verdade fazia falta, como seria bom ter outra garota, para poder conversar sobre as diferentes emoções que a atormentavam, para pedir esses favores, pedir conselhos. Não podia contar com sua “mãe”, não tinha amigas, e nem mesmo alguém próximo além de Sakumo, só lhe restara recorrer a Hinata e esperar que a Hyuuga a entendesse; talvez estivesse indo além dos limites da boa vontade, talvez não deveria ter tentado algo a mais do que uma relação mestre e aluna, e nem sabia se poderia considerar assim ou se poderia considerar mais, mas não restara mais ninguém para tentar.

— É claro! — Hinata responde, compadecida pelas lágrimas de vergonha, que se acumulavam nos olhos da garota — Sente-se em uma cadeira mais alta, vou buscar algumas coisas.

Hinata a deixa só por uns instantes e vai até o quarto, busca por toalhas, pentes, cremes e uma tesoura, faz tudo isso mecanicamente, se movendo lentamente e pegando tudo conforme lembrava que estavam dispostos; não permitiu que Sakura percebesse, mas seu pedido mexera com suas memórias e alguns sentimentos desagradáveis. Sem conseguir se controlar totalmente, a Hyuuga se encolhe um pouco, no conforto e segurança de sua cama e deixa que algumas lágrimas escapem de seus belos olhos, não emite som nenhum, apenas chora em silêncio; ver Sakura envergonhada daquela forma, a dor evidente em seu rosto, lhe recordara de seu próprio passado, de quando ainda era uma menina ingênua e sonhadora, que queria a todo custo agradar sua desprezível genitora, e quando não obtivera sucesso em algo que nem mesmo os adultos fariam, fora punida da forma mais humilhante e degradante possível. Lembrava-se perfeitamente das palavras e insultos horríveis que ouvira naquele dia, enquanto Hiromi lhe picotava todo o cabelo, deixando algumas partes totalmente raspadas e outras com alguns tufos, causando até vários cortes em sua cabeça; lembrava-se de se sentir feia e pensara que nunca mais teria cabelos, chorava toda vez que tomava banho e os machucados ardiam, desenvolvera uma certa repulsão a si mesma e evitava se olhar no espelho por um bom tempo. Quando seus cabelos voltaram a crescer e os cortes cicatrizaram, ela viera morar na cabana e Kurenai havia consertado seu corte desgrenhado, a deixando com a aparência normal de uma menina, em sua memória, esse fora um dos dias mais felizes da sua vida, pudera finalmente ser bonita; sabia como Sakura devia estar se sentindo, andando pela Vila e tendo as pessoas a encarando, por sua pele com cicatrizes de queimaduras e os cabelos chamuscados, com partes emboladas e endurecidas, sem a beleza de antes.

— Como você quer que eu corte, Sakura? — Hinata pede, assim que volta a sala, trazendo uma bacia cheia consigo.

— Eu não sei direito, nunca cortei, mas sei que o cabelo tão comprido dificulta nas lutas. — Ela responde segurando uma mexa emaranhada — Pode cortar o tanto que dê para salvar, não importa se não ficar bom.

— Não se preocupe, sei fazer um corte que vai ficar lindo no seu rosto. — Hinata fala, separando as mexas cuidadosamente.

— Você que cortava o seu cabelo? — Sakura pergunta, queria continuar conversando e assim evitando sentir vontade de chorar.

— A primeira vez não. — A Hyuuga responde em tom sombrio — Depois Kurenai-sensei cortava para mim, com o tempo fui aprendendo a fazer sozinha.

— Mas agora não corta mais, não é? — Sakura questiona, fixando os olhos nos fios sedosos de Hinata, através do espelho que fora colocado à sua frente — Está muito maior do que você costumava deixar.

— Sim, foi um pedido especial! — ela conta, as bochechas coradas e um sorriso apaixonado nos lábios — Você quer que fique mais cheio do que liso? Ou prefere de outro jeito?

— Eu não sei... sempre usei assim e por um motivo bobo ainda, é a primeira vez que mudo completamente! — A Haruno dá de ombros, só queria que pudesse penteá-los adequadamente e que não ficassem mais com aquele aspecto horroroso.

Hinata passa a trabalhar cuidadosamente, suas mãos puxavam e separavam os fios rosados com delicadeza, logo os molhava e aplicava um pouco de creme, e então volta a separar mais mexas e repetia todo o processo; quando está cortando já as primeiras camadas de cabelo danificado, sente que o ambiente voltara a ser incomodo, além de Sakura estar fazendo uma expressão de completa angústia. A Hyuuga bem sabia como devia estar sendo difícil para a garota, renunciar à sua vaidade, e de certa forma, da sua identidade também, afinal todos na Academia sabiam o quanto ela amava seus longos e brilhantes cabelos; sem falar nas marcas rosadas espalhadas por seu corpo, que ainda permaneceriam um bom tempo assim, até se tornarem um pouco imperceptíveis.

— Como está sendo? — Hinata pergunta, a fitando de forma sugestiva.

— Tenho me mantido ocupada, tentando não pensar, nii-chan ajuda bastante nisso. — Sakura responde depois de um tempo, os olhos marejados — Decidi que não valia a minha vida, me dedicar unilateralmente a uma pessoa que não sente o mesmo.

Hinata fica calada, processando o que tinha ouvido; fora mal interpretada por Sakura, que achou que estava perguntando sobre seu estado emocional, quando tinha pedido sobre sua condição física. Mas quando viu no rosto da garota, que ela estava ansiosa que perguntasse mais, que desejava falar mais a respeito, concluíra que era nesse sentido que a Haruno não se sentia bem; não eram suas feridas físicas que a estavam incomodando, eram as feridas profundas em seu coração.

— Você fez muito bem, precisa cuidar de si mesma agora. — Hinata a encoraja e a vê morder os lábios — Não está incomodada com as cicatrizes?

— Nos primeiros dias foi difícil acostumar-me, parecia que estava olhando para outra pessoa no espelho. — Ela conta, passando seus dedos por uma parte de pele rosada em seu pulso.

— Se você quiser, posso tentar encontrar algum tratamento que faça-as curar-se mais rápido. — A Hyuuga sugere, cortando o último tufo de cabelo queimado.

— Não, obrigada. — Sakura nega, para surpresa de Hinata — Estou bem com elas, são uma lembrança importante agora, cada vez que olho para uma cicatriz dessas, eu lembro quem quero ser de agora em diante.

— Isso é bom. — Hinata sorri, não esconde o contentamento — Quando se tem uma boa motivação, fica mais fácil batalhar por nossos objetivos, suponho que Sakumo seja um ótimo incentivo também.

— Sim! — a Haruno concorda, exultante de alegria por poder falar do seu amado irmão — Sakumo nii-chan trouxe cor para minha vida, me mostrou que eu não precisava me submeter a ninguém e nem mendigar por afeto, ele me salvou de mim mesma!

— E seus pais, Sakura? Eles nunca te repreenderam ou te disseram que estava indo pelo caminho errado? — Hinata finalmente pergunta o que mais a intrigava naquilo tudo.

— Se assim fosse, talvez eu nunca tivesse sido aquela pessoa desde o princípio. — Sakura conta, sentia vergonha de seu passado, mas se tinha alguém que tinha direito de saber, esse alguém era Hinata, por tudo que lhe fizera — Meu pai desde sempre só esteve preocupado com suas amantes e saquê, inclusive eu sou filha de uma amante, minha mãe fez de tudo para tomar o lugar da mãe do meu nii-chan, e depois só se preocupava em gastar com coisas inúteis e falar da vida dos outros; nenhum dos dois vive realmente naquela casa.

— Então você estava sozinha?! — Hinata pergunta espantada.

— Não exatamente, quando acabava o dinheiro ou os baristas os expulsavam, eles voltavam para casa. — Ela conta.

Omitira algumas coisas, como o fato de que seus pais lhe tiravam da cama, para agredi-la, pois segundo eles, seu dinheiro acabava pôr a filha ser uma despesa constante; mas não precisava dizer, os anos de treinamento intensivo e interrogatórios intermináveis, ensinaram a Hinata, ler muito bem as expressões das pessoas, e descobrir tudo que estavam escondendo, foi o mesmo com o sorriso triste de Sakura, e a forma nervosa como ela cutucava uma unha com a outra, até fazê-la sangrar.

— Na Academia eu não me dava muito bem com as outras crianças, sempre acabava brigando, eles implicavam comigo por causa da minha testa enorme, e eu implicava de volta com outras coisas e muito mais cruéis. — O desdém com que falava, indicava o quanto havia sido magoada — Foi quando conheci Sasuke, ele não xingava e nem me chamava de testa de marquise, então é lógico que me interessei por ele, queria ser sua amiga e mais tarde me descobri apaixonada, mas a verdade é que para ele eu nem existia, era como se fosse apenas sua sombra.

— Você nunca pensou em buscar novos amigos? — A Hyuuga pede.

— Pensei muitas vezes, mas quem queria ser meu amigo? Eu machuquei muitas pessoas, tanto que chegou ao ponto de toda vez que eu me aproximei de alguém, só fui atacada, e o que eu fiz? Ataquei de volta, eu não tinha coragem de tentar fazer diferente, só via todos como inimigos.

— E no fim, permaneceu onde não estava sozinha. — Hinata concluí.

— Talvez tivesse sido muito melhor permanecer sozinha, quem sabe eu não teria me aproximado de pessoas melhores antes? Quem sabe hoje eu poderia falar com as pessoas, sem precisar esconder o rosto com vergonha. — Sakura fala mais para si mesma, do que pra Hinata.

— Você só precisa ter coragem, já sabe que reação esperar, mas se der o primeiro passo e fizer diferente como fez hoje, quem sabe as pessoas não passarão a te olhar diferente? Deixe que te vejam Sakura, como você é! — A Hyuuga incentiva, lembrava-se como tratavam Naruto até pouco tempo atrás, mas conforme ele mesmo foi se abrindo, foram capazes de reconhecê-lo — Terminei, olha como ficou bonito!

Seus fios, sempre tão longos e lisos, agora estavam curtos e eriçados, cortados em camadas, mexa por mexa, de modo que acabaram mais volumosos, deixando seu rosto com um aspecto mais juvenil, contrário à sua habitual aparência de criança; quando pensara em cortar os cabelos, havia deduzido que não ficaria bem para ela, mas não queria continuar como uma bruxa, mas aquele resultado era incrivelmente melhor do que tinha imaginado.

— Achei que esse corte fosse ficar horrível em mim! — Sakura toca os cabelos bagunçados impressionada — Ficou tão bonito, muito obrigada!

Num ímpeto de alegria e euforia, ela abraça Hinata, gargalhando alto, felicíssima demais para se conter, e acaba contagiando a Hyuuga, que a acompanha satisfeita com sua reação; o contentamento evidente em sua atitude só demonstra como tomara a decisão correta, e em meio aquela inusitada comemoração, Hinata pensou em como se lembraria desse dia no futuro, o dia em que fora capaz de presenciar e participar do renascimento e recomeço de alguém. É assim que Naruto as encontra, quando chega de volta em casa, num princípio se espanta, e logo se escora no umbral da porta, assistindo em silêncio àquela pequena festa; fazia dias que não via Hinata sorrir sinceramente, tamanha era a tensão e preocupação que estavam passando e agora, vê-la tão descontraída e leve, era um presente bem-vindo aos seus olhos.

— Que festa, e nem me convidaram! — Ele se faz presente, causando uma comoção nas garotas.

— Naruto! — Hinata exclama alarmada, e logo olha para o relógio da parede, que já marcava seis horas da tarde.

Elas tinham se ocupado tanto enquanto conversavam, que nem viram as horas passando tão rapidamente, e para a Hyuuga, que estivera constantemente atarefada e preocupada, àquela tarde significava uma pausa em boa hora, um alívio mental necessário, em meio ao turbilhão de coisas que tinha que pensar e analisar; para Sakura, significava uma nova perspectiva, uma prova de que ela era capaz de interagir normalmente com outras pessoas, e um fio de esperança para a pessoa que ela buscava se tornar.

— Então Hina, eu sabia que você tinha mãos de fada, mas isso vai além do que imaginei. — Naruto passa um braço despreocupado por seus ombros, então sorri até seus olhos ficarem pequenininhos — Foi uma enorme transformação, Haruno!

— Não é?! Eu não achei que fosse ficar tão bom! — Sakura concorda, seus olhos, como duas enormes esmeraldas, fitavam Hinata cheios de admiração, fazendo-a se sentir constrangida — Onde tem uma vassoura?

— Vassoura? — Hinata pede confundida.

— Sim, para limpar essa bagunça. — Sakura fala apontando para o lugar onde estivera sentada antes, agora repleto de fios rosados pelo chão — É o mínimo que posso fazer para agradecer!

— Não se preocupe com isso. — Hinata nega imediatamente, e então entrega a outra, o livro que estivera folheando antes — Melhor que isso, quero que vá para casa e estude o máximo que conseguir para amanhã, te espero à tarde para começarmos a teoria!

— Sim, sim, é claro! — Sakura pega o livro e o abraça, como se fosse o maior tesouro do mundo, os olhos brilhando de emoção — Eu vou, com certeza vou estudar muito!

— Eu espero que sim! — Hinata concorda e a acompanha até a porta — Até amanhã, Sakura!

— Até amanhã! — Sakura se despede alegre.

Antes de fechar a porta, a Hyuuga ainda a vê indo embora, saltitando pelo caminho de volta, como uma criança que recém ganhara seu tão esperado brinquedo; aquilo era tão inusitado vindo de Sakura, que sempre quisera parecer madura para Sasuke, que até fez com que Hinata risse um pouco mais.

— Então, como foi? — Ela pergunta, ao se virar para encarar Naruto novamente.

Seu rosto, antes tão leve e descontraído, agora estava outra vez sério e enrijecido pela tensão, sua postura mudara abruptamente de uma simples Kunoichi adolescente em uma tarde comum, para a temida Tenente da ANBU; era certo que Hinata despedira Sakura, porque queria que a garota estudasse e se habituasse com a técnica que lhe ensinaria, mas também queria descobrir o que Naruto obtivera da conversa com o Sandaime, e o que fariam a partir de agora.

— Ele não sabia de nada, me contou como foi a adaptação da minha mãe na aldeia, como e quando ela veio para cá, mas o vovô parece estar totalmente alheio ao que realmente aconteceu no passado! — Naruto conta, sentando-se em uma cadeira com um ar mais cansado do que de costume — O que faremos agora Hina? Eu tenho medo do que posso descobrir se ir adiante nesse assunto, medo do que essa descoberta pode causar, mas sinto que é um erro fingir que não existe essa pendência!

— Eu sei! — Hinata se ajoelha a sua frente, suas pequenas mãos pousam no rosto demarcado dele, transmitindo conforto — Mas se te incomoda tanto, você deve procurar a verdade, porque isso vai sempre te perseguir, a menos que seja resoluto; e você sabe, eu vou estar contigo, em qualquer decisão!

Agradecido com a imensa compreensão dela, com sua capacidade de lhe trazer segurança e estabilidade com simples palavras, Naruto a abraça, e como fazia quando ainda era um menino, esconde o rosto em seu ombro, inalando lentamente a agradável fragrância de narcissus que ela emanava hoje, resultado de ter ido até o riacho pela manhã, colher as flores para decorar a casa; como de costume, estar com Hinata o acalma e ajuda a tomar uma decisão, ela não precisa de muito para trazê-lo de volta ao seu centro de gravidade, fazendo seu mundo entrar em ordem, afinal, ela era todo seu universo.

— Obrigado! — Naruto sussurra, relutando em terminar aquele momento de paz — Assim que tudo estiver calmo, que a vila estiver relativamente segura novamente, quero ir até Uzushiogakure!

Ele imediatamente fecha os olhos, temendo a reação de Hinata, após tomar essa decisão unilateralmente, sem perguntar se ela estaria disposta a acompanhá-lo nessa jornada, sem considerar ainda as dificuldades que passariam para isso; mas contrariamente ao que imaginara, a Hyuuga permanece acariciando seus cabelos calmamente, e se não fosse por esse fato, Naruto até pensaria que ela adormecera ali, tão silenciosa que permanecera.

— Tudo bem! — Hinata finalmente se pronuncia a respeito — Vamos precisar fazer um inventário e ver o que levamos de casa, preparar as crianças e Shikamaru e Sai, veremos o que fazer com as gatas; vamos ficar ocupados um tempo, então precisaremos de férias antes de partir...

— Desculpe... eu decidi sozinho... não considerei muita coisa e nem o que você pensa a respeito. — O Uzumaki balbucia envergonhado, sem coragem de erguer o rosto e encará-la.

— Não faça isso! — A Hyuuga rebate, como se estivesse falando a uma criança — Eu sempre soube que chegaria esse dia, você tem curiosidade e quer conhecer suas origens, agora apenas temos mais um motivo para ir, se não fosse agora, seria com certeza no futuro; e para te falar a verdade, eu também sempre quis ir, mas queria que você pensasse bem antes de decidir.

— Você não existe Hina! Como pode ser tão encantadora?! — Ele fala abobalhado, apertando mais seus braços ao redor dela — Obrigado Hinata!

— Bem, bem... como se eu fosse te deixar ir sozinho a um lugar desconhecido, não sou uma garota de esperas, Naruto! — Ela retruca em tom de brincadeira, mas o Uzumaki sabia que suas palavras tinham um fundo de verdade — Bem, agora me diga, você obteve a aprovação?

— Sim, tanto o vovô, quanto o Kakashi-sensei concordaram que era a melhor opção. — Naruto conta, voltando a sentar-se normalmente — Faremos tão logo seja possível, e de preferência antes que ele acorde.

— Isso significa que você vai ter que estudar como realizar o Fuinjutsu agora, não? — Hinata questiona e o vê concordar — Então vá tomar um banho para espantar esse sono, vou preparar algo para comermos!

 Não foi preciso dizer mais nada, assim que Hinata ordena, Naruto obedece; enquanto ele se fecha no banheiro, a Hyuuga separa ingredientes para preparar uma rápida refeição, sabia que passariam horas sem sim decifrando runas e codificando selos, até obter a fórmula correta do Fuinjutsu, como sabia também que Naruto não descansaria antes do êxito, e que era imprescindível que o obtivesse rapidamente. Após terem se alimentado adequadamente e deixado a casa satisfatoriamente organizada, ambos se sentam em poltronas na sala, e iniciam a exaustiva pesquisa, anotando tudo que era importante de forma que fosse fácil de entender mais tarde; apesar do cansaço nublar sua compreensão por vezes, eles se obrigaram a continuar e quando sentiam que poderiam estar equivocados a causa disso, voltavam ao início e recomeçavam, até que por fim, conseguiram reproduzir as mesmas runas, em ordem e quantidades exatas, agora faltava apenas a parte onde Hinata não poderia ajudá-lo, a etapa onde Naruto sempre tinha que provar a si mesmo.

***

Nos dias que se seguiram, Sakura esteve indo até a cabana dia sim, dia também, sem descansos ou tréguas, ela conciliava suas manhãs de treinamentos com Sakumo, as tardes de aprendizado espartano com Hinata, e as noites revisava tudo que aprendia durante o dia, e agora finalmente seus esforços começavam a dar frutos, e faltando apenas um dia para o início da terceira etapa dos exames Chunnin; Hinata por sua vez, estava até se divertindo ao ver o empenho da outra em aprender, era emocionante ver outra pessoa buscando um objetivo em comum, sentia um tipo de satisfação diferente ao passar adiante o que já sabia, guiar alguém pelo melhor caminho. Não que nunca ensinara alguém, afinal Sai e Shikamaru foram seus alunos também, mas tinha um sentimento diferente com relação aos outros, talvez porque eram garotos, ou porque seu envolvimento com eles era muito mais profundo; mas criar um vínculo do zero como estavam fazendo, era tão diferente quanto inusitado, assim como desafiador também. As duas garotas sabiam muito bem que não poderiam deixar que mágoas passadas, interferissem em sua nova relação, tampouco poderiam permitir que qualquer assunto, por mais ínfimo que fosse, terminasse o dia sem solução; Hinata, talvez soubesse disso mais do que Sakura, afinal, nunca pudera resolver adequadamente suas pendencias com Ino, e por fim sua amizade terminara um tanto estremecida.

— Sakura, está incorreto, desta forma o Chakra vai apenas ser desperdiçado. — Hinata ressalta, apontando a forma como Sakura fazia a posição de mãos — Vamos parar um pouco; o que está te desconcentrando hoje?

— Nada... eu só... — Sakura inicia uma desculpa, mas logo desiste, ao ver a forma como Hinata a fitava, sabia que não adiantaria mentir — Estou preocupada com Kiba.

— O que há com Kiba? — Hinata pergunta, surpresa com sua confissão.

Esperava que o motivo fosse outro, ou melhor, fosse outra pessoa, já que desde que Sakura passara a frequentar a cabana para seus treinamentos, fora informada do que seria feito a Sasuke; tanto por seu envolvimento emocional no que dizia respeito ao Uchiha, quanto por ela ser uma vítima do ocorrido na Floresta da Morte, e para evitar surpresas e conflitos futuros. Então Hinata deduzira que a Haruno estaria tão dispersa naquela tarde, justamente por saber que em poucas horas, Sasuke receberia o selo do Pássaro Engaiolado, para selar o que quer que Orochimaru tenha tentado fazer; contrariamente aos pensamentos da Hyuuga, Sakura estava genuinamente preocupada com seu outro companheiro de equipe, que no dia anterior, fora procurar por ela, aflito.

— Kiba está tendo problemas com a evolução do Akamaru. — Sakura conta, sentando-se no gramado do jardim da cabana — Segundo ele, seria ideal que os dois conseguissem dominar essa técnica, mas Kiba fica pensando que está causando dor ao Akamaru, e por isso a simetria não funciona e o Jutsu não se completa.

— Que técnica é essa? — Hinata pede, desconfiando saber do que se tratava.

— Não sei direito, ele estava tão nervoso que não soube explicar muito bem, mas o que entendi, é que o Akamaru tem uma espécie de liberação de Chakra imensa, e isso faz ele crescer de forma descontrolada e rápida. — Sakura conta, confirmando as suspeitas da Hyuuga.

— Pode dizer ao Kiba, que causa mais dano ao Akamaru, quando ele não completa a técnica corretamente. — Hinata alerta séria, fazendo o possível para transmitir a importância do que dizia — Quando o Jutsu não é executado direito, essa explosão de energia que não tem uma finalidade, pode danificar as redes de Chakra, e isso sim é prejudicial.

— Você conhece essa técnica? — Sakura pede, impressionada com o conhecimento da outra.

— É uma evolução mais poderosa do Homem Besta. — Hinata responde, indiferente ao seu pujante conhecimento — Tivemos que aprender muitas coisas, técnicas ocultas, segredos dos mais diversos tipos, coisas que nem se imagina que existam.

— Isso é tão... assustador, deve ter sido difícil. — Sakura comenta, referindo-se ao que a dupla se obrigara a fazer e suportar, pelo bem comum.

— Sempre é, mas vale o sacrifício. — Hinata rebate, agradecida com a compreensão — Agora vamos voltar, faça a forma como te ensinei!

Depois deste breve descanso, as duas voltam a pôr-se em pé e uma supervisiona a outra, que uma vez após a outra, pratica o que aprendera, até obter o resultado desejado; a determinação e o esforço voltam a predominar os pensamentos de Sakura, que já não mais eram povoados por seu companheiro e seus problemas, agora que sabia que a causa de tudo, era o próprio Kiba. Não se passara muito tempo até que ela alcançasse o nível que haviam proposto para aquele dia, e surpreendentemente, fosse além dele sem sequer notar; mas Hinata, que a observava com olhos de águia, vira com seu Byakugan, quão perfeitamente o Chakra se estabilizara em seu interior, fluindo e acumulando-se no recém-formado Selo das Cem Forças. Sem aviso, Hinata a ataca com força e precisão, igualmente faria em uma luta verdadeira, e diferentemente do primeiro dia de treinamento, quando se assustara com o ataque repentino, Sakura desta vez reage; aprendera a duras penas que os métodos de ensino de Hinata eram muito mais intensos do que de qualquer outro sensei, e se não defendesse e atacasse igualmente, acabaria estirada no chão sem nem ver como fora atingida. A Hyuuga por sua vez fora adaptando suas táticas de acordo com a evolução e as capacidades da Haruno, justamente para que ela fosse capaz de atacar de volta e assim adquirir experiência e confiança, essenciais para ir adiante; com o passar dos dias, não foram apenas o Ninjutsu e o controle de Chakra de Sakura que melhoraram, seu Taijutsu evoluíra consideravelmente e agora a garota já era boa o suficiente para conseguir acompanhar Hinata, e adquirira certa semelhança com sua Masutā.

— Vocês duas vão continuar até quando hoje? — A voz alegre e entusiasmada de Sakumo lhes chega aos ouvidos — Tenente, como estão indo?

— Sakumo, Kakashi-sensei! — Hinata saúda sem nem olhar para trás, concentrada nas tentativas de ataque de Sakura, que se surpreende ao ouvir o nome do sensei e acaba acertando uma árvore próxima — Como podem ver, os resultados estão melhores do que o esperado!

Tanto Kakashi quanto o Haruno mais velho, ficam pasmados ao ver a frondosa árvore ser estraçalhada em milhões de pedacinhos; acompanhando o impacto dos dois, Sakura dá alguns passos para trás, assustada com o que fizera, pois não havia notado a sutil mudança na força empregada em seus golpes.

— Agora Sakura, poderemos treinar de verdade. — Hinata afirma, sorrindo satisfeita — Mas você vai ter de prestar muita atenção de agora em diante, ou poderá se colocar em perigo, se não administrar corretamente o fluxo de Chakra que pode usar e o de suas reservas.

— E-eu-eu... consegui...? Consegui mesmo?! — Sakura pede incrédula, e quando Hinata assente, passa a saltitar incontrolavelmente alegre — Nii-chan! Eu consegui, consegui! Nii-chan!

— Estou orgulhoso, Sakura! — Sakumo a parabeniza, tão emocionado por presenciar tal feito, que suas palavras quase ficam presas.

— Foi um ótimo golpe, Sakura! — Kakashi também demonstra contentamento, além da surpresa por ver tamanha evolução em tão pouco tempo — Acho que logo teremos outra especialista na Vila.

— Assim será, Kakashi-sensei! — Hinata afirma convicta, já idealizando as futuras possibilidades de Sakura — Já é chegado o momento?

— Sim, tudo na sede já foi preparado, viemos buscar o Tenente. — Sakumo explica, um tanto desconfortável, temendo as reações da irmã.

— Vou buscar Naruto, fiz que ele fosse descansar algumas horas, para não termos complicações. — Hinata conta e deixa os três aguardando, enquanto entra na cabana.

Enquanto a Hyuuga se ausenta por instantes, Kakashi e Sakumo olham-se preocupados, um nervosismo gritante agitando suas feições; alheia as especulações dos dois jovens homens, Sakura voltara a sentar-se na grama e folheia entretida, o livro que ganhara de Hinata.

— Sakura? — Sakumo a chama, incerto de averiguar ou não — Você está preparada?

— Sim. — A garota responde sem qualquer alteração.

— Sabe, se você não estiver confortável, podemos pedir a outra pessoa. — Kakashi argumenta, também preocupado.

— Não há necessidade. — Sakura nega, erguendo seus olhos, que ultimamente pareciam mais verdes que o habitual — E, fui a última pessoa que ele viu, e certamente vai reagir a minha presença.

— Estamos prontos? — Naruto pergunta saindo da cabana, a voz ronca e os olhos ainda avermelhados pelo sono.

***

Já na sede da ANBU, o grupo mais inusitado de pessoas que se poderia imaginar, reunia-se dentro do quarto do acamado, que ressonava tranquilamente alheio aos seus visitantes e ao que lhe ocorreria; Sai, Shikamaru e Tenzou também estavam presentes, além de uma equipe médica altamente qualificada, para emergências. Assim que chegaram à sede, Naruto se encarrega de iniciar as escrituras das runas e diagramas para o selamento, e como necessário para o Fuinjutsu, infunde seu Chakra nos símbolos; logo é possível ver um grande círculo com a cama de Sasuke em seu centro. Somente esta pequena parcela, tomou cerca de uma hora para ser concluída, e agora viria o ponto mais crítico, onde seria preciso uma grande concentração, sem falar da precisão; nesta etapa, Naruto faz com que todos esperem do lado de fora da porta, senta-se nas linhas externas do círculo em posição de meditação, então passa a fazer sinais de mãos com cuidado. Outro mestre em Fuinjutsu como seus antepassados, poderiam ter feito o selo em questão de minutos, mas para o jovem Uzumaki, ainda iniciando os aprendizados sobre suas raízes, seria impossível reproduzir o selamento, sem causar danos colaterais; Naruto sempre fora metódico e cauteloso, e mais agora, que muitas decisões importantes dependiam do seu sucesso ou fracasso. Houve um clarão de luz amarelada muito intensa, e logo as runas começaram a mover-se lentamente do círculo, em direção do Uchiha inconsciente; logo depois, um símbolo idêntico ao de Neji, aparecia na testa de Sasuke, tornando a pele onde fora gravado, avermelhada por conta da agressão sofrida. Em seu lugar, Naruto deixou-se cair para trás, suspirando cansadamente alto, a centímetros de tocar o chão, sua cabeça fora amparada e segurada por um par de mão delicadas, cujo aroma ele conhecia bem; queria dizer algo, informar que tudo correra bem, mas sua voz fugira e ele não sabia onde encontrar, tudo que desejava, era fechar seus olhos e permanecer assim por um bom tempo.

— Então? Como foi? — A voz ansiosa do Sandaime quebra o silêncio.

— Acabei de verificar, o selo amaldiçoado de Orochimaru foi trancafiado! — O velho Inoichi informa assombrado.

— Shikamaru, Sai, cooperem para criar um Genjutsu que altere as memorias do Uchiha. — Hinata ordena sem imutar-se, tinha plena certeza que daria tudo certo — Depois disso, o façam acordar e tragam Sakura para testá-lo! Vou levar Naruto até nossa sala, ele precisa descansar agora.

Não houve objeção ou questionamentos sobre suas ordens, todos as acataram de imediato, aliviados e esperançosos com as novas vertentes que o sucesso daquela missão, abria a todos; vinham a dias atormentados com a incerteza e o perigo presentes nas ações de Orochimaru, pisando em ovos na hora de decidir como abordariam e tomariam providencias para seus seguintes passos, e agora que eliminaram o fator surpresa que Sasuke representava, poderiam voltar a ter o controle de sua investida.

***

— Você está bem? — Hinata pede, assim que estão sozinhos em sua sala.

— Sim, só fiquei mais cansado do que esperei. — Naruto afirma, sentando-se em sua cadeira — Penso que é melhor estudar mais a respeito, e se tiver de fazer isso novamente no futuro, terei de focar somente nisso, e não abocanhar o mundo como estamos fazendo agora.

— Concordo, hoje foi uma exceção pela necessidade urgente da Vila, mas no futuro não deve ser assim. — Hinata pondera, e com seu Doujutsu examina o estado físico de Naruto — Parece que foi apenas um baque de exaustão, mas vamos ter cuidado agora.

— Pelo menos o esforço valeu, teria sido muito frustrante se o selamento fracassasse. — Ele confessa, sentindo um grande alívio e então ri descontroladamente.

— O que foi? O que é engraçado? — A Hyuuga pede, estranhando a subida mudança de ânimos do Uzumaki.

— Imagina o quão engraçado seria, se o Uchiha ficasse sabendo que justo eu, fui o responsável por selar o poder que ele tanto anseia ter? — O Uzumaki indaga, com um brilho maléfico matizando seus olhos azuis.

— Naruto, você nem pense nisso! — Hinata adverte, ficando brava no mesmo instante.

— Eu sei Hina, vou só imaginar mesmo. — Naruto desconversa, escondendo de Hinata, o quanto estava inclinado a tentação — Vamos ir ver os pirralhos? Tenho certeza de que vão nos avisar se surgir algum problema.

— Você, Uzumaki Naruto, é um pícaro, igualzinho ao mestre Jiraya, e pensa que me engana com esse rostinho de santo.

Sorrindo, eles deixam a sede da ANBU com uma preocupação a menos em seus ombros, e como não ocorria há dias, passeiam pelo mercado, visitam algumas tendas de conhecidos, provam guloseimas e compram algumas besteiras para Konohamaru e Hanabi; naquele pequeno espaço de tempo, tudo parecia ter voltado a normalidade, era como se não existissem problemas e nem perigo eminente, Konoha estava pacifica, as pessoas vivendo felizes, alheias a tragedia horripilante que aproximava-se, lenta e sorrateiramente, ocultando toda luz.


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