Paralelo 22 escrita por Gato Cinza


Capítulo 5
5


Notas iniciais do capítulo

Desculpem o sumiço,
Estava sem internet



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◊ Elisabete ◊

Estava contrariando as ordens médicas ao ter limpado a casa, mas foi necessário por que estava entediada. Tinha desejado tanto aquela gravidez, ficou tão feliz quando recebeu o resultado positivo, mas agora queria que acabasse logo. Devia ser rápido como na ficção, descobrir a gravidez, se alegrar e num passe de mágica estar de nove meses á caminho do hospital onde toda uma equipe médica altamente preparada já está a postos e no primeiro grito que se ouve da mãe, muda a cena e estão voltando para casa com o bebê nos braços.

Por que a vida real tinha que ser tão realista?

— O que fazemos agora? – a voz infantil do menino ecoou pela sala vazia.

Artur, filho de Dandara, tinha algo familiar nas feições, mas ela não sabia identificar o que era. Não se parecia com ninguém da família por que tinha sido adotado, mas Elisabete já tinha visto fotos da mãe biológica dele, com exceção dos olhos ambarinos mutáveis não tinha nada que indicasse parentesco entre os dois. Enquanto Tessa tinha sido uma bela estrutura mignon de cabelos castanhos e pele brônzea, Artur era esguio e macilento com madeixas negras como carvão que o tornava peculiarmente distinguível numa multidão de crianças.

— Você vai tomar banho e eu vou preparar o almoço.

Era terça-feira, Artur devia estar na escola, mas tinha chovido muito durante a noite e uma árvore caiu sobre uma das salas e estavam limpando os estragos, suspendendo a aula por um dia. A maioria das crianças estava alegre brincando ou vendo tevê ou fazendo seja lá o que crianças faziam quando não estavam fazendo “nada”. Artur estava entediado. As pessoas com quem ele jogava on-line estavam desconectadas e ele era um menino solitário. Não conseguia fazer amizade com outras crianças de sua idade por causa da timidez, em vez de se enturmar, implicavam com ele.

— Não quero tomar banho – reclamou, se examinando – Estou limpo.

Não estava limpo, só parecia limpo por que estava mexendo com água.

— Então vá brincar lá fora um pouco, te chamo se precisar.

Ele olhou para a porta, o quintal estava fora de questão por causa da roupa que secava no varal, sobrava... Com um suspiro de derrota caminhou para a porta da rua. Qualquer coisa, menos banho. Elisabete começou a preparar o almoço, seria apenas ela, Artur e Malvina que conseguia ultrapassar todos os limites de velocidade e nunca foi presa, Elisabete tinha ficado em pânico a primeira vez que viu a cunhada pilotando uma moto.

— Se não é para pilotar á 180 km/h, por que fazem máquinas com motores capazes de atingir tal velocidade?

A lógica distorcida de Malvina um dia lhe causaria sérios problemas. Malvina era motorista de um milionário do ramo da tecnologia que vivia entre o Canadá, a Turquia, a Argentina e o Brasil. Até dois meses antes Malvina estava sempre com ele, então ele começou a namorar uma atriz ciumenta que exigiu a demissão de Malvina, queria que contratasse um homem para ser motorista do namorado. Como os namoros dele nunca duravam mais que alguns meses, ele deu férias remuneradas á motorista por tempo indeterminado. Não que Malvina reclamasse de ser paga para ficar em casa. Por causa disso conseguiu ainda cobrar um favor antigo, quando precisou afastar do trabalho por causa da gravidez.

— Vai ser só até a licença terminar – ela garantiu – Por favorzinho, cunhadinha.

— Oliver é imprevisível, ele pode me ligar a qualquer hora e me pedir para ir busca-lo em qualquer lugar do mundo.

Já tinha acontecido, depois de uma bebedeira, o chefe dela ligou às duas da manhã para ir tirá-lo da cadeia em Nova Iorque, ela ficou tão irritada que se demitiu, e ele se recusou a aceitar a demissão dela. “Entre salvar á si mesmo e Mavis, aquele ali sempre vai escolher a Rainha Má”, dissera Quitéria quando o cientista apareceu pessoalmente na porta de sua casa para se desculpar com a motorista.

— Você me deve um favor e estou o cobrando agora – tentou soar muito séria, mas só conseguia expressar esperança – Seu chefe é adulto e rico, ele sobrevive sem você por um tempo.

— Que favor? – Quitéria quis saber.

— Um que só diz respeito á mim e sua mulher, não se meta – Malvina mandou á irmã e questionou a cunhada – Tem certeza que quer desperdiçar o favor com isso considerando que pode haver a chance de algum dia você precisar seriamente que eu dê minha vida pela sua?

— Não assuste uma mulher grávida, Mavis – Dandara a repreendeu.

Elisabete já não ficava incomodada com as coisas que a cunhada falava, era da natureza dela ser mórbida e sombria.

— Malvina, em quatro anos minha vida foi do céu ao inferno e não ousei cobrar meu favor nem quando estava no fundo do poço, então eu não acho que esteja desperdiçando.

— Eu não sou secretária, vou acabar fazendo merda e causando sua demissão.

— Você é praticamente a assistente pessoal de Oliver, eu não vejo como não pode resolver assuntos de escritório.

— Se é o que quer que assim seja – ela deu de ombros – O que pode dar errado afinal, quatro meses não são 40 anos.

— Agora posso saber que divida é essa que convence a rainha má á ceder sua vontade?

— Não! – disseram juntas.

A curiosidade de Quitéria rendeu uma briga de casal que levou á uma separação, a cozinheira se mudou para o apartamento de Henrique e só voltaria para casa quando a esposa contasse que segredo era aquele que custava tão caro. Depois de uma semana fazendo birra, as gêmeas apelaram para a mãe que deu uma bronca na caçula. Elisabete adorava a sogra, se achava que as gêmeas eram um filme mediano de mistério com direito á sequência, então, a mãe delas era uma superprodução de suspense com altos níveis de terror psicológico digno do Oscar em todas as categorias.

Um chute do bebê a fez parar o que fazia e acariciar a barriga. Parecia que ele não gostava de sossego, era só diminuir seu ritmo que ele se agitava. Ás vezes conversava com ele, mas acabava chorando por que seus devaneios a fazia se lembrar de coisas que tentava fingir que tinha se esquecido.

— Fique calminho Rafael, mamãe precisa terminar o almoço ou teremos que comer seja lá o que sua tia resolver cozinhar e sabemos que os talentos dela na cozinha se equivalem aos meus ao volante. Podemos ir do ponto A ao ponto B, só não se sabe em qual condição chegaremos.

Malvina podia não ter o dom da culinária, mas sabia o suficiente para não morrer de fome caso morasse onde não se vendia comida pronta, só que às vezes ela achava que era participante do Master Chef e tinha que fazer pratos criativos que mais pareciam experiência cientifica.


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